O Planetário pausará as suas atividades no dia 16 de Dezembro para manutenção de equipamentos e retornará a partir do dia 03 de Janeiro de 2023.
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Observar o Sol é possível, desde que você tome medidas de segurança. A luz do Sol é tão forte que pode cegar em poucos instantes. Portanto, sempre procure uma orientação de um especialista para fazer isso. Nunca olhe diretamente.
Existem algumas maneiras de se observar o Sol, mas a mais segura é fazer uma projeção dele através de uma câmara escura, utilizando um espelho e um papel grosso, como na figura a seguir, por exemplo. Faça um pequeno furo no papel grosso para que a luz do Sol passe por ele e seja projetado em uma parede. Procure projetar para um local mais escuro para ter mais nitidez da imagem. Esta experiência deve ser feita somente por adultos e nunca olhem diretamente para o raio de luz que venha do espelho!
Conseguindo observar o Sol você terá condições de ver as manchas solares, caso elas estejam no momento. As manchas variam tanto de tamanho quanto de quantidade. É interessante acompanhar o movimento dessas manchas ao longo de alguns dias para verificar a rotação do Sol.
Ficou na dúvida? Então procure uma astrônomo mais perto de você e boa observação!
A fascinação da humanidade para com a Lua, o satélite natural da Terra, é um fenômeno de longa data. Para civilizações antigas, a Lua representava uma forma de compreender a passagem do tempo que os permitia cuidar melhor de suas plantações e, por essa e outras razões, há registros de calendários lunares datados de milhares de anos antes de Cristo. Apesar disso, foi apenas na segunda metade do último século que pudemos entender como a Lua surgiu e ocupou seu lugar de destaque em nosso céu noturno.
O responsável por essa descoberta foi o Programa Apollo de exploração espacial, que, além de promover o pouso do homem na Lua, permitiu o retorno à Terra de 382 quilogramas de amostras de solo e rochas lunares. Essas preciosas amostras foram e continuam sendo minuciosamente analisadas em laboratórios. À luz das evidências trazidas por elas, os cientistas puderam propor a ideia de que a Terra, ainda em seus estágios iniciais, teria colidido com um outro planeta em formação. Esse impacto teria desintegrado o outro planeta e ejetado uma grande quantidade de matéria rochosa que teria dado origem à Lua.
Também descobrimos que, pouco a pouco, a Lua está se afastando de nós. Na superfície lunar, os astronautas do programa Apollo deixaram espelhos nos quais pudemos, aqui da Terra, incidir lasers. A partir do tempo que esses lasers levam para serem refletidos de volta para a Terra, é possível calcular a distância entre os dois astros. Repetições dessa medição revelaram que, desde 1970, a Lua tem se afastado 3,82 centímetros a cada ano ‒ que é mais ou menos a mesma velocidade com que nossas unhas crescem.
Quando reconstruímos a história da Terra e da Lua, a partir das novas evidências, descobrimos uma série de fatos interessantes. Por exemplo, que a Lua se formou a uma distância 16 vezes mais próxima da Terra do que ela está hoje; e que nosso planeta rotacionava ao redor do próprio eixo com uma velocidade bem maior, de forma que um dia terrestre durava apenas cerca de cinco horas. Nesse contexto, em um ano, ou seja, ao longo de uma revolução ao redor do Sol, passavam-se 1.750 dias curtos. Mas como foi que tudo veio a ser como é hoje? Como foi que a Lua se afastou tanto e o dia terrestre passou a ter 24 horas?
Acontece que todo corpo, ou sistema de corpos, em movimento circular possui uma propriedade chamada “momento angular”. Essa propriedade está associada à velocidade de deslocamento e à distância ao centro do movimento. Então, quanto à rotação da Terra, quanto mais momento angular o planeta possui, mais rápido ele gira em torno do próprio eixo. Com relação à revolução da Lua ao redor da Terra, o momento angular aumenta com a distância entre os dois corpos e também com a velocidade do deslocamento da Lua em sua órbita ao redor de nosso planeta. Assim, há bilhões de anos, Terra e Lua travam uma disputa de cabo de guerra, com um astro exercendo influência gravitacional sobre o outro num processo intimamente associado às marés observadas na Terra. Essa interação transfere momento angular da Terra para a Lua, diminuindo a velocidade de rotação de nosso planeta, tornando os dias cada vez mais longos. A Lua, por sua vez, se afasta de nós nesse processo.
Portanto, essa dinâmica vem gradualmente diminuindo a velocidade de rotação da Terra, causando o afastamento da Lua e dando forma ao sistema Terra-Lua como conhecemos hoje. Mas uma mudança dessa magnitude não ocorre sem deixar marcas em nosso planeta. Na verdade, existem seres vivos que carregam em si registros desse passado tão diferente. Eles são os corais: animais que possuem um esqueleto externo composto por carbonato de cálcio, responsáveis por formar os maravilhosos e coloridos recifes no fundo dos oceanos.
Conforme um coral cresce, ele forma, a cada dia, um novo anel de carbonato de cálcio. Quando comparamos corais vivos atualmente com fósseis de corais antigos, percebemos uma diferença muito marcante: os corais atuais formam 365 anéis por ano, enquanto corais fósseis apresentam um número bem maior de anéis anuais. E quanto mais antigo o fóssil, mais anéis anuais ele apresenta, evidenciando que a duração do dia vem aumentando ao longo da história da Terra.
Os corais habitam a Terra há pelo menos 400 milhões de anos e a evolução do sistema Terra-Lua foi uma dentre várias outras mudanças a nível global à qual eles sobreviveram. E não só sobreviveram como também preservaram registros desse acontecimento, servindo como uma janela para o passado de nosso planeta. E não para por aí: corais, além de tudo, podem nos ajudar a prever o futuro da Terra. Seus esqueletos de carbonato de cálcio são muito sensíveis a alterações na temperatura, luz e disponibilidade de nutrientes. Ao analisar corais de diferentes épocas, podemos compreender como essas condições mudaram ao longo do tempo e como elas podem vir a mudar no futuro. Hoje, existem diversas iniciativas, incluindo algumas lideradas pela NASA, para monitorar recifes de corais no mundo todo. Afinal, já passou da hora de ouvirmos o que esses animais que vivem em nosso planeta há centenas de milhões de anos têm a dizer.
Referências:
Hazen, Robert M. 2013. The Story of Earth: The First 4.5 Billion Years, from Stardust to Living Planet. New York, Penguin Books, 2013.
Runcorn, S. K. 1966. Corals as Paleontological Clocks. Scientific American, 215(4), 26–33. http://www.jstor.org/stable/24931079
Auto: Paulo Pereira – Astrônomo do Planetário do Rio de Janeiro
No próximo dia 29 de julho, a comunidade muçulmana iniciará um novo ano, correspondente ao dia 1 de Muharam do ano de 1444 no calendário islâmico. Ao contrário do que ocorre nos países ocidentais, o ano novo islâmico não é um evento suntuoso, como a festividade Id Al-Fitr, que sucede o mês do Ramadã, esse sim o mês mais importante para os muçulmanos. Enquanto o nosso calendário é solar, o adotado em diversos países islâmicos é lunar, gerando situações curiosas, que poucas pessoas no ocidente se dão conta.
A edição de toda a revelação feita ao profeta Muhammad, compilada num único exemplar, ocorreu no ano 653, durante o governo do califa Uthman. Já o Hadíth, compilação dos ditos e ações do profeta, atingiu seu vigor no século 8. Juntas, a revelação e a tradição, moldaram não somente a sociedade, como a ciência islâmica. No caso da Astronomia, essa influência é acentuada. Com o calendário, não foi diferente.
O nosso calendário se baseia no movimento da Terra ao redor do Sol, e, portanto, acompanha o ciclo das estações. Um calendário lunar não tem esse compromisso pois, como o nome indica, ele se baseia apenas nas fases da Lua. Como consequência, as principais festividades religiosas caminham por entre as estações. Tome-se por exemplo, o mês mais importante do calendário islâmico ‒ o Ramadã, cuja origem remete à palavra de origem árabe “ramida”, que significa “ardente” (uma alusão ao jejum realizado na época mais quente do ano). Com a adoção do calendário lunar, este mês pode cair em qualquer estação do ano, inclusive no inverno.
Você deve estar se perguntando o porquê dos meses islâmicos caminharem pelas estações. O ano lunar tem cerca de 11 dias a menos que o ano solar. Assim, a cada ano no nosso calendário, o ano lunar começa 11 dias mais cedo. Para entendermos isso precisaremos falar sobre as fases da Lua.
A Lua não tem luz própria. Se assim fosse, ela seria sempre Cheia. Ela é o satélite natural da Terra, dando uma volta completa em 27 dias e 7 horas (27,32 dias), aproximadamente. Apesar disso, o ciclo lunar completo dura cerca de 29 dias e 12 horas (29,5 dias). Achou estranho? Lembre-se: a Terra não está parada, mas orbita o Sol. Na ilustração abaixo, na posição (a) temos a Lua Nova, quando o Sol, a Lua e a Terra estão aproximadamente alinhados, com a Lua entre os dois. Na posição (b), 27,32 dias depois, a Lua retorna à mesma posição que ela estava na posição (a). No entanto, como a Terra se moveu enquanto a Lua girava ao redor da Terra, a Lua Nova só ocorrerá cerca de dois dias depois.
O ano islâmico tem 12 meses lunares e, portanto, para obtermos a quantidade de dias no calendário lunar, basta multiplicarmos 12 por 29,5 que dá 354 dias. Assim, o calendário lunar tem certa de 11 dias a menos que o solar (que tem 365 dias). Como não é prático um mês de 29 dias e meio, cada mês do calendário lunar tem, de forma intercalada, 29 e 30 dias, o que na média dá os tais 29,5 dias.
“Perguntar-te-ão sobre os novilúnios. Dize-lhes: Servem para auxiliar o homem no cômputo do tempo e no conhecimento da época da peregrinação.” (Alcorão 2:189)
Curiosamente cada mês lunar se inicia com a primeira visão da Lua Crescente no horizonte oeste, logo após o pôr do sol, e cada dia começa ao pôr do sol (por aqui, a meia-noite marca o início de cada dia).
Costuma-se empregar no calendário islâmico um ciclo de 30 anos, sendo 11 deles bissextos (a saber, os anos 1, 5, 7, 10, 13, 16, 18, 21, 24, 26 e 29), quando se adiciona um dia ao décimo segundo mês, que passa a ter 30 dias.
Faltou esclarecer um dado importante, que é o marco inicial do calendário islâmico. Ele toma como referência a Hégira – migração do profeta Muhammad para a cidade de Medina, em 16 de julho de 622d.C.
Não é simples fazer a conversão do calendário islâmico para o gregoriano, uma vez que o calendário lunar é bem irregular. Além disso, em vários países islâmicos, as proclamações das autoridades religiosas quanto ao período de visibilidade da Lua Crescente costumam ter peso. Consequentemente, as datas fornecidas em diferentes localidades podem apresentar diferenças de um ou dois dias.
Existe uma maneira aproximada de fazer a conversão do ano gregoriano para o islâmico:
a) subtraímos 622 (ano da Hégira) do ano gregoriano;
b)multiplicamos o resultado por 1,031.
Por exemplo, o ano de 2022 corresponde a: 2022 – 622 = 1400 => 1400 x 1,031 = 1443,4
Portanto o ano gregoriano de 2022 corresponde aos anos 1443 / 1444 islâmicos.
Aparentemente o calendário lunar foi adotado pelos muçulmanos porque era muito mais fácil de observar as fases da Lua do que se basear no movimento aparente do Sol. E não apenas. É mais fácil acompanhar o movimento da Lua por entre as constelações (o Sol, como sabemos, impede a visão das constelações durante o dia). O ciclo das fases lunares tornou-se uma “paixão” dos muçulmanos e “a Lua crescente” tornou-se o símbolo do Islã.
Ressalte-se que o calendário islâmico é direcionado para as práticas religiosas. No nível governamental, normalmente se utiliza o calendário civil, até porque vários países árabes têm uma parcela considerável de não muçulmanos.
Como a primeira visibilidade da Lua Crescente depende de fatores locais, em alguns lugares do planeta o ano novo islâmico ocorrerá no dia 30 de julho.
Uma última curiosidade: como o ano islâmico é sempre mais curto que o ano gregoriano, uma data no calendário islâmico pode ocorrer mais do que uma vez no decurso do nosso ano solar. Por exemplo, o Ano Novo Islâmico ocorreu duas vezes em 1943: uma em 8 de janeiro e outra em 28 de dezembro. A próxima vez que isso acontecerá será no ano 2041 (1463H).
Feliz 1444!
Nota de Agradecimento: A Fundação Planetário agradece a valiosa consultoria, na elaboração do texto, de Jamil Ibrahim Iskandar, professor de Filosofia Medieval Árabe na Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), Campus Guarulhos.
Embora os cometas, asteroides e meteoros sejam alguns dos menores objetos do Sistema Solar, guardam várias surpresas. São inúmeros pedaços de gelo, metal e rocha que sobraram da formação do Sistema Solar, que ocorreu há 4,5 bilhões de anos.
No início nosso sistema planetário era uma enorme nuvem de gás e poeira. As partículas colidem entre si formando pedaços cada vez maiores. Esse acúmulo gradual de material ocorreu em diversas regiões da nuvem, ao longo de centenas de milhões de anos, até que finalmente surgiram o Sol e os planetas.
Acontece que nem todo o material disponível foi utilizado no processo: são bilhões de pequenas rochas espaciais que estão vagando ainda hoje pelo espaço e, por incrível que possa parecer, sofreram pouca mudança ao longo dos 4,5 bilhões de anos.
Por serem praticamente intocados desde a sua origem, cometas, asteroides e meteoros são portadores de informações valiosas sobre as condições do sistema solar primitivo. Podem, por exemplo, nos ajudar a compreender a nossa origem, dando dicas de como se deram os eventos que levaram ao surgimento de nossa casa, o planeta Terra, ou até mesmo sobre como surgiu a água.
Cometas
Os cometas são blocos congelados, compostos de poeira, rocha e muito gelo. Suas dimensões podem atingir dezenas de quilômetros, embora diminuam de tamanho quando se aproximam do Sol, uma vez que se aquecem e ejetam parte de seu material para o espaço, formando enormes caudas que se estendem por milhões de quilômetros. Embora sejam conhecidos quase 4 mil cometas, provavelmente existem bilhões orbitando o Sol no Cinturão de Kuiper (uma faixa repleta de blocos gelados que se estende a partir da órbita de Netuno para fora do Sistema Solar), ou ainda mais distante, na Nuvem de Oort, uma espécie de “concha” esférica gigante que rodeia o Sistema Solar na sua parte mais externa.
Asteroides
Algumas vezes chamados de planetas menores, os asteroides são restos rochosos e metálicos da formação do Sistema Solar. A maior parte é encontrada no cinturão de asteroides, que está localizado entre as órbitas de Marte e Júpiter. Suas dimensões variam de alguns metros até incríveis 530 km de diâmetro, como no caso de Vesta, o maior de todos. Costumam ter forma irregular, e alguns possuem uma pequena lua. São conhecidos mais de um milhão de asteroides.
Meteoroides, meteoros e meteoritos
Esse é um tema que costuma gerar alguma confusão. Afinal, qual a diferença entre meteoroide, meteoro e meteorito?
Vamos começar pelo que eles têm em comum: todos estão relacionados com os flashes de luz chamados “estrelas cadentes” que algumas vezes vemos correndo pelo céu. É o mesmo objeto, porém com nomes diferentes, dependendo de onde ele está.
Os meteoroides são objetos localizados no espaço, variando em tamanhos desde de grãos de poeira a até alguns metros. Eles só têm esse nome enquanto estão no espaço. Podem ser originários de outros corpos maiores, como cometas, asteroides, da Lua, ou até mesmo de outros planetas. Alguns são rochosos, enquanto outros são metálicos, ou combinação de rocha e metal.
Um meteoroide pode entrar em alta velocidade na atmosfera da Terra, pegando fogo, produzindo o belo fenômeno popularmente conhecido como “estrela cadente”. É o chamado meteoro.
Quando o meteoroide sobrevive a viagem pela atmosfera e atinge o solo de nosso planeta, é chamado meteorito. Como já dito, os meteoritos são de suma importância para os cientistas que investigam os estágios iniciais de formação de nosso planeta.
Teremos duas superluas em breve, dia 14 de junho e 13 de julho!
Vale a pena ver? Sim!
Será bonito? Sim!
Exatamente como toda Lua Cheia.
Temos uma superlua quando a Lua Cheia ou a Lua Nova coincide com o perigeu, o ponto na órbita em que a Lua está mais próxima da Terra. A superlua nova não chama a atenção porque nesta fase a face oculta de nosso satélite está sendo iluminada enquanto a face voltada para a Terra não recebe luz do Sol. Logo, exatamente na lua nova, não vemos a Lua no céu. Por outro lado, na Lua Cheia, a face lunar voltada para a Terra está totalmente iluminada. Assim, normalmente, quando se fala em superlua está sendo feita referência a uma superlua cheia, raramente se utiliza a expressão para uma superlua nova.
Tudo o que está mais próximo parece maior e mais brilhante, certo? Isso acontece também com a Lua durante uma superlua cheia. Mas essa diferença não pode ser percebida diretamente com os olhos. É preciso fazer uma comparação do tamanho e brilho da Lua durante e fora de uma superlua com fotografias para notarmos a diferença. Veja essa imagem comparando o tamanho de uma Lua Cheia tradicional com o tamanho de uma superlua:
Perceba que essa diferença de tamanho é imperceptível aos nossos olhos, e a diferença de brilho também é.
Portanto, em vez de esperar uma Lua Cheia muito diferente das outras e certamente se frustrar, sempre observe as superluas pelo que elas trazem no invisível: a informação sobre sua distância. Apesar de você não conseguir de fato perceber a diferença, você sabe que ela está mais próxima do que o normal! E esse conhecimento vem de um longo desenvolvimento que partiu de antes dos babilônios, passou por diversas culturas, avanços tecnológicos e chegou até você.
E lembre-se que a natureza nos oferece mais espetáculos do que normalmente percebemos. Celebrar as superluas é ótimo, mas celebremos também as outras Lua Cheias! E celebremos também os Quartos Crescentes e Minguantes, quando nossa Lua fica linda para ser observada com um telescópio. E por que não celebrar a tímida Lua Nova que marca o início de um novo ciclo de fases?
Durante a superlua de 13 de julho, nosso satélite estará cerca de 240 km ainda mais próximo que em 14 de junho. Faça uma experiência de observar essas duas superluas e compare com a outra lua cheia que acontece em agosto. Se puder tirar uma foto, envie para o Planetário!
Lua de Morango e de Cervo
Especificamente as próximas superluas de 14 de junho e 13 de julho estão sendo chamadas respectivamente de superlua de morango e superlua de cervos. Esses apelidos são dados a algumas Luas Cheias, não necessariamente superluas, e tem origem em uma tradição norte-americana.
Nos Estados Unidos, desde 1792 é publicado um almanaque que hoje chama-se The Old Farmers Almanac (O Velho Almanaque do Fazendeiro, em tradução livre. Evidentemente, no início chamava-se apenas O Almanaque do Fazendeiro). Esta publicação trazia previsão do tempo, receitas, dicas para plantação e efemérides astronômicas, entre outras coisas. Este almanaque foi responsável por popularizar ainda mais nomes folclóricos para alguns momentos astronômicos.
A Lua Cheia do mês de Junho, normalmente a última da primavera ou a primeira do verão no hemisfério norte da Terra, é chamada de Lua de Morango porque marca a época da colheita do morango. As frutas estão lindas esperando para serem colhidas. Não tem nada a ver com a Lua propriamente dita. Nem com a cor da Lua, nem com o sabor dela (?)
De forma semelhante, a Lua Cheia de Julho é chamada de lua de cervo ou de bode porque os animais estão com seus chifres totalmente renovados em um processo natural que ocorre com o passar dos anos.
Por acaso essas duas luas cheias serão superluas em 2022. Mas note que o apelido “morango” ou “cervo” refere-se à Lua Cheia desses meses, não ao fato de serem superluas.
Há ainda outros nomes folclóricos popularizados pelo Old Farmer’s Almanac para essas luas cheias. A de junho, por exemplo, além de Lua de Morango pode se chamar Lua de Florescer ou Lua do Milho Verde. A Lua Cheia de julho pode também ser chamada de Lua da Muda de Penas e Lua de Salmão, sempre com um correspondente a algo que observamos na fauna e na flora devido às mudanças climáticas das estações.
Esses nomes todos só fazem sentido para a cultura do hemisfério norte, não há um correspondente aqui para nós no hemisfério sul. Em junho e julho temos carambola no Brasil, portanto, se quiser um apelido saboroso, lua de carambola seria mais adequado. Ou de banana, que temos quase o ano todo.
Por que a Lua Fica Maior no Horizonte?
Já que estamos falando sobre superlua, e sobre distância da Lua, é interessante falar sobre a famosa questão do tamanho da Lua quando está próximo ao horizonte. De fato ela parece maior, mas apenas parece. E ela não está mais perto, na verdade, quando você vê a Lua no horizonte ela está mais distante de você que quando a vê sobre sua cabeça, alta no céu.
A sensação de parecer maior quando a vemos no horizonte tem várias explicações, uma delas envolvendo os efeitos chamados micropsia e macropsia que estão associados ao ângulo que um objeto ocupa em nosso campo de visão. Mas uma outra explicação mais simples para entendermos é pensar que quando vemos a Lua perto do horizonte, normalmente há outros elementos no mesmo campo, como prédios, árvores ou montanhas. Nesse contexto, ela vai parecer maior porque há objetos de comparação, diferente de quando a vemos isolada no céu sem algum objeto na mesma direção.
A mesma coisa acontece quando vemos um quarto vazio, sem móveis. Ele parece pequeno… mas quando o mobiliamos, decoramos e colocamos objetos dentro dele, automaticamente ele parece maior. Mas só parece! O tamanho do quarto permaneceu o mesmo.
As chuvas de meteoros são um fenômeno celeste que causa grande interesse e uma de suas características mais marcantes é a imprevisibilidade quanto à taxa de meteoros que será observada. Em especial a Tau-Herculídeas que terá pico na madrugada de 30 para 31 de maio está causando alvoroço
Dada sua imprevisibilidade característica, a regra de ouro para as chuvas de meteoros é: vai ser boa? Não sabemos, mas, se possível, assista.
Chuvas de Meteoros acontecem quando a Terra cruza o rastro de poeira deixado por um cometa ou asteroide. A grande maioria das chuvas está associada a algum cometa mas há algumas associadas a um asteroide. Na medida em que o objeto segue sua órbita ele deixa poeira por onde passa e, a Terra, ao cruzar essa órbita, recebe em sua atmosfera parte da poeira deixada para trás. Estamos falando de fragmentos bem pequeninos, portanto, nenhuma chuva de meteoros representa qualquer risco.
Para cada chuva há uma taxa de meteoros esperada, e essa taxa é calculada por uma série histórica. Ou seja, em cada chuva observa-se a quantidade de meteoros por hora e anota-se. Esse número anotado ano após ano indica uma tendência que nos faz esperar chuvas mais intensas ou menos intensas.
Compreendendo o mecanismo de formação das chuvas de meteoros, podemos verificar uma informação importante: chuvas de meteoros acontecem todo ano, e são várias, de modo que não estamos falando de um fenômeno exatamente raro.
Agora, vejamos o nome das chuvas. Elas são batizadas utilizando-se o nome da constelação onde está o radiante (ponto no céu de onde parecem estar saindo os meteoros) e a letra grega que indica a estrela mais próxima naquela constelação. Portanto, o radiante da chuva Tau-Herculídeas está(ria) posicionado próximo à estrela Tau da constelação de Hércules. Entretanto, especialmente esta chuva, que foi originalmente prevista para ser observada em Hércules, acontece na constelação do Boieiro.
No Rio de Janeiro, a constelação do Boieiro pode ser vista desde o início da noite de 30 de maio para quem tem o horizonte nordeste livre. Estará em sua melhor condição de observação por volta das 22h. É uma constelação do hemisfério Norte, portanto, estará baixa no horizonte carioca. A região norte do Brasil é a melhor para assistir à Tau-Herculídeas. O radiante da chuva está posicionado próximo à estrela Arcturus, a mais brilhante da constelação do Boieiro.
Constelação de Boieiro bem ao norte no céu do Rio de Janeiro. Carta Celeste do Rio de Janeiro às 22h00 de 31 de maio de 2022.
Boieiro em melhor condição de observação no Norte do Brasil. Carta Celeste de Manaus ás 23h30 de 30 de maio de 2022.
E por que estão chamando essa chuva de tempestade? Acontece que o cometa 73/P Schwassman-Wachmann 3, ou SW 3, passou por um processo de fragmentação em 1995. E os fragmentos dessa fragmentação também se fragmentaram posteriormente e o cometa “pai” deixou em seu caminho até agora 69 fragmentos conhecidos. Fragmentação de cometas também não é algo raro de acontecer, principalmente com os de curto período, como o é o caso de SW3.
Assim, se os detritos resultantes da fragmentação de 1995 tiverem sido ejetados com uma velocidade acima do normal, cerca de duas vezes e meia, é possível sim que tenhamos sim, uma chuva mais intensa porque teríamos uma quantidade maior de fragmentos atingindo a Terra. Apenas essa a razão.
Imagem obtida pelo Telescópio Espacial Hubble em 2006, mostrando fragmentos do SW3 se fragmentando em pedaços ainda menores. NASA / ESA / H. Weaver (JHU / AP) / M. Jäger / G. Rhemann.
Mas, como em todas as chuvas de meteoros, a palavra de ordem é imprevisibilidade. Não temos nenhuma razão para supor que os detritos da fragmentação do SW3 em 1995 estejam viajando acima da velocidade normal. Mas, quem sabe?
De qualquer forma, tome um cuidado importante. As “chuvas” de meteoros não são exatamente chuvas… são uma oportunidade de observar mais meteoros que em outras noites, mas, em geral, observa-se alguns meteoros por hora. Diferente de uma chuva propriamente dita em que temos milhares de pingos de água por hora.
Outro detalhe importante é que serão observados aqueles meteoros que puderem ser vistos com a luminosidade do seu céu. Em um centro urbano, tipicamente muito iluminado, só serão observados os mais brilhantes, enquanto numa região afastada da iluminação serão observados os mais brilhantes e os menos brilhantes. Portanto, seu local de observação também vai influenciar em quantos meteoros você observará.
Então, mesmo não tendo certeza se teremos uma chuva ou uma tempestade, eu não apostaria na tempestade. Aposto numa chuva, bonita, como todas as outras.
Para observar a Tau-Herculídeas:
Melhor localização: Onde se tenha o horizonte norte e nordeste livres de prédios, montanhas ou árvores, e afastado da iluminação urbana. As cidades mais ao norte do país têm melhores condições de observação para essa chuva de meteoros.
Para onde olhar no céu: Utilize as cartas celestes acima colocando-as sobre sua cabeça, coincidindo os pontos cardeais da Carta com os pontos cardeais do seu local de observação e procure a estrela mais brilhante da constelação do Boieiro. O radiante de Tau-Heruclídeas estará ali perto.
Equipamento para observação: Toalha para deitar no chão, cadeira, esteira e travesseiro (esqueça telescópio ou binóculo).
Por Naelton Mendes de Araujo – Astrônomo da Fundação Planetário da Cidade do Rio de Janeiro
O instrumento
Para vasculhar o Universo usamos vários tipos de radiação eletromagnéticas. Algumas não são captadas pelos nossos olhos e nem por nenhum de nossos sentidos.
Os radiotelescópios usam antenas para captar ondas de rádio provenientes do espaço. A figura mais comum que nos vem à mente são antenas parabólicas. Quanto maior o disco, maior a resolução, isto é, ,mais detalhes pequenos o instrumento pode distinguir. Imagine agora se combinamos os dados de antenas distintas numa só imagem? Chamamos isso de interferometria. Se fizermos uma rede de antenas cobrindo distâncias continentais, teremos como resultado algo semelhante a um disco de proporções da ordem Terra.
Foi exatamente isso que o Event Horizon Telescope (ETH) fez. Em 2019 esse arranjo de 13 conjuntos de antenas, em 4 continentes, nos deu a primeira imagem de um buraco negro na galáxia M87.
O objeto
Na verdade não se pode ver um buraco negro. Só observamos a matéria estelar que cai no buraco negro. Este anel da matéria espiralando em direção ao buraco negro é chamado disco de acresção e emite muita radiação. Isto acontece pouco antes de entrar no chamado horizonte de eventos e, a partir daí, nada mais escapa.
Sagitário A é uma extensa fonte de rádio bem conhecida dos astrofísicos desde 1974, mas só agora, com o EHT, podemos ver detalhes do seu disco de acresção. Não havia nenhum instrumento até hoje capaz de realizar tal façanha. Este objeto se encontra a 26 mil anos-luz e é o que se usou chamar de buraco negro supermassivo.
Os buracos negros estelares são formados no fim da vida de uma estrela com no mínimo 10 massas solares. Os buracos negros supermassivos foram formados por imensas nuvens de gás ou por milhões de estrelas que se amontoaram em aglomerados estelares. Isto aconteceu no início do Universo. Buracos negros supermassivos são encontrados no centro das galáxias.
É uma foto?
Temos que ter em mente a diferença entre foto e imagem. No sentido estrito essa não é uma fotografia. Não é resultado da luz visível obtida por um dispositivo óptico. É uma representação visual de um conjunto de dados de rádio. Está mais para um mapa e as cores não são reais: os tons de amarelo e laranja apenas representam intensidades de radiação.
A vantagem deste tipo de imagem é sua alta resolução que nos permite ver detalhes da estrutura antes invisíveis.
Durante a madrugada de 15 para 16 de maio acontecerá um eclipse total da Lua. É um dos fenômenos astronômicos que mais despertam nosso imaginário, tanto pela beleza, como pela compreensão de que fazemos parte de algo grandioso. Povos da antiguidade tendiam a enxergar o fenômeno com um misto de espanto e temor.
Na China antiga, os eclipses solares e lunares eram considerados presságios sobre o futuro do imperador. Acreditava-se que durante os eclipses um dragão celestial devorava o Sol ou a Lua. As pessoas saiam para as ruas batendo tambores e panelas para espantar o dragão.
Durante o eclipse lunar a Terra está posicionada entre o Sol e a Lua, de forma que a sombra da Terra é projetada sobre a superfície da Lua. Se a Lua fica totalmente na umbra da Terra, o eclipse é total. Se apenas uma parte da Lua passa pela umbra, o eclipse é parcial. Se a Lua passa somente pela penumbra, o eclipse é penumbral, ocasião de pouco interesse para o público em geral, uma vez que durante o eclipse penumbral o brilho da Lua praticamente não muda. Para nossa sorte, temos um eclipse total da Lua pela frente!
Durante o ápice do eclipse, ou seja, na totalidade, a Lua apresenta uma tonalidade tênue e pode ficar ligeiramente avermelhada, o que costuma encantar quem está observando. O fenômeno, que no meio popular é conhecido por “Lua de Sangue”, acontece porque uma parte da luz do Sol sofre refração ao atravessar a atmosfera de nosso planeta, atingindo em seguida a Lua. A atmosfera da Terra espalha e absorve com mais intensidade a radiação azulada, deixando passar a componente vermelha.
A duração máxima de um eclipse lunar é de 3,8 horas, e a duração da fase total é sempre menor que 1,7 hora. Ao contrário do eclipse do Sol, que só é visível numa pequena região do planeta, o eclipse da Lua pode ser visto em todos os lugares onde ela já tenha surgido no horizonte (metade do planeta). Em um ano acontecem no mínimo 2 eclipses, sendo os dois solares, e no máximo sete, sendo cinco solares e dois lunares ou quatro solares e três lunares.
O eclipse da Lua é um daqueles fenômenos astronômicos que podem facilmente ser acompanhados sem uso de instrumentos. Se você quiser acompanhar o próximo eclipse total da Lua, preste atenção nos horários das fases principais do eclipse (hora de Brasília):
Início do eclipse (a Lua começa a ser “mordida”) – 23h27min (15/05/2022)
Início da totalidade – 0h29min (16/05/2022)
Ápice do eclipse (Lua pode estar levemente avermelhada) – 1h11min
Fim da totalidade – 1h53min
Fim do eclipse – 2h55min
Se o clima ajudar o eclipse poderá ser visto em todo o Brasil.
O dia 19 de abril é o Dia dos Povos Indígenas e celebra a resistência dos povos originários do Brasil. De acordo com a Funai, atualmente encontramos em território brasileiro 305 povos indígenas, falantes de 274 línguas, porém, infelizmente, ainda conhecemos e valorizamos muito pouco os seus conhecimentos sobre a natureza, especialmente as suas cosmo percepções.
Crescemos ouvindo falar das constelações do Escorpião, do Centauro, do Cruzeiro do Sul, entre outras. Estas visões celestes chegaram até nós por milenares e tortuosos caminhos, desde os Babilônios, Egípcios e Assírios, passando pelos antigos Gregos e por astrônomos e cartógrafos celestes europeus dos séculos XVI e XVII, até finalmente serem reconhecidas pela União Astronômica Internacional em 1922. O que poucos sabem é que este panteão celeste que herdamos da nossa colonização europeia é apenas uma das múltiplas formas de se olhar e conhecer o céu. Se perguntarmos a um Guarani o que ele vê na região do céu em torno do Cruzeiro do Sul, ele provavelmente nos dirá que vê uma Ema. Se perguntado a um Ticuna, ele poderá lhe falar sobre o Tamanduá e a Onça celestes. De cada povo ouviremos novos nomes de constelações e mitos que narram seus feitos e histórias, que muitas vezes estão refletidos também em seus artefatos e em suas manifestações artísticas, como cantos e pinturas.
Todas as culturas humanas, antigas e atuais, têm o seu próprio céu. Ao longo da história da humanidade, diversos povos perceberam os ciclos e fenômenos celestes e os interpretaram, relacionando-os com suas atividades sociais. Essa busca por conhecimento e entendimento do Cosmos foi utilizada para manter os ciclos de subsistência sazonal, mas em alguns casos também ajudaram a manter ideologias dominantes e hierarquias sociais complexas. Percepções do céu muito diferentes, em natureza, daquela oferecida pela ciência moderna Ocidental são encontradas em muitas culturas indígenas ao redor do mundo.
Do ponto de vista epistemológico, há muita diversidade para ser analisada e compreendida em todo o território brasileiro, apontando-nos um painel étnico e epistemológico muito mais complexo e rico do que se pensaria à primeira vista. Estes conhecimentos, porém, não estão na escola, nem nos livros, pois foram silenciados e invisibilizados pelo racismo epistêmico.
O próprio termo “índio” carrega estereótipos sobre indígenas e é racista, como afirma Dinamam Tuxá, coordenador executivo da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB): “uma data com esse nome não alcança a diversidade dos 305 povos indígenas do Brasil e, ao romantizar a figura do indígena, invisibiliza os povos originários”.
O “Dia do Índio” foi uma data alusiva criada no Brasil por meio de um decreto do presidente Getúlio Vargas, em 1943 (Decreto-Lei 5.540/43). No entanto, os termos “índio” e “tribo”, impostos pelos colonizadores, vêm sendo questionados há anos pelos povos originários. Segundo a APIB, a adoção de 19 de abril como dia para celebrar a cultura dos povos indígenas do Brasil foi resultado de debates realizados no Primeiro Congresso Indigenista Interamericano em 1940, no México.
De acordo com a Agência Câmara de Notícias, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados aprovou no ano passado o projeto de lei que muda o nome do “Dia do Índio”, celebrado em 19 de abril, para “Dia dos Povos Indígenas”. A proposta é de autoria da deputada Joenia Wapichana. Segundo ela, a intenção ao renomear a data é ressaltar, de forma simbólica, não o valor do indivíduo estigmatizado “índio” mas o valor dos povos indígenas para a sociedade brasileira.
Quantas belíssimas histórias e saberes os povos originários têm para nos ensinar! Precisamos ouvir, mais do nunca, sua sabedoria ancestral e aprender com eles novas formas de estar no mundo, em harmonia e respeitando todos os seres vivos. Como diz Ailton Krenak, a vida tem que ser uma fruição, uma dança cósmica!
No próximo dia 17 de abril, cristãos em todo o mundo celebrarão a Páscoa. A data relembra a ressurreição de Cristo, sendo também momento de reflexão e convite à renovação da fé. A Páscoa é uma festa móvel, ou seja, não tem uma data fixa para acontecer, e todos os anos precisamos recorrer ao calendário para saber quando acontecerá. A única coisa que as pessoas em geral sabem é que sempre cai num domingo. Falando nisso, você sabe como se calcula a data da Páscoa? A data da Páscoa tem raízes na tradição judaica e na Astronomia.
Segundo a Bíblia, a morte e a ressurreição de Jesus ocorreram na época da Páscoa Judaica (Pessach), que celebra a libertação do povo de Israel da escravidão no Egito e, tradicionalmente, ocorria na primeira Lua Cheia depois do equinócio da primavera no hemisfério norte. Por volta do século 2, alguns lugares celebravam a Páscoa Cristã junto com a Páscoa Judaica, enquanto outros, buscando uma independência dos eventos, transferiam a data para o domingo seguinte. Uma confusão que gerava discórdia dentro da própria Igreja.
Era necessário estabelecer uma regra unificadora, e para isso recorreu-se aos cálculos dos astrônomos. Assim, no ano 325 realizou-se o Primeiro Concílio de Niceia, quando se definiu que a Páscoa aconteceria no primeiro domingo após a primeira Lua Cheia após o equinócio da primavera no hemisfério norte (adotou-se 21 de março).
Havia um problema. O calendário adotado na época – o calendário juliano, promulgado por Júlio César em 46 a.C. – tinha um ano com duração média 11 minutos maior do que o ano das estações. Gerava um erro de 1 dia em 128 anos. Pode parecer pouco, mas provocava um deslocamento de todas as datas, inclusive a da Páscoa, por entre as estações. No século 16, o equinócio da primavera no hemisfério norte estava acontecendo no dia 11 de março, 10 dias antes da data original. Ou seja, a festividade da Páscoa estava sendo realizada na data incorreta, uma heresia das grandes!
Era necessário um calendário consistente e capaz de unificar a data da Páscoa. Após algumas idas e vindas, no século 16, o Papa Gregório XIII estabeleceu uma comissão que contava com astrônomos (sempre eles!) e matemáticos para estudar o caso. Para apoiar o projeto, bem no meio do Vaticano, um observatório foi construído na Torre Gregoriana (também conhecido como “Specola Astronomica Vaticana”.
Como resultado do esforço, foi criado o calendário Gregoriano que adotamos atualmente. Bem mais preciso, o ano do calendário tem uma diferença de apenas 26 segundos em relação ao ano das estações, implicando numa defasagem de 1 dia em 3.323 anos. A Páscoa estava salva.
Assim, a data da Páscoa Cristã ocorre, desde o decreto do Papa Gregório XIII, em 1582, no primeiro domingo depois da Lua Cheia, que ocorre em ou depois de 21 de março. A Lua Cheia do decreto não é a astronômica, mas a Lua Cheia eclesiástica, cuja data é definida pelas Tabelas Eclesiásticas, e que é bem próxima da Lua Cheia real, afastando-se dela no máximo dois dias. Já o dia 21 de março foi escolhido para representar o equinócio da primavera no hemisfério norte. Mas não é necessariamente a data astronômica, que pode ocorrer nos dias 19, 20 ou 21 de março. Em 2022, por exemplo, o equinócio da primavera no hemisfério norte ocorreu no dia 20 de março. Portanto, o equinócio adotado no cálculo da Páscoa Cristã é também eclesiástico.
Como já ficou claro, existem razões históricas para o decreto papal. Uma delas seria manter a ocorrência da Páscoa Cristã próxima da Páscoa Judaica, que é definida num calendário baseado simultaneamente nas fases da Lua e no ciclo das estações. Outra razão, não menos importante, é garantir que a data da Páscoa seja única para todo o planeta, com a adoção arbitrária do equinócio e da Lua Cheia eclesiásticos.
Se você acha meio confusa essa história de calendário eclesiástico, relaxe. Geralmente a regra para o cálculo da data da Páscoa se resume ao “primeiro domingo depois da primeira Lua Cheia após 21 de março”, uma vez que as Luas eclesiástica e real geralmente são bem próximas. Como consequência das regras do decreto, a Páscoa Cristã nunca acontece antes de 22 de março nem depois de 25 de abril.
A Páscoa Cristã ocorre no primeiro domingo após a primeira Lua Cheia que ocorre em ou logo após o dia 21 de março.
O ciclo das fases da Lua tem papel fundamental na determinação das principais festividades das três grandes religiões monoteístas: Judaísmo, Cristianismo e Islamismo. Quem acompanhou minha postagem recente, “A Lua e o Ramadã”, sabe que a referência para o início do principal mês muçulmano é a Lua Crescente, algumas horas após a Lua Nova. Como acabamos de ver, na tradição judaico-cristã, a referência da Páscoa é a Lua Cheia. Neste ano a chamada Lua Cheia Pascal ocorrerá no dia 16 de abril, véspera da Páscoa, às 15h55min.
Neste ano a Lua Cheia Pascal ocorrerá no dia 16 de abril, véspera da Páscoa,às 15h55min.
Uma última curiosidade. As demais datas móveis do nosso calendário são conhecidas uma vez calculada a data da Páscoa. Por exemplo, a quarta-feira de cinzas, que acontece ao final do carnaval, ocorre 46 dias antes do Domingo de Páscoa, e o Corpus Christi, 60 dias depois do Domingo de Páscoa.