Por Naelton Mendes de Araujo – Astrônomo da Fundação Planetário da Cidade do Rio de Janeiro
Depois de Marte, além do cinturão de asteroides, nós vamos encontrar o planeta Júpiter, o maior planeta do Sistema Solar e o primeiro de uma outra categoria de planetas. Enquanto os planetas mais internos (Mercúrio, Vênus, Terra e Marte) são planetas densos e pequenos, os planetas externos são chamados de gigantes gasosos: muito maiores, menos densos e compostos basicamente de gases. Destes o maior é Júpiter.
Júpiter é conhecido desde a antiguidade pois é fácil vê-lo no céu. Ele é um dos cinco planetas visíveis à vista desarmada: Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno. Pelo seu movimento lento e o brilho intenso (é o quarto objeto natural mais brilhante visível no céu da Terra), várias civilizações antigas atribuíram grande destaque a Júpiter. Foi associado à maior divindade do Panteão grego: Zeus, o Deus dos Deuses e o rei do Olimpo. Muitos povos associaram-no ao seu deus do trovão.
Em 1610, o sábio italiano Galileu Galilei (1564-1642) registrou suas observações de Júpiter no livro Mensageiro Sideral. Este livro foi o primeiro registro metódico de observações celestes feitas através de um instrumento óptico: a recém-inventada luneta astronômica. Observando Júpiter, Galileu percebeu quatro pontos luminosos alinhados com o disco do planeta. Ao observar por um período notou um movimento pendular ao redor do astro maior. Não poderiam ser estrelas: eram os quatro maiores satélites de Júpiter. Mais tarde receberam a denominação de luas galileanas, em homenagem a Galileu.
Mesmo com um telescópio com baixo aumento é possível vê-las. Essa descoberta foi muito importante para a determinação de que a Terra não era o centro do Sistema Solar.
Essas luas são Io, Europa, Calixto e Ganimedes. Cada uma destas é um pequeno mundo particular. A cada dia se descobre mais coisas interessantes sobre cada uma delas. Io é vulcânica e Europa tem um oceano recoberto de gelo que pode abrigar condições de vida. Esta é um dos mais esperados alvos de missões futuras.
Neste momento nós sabemos que existem pelo menos 79 luas jovianas, mas pode ser que existam mais. Como Júpiter tem uma gravidade muito intensa, ele recolheu muito material ao seu redor durante a sua formação bilhões de anos atrás. Algumas dessas luas podem ter se formado junto com o planeta. Outras luas podem ter sido asteroides ou cometas capturados ao longo da história do Sistema Solar.
Sendo essencialmente gasoso fica estranho falar em uma atmosfera joviana. O planeta, em termos de massa, é composto por 75% de hidrogênio e 24% de hélio. O 1% restante é composto de metano, amônia, fósforo e vapor de água, nesta ordem de abundância. O planeta gira rapidamente em torno do seu próprio eixo num período de quase 10 horas. Mas o ano joviano dura um pouco menos que 12 dos nossos anos terrestres.
Várias sondas espaciais já visitaram Júpiter. Algumas sobrevoaram e outras ficaram em órbita. A maior parte do que sabemos hoje deste planeta devemos a estes aparatos espaciais.
As primeiras sondas a ultrapassar o cinturão de asteroides foram as Pioneer 10 (1973) e 11 (1974). Esta última chegou a meros 34.000 km da superfície nebulosa do planeta gigante. As primeiras fotos detalhadas de Júpiter e suas luas foram obtidas naquela época.
Cinco anos mais tarde, duas sondas Voyager visitaram o planeta em um intervalo de poucos meses. Estas sondas sobrevoaram o planeta gigante e depois prosseguiram para outros destinos, como as sondas Ulysses (1992), Cassini (2000) e New Horizon (2007).
A primeira sonda a orbitar Júpiter foi a Galileu (1995) que, apesar de uma problema na sua antena, transmitiu dados até 2003. Esta missão também incluiu um pequena sonda atmosférica que penetrou o envoltório gasoso do planeta e transmitiu dados antes de ser esmagada. Em 2016 a sonda Juno entrou em órbita do planeta. Particularmente interessantes foram a fotos de alta resolução dos polos jovianos com seus inúmeros vórtices de gás. Até o momento Juno ainda transmite dados.