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Coluna do Astrônomo

Gigantes da Astronomia

por Naelton Mendes de Araujo

“Se eu vi mais longe, foi por estar de pé sobre ombros de gigantes.”

O físico Isaac Newton (1643-1727) escreveu esta frase em uma carta a Robert Hooke (1635-1703), em  5 de fevereiro de 1676. Newton pode ser considerado o maior de todos os cientistas da era moderna. Apesar disso, a frase sugere que a ciência é uma construção coletiva. Descobertas científicas não são obras de um gênio solitário. Cada geração de cientistas se apoia no trabalho de seus predecessores.

Certamente entre os “gigantes” a que Newton se referia, dois tinham lugar de destaque: Copérnico e Galileu. Ambos nasceram em fevereiro.

Galileo Galilei (1564-1642)

Galileo Galilei, o Mensageiro Celeste.

Galileu Galilei nasceu em 15 de fevereiro de 1564 (Pisa, Itália), e foi o cientista, matemático e filósofo italiano considerado o pai da Astronomia moderna e um dos mais importantes cientistas da história. Devemos a ele os primeiros desenvolvimentos do método científico.

Capa do livro “Mensageiro Sideral”

“Mede o que é mensurável e torna mensurável o que não o é.”

Sua maior contribuição para a Astronomia foi o uso do telescópio para observar o céu. Em 1609, Galileu construiu seu próprio telescópio e fez várias descobertas que revolucionaram a visão do Universo da época.

Entre essas descobertas de Galileu destacamos: a observação de quatro luas de Júpiter, crateras na Lua, anéis em volta de Saturno, fases de Vênus, manchas solares e a constituição estelar da Via Láctea. Tudo isso foi registrado no famoso livro: “Sidereus Nuncius” (Mensageiro Sideral), publicado em Março de 1610 na cidade de Veneza.

Essas observações deram sólidas bases à ideia de que o Universo não gira ao redor da Terra. A teoria heliocêntrica já existia anos antes. Um dos seus melhores pensadores foi outro gigante: Copérnico.

Copérnico, colocando a Terra no seu devido lugar

Nicolau Copérnico (1473-1543)

Nicolau Copérnico foi um astrônomo polonês nascido em 19 de setembro de 1473. Este ano comemoramos seus 550 anos. A obra mais famosa de Copérnico é “De Revolutionibus Orbium Coelestium” (Sobre as Revoluções das Órbitas Celestiais), publicada em 1543. Este livro foi o primeiro a apresentar uma teoria sistemática e bem fundamentada sobre a estrutura do Universo: a teoria heliocêntrica.

Os sistemas que descreviam os movimentos planetários anteriores a Copérnico usava complicados ciclos para manter o centro do movimento na Terra. Estes recursos geométricos intrincados (chamados de epiciclos) eram baseados na ideia do astrônomo egípcio do primeiro século da era cristã: Ptolomeu.

Capa do “Sobre as Revoluções das Órbitas Celestiais”

“Não estou tão encantado com minhas próprias opiniões para ignorar o que os outros possam pensar delas.”

Por outro lado, o modelo copernicano, ao deslocar o centro do sistema solar da Terra para o Sol, levou à compreensão do movimento dos planetas tornando mais fácil o seu cálculo. Mais tarde, Galileu fez descobertas reveladoras sobre a natureza dos planetas. Outro gigante contemporâneo de Galileu foi o alemão Joahnnes Kepler (1571-1630), que conseguiu matematizar o cálculo das órbitas dos planetas. As leis do movimento de Kepler auxiliaram, mais tarde, Newton lançar a base da gravitação e assim ver mais longe.

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Leia Júlio Verne

Jules Gabriel Verne foi um dos mais famosos escritores franceses. Este autor é considerado apropriadamente um dos pais da ficção científica e da literatura de viagem. Ele nasceu há 195 anos em Nantes no dia 8 de fevereiro de 1828. Estudou direito em Paris, mas abandonou a carreira jurídica para se dedicar à escrita, onde foi muito bem sucedido. Ainda bem, ganhamos mais com um Verne escritor do que advogado.

Verne escreveu 54 romances, incluindo “Viagem ao Centro da Terra” (1864), “Vinte Mil Léguas Submarinas” (1870), e “Da Terra à Lua” (1865), que são considerados clássicos da literatura. Essas obras foram notáveis por serem baseadas em conceitos científicos e tecnológicos avançados para a época, e por explorarem questões imaginativas sobre viagens no espaço, no mar e no interior da Terra.


Além disso, Verne escreveu histórias acessíveis e emocionantes para o público geral. Suas histórias se tornaram extremamente populares e influentes em todo o mundo. A obra verniana inclui mais de 100 livros e foi traduzida para 148 línguas.


Verne morreu de diabetes aos 77 em Amiens (França) no dia 24 de março de 1905. Seu túmulo no cemitério da Madeleine é muito pitoresco: uma representação do autor quebrando a lápide com a face e o braço estendidos para o céu. O seu último livro publicado foi “O Senhor do Mundo”, no ano de 1904.

Em resumo, Júlio Verne, sempre será leitura recomendada. Se você ama o espaço não pode deixar de ler “Da Terra à Lua” (1865) e “À volta da Lua” (1869). Estas foram as primeiras histórias sobre uma viagem a Lua usando tecnologia e não magia.

A Astronomia em Júlio Verne

“Todos nós somos, de uma maneira ou de outra, filhos de Júlio Verne”

Verne e Wells: Visões de Futuro

TRÊS VISÕES VERNIANAS

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20 anos do acidente do Columbia

Naelton Mendes de Araujo

Em 1º de fevereiro de 2003, ocorreu o acidente do ônibus espacial Columbia. O veículo se desintegrou sobre o Texas e a Louisiana durante a descida, matando todos os sete tripulantes a bordo. 

O acidente foi causado por uma peça de isolamento de espuma que se desprendeu do tanque de combustível externo durante o lançamento. A espuma atingiu a borda de ataque de uma das asas do veículo, danificando o sistema de proteção térmica. Isso permitiu que gases quentes penetrassem como se fosse um maçarico, destruindo a estrutura desprotegida. Isto ocorreu exatamente durante um dos momentos mais crítico da missão: a reentrada.

A investigação sobre o acidente revelou que a NASA estava ciente dos perigos potenciais da queda do isolamento de espuma durante os lançamentos, mas não tomou medidas suficientes para resolver o problema.

Dezessete anos antes outro acidente grave com um ônibus espacial já havia ocorrido. O Challenger explodiu em apenas 73 segundos de voo, matando toda a tripulação. O desastre foi causado por uma falha no isolamento em um dos propulsores sólidos devido à baixa temperatura durante a véspera do lançamento. A  desintegração do Challenger foi vista ao vivo na televisão. Foram dois anos e meio de interrupção do programa dos ônibus espaciais. A investigação sobre o acidente da Challenger também indicou falta de cuidado da NASA.

O desastre do Columbia foi um grande revés para a NASA e levou a mudanças no projeto e nos procedimentos dos ônibus espaciais para garantir a segurança de futuras missões. Uma das mudanças foi a necessidade de exame visual das placas de blindagem térmica em órbita antes de qualquer reentrada. 

Em 2011 o programa dos ônibus espaciais foi interrompido definitivamente.

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Coluna do Astrônomo

Curso Introdução à Astronáutica 2022

Você sabe o que se comemora no dia 04 de outubro? Olá, você gosta de falar sobre coisas do espaço? Sabe por que o Homem não voltou à Lua? Qual a diferença entre cosmonauta e astronauta? Como um satélite se mantém em órbita?

Entre 03 a 06 de outubro de 2022 o Planetário do Rio de Janeiro estará oferecendo o Curso Introdução à Astronáutica. O horário é de 19h às 20h30min no Planetário da Gávea.

Conteúdo do curso

O curso será dividido em 4 capítulos:

  1. Fundamentos de Mecânica Celeste – revemos os conceitos básicos de Mecânica do nível médio: posição, velocidade, aceleração, órbita e gravitação;
  2. Foguetes – sua origem, desenvolvimento e funcionamento;
  3. Satélites e Sondas – órbitas, funcionamento e aplicações.
  4. Voos Tripulados – cápsulas, trajes espaciais e naves.

Informações

Investimento: R$120,00. Material didático será disponibilizado. Certificado (frequência mínima de três dias). Idade mínima: 14 anos.

Professor Naelton Mendes de Araujo – Graduado em Astronomia, Mestre em Educação e Divulgação Científica. Trabalhou 10 anos com controle orbital de satélites geoestacionários.

Inscrições deve ser feitas em https://doity.com.br/astronautica

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Apollo 11 pousa na Lua

Por Naelton Mendes de Araujo – Astrônomo da Fundação Planetário da Cidade do Rio de Janeiro

O começo de tudo: Programa Apollo

Apollo 11 pousa na Lua
Esquerda: Patch da missão Apollo 11 e foguete Saturno V no lançamento. Centro Módulo Lunar. Direita: Patch do programa Apollo e a tripulação da Apollo 11 – da esquerda para a direita: Armstrong, Collins e Aldrin.

O primeiro homem na Lua foi resultado da corrida espacial entre EUA e URSS. A história do programa Apollo está associada ao desenvolvimento do poderoso foguete Saturno V, o maior foguete já construído pelo homem. O primeiro voo deste veículo espacial foi em novembro de 1967 na chamada missão Apollo 4, não tripulada. Em outubro de 1968 uma variante menor do foguete, o Saturno 1B, levou a primeira tripulação do programa Apollo de número 7 para um voo ao redor da Terra. Nesta missão foi testado o módulo de comando. Dois meses depois aconteceu o primeiro voo tripulado usando o Saturno V: a missão Apollo 8. Nesta missão os astronautas Frank Borman, Jim Lovell e William Anders, circundaram a Lua. Este feito foi inédito marcando claramente uma dianteira norte-americana na disputa espacial.

Várias versões do Saturno V para cada missão

A Apollo 9 em março de 1969 realizou o primeiro teste do módulo lunar ao redor da Terra. Em maio de 1969 foi realizado o primeiro teste ao redor da Lua com o módulo lunar. A cada missão se avançava um pouco mais na direção do alvo: pousar um astronauta na superfície lunar.

20 de julho: “a Águia pousou

Acima: Estágios do Saturno V – Abaixo à esquerda: Módulos de Serviço, Comando e Lunar em configuração de cruzeiro. Abaixo à direita: Patch da missão Apollo 11, com a água (símbolo norte-americano) pousando na superfície lunar – lembrando que o módulo lunar chamava-se Eagle.

A Apollo 11 partiu de Cabo Canaveral em 16 de julho de 1969 com três astronautas: Neil Armstrong, Michael Collins e Buzz Aldrin. Os dois primeiros pisaram na Lua em 20 de julho, enquanto Collins circundava nosso satélite. No programa Apollo as naves eram construídas em módulos que eram descartados à medida que iam sendo usados. O módulo de comando chamava-se Colúmbia e o módulo lunar Eagle. Do conjunto de 111 metros no lançamento, somente o Columbia, de formato cônico, voltou à Terra.

Apollo 11
Módulo Columbia – Museu Nacional do Ar e Espaço (EUA).

Até hoje o módulo de descida da Eagle se encontra no mar da Tranquilidade. Os demais módulos da missão ou se queimaram na atmosfera, ou se encontram em órbita solar. O módulo Columbia se encontra em exposição no Museu Nacional do Ar e Espaço. Foram oito dias para ir e voltar durante esta missão memorável.

Depois da Apollo 11

Apollo 11 carro lunar
Esquerda: Patch da Apollo 15 que levou o primeiro jipe lunar. Direita: Módulo danificado da Apollo 13 e seu Patch.

Foram seis missões à Lua depois do sucesso estrondoso da Apollo 11. A cada missão algo era introduzido e aumentava o tempo de permanência na superfície lunar. Um destaque especial para a missão Apollo 13, de abril de 1970, que não chegou a atingir a Lua. Houve uma explosão no módulo de serviço que por pouco não causou uma tragédia. A saga desta missão é descrita no filme Apollo 13.

A primeira missão a usar o jipe lunar foi a de número 15 em julho de 1971. O programa lunar encerrou suas viagens em dezembro de 1972 com a missão Apollo 17. Desde então nenhum astronauta jamais pisou em outro astro.

O que nos reserva o futuro?

Apollo 11
SLS na torre de lançamento para teste não tripulado e o logo do programa Artemis.

A agência espacial norte-americana, a Nasa, já tem um projeto em andamento chamado Artemis. Este era o nome da deusa da caça e irmã de Apollo. Este projeto pretende levar a primeira mulher à Lua na próxima década. Para isso a Nasa tem desenvolvido um novo foguete lançador: Space Launch System (SLS). Este veículo lançador virá a fazer o papel que o Saturno V fez na década de 60. Há muita semelhança entre este novo foguete e o sistema dos antigos Space Shuttles. Muita tecnologia foi aproveitada, desde o tanque laranja e os boosters de combustível sólido. Vários países agora participam da exploração do nosso satélite: China, Japão, Índia, além dos EUA, Rússia e Comunidade Europeia.

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James Webb, vendo mais longe e melhor

Naelton Mendes de Araujo

Demorou mas chegou…

Esq.: JW dobrado na coifa do foguete. Acima: Logo da missão. Ao fundo: lançamento do JW. DIr: Espelho do JW durante a montagem.

O mais esperado telescópio espacial, o James Webb (JW), é considerado o sucessor do Hubble Space Telescope (HST). Seu projeto começou em 1996 mas seu lançamento só ocorreu em dezembro de 2021. O lançamento correu bem, mas a equipe só relaxou após um período de mais de 15 dias, depois de complicadas manobras. Estas manobras levaram o veículo espacial até quase um milhão e meio de distância da Terra. O veículo foi todo dobrado dentro da coifa do foguete como se fosse um origami que se abriu no espaço. Este processo incluiu o desdobramento de painéis solares, para-sois e o próprio espelho do telescópio composto de várias células hexagonais.

Esq.: Aspecto do JW depois de desdobrado. Dir.: Comparação dos espelhos do HST com o JW.

Que comecem os trabalhos…

Na última terça feita (12 de julho de 2022) em uma conferência de imprensa global foram anunciadas as primeiras imagens que se mostraram mais nítidas do que qualquer outra já feita. Uma comparação do JW e o HST é um tanto forçada. O JW “enxerga” no infravermelho e HST cobre uma faixa mais ampla do espectro eletromagnético centrada no visível. Além disso o espelho do JW é quase o triplo do espelho do HST. Quanto maior espelho mais luz é captada e mais nitida é a imagem.

Infravermelho?

O infravermelho nos permite ver melhor através da poeira e o gás que envolve vários astros. Outra vantagem: devido ao desvio para o vermelho (efeito Doppler) objetos mais distantes tem sua cor deslocada para o infravermelho. Assim o JW pode ver mais longe e com melhor definição vários objetos de interesse: galáxias distantes, o centro da nossa galáxia e estrelas imersas em nebulosas.

Primeiras imagens

Os objetos escolhidos para inaugurar os trabalhos do JW representam o que há de mais interessante na astrofísica moderna. As imagens obtidas são coloridas artificialmente. As cores são obrigatóriamente falsas pois nossos olhos não enxergam no infravermelho. Assim foi preciso fazer uma adaptação da imagem ao que seria compreensível em uma foto no visível.

james webb
Esq.: SMACS 0723. Dir.: Quinteto de Stephan.

Grupo de galáxia SMACS 0723 – Esta foi a primeira imagem obtida pelo JW onde se pode ver diversas galáxias e imagens distorcidas por lentes gravitacionais. A resolução da imagem é surpreendente para objetos muito distantes: mais de 5 bilhões de anos-luz.

Quinteto de Stephan – Um grupo compacto de quatro galaxias, distantes de nós mais de 200 milhões de anos-luz. Uma quinta galaxia aparece no campo, esta está mais perto de nós (39 milhões de anos-luz) e sua proximidade ao quarteto é só aparente: uma coincidência de alinhamento. As fotos anteriores deste grupo foram realizada por outro telescópio infravermelho o Spitzer fora de ação desde janeiro de 2020.

james webb
Nebulosa Carina

Nebulosa Carina – É uma das maiores nebulosas da Via Láctea. Esta complexa e extensa nebulosa abriga diversos aglomerados de estrelas e umas das estrelas mais luminosas da nossa galáxia: Eta Carinae. Se encontra a mais de 6000 anos-luz de distância.

Esq.: Nebulosa do Anel Sul vista pelo JW. Dir.: mesmo objeto visto pelo Spitzer.

Nebulosa Anel do Sul – A aproximadamente 2000 anos-luz da Terra este tipo de nuvem de gás envolve estrelas mais antigas e chamamos de nebulosa planetária. Provavelmente o final da vida do nosso Sol será criar uma nebulosa deste tipo daqui a 5 bilhões de anos.

Nem só imagens …

james webb
Espectro da atmosfera de WASP-96 b

Espectro do Exoplaneta WASP-96 b – A maior parte dos dados realmente relevantes do ponto de vista científico nem sempre são imagens. Aqui vemos um espectro de um planeta gigante (pouco menor que metade do tamanho de Jupiter) a 1120 anos-luz da Terra. O espectro indica a presença de água na atmosfera do planeta. Apesar disso a atmosfera deste exoplaneta não se parece nada com a nossa. WASP-96 b se encontra muito perto da estrela principal e por isso é extremamente quente.

Vamos aguardar os dados que virão e que certamente vão redefinir nossa visão do cosmos.

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Dia do Asteroide

Por Naelton Mendes de Araujo – Astrônomo da Fundação Planetário da Cidade do Rio de Janeiro

Tunguska, 30 de junho de 1908

Por volta das 7h14min do dia 30 de junho de 1908, horário local, um clarão iluminou o céu. O lugar era uma região remota da Sibéria (Rússia, naquele tempo URSS) chamada Tunguska. Um objeto celeste explodiu sobre o arvoredo. O impacto foi sentido a grandes distâncias. Vários sismógrafos situados a milhares de quilômetros registraram os tremores decorrentes. Dizem que o som dessa explosão foi ouvido em lugares tão distantes quanto na Escócia e na China! Somente duas décadas depois do evento uma expedição científica foi até o local. A expedição encontrou 2000 metros quadrados de árvores caídas. Passou-se a chamar o acontecimento de “Evento de Tunguska”, considerado o maior evento de impacto na Terra registrado na história.

Árvores caídas resultado do impacto de um asteroide em Tunguska (Sibéria, 1908)

O que colidiu alí? Um cometa ou um pequeno asteroide? Ainda há alguma dúvida mas o fato nos mostra claramente que a possibilidade de um impacto celeste não é desprezível.

Em 2013 um meteorito explodiu sobre a cidade de Cheliabinsk (também na Rússia); só com o estrondo sônico feriu 1200 pessoas. Isso prova que a necessidade de conhecer estes corpos e suas trajetórias não é algo puramente acadêmico.

De onde vem os Asteroides?

Apesar de totalizar uma pequena massa, são os corpos mais abundantes em nosso sistema planetário. Rochedos espaciais como estes descrevem órbitas diversas ao redor do Sol, porém a maior parte deles se encontra entre as órbitas de Marte e Júpiter. Chamamos esta região de Cinturão Principal de Asteroides. Entretanto existem os objetos que passam mais perto da Terra, chamados NEOs (Near Earth Objects) que podem oferecer algum risco de impacto. Só recentemente tivemos sondas visitando estes astros; tirando fotos, pousando e até coletando amostras.

Esquerda: Diagrama em escala mostrando o Cinturão Principal. Direita: Asteroide Ceres fotografado pela sonda Dawn

Asteroid Day

A data do evento Tunguska foi escolhida para chamar a atenção para os corpos menores do sistema solar. O Asteroid Day foi lançado em 2014 inspirado pela explosão do meteorito de Chelyabinsk em 2013. Seu grupo idealizador inclui um astronauta, um cineasta e até um rock star, Dr Brian May, que além de astrofísico, também foi guitarrista do grupo Queen. Trata-se de uma campanha de conscientização global. O principal objetivo é aumentar o conhecimento popular sobre os asteroides, seus efeitos na Terra e o que pode ser feito para proteger a Terra de impactos futuros. De acordo com o site Asteroid Day.org, nos primeiros cinco anos, mais de 2.000 eventos participaram de atividades globais em 30 de junho. Vários museus, centros de ciência e planetários em 78 países comemoram esta data todos os anos.

Em resumo, não é apenas um dia para celebrar os asteroides, mas também um dia para aprender sobre eles. É um lembrete de quão pouco sabemos sobre esses objetos no espaço. É hora de refletir sobre os riscos que os asteroides e cometas representam para o nosso planeta e tomar medidas de proteção.

Dr. Brian May e Grigorij Richters: criadores do Dia do Asteroide.

“Asteroides são o único desastre natural que nós sabemos como prevenir. Proteger nosso planeta, nossas famílias e comunidades são o objetivo do Dia do Asteroide… Asteroides nos ensinam sobre as origens da vida, mas também podem afetar o futuro de nossa espécie e vida na Terra”
Grigorij Richters, um dos idealizadores do Asteroid Day

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Seu primeiro telescópio

atualizado em junho de 2022

Sempre que alguém se inicia na observação do céu e pede sugestão de instrumento, nós astrônomos (amadores e profissionais) sugerimos começar com um binóculo de pequeno aumento e um mapa celeste. Uma boa especificação de binóculo inicial seria 7×50, onde o primeiro número indica o aumento (7x) e o segundo número o tamanho da objetiva (50mm de diâmetro).

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Imagem do Buraco Negro no Centro da Galáxia

Por Naelton Mendes de Araujo – Astrônomo da Fundação Planetário da Cidade do Rio de Janeiro

O instrumento

Para vasculhar o Universo usamos vários tipos de radiação eletromagnéticas. Algumas não são captadas pelos nossos olhos e nem por nenhum de nossos sentidos.

Os radiotelescópios usam antenas para captar ondas de rádio provenientes do espaço.  A figura mais comum que nos vem à mente são antenas parabólicas. Quanto maior o disco, maior a resolução, isto é, ,mais detalhes pequenos o instrumento pode distinguir. Imagine agora se combinamos os dados de antenas distintas numa só imagem? Chamamos isso de interferometria. Se fizermos uma rede de antenas cobrindo distâncias continentais, teremos como resultado algo semelhante a um disco de proporções da ordem Terra.

Localização dos Radiotelescópios do EHT distribuídos pelo globo.
Radiotelescópio ALMA no Andes
Radiotelescópio no Pólo Sul

Foi exatamente isso que o Event Horizon Telescope (ETH) fez. Em 2019 esse arranjo de 13 conjuntos de antenas, em 4 continentes, nos deu a primeira imagem de um buraco negro na galáxia M87.

Buraco negro na galáxia M87 pelo EHT

O objeto

Na verdade não se pode ver um buraco negro. Só observamos a matéria estelar que cai no buraco negro. Este anel da matéria espiralando em direção ao buraco negro é chamado disco de acresção e emite muita radiação. Isto acontece pouco antes de entrar no chamado horizonte de eventos e, a partir daí, nada mais escapa. 

Sagitário A é uma  extensa fonte de rádio bem conhecida dos astrofísicos desde 1974, mas só agora, com o EHT, podemos ver detalhes do seu disco de acresção. Não havia nenhum instrumento até hoje capaz de realizar tal façanha. Este objeto se encontra a 26 mil anos-luz e é o que se usou chamar de buraco negro supermassivo.

Buraco Negro Sagitário A mapeado pelo EHT
Sagitário A mapeado pelo EHT

Os buracos negros estelares são formados no fim da vida de uma estrela com no mínimo 10 massas solares. Os buracos negros supermassivos foram formados por imensas nuvens de gás ou por milhões de estrelas que se amontoaram em aglomerados estelares. Isto aconteceu no início do Universo. Buracos negros supermassivos são encontrados no centro das galáxias.

É uma foto?

Temos que ter em mente a diferença entre foto e imagem. No sentido estrito essa não é uma fotografia. Não é resultado da luz visível obtida por um dispositivo óptico. É uma representação visual de um conjunto de dados de rádio. Está mais para um mapa e as cores não são reais: os tons de amarelo e laranja apenas representam intensidades de radiação.

A vantagem deste tipo de imagem é sua alta resolução que nos permite ver detalhes da estrutura antes invisíveis.

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Lua Gigante ou Fake News?

Por Naelton Mendes de Araujo – Astrônomo da Fundação Planetário da Cidade do Rio de Janeiro

O vídeo que está circulando nas redes sobre uma imagem da lua nascendo enorme  é na verdade uma montagem bem fácil de ser identificada. O vídeo mostra a Lua nascendo cheia de um lado do horizonte e se pondo nova do outro lado. Muitos têm compartilhado a mensagem que alega ser na Rússia ou no Alasca ou em outros lugares remotos.  

Se prestar a atenção o vídeo tem duas partes: a parte de baixo que é uma paisagem comum e a parte de cima um céu azul onde foi sobreposta uma animação. A animação parece feita por algum software, talvez até um aplicativo astronômico. Talvez o Sol que aparece seja da imagem original mas certamente a imagem da lua foi colocada ali sobreposta. A Lua do vídeo se move muito rápido para ser real. Em nenhum momento nosso satélite aparece tão grande. Na verdade, nenhum astro se move tão rápido a não ser que fosse um satélite artificial que é muitas vezes menor que a Lua e está muitas vezes mais perto de nós. 

A lua está a uma distância de 400000 km e não varia muito essa distância ao longo do seu movimento ao redor da Terra. O tamanho aparente (não o real) do Sol e da Lua são quase iguais, isto ocorre porque o Sol é 400 vezes maior que a Lua e está a aproximadamente 400 vezes mais distante, fazendo com que o tamanho angular seja quase o mesmo o que não acontece no vídeo. Para que ela aparecesse daquele tamanho teria que haver um cataclismo. A lua influencia na terra através das marés; se ela estivesse aquela distância a sua força gravitacional produziria maremotos e terremotos. Isso não aconteceu: aquela é só uma imagem muito bem montada muito bem desenhada num software.

Outro detalhe importante é o tempo.  Demoraria mais de 28 dias para que ela passasse todas as fases que aparece no vídeo: cheia, minguante, nova e crescente e ali acontecem alguns segundos (inclusive um eclipse). Algo assim não poderia ter acontecido nunca mesmo num lugar remoto.

Para terminar: a lua do vídeo está rodando, isto não corresponde a realidad pois a Lua mostra sempre a mesma face para nós. Note a cratera escura na borda esquerda do vídeo assim que a Lua “nasce” ela vai sumindo depois de alguns segundos.

Se você um dia ver imagens como essas, sempre desconfie. Não passe adiante.  Não vamos alimentar a moda dos fake news.

Contribuíram com este texto os astrônomos: Jorge Marcelino dos Santos Junior e Flavia Pedroza Lima