Usamos cookies em nosso site para lhe dar a experiência mais relevante, lembrando suas preferências e repetindo visitas. Ao clicar em "Aceitar tudo", você concorda com o uso de TODOS os cookies. No entanto, você pode visitar "Configurações de cookies" para fornecer um consentimento controlado.

Visão geral da privacidade

Este site usa cookies para melhorar sua experiência enquanto você navega pelo site. Destes, os cookies categorizados conforme necessário são armazenados no seu navegador, pois são essenciais para o funcionamento das funcionalidades básicas do site. T...

Sempre ativado

Os cookies necessários são absolutamente essenciais para que o site funcione corretamente. Esta categoria inclui apenas cookies que garantem funcionalidades básicas e recursos de segurança do site. Esses cookies não armazenam nenhuma informação pessoal.

Quaisquer cookies que podem não ser particularmente necessários para o funcionamento do site e são usados especificamente para coletar dados pessoais do usuário através de análises, anúncios, outros conteúdos incorporados são denominados como cookies não necessários. É obrigatório obter o consentimento do usuário antes de executar esses cookies em seu site.

A Conquista da Lua


“Um pequeno passo para um homem, um grande salto para a Humanidade” – Neil Armstrong, o primeiro ser humano na Lua. 20 de Julho de 1969.

Neste sábado passado, 50 anos atrás, a Humanidade pousava na Lua pela primeira vez.

E conforme prometido, a coluna volta a ela hoje.

O voo se deu com a tripulação da missão Apolo 11, tendo a bordo os astronautas Neil Armstrong, Michael Colins e Buzz Aldrin, oficiais da Força Aérea americana (USAF). Michael Colins orbitou a Lua com o módulo Colúmbia, que os levaria de volta à Terra, enquanto Armstrong e Aldrin alunissavam com o módulo Águia. A missão foi um sucesso estrondoso.

12 anos antes, em 4 de outubro de 1957, o mundo conheceu o início da Era Espacial. A então União das Repúblicas Socialistas Soviéticas lançou o primeiro satélite artificial, com a finalidade de testar a ideia. Um bip-bip sucinto era tudo o que transmitia, e em suas três semanas de atividade bastou para que a imaginação se incendiasse mundo afora. Dois anos depois, os soviéticos também emplacaram o primeiro ser vivo dia 3 de Novembro daquele mesmo ano e depois o primeiro ser homem em órbita, em 12 de Abril de 1961 e a primeira mulher em 16 de Junho de 1963.

Correu-se com planos, e uma sensação de marcar bobeira em escala global se instalava. Eram, afinal, os anos da Guerra Fria, e a disputa ideológica entre comunistas e o Ocidente livre tinha acabado de atingir um novo patamar: o espaço sideral. Bastião do anticomunismo e com o melhor parque industrial e mais mentes trabalhando em seu território, os Estados Unidos da América tomaram essa missão para si. 

Em um discurso em 1961, o presidente americano John F. Kennedy disse que o país “deveria se comprometer em alcançar o objetivo, antes do fim da década, de pousar um homem na Lua e trazê-lo de volta em segurança para a Terra”. E assim foi feito, com o projeto Apolo, em 1969.


Armstrong, Collins e Aldrin: heróis de uma era.

Mas não foi nem a única concepção naquela época, nem era uma ideia nova.

Já em 1638 o bispo John Wilkins escreveu um discurso onde previa uma colônia na Lua. O físico russo Konstantin Tsiolkovsky (1857–1935), e não só ele, também sugeria isso. A ideia começou ganhar conceito e projetos a partir dos anos 1950.

Arthur C. Clarke, em 1954, propôs ambientes infláveis cobertos pela poeira lunar para insulação. Uma nave, montada em órbita (conceito este utilizado em sua história “Aventura Lunar”, de 1956, publicado na coletânea “Do Outro Lado do Céu”), levaria astronautas para montar módulos similares a iglus e um mastro de rádio inflável. Nos passos seguintes, estabelecimento de um domo maior e permanente, purificadores de ar baseados em algas, um reator nuclear para fornecer energia e canhões eletromagnéticos para lançar carga e combustível para naves no espaço.

Em 1959, quando ainda se acreditava que a superfície da Lua poderia ser coberta por regiões inteiras de poeira, que atingiriam quilômetros de profundidade, John S. Reinhardt sugeriu “uma estrutura que flutuasse sobre um oceano de poeira”. Ela seria um semicilindro com meias cúpulas nas extremidades, com um escudo de proteção contra micrometeoritos acima.

Um ano antes, O Programa de Expedição Lunar – Lunex (1958) foi a proposta da Força Aérea americana para alcançar a Lua e também estabelecer uma base lunar subterrânea tripulada por 21 pessoas, ao custo de 7,5 bilhões de dólares – preço de época. Suas metas principais consistiam:

1965: recuperação de um veículo de reentrada tripulado

1966: voo circunlunar tripulado

1967: alunissagem tripulada e retorno

1968 em diante: Expedição lunar tripulada permanente.


Módulo de alunissagem Lunex: a viagem até a Lua e a descida seriam com o mesmo veículo, deixando lá o estágio de pouso ao decolar de volta para a Terra. Pousaria como o ônibus espacial.

Projeto Horizonte (1959). Se a USAF tem uma proposta para a Lua, certamente o exército americano não ficaria atrás. Em 59 desenvolveu um estudo pela presença militar na Lua; consistindo de um posto avançado na Lua, com doze militares operando missões de exploração lunar, apoio a missões científicas, desenvolvimento posterior da exploração no espaço e missões militares na Lua, se preciso fosse: o posto estaria protegido de ataques por terra com minas subterrâneas Claymore modificadas contra trajes de pressão e foguetes Davy Crockett com ogivas nucleares de baixa potência.

As estruturas básicas do posto consistiriam em tanques de metal cilíndricos de 3 metros de diâmetro e 6,1 de comprimento. Ainda haveria dois reatores nucleares, enterrados, providenciando energia e dois veículos de terra, um para trabalho pesado e outro para propósitos de maior alcance.

O Projeto Horizonte tinha contornos e ambições de ficção-científica: requereria o lançamento de 147 foguetes Saturno A-1 (predecessores do Saturno V, que levou o Homem à Lua) para levar carga em órbita da Terra em uma estação espacial (convertida de um tanque de primeiro estágio de foguete descartado). A partir disto, um veículo seria montado para a alunissagem e retorno dos astronautas, a construção do local se daria, e finalmente seria ocupado. Notem as datas do cronograma inicial:

1964: 40 foguetes Saturno lançados.

1965: em Janeiro começariam remessas de carga para a Lua; em Abril se daria a primeira alunissagem tripulada, feita por dois astronautas. Iniciaria-se uma |fase de construção contínua até a conclusão do posto avançado.

1966, Novembro: Posto avançado tripulado por 12 homens.

Esse programa teria requerido um total de 61 foguetes Saturno A-1 e 88 Saturno A-2 até essa data. 220 toneladas de carga útil teriam sido transportadas para a Lua. De Dezembro em diante, pelo ano de 1967, um total de 64 lançamentos seriam agendados, resultando em mais 120 toneladas de carga útil.

Tudo ao custo de 6 bilhões de dólares, preço de época.


Arte conceitual do posto avançado Horizonte e módulo de alunissagem.

Base Lunar Zvezda: era um projeto soviético de construção de uma base lunar tripulada por 9 a 12 operativos, ambicionada de 1962 a 1974. Consistiria de nove módulos, todos capazes de locomoção, capazes de se engatarem como um trem.

Mas, para bem ou para mal, nada disso aconteceu: certamente que havia mais entusiasmo do que praticidade nesses projetos, especialmente dado ao custo de época. E ainda, previa a militarização do espaço: a criação da Administração Nacional de Ar e Espaço – NASA –, uma agência civil foi significativa para isso. Os engavetamentos se deram na gestão do presidente Dwight Eisenhower, ele que havia sido general e herói na II Guerra Mundial.

Tudo deu-se como foi, com os oficiais da USAF Neil Armstrong, Michael Collins e Buzz Aldrin voando até a lua em 1969. O resto foi… História?

O mundo aguardou em suspense o próximo passo dos soviéticos, que haviam dado a largada por tantas cabeças a mais nesse páreo, mas até então, nada. Em 1971 eles emplacariam ainda a primeira estação orbital tripulada, a Salyut 1 – mas isso era órbita baixa da Terra. Apenas mergulhar os tornozelos na praia. Ocorria, sem que se soubesse até fins de 1990s, que a tecnologia do primeiro estágio de foguetes por eles não havia sido dominada, com testes do foguete N-1 culminando em fracassos pirotécnicos na plataforma de lançamento.

É preciso de pelo menos dois para haver uma corrida, e para o interesse público na mesma. O ibope dos subsequentes voos Apolo diminuía drasticamente – salvo pelo quase desastre da Apolo 13 – junto com a verba e, como os EUA na época tinham compromisso com outro projeto bilionário – a Guerra do Vietnã –; na altura do governo Nixon resolveu-se cortar custos vistos como desnecessários, e a Apolo 17 (originalmente haveria missões até a Apolo 20) levou os três últimos astronautas na Lua – e nunca mais voltamos.


Bases Clavius (“2001”, de Kubrick) e Lunar Alfa (“Espaço 1999”): o futuro que não foi – ainda.

No mundo profetizado de otimismo tecnológico que nunca se concretizou do ano 2.000, talvez a maior sensação de “futuro roubado” venha pelo não seguimento do Projeto Apolo, seja pelos EUA, seja pela então URSS, ou por nenhum outro país. Especialmente quando lemos ou assistimos obras contemporâneas e que davam por certo nossa presença como algo rotineiro na Lua já na virada de milênio, que dirá neste nosso 2019?

Recentemente, a NASA recebeu ordens de voltar à Lua. Até aí, desde o início do Século 21 tem havido promessas – em geral mais políticas do que qualquer outra coisa – de se retornar à Lua (e se chegar a Marte). Mas, tudo dando certo, o Projeto Ártemis deverá dar frutos até o final dos 2020s.

Provavelmente não estará só nessa: há mais de dez anos que se diz que a próxima corrida espacial seria entre EUA e China. Talvez. Mas não podemos nos esquecer dos esforços e conquistas da Índia, por exemplo. E a Rússia anuncia suas pretensões de ida e instalação de uma colônia lunar por 2030 – projetos, todos anunciam: a própria China, ao lançar seu primeiro taikonauta em órbita, prometia uma ida à Lua em 2010, 2012: 2036 é agora a data anunciada. A inciativa privada também não parece querer ficar de fora.


“Apollo 18 – A Missão Proibida” (2015): Talvez haja um bom motivo para não retornarmos à Lua…

Depois de seu discurso em 1961, houve a Crise dos Mísseis em Cuba que, havendo sido resolvida pacificamente, as relações com os soviéticos desde então haviam melhorado. Um tratado banindo testes nucleares a céu aberto havia sido assinado em 1963, e o Kremlin e a Casa Branca dispunham agora de uma linha direta, na necessidade de esclarecimentos e outros assuntos.

Naquele mesmo ano, inesperadamente Kennedy ainda propôs que se fosse a Lua não em clima de competição, mas cooperação, perguntando aos soviéticos por que não uma missão internacional para lá? Talvez Kennedy não visasse apenas uma questão política, mas econômica, já que os custos da ida à Lua encareciam cada vez mais. Mas, apesar de uma inicial boa recepção de seu discurso pelo então Ministro de Assuntos Exteriores, Andrei Gromiko, nada de prático então foi dito – e o que poderia ter de fato ocorrido, nunca saberemos. Kennedy foi assassinado dois meses depois e seu sucessor, Lyndon B. Johnson, descartou qualquer possibilidade de cooperação com a URSS.

Dentro do espírito de cooperação, uma organização sem fins lucrativos chamada Moon Village Association planeja a Moon Village, encontrando ao menos um defensor em Jan Wörner, Diretor Geral da Agência Espacial Europeia. É uma “aldeia” por se referir a investidores internacionais do setor público e privado, cientistas, engenheiros, universidades e negócios, unindo-se para discutir interesses e capacidades para construir e compartilhar uma infraestrutura na Lua e no espaço cislunar para uma variedade de propósitos. Dado à diversidade de atividades e campos do conhecimento envolvido, há ainda que se explorar as possibilidades surgidas pela potencial sinergia do projeto. Wörner diz que a Aldeia não é somente um projeto ou instalação, mas uma mentalidade de “vamos construir juntos”, levando a talvez mesmo um início de começarmos a pensar como uma só espécie. Algo muito similar, ao meu ver, com o que ocorre no final do filme “Tomorrowland: Um Lugar Onde Nada é Impossível” (2015). O resultado de diferentes campos convivendo juntos também é de interessa para a NASA e sua futura estação orbital lunar.

A Lunar Orbital Platform – Gateway (LOP-G) é uma futura estação orbitando a Lua, um projeto liderado pela NASA mas com desenvolvimento, construção e utilização junto a parcerias comerciais e internacionais. Ela servirá como ponto intermediário tanto para missões automáticas e tripuladas ao polo sul lunar, área de interesse por se concentrar grandes quantidades de gelo, quanto para futuras missões interplanetárias, como o conceito do Deep Space Transport, da NASA.


Conceitualizações da Moon Village e da Lunar Orbital Platform – Gateway: apostas futuras.

Dividir os custos e compartilhar dividendos soa como a noção mais sensata. A estação espacial americana “Freedom”, anunciada desde o governo Reagan, curvou-se ante as necessidades de um custo altíssimo e transformou-se na Estação Espacial Internacional. Se quisermos ter ambições interplanetárias, teremos que ter recursos e mentalidade planetárias, em vez de alimentar velhas rivalidades e bravatas nacionalistas.

Luiz Felipe Vasques

02/07/2019

Links Externos:

https://en.wikipedia.org/wiki/Colonization_of_the_Moon
https://en.wikipedia.org/wiki/Canceled_Apollo_missions#Follow-on_lunar_missions
https://www.history.com/this-day-in-history/kennedy-proposes-joint-mission-to-the-moon

Deixei um comentário