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Eclipse Solar de 14 de dezembro de 2020

O que é um eclipse solar?

A condições de ocorrência do eclipse solar: lua nova no mesmo plano que contem o Sol e a Terra. Nas regiões de penumbra só podemos ver uma parte do Sol ocultada pela Lua.

Na próxima segunda (14/12), a Lua vai cruzar a eclíptica (plano da órbita da Terra ao redor do Sol) e será Lua nova (a Lua vai estar na direção do Sol). Por isso a sombra da Lua vai percorrer uma estreita faixa da superfície da Terra. Isto é um eclipse solar.

Região onde a sombra (mais escuro: onde ocorre o eclipse solar total) e a penumbra (mais claro: onde acontece o eclipse parcial) da Lua vão percorrer a superfície da Terra.
https://www.timeanddate.com/eclipse/map/2020-december-14 .
A totalidade será numa estreita faixa que vai do Chile à Argentina. Quase toda América do Sul vai estar na penumbra. No Brasil somente o Norte e metade da região Nordeste não verão o eclipse parcial. No gráfico vemos a porcentagem de máxima ocultação do disco solar.

Aqui no Brasil: Onde vai ser visto e quando?

Para cada região a duração e a parcela do disco solar ocultado são diferentes. Os estados da Região Norte e boa parte do Nordeste não verão este eclipse. Alagoas e Sergipe vão ter menos de 5% de superfície ocultada (uma pequenina mordida num dos cantos do disco solar). Bahia, Distrito Federal, Goiás e Mato Grosso vão ver algo em torno de 8%. A região Sudeste e Mato Grosso do Sul verão algo entre 24% e 31%. Os estados da região Sul verão mais de 37% do disco solar ocultado. No extremo sul do Rio Grande do Sul a ocultação será maior que 50%.

Na cidade do Rio de Janeiro o evento começa as 12h57min. Teremos 31% do disco solar ocultado no momento do máximo, em torno das 14h14min, quando o Sol atinge uma altura de uns 56 graus. Às 15h23min já estará encerrado para os cariocas. Claro que dependemos do tempo abrir. As previsões meteorológicas não são as melhores.

Momento do início do eclipse (horário local) e ocultação máxima para diversas capitais no Brasil.

Como observar com segurança?

Óculos escuros e chapas de radiografia não são recomendados.

Observar o Sol, mesmo eclipsado, é muito perigoso. A melhor maneira (mais segura e mais prática) é por projeção. Você pode usar um espelho, uma lente ou uma câmara escura, chamada de pin hole. Use estes recursos para projetar a imagem numa tela improvisada (uma folha de papel branco por exemplo).

Projetando dentro de uma caixa você pode ver a evolução do fenômeno em segurança. Quanto maior a caixa maior o tamanho da imagem. Quanto maior o tamanho do orifício mais luz entra, entretanto piora a imagem. Sugestão: comece com um furo de agulha e não passe muito da espessura de um prego.
Diagrama simplificado para projetar a imagem do Sol. Note o detalhe de que a imagem tem que ser formar no centro da sombra. Mova o anteparo olhando para essa sombra, de costas para o Sol,
Você pode usar um lado de um binóculo simples (que não use prismas) ou uma luneta. Um para-sol também é preciso para fazer sombra na folha.


Para observação existem dois tipos de filtros importados seguros: 1) folhas metalizadas do tipo mylar intituladas solar screen; 2) filmes de um polímero sintético chamada de baader. Se não dispõe destes produtos ou tem dúvidas quanto procedência NÃO IMPROVISE. Existe uma opção mais acessível e razoavelmente confiável: o filtro de soldador número 14 (não use números menores). Você obtém facilmente nas lojas de ferragens em retângulos ou círculos.

Filtros de soldador número 14 (ou maior) e películas aluminizadas especiais (Mylar, SolarScreen ou Baader) pode ser usados como filtros eficientes. Não use filtros feitos para rosquear na ocular (podem rachar) . Se não tem um filtro confiável use seu telescópio para projetar a imagem. NUNCA OLHE PARA O SOL COM INSTRUMENTO ÓPTICO sem um filtro aluminizado.
Exemplos da imagem do disco solar parcialmente ocultado com filtros de soldador (abaixo à esquerda) e mylar (abaixo à direita) em outro eclipse solar parcial.
(Eclipse solar parcial 11/09/07 visto no Planetário do Rio.)

Quando e onde vai ter eclipse de novo?

Todo ano tem eclipse solar. Raro é a sombra passa perto de onde você mora.

Referências:

https://www.timeanddate.com/eclipse/map/2020-december-14
https://eclipse.gsfc.nasa.gov/SEgoogle/SEgoogle2001/SE2020Dec14Tgoogle.html
https://www.deviante.com.br/noticias/ciencia/eclipse-solar-de-carnaval-e-como-observa-lo/
https://www.vercalendario.info/pt/lua/brasil-14-dezembro-2020.html
https://www.businessinsider.com/every-total-solar-eclipse-until-2040-video-2017-8
http://oal.ul.pt/observar-o-sol-em-seguranca/
http://portaldoprofessor.mec.gov.br/storage/materiais/0000017087.pdf
https://www.businessinsider.com/every-total-solar-eclipse-until-2040-video-2017-8
http://oal.ul.pt/observar-o-sol-em-seguranca/
http://portaldoprofessor.mec.gov.br/storage/materiais/0000017087.pdf
https://www.vercalendario.info/pt/lua/brasil-14-dezembro-2020.html
https://www.businessinsider.com/every-total-solar-eclipse-until-2040-video-2017-8
http://oal.ul.pt/observar-o-sol-em-seguranca/
http://portaldoprofessor.mec.gov.br/storage/materiais/0000017087.pdf

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1957 Sputnik

Por Naelton Mendes de Araujo – Astrônomo da Fundação Planetário da Cidade do Rio de Janeiro

O ano era 1957: a televisão norte-americana lançava a comédia situação (sitcom) “Leave It to Beaver”; o rádio tocava o hit de Elvis Presley “Jailhouse Rock” e Jack Kerouac publica seu livro “On The Road”. Mas outro som desperta a América, um som vindo do espaço.

Fazia 12 anos que a Segunda Guerra Mundial tinha acabado com a detonação de duas bombas atômicas no Japão. Depois disso começou um novo tipo de conflito velado: a Guerra Fria. Antigos aliados, União Soviética e Estados Unidos, agora se debruçavam sobre os despojos tecnológicos da Alemanha nazista derrotada. Fazia oito anos desde que a União Soviética já tinha desenvolvido sua primeira bomba atômica de fissão e menos de dois anos da explosão da sua primeira bomba de hidrogênio (muito mais potente).

As primeiras bombas eram projetadas para serem lançadas de aviões. Para tornar a ameaça nuclear mais assustadora faltava um veículo de transporte mais eficiente. Era preciso colocar a arma de destruição mais poderosa já feita pelo humanidade bem na cara do inimigo. A Alemanha nazista já desenvolvera o veículo ideal: os foguetes V2. Dos descendentes destes foguetes e das bombas iniciais surgiu a arma mais temida da humanidade: o míssil balístico intercontinental. 

O que distingue um míssel destes de um foguete lançador de satélite é, essencialmente, o que cada um leva na sua na sua ponta (na sua extremidade) e sua trajetória. A carga útil que pode ser uma ogiva explosiva (nuclear ou convencional) ou um veículo espacial: um satélite artificial.

No ano de 1957 a ONU lançou o Ano Internacional Geofísico e um dos desafios científicos era o colocar o primeiro satélite artificial. Previsto pela teoria gravitacional de Isaac Newton, e antecipado pelas obras de Júlio Verne, o satélite artificial ainda não havia saído do papel. A tecnologia básica já existia mas faltava pelo menos mais um estágio e a orientação correta para colocar um objeto se movimentando redor da Terra. Ficar em órbita, falando de forma simplificada, é lançar um projétil de tal forma que ao cair não atinge mais a superfície da Terra. Isso se consegue fazendo um disparo horizontal a uma altura acima de 100km (onde o ar não oferece resistência) a uma velocidade igual ou superior a 8km por segundo. 

Isso foi feito primeiro pela União Soviética no dia 4 de outubro de 1957. A esfera metálica de 60cm e um pouco mais de 80kg dava uma volta na Terra a cada 96 minutos emitindo um bip bip insistente e fácil de captar por qualquer radioamador. 

Sputnik significa pequeno companheiro. Foi lançado por um foguete denominado Semiorka R7. Mais tarde este R7 daria origem a toda uma nova dinastia de foguetes. A família decorrente até hoje coloca naves espaciais em órbita, como as Soyuz que levam os astronautas da atualidade para a ISS.  

Mais do que uma conquista científica, o Sputnik abalou a supremacia norte-americana e se tornou um desafio para os políticos. As forças armadas norte-americanas estavam tentando individualmente a colocação do primeiro satélite sem sucesso. Esse momento especial foi um impacto tão grande ficou conhecida como Crise Sputnik, o que levou à criação da Nasa, Agência Espacial norte-americana, responsável por centralizar a pesquisa espacial. 

A dianteira soviética na corrida espacial marcou mais um recorde no mês seguinte quando foi para o espaço o primeiro ser vivo em órbita, a cadelinha Laika, no Sputnik 2. Mas essa é outra história.

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Antares: uma supergigante em detalhes

Paulo Cesar R. Pereira

Durante as noites mais frias do inverno no Brasil, a constelação do Escorpião domina os céus, estando bem alta por volta das 22h no mês de julho. A forma inconfundível, e a presença da estrela brilhante, de cor laranja-avermelhada, faz dessa constelação uma das mais tranquilas de ser identificada pelo observador inexperiente. A estrela se chama Antares, uma enorme supergigante. Observando a luz visível dessa estrela, sabia-se que ela tinha um tamanho 700 vezes maior do que o Sol. De acordo com dados de pesquisas recentes, ela é bem maior do que podemos supor com base no que nossos olhos conseguem ver.

Carta celeste para o início de julho, no começo da noite. Crédito: Stellarium.

Todas as estrelas emitem um vento estelar -fluxo constante de radiação, partículas e campos magnéticos. Embora o vento estelar do nosso Sol não seja tão intenso quanto o de uma supergigante, é capaz de produzir sérios problemas nas redes de comunicação e de energia aqui na Terra, sem contar as belas auroras. As estrelas supergigantes, como Antares, são bem menos quentes do que o nosso Sol, mas apresentam ventos estelares muito mais intensos, lançando ao espaço elementos químicos pesados como N e o C, que são básicos para a vida como a conhecemos.

Um grupo de astrônomos busca entender como é produzido o vento estelar nas estrelas supergigantes, usando dois conjuntos de equipamentos: o Atacama Large Millimeter / submilimeter Array (ALMA) e o Karl G. Jansky Very Large Array (VLA). Eles não são telescópios tradicionais, no sentido de que podemos ver a imagem coletada diretamente com os nossos olhos, mas são radiotelescópios. Ou seja, são antenas de metal que coletam radiação numa frequência que nossos olhos não enxergam, mas que permite acessar camadas mais profundas da atmosfera das estrelas.

Crédito: National Radio Astronomy Observatory (NRAO)

Apontando os equipamentos do ALMA para Antares, foi possível estimar que a sua cromosfera (uma das camadas da atmosfera das estrelas) se estende a uma distância equivalente ao diâmetro da estrela! Para você ter uma ideia, a cromosfera do Sol tem apenas 1/200 do raio solar. Já o VLA, com sensibilidade para frequências menores, conseguiu observar uma camada ainda mais externa, chamada zona de aceleração. É nela que o material escapa da estrela, criando o vento estelar. Essa camada se estende por aproximadamente 3 bilhões de quilômetros, enquanto os ventos podem chegar ao dobro disso.

Ilustração das várias camadas da atmosfera de Antares, comparadas com o tamanho do Sistema Solar. Nessa escala, o Sol (Sun) é bem menor do que um pixel. Crédito: NRAO/AUI/NSF, S.Dagnello.
https://vimeo.com/428242573
Radiotelescópios revelam em detalhes a atmosfera da estrela supergigante Antares. Ilustração da pesquisa realizada. Crédito: NRAO

Essas observações são importantes para tentar entender a origem do vento estelar, bem como da pulsação, um fenômeno muito comum nas supergigantes, e que é responsável pelo enriquecimento químico do espaço. E tem mais, sabe-se que as estrelas supergigantes irão eventualmente explodir como uma supernova. Se você acha fácil encontrar Antares no céu, imagine se ela se transformar numa supernova, quando poderá ficar tão brilhante quanto uma Lua Cheia!

Da próxima vez que procurar pelo Escorpião no céu, lembre-se que aquele ponto brilhante e avermelhado é bem maior que o nosso Sol, cabendo dentro dele, com folga, a orbita de Saturno, e provavelmente explodirá num futuro distante, tornando-se muito mais brilhante, para depois desaparecer, e quem sabe, virar um buraco negro.

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Júpiter Soberano

Por Naelton Mendes de Araujo – Astrônomo da Fundação Planetário da Cidade do Rio de Janeiro

Depois de Marte, além do cinturão de asteroides, nós vamos encontrar o planeta Júpiter, o maior planeta do Sistema Solar e o primeiro de uma outra categoria de planetas. Enquanto os planetas mais internos (Mercúrio, Vênus, Terra e Marte) são planetas densos e pequenos, os planetas externos são chamados de gigantes gasosos: muito maiores, menos densos e compostos basicamente de gases. Destes o maior é Júpiter.

Júpiter é conhecido desde a antiguidade pois é fácil vê-lo no céu. Ele é um dos cinco planetas visíveis à vista desarmada: Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno. Pelo seu movimento lento e o brilho intenso (é o quarto objeto natural mais brilhante visível no céu da Terra), várias civilizações antigas atribuíram grande destaque a Júpiter. Foi associado à maior divindade do Panteão grego: Zeus, o Deus dos Deuses e o rei do Olimpo. Muitos povos associaram-no ao seu deus do trovão.

Da esquerda para a direita: Júpiter (Roma), Thor (Escandinávia) e Zeus (Grécia).

Em 1610, o sábio italiano Galileu Galilei (1564-1642) registrou suas observações de Júpiter no livro Mensageiro Sideral. Este livro foi o primeiro registro metódico de observações celestes feitas através de um instrumento óptico: a recém-inventada luneta astronômica. Observando Júpiter, Galileu percebeu quatro pontos luminosos alinhados com o disco do planeta. Ao observar por um período notou um movimento pendular ao redor do astro maior. Não poderiam ser estrelas: eram os quatro maiores satélites de Júpiter. Mais tarde receberam a denominação de luas galileanas, em homenagem a Galileu.
Mesmo com um telescópio com baixo aumento é possível vê-las. Essa descoberta foi muito importante para a determinação de que a Terra não era o centro do Sistema Solar.

Luas Galileanas: no alto uma imagem telescópica. Abaixo fotos obtidas por sondas espaciais (da esquerda para a direita): Io, Europa, Ganimedes e Calixto.

Essas luas são Io, Europa, Calixto e Ganimedes. Cada uma destas é um pequeno mundo particular. A cada dia se descobre mais coisas interessantes sobre cada uma delas. Io é vulcânica e Europa tem um oceano recoberto de gelo que pode abrigar condições de vida. Esta é um dos mais esperados alvos de missões futuras.

Neste momento nós sabemos que existem pelo menos 79 luas jovianas, mas pode ser que existam mais. Como Júpiter tem uma gravidade muito intensa, ele recolheu muito material ao seu redor durante a sua formação bilhões de anos atrás. Algumas dessas luas podem ter se formado junto com o planeta. Outras luas podem ter sido asteroides ou cometas capturados ao longo da história do Sistema Solar.

Sendo essencialmente gasoso fica estranho falar em uma atmosfera joviana. O planeta, em termos de massa, é composto por 75% de hidrogênio e 24% de hélio. O 1% restante é composto de metano, amônia, fósforo e vapor de água, nesta ordem de abundância. O planeta gira rapidamente em torno do seu próprio eixo num período de quase 10 horas. Mas o ano joviano dura um pouco menos que 12 dos nossos anos terrestres.

Rotação da atmosfera joviana. Note a grande mancha vermelha um pouco à esquerda do centro.

Várias sondas espaciais já visitaram Júpiter. Algumas sobrevoaram e outras ficaram em órbita. A maior parte do que sabemos hoje deste planeta devemos a estes aparatos espaciais.

Primeiras sondas a sobrevoar Júpiter: Pioneer 10 e 11

As primeiras sondas a ultrapassar o cinturão de asteroides foram as Pioneer 10 (1973) e 11 (1974). Esta última chegou a meros 34.000 km da superfície nebulosa do planeta gigante. As primeiras fotos detalhadas de Júpiter e suas luas foram obtidas naquela época.

Voyager 1 e 2: primeira parada Júpiter.

Cinco anos mais tarde, duas sondas Voyager visitaram o planeta em um intervalo de poucos meses. Estas sondas sobrevoaram o planeta gigante e depois prosseguiram para outros destinos, como as sondas Ulysses (1992), Cassini (2000) e New Horizon (2007).

Sobrevoando Júpiter de passagem: Ulysses foi para o Sol, Cassini para Saturno e a New Horizon para Plutão e além.

A primeira sonda a orbitar Júpiter foi a Galileu (1995) que, apesar de uma problema na sua antena, transmitiu dados até 2003. Esta missão também incluiu um pequena sonda atmosférica que penetrou o envoltório gasoso do planeta e transmitiu dados antes de ser esmagada. Em 2016 a sonda Juno entrou em órbita do planeta. Particularmente interessantes foram a fotos de alta resolução dos polos jovianos com seus inúmeros vórtices de gás. Até o momento Juno ainda transmite dados.

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Cometa C/2019 U6 Lemmon

No início deste mês o colega Paulo Cesar falou de um cometa (https://planeta.rio/cometa-c-2020-f8-swan-de-passagem/) que pode ser visto a olho nu. Hoje estou aqui para falar de outro cometa, mas este só visível com o auxílio de um equipamento (binóculo ou telescópio), pelo menos por enquanto.

O cometa C/2019 U6 Lemmon foi descoberto em 31 de outubro de 2019, primeiramente definido com características de um asteroide. Observações posteriores identificaram a presença de uma coma e de uma pequena cauda, marcas de um cometa, sendo, assim, classificado como tal.

Como eu disse anteriormente, sua observação a olho nu não é possível no momento. Sua magnitude aparente (é assim que os astrônomos classificam o brilho dos astros levando em consideração a sua distância) está muito alta. Essa forma de medir o brilho segue a seguinte regra: quanto maior o número, menor o brilho. Nossos olhos conseguem ver, à vista desarmada, até a magnitude 6. Mais do que isso só com o auxílio de equipamentos (binóculo ou telescópio). O cometa C/2019 U6 Lemmon está um pouco acima deste limite.

Mas o que me motivou a escrever sobre este cometa foi que dias atrás recebi uma foto deste astro do colega Fernando Vieira, astrônomo do Planetário por cerca de 40 anos. E é bom saber que, mesmo nestes momentos difíceis em que estamos vivendo, a Astronomia nos revela belezas do Universo e que podemos compartilhá-las com o leitor. Nós estamos atentos a isto e compartilhando essas maravilhas.

Cometa C/2019 U Lemmon (a mancha esverdeada), fotografado por Fernando Vieira.

Para quem gosta de fotografar o céu, seguem os dados da foto acima: telescópio com objetiva 120/850mm, câmera Canon T3, 400 ISO, 29 exposições de 13s, totalizando 6min e 17s, 20 darks. Foto feita no dia 25/5/2020 às 19h5min (tempo do meio da exposição).

Na foto o cometa está próximo da estrela Sirius, a mais brilhante do céu noturno, na constelação do Cão Maior. Com essa referência é fácil de achá-lo.

A figura abaixo mostra o caminho do C/2019 U6 Lemmon por entre as constelações e as estrelas nos próximos meses, até o dia 9/7/2020.

A carta celeste abaixo mostra o céu às 18h30min do dia 5/6/2020. O cão maior está próximo ao horizonte e, como o cometa se desloca em direção à constelação da Hidra, ele ficará mais alto no céu no início da noite.

Carta celeste: Heavens Above (https://www.heavens-above.com/

A máxima aproximação do C/2019 U6 Lemmon com a Terra será de aproximadamente 124 milhões de quilômetros, calculada para os últimos dias de junho. Para comparação, o Sol está a 150 milhões de quilômetros de nós. Não será muito próximo e seu brilho estará no limite visual do olho humano. Mas, como os cometas são imprevisíveis, quem sabe dará para vê-lo a olho nu? Pela janela! Vamos torcer!

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Dragon, a volta ao espaço

Por Naelton Mendes de Araujo – Astrônomo da Fundação Planetário da Cidade do Rio de Janeiro

Hoje, 27 de maio de 2020, está previsto o lançamento da nave Dragon pela SpaceX em torno das 17h30min (horário de Brasília). A nave parte dos Estados Unidos da mesma plataforma 39A, de onde foram lançadas as missões Apollo para a Lua e os ônibus espaciais. Este lançamento tem uma importância muito grande, pois desde que os ônibus espaciais foram aposentados, em 2011, não se lança uma nave tripulada a partir dos Estados Unidos.

Este momento é parecido com o que aconteceu em 1981 com o lançamento do primeiro ônibus espacial Columbia. Com o fim do programa Apollo, em 1975, os EUA ficaram cerca de seis anos sem que um astronauta pudesse sair do território norte-americano para o espaço. Até o momento os norte-americanos, para alcançar a ISS, precisam partir de bases do Cazaquistão (Rússia) através das cápsulas Soyuz, um modelo de nave espacial criado na década de 70.

Depois da aposentadoria dos ônibus espaciais houve uma certa para paralisação do avanço espacial. Não desenvolveram um sucessor para o ônibus espacial: um veículo reutilizável de pouso aerodinâmico, um avião foguete ou algo semelhante. De certa maneira voltamos no tempo com o uso de cápsulas espaciais. Era de se esperar que houvesse ônibus espaciais mais modernos, capazes inclusive de levantar voo de solo sem ajuda de foguetes decolando de aviões de pistas comuns. Os acidentes com os ônibus espaciais Challenger e Columbia, somados à complexidade e custo dos lançamentos, desencorajaram o desenvolvimento de novos veículos deste tipo.

A cápsula Dragon.

A diferença agora é que a Dragon é recuperável (tanto a parte do foguete, como a cápsula). Se a missão denominada Demo 2 for um sucesso, estaremos presenciando mais um marco na história da conquista espacial: o retorno do voos norte-americanos em órbita da Terra. A empresa americana SpaceX é uma empresa particular, do bilionário Elon Musk, que já fez grandes avanços no uso comercial do espaço.

A missão Demo-2 tem como objetivo que a Dragon se acople à estação ISS. Uma cápsula Dragon já fez isso automaticamente na missão Demo-1, em março de 2019.

A missão Demo 2 na fase inicial: a ida.
A volta.

A Janela de lançamento — período em que se pode lançar a missão com a configuração atual — vai até domingo, 31/05/2020. Se algo não estiver 100% o lançamento pode ser adiado até esta data.

O Foguete Falcon 9.
Os astronautas Bob Behnken and Doug Hurley.

O foguete usado será um Falcon 9. Na primeira etapa o estágio inicial volta automaticamente. Os astronautas deste voo histórico chamam-se Bob Behnken and Doug Hurley e são da NASA. Vamos torcer para que dê certo! Está previsto para ser lançado hoje, dia 27 às 17h30min.


Link para assistir ao vivo no site da SpaceX: https://www.spacex.com/launches/

ao vivo do site da Spacex
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Qual o Sabor da Lua? (Infantil)

O que acontece quando os animais da floresta resolvem saber o sabor da Lua? (Contação de história com Simone Cavaliere)

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O número 42 e o Dia da Toalha

Por Naelton Mendes de Araujo – Astrônomo da Fundação Planetário da Cidade do Rio de Janeiro

Dia 25 de maio é dia da toalha. O que significa isso? Não é nenhuma campanha de confecção de algodão ou de roupas ou coisas do tipo. A relação que há entre uma toalha e a ficção científica parte de um autor especialmente criativo e original Douglas Adams (1952-2001) e a sua obra “O Guia do Mochileiro das Galáxias” ( The Hitchhiker’s Guide to the Galaxy, 1978). A obra começou com radio novela, depois peça de teatro, o primeiro de cinco livros veio em em 1979, em 1981 veio a primeira série de TV e finalmente em 2005 o longa metragem.

Neste livro, um viajante extraterrestre, que pega carona através da Galáxia encontra-se com um terrestre e o leva para aventuras espaciais depois que a Terra é destruída. Falando assim parece uma coisa muito dramática mas o livro é na verdade uma grande de paródia em cima de toda ficção científica. O guia é um enorme deboche de Adams que é conhecido pelo seu humor britânico extremamente irônico e non-sense. Adams foi roteirista do grupo de comédia Monty Python. Adams também participou da série de ficção científica mais longeva da história onde foi roteirista: Doctor Who.

No Guia dos Mochileiros importância da toalha é colocada como um item de primeira necessidade incluindo utilizações bem curiosas do tipo enfrentar monstros. A primeira vez que se comemorou a data a referência era (mais ou menos) a data de falecimento de Adams. Mais tarde se associou a estreia do primeiro filme da saga Star Wars. Assim a data 25 de Maio tornou-se uma referência para a cultura pop e desde então tem sido considerado o dia do orgulho nerd.
O que que é um nerd? É difícil definir mas está muito ligado a pessoas que curtem séries de fantasia e sci fi. Se interessam por assuntos científicos e temas ligados a tecnologia. Esse grupo de pessoas é representada de forma jocosa pela série The Big Bang Theory. A série conta a história de um grupo de quatro nerds, todos eles pesquisadores, suas dificuldades com relações sociais e suas aventuras com muitas referências ao mundo dos comics, fantasia e ficção científica.

Em 2005 foi lançado o longa metragem baseado no livro Guia dos Mochileiros. Foi gratificante para os fãs ver os personagens icônicos como Ford Prefect (interpretado por Yasiin Bey), Arthur Dent (Martin Freeman conhecido por The Hobbit e Sherlock) e Zaphod Beeblebrox (Sam Rockwell de Moon) e o robô deprimido Marvin (Warwick Davis de Willow). O elenco inclui Zooey Deschanel (como Trillian), Stephen Fry (Narrador, na versão brasileira a voz foi de José Wilker), o premiado veterano John Malkovich (Humma Kavula) entre outros. Os seres, os apetrechos tecnológicos, as discussões filosófico-científicas e os vários memes criados nesta obra ocupam nichos de destaque até hoje na cultura pop.

A esquerda Zaphod em uma repreesentação teatral, centro os personagens no filme de 2005 e a direita Trillian por Zooey Deschanel
  • Os livros de Adams sobre a saga do mochileiro foram cinco apesar do autor se referir a obra ironicamente como uma trilogia:
  • The Hitchhiker’s Guide to the Galaxy – 1979 (no Brasil, O Guia do Mochileiro das Galáxias).
  • The Restaurant at the End of the Universe – 1980 (no Brasil, “O Restaurante no Fim do Universo”).
  • Life, the Universe and Everything – 1982 (no Brasil, “A Vida, o Universo e Tudo Mais”).
  • So Long, and Thanks For All the Fish – 1984 (no Brasil, “Até mais, e Obrigado pelos Peixes!”).
  • Mostly Harmless – 1992(no Brasil, “Praticamente inofensiva”).

Quanto ao número 42? Ah, leia o livro ou veja o filme. Você vai saber que 42 é resposta para sobre a vida, o universo e tudo mais pelo menos segundo o Pensador Profundo. Seja como for: Não entre em pânico!

Links:
Livro (1979): https://www.skoob.com.br/livro/225ED344547
Série de TV (1981): https://www.imdb.com/title/tt0081874/
Longa metragem (2005): https://www.imdb.com/title/tt0371724/
O dia da toalha (a data): https://super.abril.com.br/cultura/o-que-e-dia-da-toalha-e-por-que-ele-e-comemorado-na-data-errada/

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A Descoberta de Urano e Porque Você Deve Arrumar Sua Mesa.


Urano, o primeiro planeta do Sistema Solar identificado após a invenção do Telescópio.

Eu vou te contar porque não disse que Urano foi descoberto depois da invenção do telescópio, mas identificado…

O crédito da descoberta do planeta Urano é dado a William Herschel, um astrônomo nascido na Alemanha e naturalizado britânico, que viveu entre os séculos XVIII e XIX, mas existem ao menos três fortes indícios de observações de Urano feitas bem antes de Herschel.

A primeira observação de Urano parece ter sido feita na Grécia antiga, pelo astrônomo Hipparcus, que pode ter observado o planeta no ano 128 a.C. e o registrou como uma estrela em seu catálogo. O catálogo de estrelas de Hipparcus foi utilizado por Ptolomeu no livro Almagesto, onde ele explica seu modelo geocêntrico de Universo, no qual a Terra está numa posição central e os planetas giram ao redor dela. Note que Hipparcus não tinha telescópio, que só aparece no século XVII. Urano tem um brilho que está no limite do alcance do olho humano, então, um bom olho, num excelente céu pode identificá-lo sem nenhum equipamento

Após Hipparcus, o planeta foi observado em 1690 por outro Astrônomo, cerca de 80 anos depois da invenção do telescópio. Esse astrônomo foi  John Flamsteed, que o identificou como uma estrela na constelação do Touro.

E mais tarde, a partir de 1750, o astrônomo Pierre Charles Le Monnier, também observou Urano e o identificou como estrela. O caso de Le Monnier é interessante porque ele foi um astrônomo bastante produtivo, e foi muito importante em defender na França o método inglês, de John Flamsteed (aquele que também observou Urano e pensou que era estrela), de determinar a ascensão reta de um astro. Mas há relatos sobre um modus operandi de Le Monnier que pode tê-lo atrapalhado de ter, de fato, descoberto um novo planeta e daqui a pouco falamos sobre isso. Sabemos que Le Monnier observou Urano em um dos pontos estacionários da órbita, o que certamente também o atrapalhou de observar um movimento do Planeta

Chegamos finalmente a William Herschel. Na noite de 13 de março de 1781, Herschel observou Urano usando um de seus telescópio no jardim de sua casa na cidade de Bath, Inglaterra. A casa de Herschell hoje é o Herschel Museum of Astronomy, ou Museu Herschel de Astronomia. Mas, assim como seus antecessores, Herschel também não o identificou como planeta e, inicialmente, achou que se tratasse de um cometa ou um objeto nebuloso

Objeto nebuloso era como os astrônomos chamavam nebulosas, galáxias e aglomerados estelares antes de nós sabermos o que são nebulosas, galáxias e aglomerados estelares, porque esses objetos aparecem como manchinhas no céu, ou, literalmente, como objetos nebulosos

Quatro dias depois, em 17 de Março daquele ano, Herschel notou um deslocamento no objeto e concluiu que se tratava de um cometa, porque cometas, assim como os planetas, se deslocam de forma perceptível no céu, enquanto os objetos nebulosos são considerados fixos, assim como as estrelas.

Quando Herschel anunciou sua descoberta à Royal Society, uma das maiores sociedades científicas da História, ele explicou ainda mais porque se tratava de um cometa e curiosamente ele utilizou a observação de planetas como exemplo. Ele disse que quando aumentava o aumento de seu telescópio, o tamanho do objeto também aumentava, assim como acontece com os planetas, e não acontece com as estrelas que sempre aparecem como pontos, não importa o aumento que você use no seu telescópio. Isso acontece porque as estrelas estão numa escala de distância muito maior que a dos objetos do Sistema Solar

Então, o novo “cometa” descoberto passou a ser observado por outros astrônomos e aí coisas estranhas começaram a aparecer. O astrônomo real  Nevil Maskelyne, que alguns anos antes esteve envolvido com uma experiência para medir a massa da Terra, disse num comunicado:

“Não sei como chamá-lo. É tão provável que seja um planeta normal se movendo numa órbita quase circular ao redor do Sol como um cometa se movendo numa elipse extremamente excêntrica. Ainda não vi nenhuma coma ou cauda nele.

Cauda e coma são estruturas que os cometas exibem quando se aproximam do Sol. Ainda assim, Herschel continuava convencido de que seu objeto se tratava de um cometa.

O astrônomo Filandês Anders Johan Lexell, trabalhando na Rússia, foi o primeiro a descrever a órbita do novo objeto, que era mesmo quase circular, o que é característica de planetas e não de cometas, que possuem órbitas mais excêntricas, ou mais alongadas, como Maskelyne tinha dito.

O astrônomo alemão Johann Elert Bode, que é muito conhecido pela lei de Titius-Bode, uma lei empírica que determina o raio médio das órbitas planetárias do Sistema Solar, disse que a descoberta de Herschel se trata de “um objeto semelhante a um planeta circulando além da órbita de Saturno”, surgindo aí a primeira referência à posição correta da órbita do astro.

Após essas observações, e certamente muitas outras que não foram registradas, o objeto foi reconhecido como planeta, e cada vez mais deixava de ser uma exclusividade de Herschel. Em 1783, dois anos depois de ter apontado seu telescópio para esse novo objeto no jardim de sua casa, Herschel disse à Royal Society:

“Pela observação dos mais proeminentes astrônomos na Europa parece que o novo objeto, o qual tive a honra de mostrar para eles em 1781, é um planeta do nosso Sistema Solar”.

Outro momento interessante com relação à descoberta de Urano foi seu nome, que só passou a ser aceito como conhecemos hoje quase 70 anos após as observações de Herschel. Maskelyne era um grande nacionalista, gostava de valorizar as coisas inglesas, algo que se vê com muita ênfase em seu envolvimento com o experimento para medir a massa da Terra, disse à Herschel:

“Faça ao mundo astronômico o favor de dar um nome ao seu planeta, que é totalmente seu, e do qual somos muito gratos à você pela descoberta.”

Em resposta à Mskelyne, Herschel nomeou “seu” planeta de Georgium Sidus, Latim para ‘estrela de George’ ou ‘planeta de George’, homenageando o rei George III. Ele explicou a escolha do nome da seguinte maneira:

“Nas fabulosas eras dos tempos antigos, os nomes de Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno foram dadas aos planetas, por serem os nomes de seus principais heróis e divindades. Na mais filosófica era atual, dificilmente seria permitido recorrer ao mesmo método e usar Juno, Pallas, Apollo ou Minerva, como um nome para o nosso novo corpo celeste. A primeira consideração de qualquer evento em particular, ou incidente notável, parece ser sua cronologia: se em alguma época futura for perguntado, quando este último planeta encontrado foi descoberto? Seria uma resposta muito satisfatória dizer: ‘No reinado do rei George, o terceiro’.

Evidentemente esse nome não fez o menor sucesso fora da Grã-Bretanha e houve outras propostas. Até chamar o planeta de Herschel foi proposto, por um astrônomo Francês, mas o nome que se estabeleceu na História foi proposto por Johann Elert Bode, aquele mesmo que também estudou a órbita do planeta e conhecido pela lei de Titius-Bode.

Bode (se pronuncia “bôda”) propôs em 1782 Uranus, do Latim, o que traduzimos em português como Urano, deus grego que personifica o céu. Justificou sua sugestão dizendo que Urano era pai de Saturno, que por sua vez era pai de Júpiter. Então teríamos na sequência Júpiter, Saturno e Urano, uma sequência de pais e filhos.

Em 1789, o químico alemão Martin Heinrich Klaproth, colega de Bode na Academia Real de Ciência da Suécia, descobriu um novo elemento químico e o batizou de Urânio (92U), para dar suporte ao nome do novo planeta proposto por Bode

Urano passou a ser cada vez mais utilizado ao redor do mundo até que se tornou de fato oficial em 1850 quando a publicação inglesa Almanaque Náutico de sua Majestade ou Her Majesty’s Nautical Almanac Office (HMNAO) parou de usar Georgium Sidus e passou a usar Urano como nome do novo planeta.

Então, deixo aqui algumas reflexões filosóficas e históricas para você.

Em primeiro lugar note que, mesmo sendo visível sem telescópio e observado desde antes de Cristo, Urano passou despercebido como planeta por séculos de astronomia. Os astrônomos, antes do telescópio, só diferenciavam planeta de estrela por seu movimento, e aparentemente, ninguém percebeu o movimento de Urano. Algo que estava tão ao alcance de vários astrônomos por séculos, acabou escapando.

Outra questão é sobre Pierre Charles Le Monnier que, em meados do século XVIII, já tinha bons telescópios, era um astrônomo talentoso, observou Urano, e apesar de ter observado num momento em que o planeta estava com pouco deslocamento, provavelmente, ele deixou de entrar para a história como o descobridor por causa de um modus operandi em sua forma de trabalhar. Há relatos de que Le Monnier era um cara fácil de se irritar e meio bagunçado com suas anotações. A condição observacional de Urano e a bagunça de suas anotações podem tê-lo impedido de descobrir um planeta. Isso pode servir de estímulo para você arrumar a sua mesa!

E para terminarmos, note que a descoberta de Urano foi um processo que começou com a observação de William Herschel, levando em conta que as observações anteriores não tiveram desdobramentos que aproximassem o objeto de ser reconhecido como planeta. Não foi o trabalho de uma única pessoa, houve trabalho de muita gente, até que tivéssemos finalmente a descoberta de que havia mais um planeta no Sistema Solar. E esse processo envolveu não só questões científicas, como a determinação da órbita do objeto, como também muita questão política que fez com que demorasse 70 anos para que um nome fosse finalmente estabelecido

Isso é muito característico da ciência moderna, e quando eu falo ciência moderna me refiro do século XVIII para cá, pelo menos. Para fazermos real justiça histórica, e entendermos o que de fato aconteceu, é preciso compreender que modernamente, normalmente, não há heróis solitários mas trabalho em grupo.

Bons céus e até a próxima!

Leia Mais:

Royal Society
https://royalsociety.org/
Herschel Museum of Astronomy
https://herschelmuseum.org.uk/

Sobre Le Monnier

https://books.google.com.br/books?id=wXRKAAAAYAAJ&pg=PA182&dq=le+monnier+IRRITABLE&hl=en&sa=X&redir_esc=y#v=onepage&q=le%20monnier%20IRRITABLE&f=false

https://www.theodora.com/encyclopedia/l/pierre_charles_lemonnier.html

https://books.google.com.br/books?redir_esc=y&id=lAQ5AAAAMAAJ&dq=ADVANCED+PHYSIOGRAPHY&focus=searchwithinvolume&q=By+not+arranging+them+decently+and+in+order+Le+Monnier+lost+out+on+immortality

Her Majesty’s Nautical Almanac Office:

http://astro.ukho.gov.uk/

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Coluna do Astrônomo Curiosidades Dicas Entretenimento

Cometa C/2020 F8 SWAN de passagem

Paulo Cesar R. Pereira

Olá, estamos de volta com mais dicas e curiosidades sobre a observação do céu. Dessa vez vamos conversar sobre um cometa descoberto agora em março, o C/2020 F8 SWAN. Já tem muita gente querendo saber se dá para observá-lo. Vamos então saber um pouco mais sobre esse cometa.

O cometa foi descoberto em 25 de março de 2020 pelo astrônomo amador Michael Mattiago, ao analisar imagens públicas obtidas pela sonda SOHO que está em órbita ao redor do Sol.

SOHO (Solar and Heliospheric Observatory/Observatório Solar e Heliosférico), para quem não conhece, é uma sonda espacial fruto da colaboração entre a Agência Espacial Europeia e a NASA. Ela tem o objetivo de investigar a coroa solar (atmosfera exterior do Sol) e a origem do vento solar (fluxo de partículas carregadas eletricamente ejetadas do Sol).

Sonda SOHO

Como a sonda possui uma câmera com campo de visão amplo, é possível observar também a passagem de cometas próximos ao Sol. E esses registros não são raros! Até mesmo violentas colisões de cometas com o Sol podem ser observadas.

Mas vamos voltar ao cometa da vez. A bela fotografia abaixo foi obtida na Namíbia em meados de abril. Note o coma brilhante, de cor esverdeada e a longa cauda azulada. A cauda (composta de poeira e de gás ionizado pela luz ultravioleta do Sol), é empurrada pelo vento solar, que são partículas ejetadas da nossa estrela. O efeito combinado do vento solar com os jatos de gás que saem do núcleo do cometa forma a estrutura complexa da cauda. A cor azul está associada à recombinação de moléculas de monóxido de carbono. Já a cor verde do coma, ao redor da cabeça do cometa, é criada em geral por moléculas de carbono. A cauda pode ter milhões ou até mesmo centenas de milhões de quilômetros e, junto com o coma, refletem a luz solar, fazendo com que um cometa se torne um astro bem maior e brilhante, facilitando a observação por telescópios ou câmeras fotográficas. Eventualmente, como no caso do C/2020 F8 SWAN, se torna visível a olho nu.

Cometa C/2020 F8 SWAN

É comum os cometas apresentarem esse padrão de cores. O cometa Lovejoy, descoberto em 2014, tinha cores similares, embora uma cauda bem mais complexa, modulada pelo vento e pelo campo magnético solar. Os entusiastas da astrofotografia devem se lembrar muito bem.

Cometa Lovejoy

Você pode tentar observar o cometa C/2020 F8 SWAN nas próximas madrugadas, momentos antes do nascer do Sol. Para isso, deve buscar um local com o horizonte leste sem obstáculos, uma vez que o cometa estará baixo. Além disso, os cometas costumam ser pouco luminosos, então procure lugares bem escuros. Vamos ver como encontrar esse cometa?

A carta celeste abaixo é válida para o dia 5 de maio de 2020 às 5 horas. Ela servirá para os próximos dias também. Vemos que o cometa está na constelação da Baleia, entre as constelações de Aquário e Pégaso. Ele será uma manchinha no céu, e uma boa maneira de achá-lo é fazer uma linha até o chão passando pelos planetas Júpiter, Saturno e Marte. O cometa estará à direita, a cerca de um palmo aberto da linha do horizonte. Se você tiver um binóculo, pode ajudar.


Carta celeste para a região do cometa C/2020 F8 SWAN

É uma boa oportunidade para acompanhar este viajante espacial que no dia 12 de maio atingirá sua maior proximidade da Terra: cerca de 85 milhões de quilômetros. Para você ter uma ideia, a distância média Terra-Sol é de 150 milhões de quilômetros. Ou seja, o cometa estará dentro da órbita do nosso planeta.

Mas atenção, a janela de observação é bem curta. A partir do dia 9 o cometa estará bem mais próximo do horizonte, e ficará mais difícil observá-lo.

Bons céus e até a próxima.