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O que os corais podem nos ensinar sobre astronomia?

Por Maria Beatriz de Andrade

            A fascinação da humanidade para com a Lua, o satélite natural da Terra, é um fenômeno de longa data. Para civilizações antigas, a Lua representava uma forma de compreender a passagem do tempo que os permitia cuidar melhor de suas plantações e, por essa e outras razões, há registros de calendários lunares datados de milhares de anos antes de Cristo. Apesar disso, foi apenas na segunda metade do último século que pudemos entender como a Lua surgiu e ocupou seu lugar de destaque em nosso céu noturno.

Em julho de 1969, o mundo assistiu Neil Armstrong tornar-se a primeira pessoa a caminhar na Lua. As históricas filmagens desse fato são familiares até mesmo para quem nasceu muitos anos após o ocorrido. Imagem: NASA.

            O responsável por essa descoberta foi o Programa Apollo de exploração espacial, que, além de promover o pouso do homem na Lua, permitiu o retorno à Terra de 382 quilogramas de amostras de solo e rochas lunares. Essas preciosas amostras foram e continuam sendo minuciosamente analisadas em laboratórios. À luz das evidências trazidas por elas, os cientistas puderam propor a ideia de que a Terra, ainda em seus estágios iniciais, teria colidido com um outro planeta em formação. Esse impacto teria desintegrado o outro planeta e ejetado uma grande quantidade de matéria rochosa que teria dado origem à Lua.

O planeta em formação que colide com a Terra para formar a Lua ganha o nome de Theia, em homenagem à deusa grega que, no mito, seria a mãe da deusa Selene, a personificação da Lua. Imagem: NASA

            Também descobrimos que, pouco a pouco, a Lua está se afastando de nós. Na superfície lunar, os astronautas do programa Apollo deixaram espelhos nos quais pudemos, aqui da Terra, incidir lasers. A partir do tempo que esses lasers levam para serem refletidos de volta para a Terra, é possível calcular a distância entre os dois astros. Repetições dessa medição revelaram que, desde 1970, a Lua tem se afastado 3,82 centímetros a cada ano ‒ que é mais ou menos a mesma velocidade com que nossas unhas crescem.

Buzz Aldrin carrega, em sua mão esquerda, um aparelho para conduzir experimentos sobre atividade sísmica na Lua e, na direita, um painel refletor (espelho). Imagem: NASA’s Johnson Space Flight Center.

            Quando reconstruímos a história da Terra e da Lua, a partir das novas evidências, descobrimos uma série de fatos interessantes. Por exemplo, que a Lua se formou a uma distância 16 vezes mais próxima da Terra do que ela está hoje; e que nosso planeta rotacionava ao redor do próprio eixo com uma velocidade bem maior, de forma que um dia terrestre durava apenas cerca de cinco horas. Nesse contexto, em um ano, ou seja, ao longo de uma revolução ao redor do Sol, passavam-se 1.750 dias curtos. Mas como foi que tudo veio a ser como é hoje? Como foi que a Lua se afastou tanto e o dia terrestre passou a ter 24 horas?

            Acontece que todo corpo, ou sistema de corpos, em movimento circular possui uma propriedade chamada “momento angular”. Essa propriedade está associada à velocidade de deslocamento e à distância ao centro do movimento. Então, quanto à rotação da Terra, quanto mais momento angular o planeta possui, mais rápido ele gira em torno do próprio eixo. Com relação à revolução da Lua ao redor da Terra, o momento angular aumenta com a distância entre os dois corpos e também com a velocidade do deslocamento da Lua em sua órbita ao redor de nosso planeta. Assim, há bilhões de anos, Terra e Lua travam uma disputa de cabo de guerra, com um astro exercendo influência gravitacional sobre o outro num processo intimamente associado às marés observadas na Terra. Essa interação transfere momento angular da Terra para a Lua, diminuindo a velocidade de rotação de nosso planeta, tornando os dias cada vez mais longos. A Lua, por sua vez, se afasta de nós nesse processo.


            Portanto, essa dinâmica vem gradualmente diminuindo a velocidade de rotação da Terra, causando o afastamento da Lua e dando forma ao sistema Terra-Lua como conhecemos hoje. Mas uma mudança dessa magnitude não ocorre sem deixar marcas em nosso planeta. Na verdade, existem seres vivos que carregam em si registros desse passado tão diferente. Eles são os corais: animais que possuem um esqueleto externo composto por carbonato de cálcio, responsáveis por formar os maravilhosos e coloridos recifes no fundo dos oceanos.

Conjunto de corais na Grande Barreira de Corais, em Cairns, Queensland, Australia. Imagem: Toby Hudson.

            Conforme um coral cresce, ele forma, a cada dia, um novo anel de carbonato de cálcio. Quando comparamos corais vivos atualmente com fósseis de corais antigos, percebemos uma diferença muito marcante: os corais atuais formam 365 anéis por ano, enquanto corais fósseis apresentam um número bem maior de anéis anuais. E quanto mais antigo o fóssil, mais anéis anuais ele apresenta, evidenciando que a duração do dia vem aumentando ao longo da história da Terra.

Corte transversal de um coral da espécie Primnoa resedaeformis exibindo anéis de crescimento. Imagem: Owen Sherwood.

            Os corais habitam a Terra há pelo menos 400 milhões de anos e a evolução do sistema Terra-Lua foi uma dentre várias outras mudanças a nível global à qual eles sobreviveram. E não só sobreviveram como também preservaram registros desse acontecimento, servindo como uma janela para o passado de nosso planeta. E não para por aí: corais, além de tudo, podem nos ajudar a prever o futuro da Terra. Seus esqueletos de carbonato de cálcio são muito sensíveis a alterações na temperatura, luz e disponibilidade de nutrientes. Ao analisar corais de diferentes épocas, podemos compreender como essas condições mudaram ao longo do tempo e como elas podem vir a mudar no futuro. Hoje, existem diversas iniciativas, incluindo algumas lideradas pela NASA, para monitorar recifes de corais no mundo todo. Afinal, já passou da hora de ouvirmos o que esses animais que vivem em nosso planeta há centenas de milhões de anos têm a dizer.

Referências:

  • Hazen, Robert M. 2013. The Story of Earth: The First 4.5 Billion Years, from Stardust to Living Planet. New York, Penguin Books, 2013.
  • Runcorn, S. K. 1966. Corals as Paleontological Clocks. Scientific American, 215(4), 26–33. http://www.jstor.org/stable/24931079

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