Paulo Cesar R. Pereira
Durante as noites mais frias do inverno no Brasil, a constelação do Escorpião domina os céus, estando bem alta por volta das 22h no mês de julho. A forma inconfundível, e a presença da estrela brilhante, de cor laranja-avermelhada, faz dessa constelação uma das mais tranquilas de ser identificada pelo observador inexperiente. A estrela se chama Antares, uma enorme supergigante. Observando a luz visível dessa estrela, sabia-se que ela tinha um tamanho 700 vezes maior do que o Sol. De acordo com dados de pesquisas recentes, ela é bem maior do que podemos supor com base no que nossos olhos conseguem ver.
Todas as estrelas emitem um vento estelar -fluxo constante de radiação, partículas e campos magnéticos. Embora o vento estelar do nosso Sol não seja tão intenso quanto o de uma supergigante, é capaz de produzir sérios problemas nas redes de comunicação e de energia aqui na Terra, sem contar as belas auroras. As estrelas supergigantes, como Antares, são bem menos quentes do que o nosso Sol, mas apresentam ventos estelares muito mais intensos, lançando ao espaço elementos químicos pesados como N e o C, que são básicos para a vida como a conhecemos.
Um grupo de astrônomos busca entender como é produzido o vento estelar nas estrelas supergigantes, usando dois conjuntos de equipamentos: o Atacama Large Millimeter / submilimeter Array (ALMA) e o Karl G. Jansky Very Large Array (VLA). Eles não são telescópios tradicionais, no sentido de que podemos ver a imagem coletada diretamente com os nossos olhos, mas são radiotelescópios. Ou seja, são antenas de metal que coletam radiação numa frequência que nossos olhos não enxergam, mas que permite acessar camadas mais profundas da atmosfera das estrelas.
Apontando os equipamentos do ALMA para Antares, foi possível estimar que a sua cromosfera (uma das camadas da atmosfera das estrelas) se estende a uma distância equivalente ao diâmetro da estrela! Para você ter uma ideia, a cromosfera do Sol tem apenas 1/200 do raio solar. Já o VLA, com sensibilidade para frequências menores, conseguiu observar uma camada ainda mais externa, chamada zona de aceleração. É nela que o material escapa da estrela, criando o vento estelar. Essa camada se estende por aproximadamente 3 bilhões de quilômetros, enquanto os ventos podem chegar ao dobro disso.
Essas observações são importantes para tentar entender a origem do vento estelar, bem como da pulsação, um fenômeno muito comum nas supergigantes, e que é responsável pelo enriquecimento químico do espaço. E tem mais, sabe-se que as estrelas supergigantes irão eventualmente explodir como uma supernova. Se você acha fácil encontrar Antares no céu, imagine se ela se transformar numa supernova, quando poderá ficar tão brilhante quanto uma Lua Cheia!
Da próxima vez que procurar pelo Escorpião no céu, lembre-se que aquele ponto brilhante e avermelhado é bem maior que o nosso Sol, cabendo dentro dele, com folga, a orbita de Saturno, e provavelmente explodirá num futuro distante, tornando-se muito mais brilhante, para depois desaparecer, e quem sabe, virar um buraco negro.