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Coluna do Astrônomo

O Guia do Mochileiro das Galáxias


Não entre em pânico e sempre traga uma toalha.

Douglas Adams (1952 – 2001) foi um escritor e roteirista inglês, mais conhecido por sua principal obra, “O Guia do Mochileiro das Galáxias” (1979). Foi ainda um ensaísta, dramaturgo, satirista e, claro, humorista. Antes do estrelato, teve uma carreira instável no início, tendo que trabalhar em uma série de empregos variados: atendente hospitalar, construtor de celeiros e limpador de galinheiros. Chegou a ser contratado como guarda-costas de uma família milionária do Qatar. Porém, jamais esteve longe de sua vocação, a escrita, nunca dela desistindo.

“O Guia…” começa como uma comédia de rádio pela BBC londrina em 1978. Desde então foi adaptado para diversos outros formatos: apresentações em palco, romances, quadrinhos, uma série de TV, games, um filme (2005) – além de mais séries de rádio.

De todos os seus desdobramentos no que hoje em dia se convém por transmídia, os livros certamente são os mais famosos. A “Trilogia do Mochileiro” constitui de 4 5 6 livros: além do Guia, “O Restaurante no Fim do Universo” (1980), “A Vida, o Universo e Tudo Mais” (1982), “Até mais, e Obrigado pelos Peixes!” (1984) e “Praticamente Inofensiva” (1992). Mas Adams pensou que “Praticamente Inofensiva” era meio sombrio demais para ser o término da série e, pretendendo encerrá-la em um tom mais leve, pensou em mais um livro para a Trilogia. Infelizmente, veio a falecer antes de completá-lo, cabendo ao autor Eoin Colfer escrevê-lo (conhecido no Brasil por ser o autor dos livros da série “Artemis Fowl”), baseado em suas notas: “E Tem Outra Coisa…” (2009) foi editado sob as bençãos da viúva de Adams, Jane Belson, gerando ainda para o rádio uma sexta série.


O Peixe-Babel: é pequeno, amarelo, parece uma sanguessuga, é uma das coisas mais estranhas do Universo – mas uma vez enfiado dentro do seu ouvido, é o seu tradutor universal!

O primeiro livro é sobre quando a Terra é destruída para que um atalho hiperespacial pudesse ser construído por uma raça alienígena de burocratas do espaço, os Vogon. Um outro alienígena, um autêntico mochileiro de nome Ford Prefect – colaborador do próprio Guia – acaba resgatando Arthur Dent, inglês, logo antes da destruição da Terra, tornando-o o último homem vivo. Em suas andanças galáxia afora, acabam encontrando a última mulher da Terra, Trillian, resgatada seis meses antes – e que Arthur havia conhecido em uma festa. Com o grupo estão ainda o Presidente da Galáxia, Zaphod Beeblebrox e Marvin, o Androide Paranoico. A partir daí, vão em uma viagem que acaba esbarrando em questões como o significado da Vida, do Universo e Tudo o Mais – e o que é necessário, de verdade, para se obter a resposta.

Sempre lançando mão do Guia; considerado por muitos como o repositório padrão do conhecimento e sabedoria do universo, havendo inclusive suplantado em vendas a Enciclopédia Galáctica – apesar dos erros escabrosos (e potencialmente letais) que possa conter, pois é ligeiramente mais barato e vem com um amistoso aviso com letras grandes na capa de NÃO ENTRE EM PÂNICO.


Confie no Guia.

Os livros que se seguem contam de aventuras não só no espaço, mas também pelo Tempo, e lá pelas tantas abarcam o conceito do multiverso – igualmente, os personagens vão descobrindo não só sobre a natureza das coisas mas esbarrando em conspirações por trás de tudo…

O humor na obra de Adams às vezes o levava a ser comparado com Terry Pratchett (1948 – 2015), autor da série de humor em Fantasia “Discworld”. Neil Gaiman, ninguém menos, de Adams tinha o amigo como fonte de inspiração em sua carreira.

Ele era um futurista, comprando computadores para editar seus textos já em 1982, e a primeira pessoa a comprar um Mac na Europa, tornando-se um porta-voz da Apple. Seu trabalho póstumo, “O Salmão da Dúvida” (2002), também reúne vários artigos publicados sobre tecnologia, da qual era um entusiasta.

Também era ativista ecológico, fazendo campanha por espécies ameaçadas, escrevendo livros e produzindo a série de rádio (não-ficção) a respeito do assunto “Última Chance de Ver” (em tradução nossa), que em 1992 se tornou um aplicativo multimídia em CD-ROM. Suas campanhas incluíram arrecadação de fundos por espécies de gorilas e rinocerontes.

Sua obra alcança dezenas de trabalhos, entre romances, roteiros, contos, etc. Parece ter tido uma carreira um pouco instável no início, mas sempre divertida: escreveu para o “Monty Python Flying Circus” (e atuou na 4a. temporada) e outras comédias na TV, e ainda alguns arcos para o “Doctor Who” de Tom Baker, tendo ainda criado “Dirk Gently’s Holistic Detective Agency” (1987, que em anos recentes virou série pela Netflix, com Elijah Wood).


“No início, o universo foi criado. Isso deixou muita gente zangada e foi considerado por muitos como uma péssima ideia.”

E o motivo que estamos segurando Júpiter até semana que vem e interrompendo a série dos Nossos Astros na Ficção Científica com tudo isso é que amanhã, sábado, dia 25 de maio, comemora-se mais um Dia da Toalha: dia que comemora o preparo que um autêntico Mochileiro das Galáxias possui ao sempre ter uma toalha em sua mochila, o item mais versátil possível que ele pode dispor, não interessa a situação. E porque 25 de Maio de 2001 foi o dia escolhido por fãs na Inglaterra, duas semanas após o falecimento de Adams, para lembrar dele e de sua obra. Assumindo um vulto maior, é também o Dia do Orgulho Nerd internacional, data compartilhada ainda com a celebração de “Discworld” (The Great 25th) e com o 4 de Maio (May the 4th: dia de “Star Wars”).


Você sabe onde está a sua toalha?

Nosso adeus, Douglas Adams. E muito obrigado por todas as risadas.

Luiz Felipe Vasques

22/05/2019

Links Externos:

https://pt.wikipedia.org/wiki/The_Hitchhiker%27s_Guide_to_the_Galaxy

https://en.wikipedia.org/wiki/Douglas_Adams http://www.towelday.org/

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6 filmes infantis com temática espacial: parte 6 E.T. – O Extraterrestre (1982)

O último filme da nossa lista é um clássico! “E.T. – O Extraterrestre” foi lançado em 1982, fazendo muito sucesso e sendo considerado um dos filmes mais amados da história do cinema.

Nesse filme, conhecemos Elliot, um menino normal que acaba encontrando um ser de outro planeta que ficou sozinho após ser esquecido em nosso planeta. Com o tempo, surge uma grande amizade entre os dois e Elliot ajuda E.T. a se esconder dos humanos, evitando que ele seja capturado e transformado em cobaia.

Durante todo o filme, vemos a amizade entre o menino e o extraterrestre crescer, enquanto E.T. tenta encontrar formas de contatar seus amigos e voltar para casa, passando por inúmeras situações engraçadas, e outras perigosas, enquanto estão juntos.

Não perca este filme. Chame seus amigos e sua família para assisti-lo.

Bom, essa foi a nossa lista de seis filmes legais com temática espacial. Agora é só preparar a pipoca, sentar no sofá e aproveitar! Boa diversão!

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Coluna do Astrônomo

Inteligência Artificial em Marte

Quando ouvimos falar em inteligência artificial é comum, imediatamente, lembrarmos de filmes de ficção científica: AI – Inteligência Artificial, Homem Bicentenário, etc. A maioria das obras apresenta personagens extremamente inteligentes e capazes de realizar uma vasta quantidade de tarefas, como por exemplo o mordomo virtual J.A.R.V.I.S., que é capaz de atender praticamente todos os desejos do excêntrico Tony Stark. E para completar, desenvolveram ainda o sentimento.

Embora estejamos bem distantes da inteligência artificial com este nível de complexidade, já convivemos com esse aspecto da tecnologia moderna num nível menos “hard”: carros autônomos, conselheiros financeiros virtuais, e aplicativos de reconhecimento facial e de autopreenchimento de mensagens de texto, são alguns exemplos. Tá certo, o preenchimento automático nos deixa de “saia justa” de vez em quando, mas a tendência é ficar cada vez melhor.

Se ela está presente nas atividades comuns do nosso dia a dia, o que dizer da ciência? No caso específico da Astronomia, diversas soluções envolvendo a inteligência artificial têm sido testadas ou estão em processo de franco desenvolvimento. Para você ter uma ideia, já empregamos essa área de conhecimento na busca de exoplanetas, na classificação de galáxias e no controle de um robô em Marte. Vamos falar um pouquinho mais sobre esses três exemplos.

O robô Curiosity chegou em Marte em 6 de agosto de 2012 e, desde então, tem investigado a existência de vida no planeta vermelho. Ele carrega um conjunto de instrumentos científicos que permite analisar amostras retiradas do solo e de perfurações em rochas. Com base no que já aprendemos da Terra, sabe-se que nas rochas é possível encontrar registros do clima e da geologia do planeta. O pequeno laboratório que o robô carrega faz a análise química desse material, fornecendo informações valiosas sobre como é o ambiente marciano. Além disso, o robô dispara um feixe de laser sobre rochas selecionadas. O objetivo é aquecer a rocha até o ponto de liberar gás. É justamente o gás que é analisado, permitindo, por exemplo, determinar a composição química da rocha aquecida.

A distância média de Marte até a Terra é de 225 milhões de quilômetros, variando entre 55 e 400 milhões de quilômetros. Onde entra a inteligência artificial nessa conversa?

Bom, até 2016, os pesquisadores diziam para o Curiosity onde mirar o laser. Isso significa que, dependendo da distância do planeta vermelho, qualquer sinal enviado da Terra chegaria no robô em até 20 minutos. Naturalmente, o caminho de volta do sinal do robô para a Terra, precisaria do mesmo tempo. Cá entre nós, esse tempo “perdido” atrapalha muito a missão. Imagine uma imagem de uma rocha sendo enviada para a Terra. O pesquisador analisa e dá o veridito: lance o laser sobre ela! O disparo ocorre após 40 minutos, um tempo precioso para uma missão tão importante e cara. E temos ainda a situação na qual, pela rotação de Marte, o robô simplesmente fica impossibilitado de receber sinal da Terra, por estar do outro lado.

Tudo mudou em julho de 2016, quando o robô foi equipado com um novo software que analisa as imagens captadas pela sua câmera de navegação. Se o software encontra uma rocha particularmente interessante, o Curiosity emite o laser sobre ela. A escolha dos alvos de forma autônoma é uma importante aplicação das máquinas que aprendem (machine learning) no estudo do planeta vermelho. O uso de métodos da inteligência artificial tem se estendido a outras áreas da Astronomia, como a busca de novos planetas e a classificação de galáxias. Só que nesses casos, o nível de complexidade é bem maior, exigindo o desenvolvimento de redes neurais. Mas isso é papo para um outro blog. Até a próxima.

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Fotometria – medindo a luz das estrelas (parte 2)

Alguns metais ao serem iluminados em condições específicas emitem elétrons; isso foi chamado de efeito fotoelétrico. Este efeito foi observado e confirmado pela primeira vez por A. E. Becquerel em 1839 e Heinrich Hertz em 1887. A partir desta propriedade desenvolveu-se o fotômetro fotoelétrico. Em 1916, o astrônomo norte-americano Harlan True Stetson desenvolveu o primeiro fotômetro moderno. Em 1934, Harrison, NJ. Harley Iams e Bernard Salzberg desenvolveram a primeira fotomultiplicadora que torna o fotômetro extremamente mais sensível. O funcionamento da fotomultiplicadora pode ser descrito da seguinte maneira. Dentro de um válvula a vácuo, cada fóton recebido por um fotossensor emite um elétron que arranca mais dois eletróns de uma placa metálica posterior. Este par de elétrons, por sua vez, arranca o dobro de elétrons mais adiante. Entram num arranjo de placas que multiplicam várias vezes a corrente elétrica resultante numa espécie de cascata de elétrons. Um sensor deste tipo além de muito sensível é capaz de detectar variações luminosas praticamente em tempo real: isso permitiu registrar as curvas de luz de estrelas variáveis muito rápidas.

Uma fotomultiplicadora só pode indicar medidas luminosas ponto a ponto. Para observar objetos extensos, ou várias estrelas, ele precisa deslocar-se para varrer o campo estelar visível e fazer uma espécie de mapa de nível.

Com o advento da eletrônica digital os semicondutores miniaturizaram o que aquelas enormes válvulas faziam. Montando uma matriz de sensores minúsculos podemos fotografar, ou melhor, filmar um campo estelar de uma vez em tempo real, montando uma imagem virtual pixel por pixel. Chamamos este tipo de sensor de CCD (Couple Charge Device – Dispositivo de Carga Acoplada). Hoje a fotometria CCD permite acompanhar ocultações de estrelas por exoplanetas e mapear grandes estruturas espaciais.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Dispositivo_de_carga_acoplada

Usando filtros coloridos a fotometria ganha ainda mais recursos próximos ao que a espectroscopia é capaz de fazer. Esta fotometria por banda de cor permite determinar temperaturas, composições químicas e outros comportamentos intrínsecos dos astros. Assim podemos ter fotometria ultravioleta, visível e infravermelha combinadas, fornecendo informações preciosas sobre a natureza das estrelas.

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Nossos Astros na Ficção Científica: Marte

“Marte se tornou uma espécie de arena mítica na qual nós projetamos nossas esperanças e nossos medos Terrestres.” – Carl Sagan, “Cosmos” (1980)

Na série dos Nossos Astros na FC, hoje falaremos de Marte.

Com um brilho forte e avermelhado, que pode remeter ao fogo e ao sangue, em alguns povos do passado o quarto planeta de nosso Sistema Solar incitou a imaginação sob uma dose de cautela. Os chineses antigos tinham que a “estrela de fogo” trazia potencial para tempos de guerra, pesar e desgraça. Para os hindus, era Mangala, deus da guerra e do celibato. Na astronomia babilônica, ele era associado a Nergal, deus da guerra, praga, morte e doença. Gregos e romanos, por fim, associaram-no ao deus da guerra: Ares/Marte.


Os deuses Nergal, Mangala e Marte.

Marte, no fim das contas, é o quarto planeta a partir do Sol. É um planeta rochoso, sem as dimensões dos ditos planetas gasosos ou jovianos (Júpiter, Saturno, Urano e Netuno). É menor do que a Terra, possuindo uma atmosfera mais tênue que a nossa, predominando o gás carbônico (suas calotas polares têm gelo seco), com gravidade somente 0,38 da Terra. Possui duas pequeninas luas, provavelmente asteroides capturados, chamadas Fobos e Deimos (o Horror e o Terror, dois dos companheiros do deus da guerra). Sem um campo magnético, como a Terra, para protegê-lo da radiação do espaço ou do vento solar, sofre um processo crônico de erosão de sua atmosfera, mas acredita-se que tenha tido água em estado líquido há muito, muito tempo atrás. É, apesar disso, por enquanto nossa melhor opção para pensarmos em colonizar outro mundo. Passamos cerca de 80 anos acreditando que Marte poderia ser habitável e habitado. Por tudo isso, talvez seja o planeta mais lembrado pelos autores de Ficção Científica, depois do nosso.

Os sempre citados por aqui Athanasius Kircher e Emanuel Swedenborg (Século XVII), em seus textos esotéricos e especulativos encontram-se as primeiras obras a usar Marte como cenário de alguma descrição.

A obra “As Viagens de Gulliver” (1726), de Johnathan Swift, traz uma curiosa predição, ao ser dito que os astrônomos de Laputa descobrem dois satélites ao redor de Marte, o que é acurado – mas Fobos e Deimos só seriam descobertas por Asaph Hall em 1877.

Foi o mesmo ano em que o astrônomo italiano Giovanni Schiappareli (o mesmo que havia calculado que Mercúrio devia ter sempre uma mesma face para o Sol), em suas observações, notou que Marte parecia apresentar canais em sua superfície – o que, na verdade, era uma ilusão de ótica devido ao baixo poder dos telescópios da época. Quando isto foi traduzido para o inglês, o que havia sido escrito “canali” para os canais erroneamente preferiu-se o termo “cannel” (canal artificial, como o Canal do Panamá) em vez de “channel” (canal natural, como o Canal da Mancha). Na época, foi o suficiente para incendiar a imaginação de quem já ansiava por encontrar vida, e vida inteligente, em outros pontos do sistema solar. O astrônomo americano Percival Lowell (que se envolveu também na descoberta de Plutão) foi um deles, após ler a tradução errônea lançou três livros sobre Marte e as promessas de vida inteligente e suas descrições – e como divulgação científica, não de ficção. Não ajudava, em prol da objetividade, que um astrônomo conterrâneo de Schiapparelli, Camille Flammarion, já tivesse sugerido que as manchas castanhas visíveis pelos telescópios de então poderiam ser de uma vegetação local predominante de características próprias.


Um provável Marte de outrora.

Em meados dos 1910, os astrônomos haviam concluído que a observação de qualquer tipo de canais em Marte era equivocada, mas para a percepção popular, isto não importou muito: imaginar uma raça que havia feito tantas alterações em seu mundo levantava a ideia de que Marte deveria ser um mundo frio e seco, com problemas de abastecimento de água, com uma civilização potencialmente agonizante… era um apelo simplesmente forte demais. Todas estas especulações só encontraram fim quando as sondas norte-americanas Mariner sobrevoaram Marte nos anos 1960, fotografando a superfície do planeta: até lá, a Ficção Científica se serviu muito bem.

Alice Ilgenfritz Jones e Ella Merchant escrevem em 1893 “Unveiling a Parallel – A Romance”, uma história de uma sociedade utópica em Marte – a virada do Século produziu algumas histórias de utopia – onde as autoras debatem ideias feministas através das sociedades que elas criam, uma onde as mulheres adotaram os piores comportamentos masculinos e outra em que há igualdade, paz e harmonia entre homens e mulheres.

Gustavus W. Pope escreve “Journey to Mars” (título abreviado) em 1894, onde o protagonista é levado a Marte após resgatar, de um naufrágio, alguém que se revela ser um marciano. Este Marte é habitado por raças humanoides de cores diferentes, com sociedades de aspecto feudal mas que, ao mesmo tempo, tem alta tecnologia, superior à da Terra: reis e princesas e duelos com espadas existem ao lado de carros voadores e televisão e videofones.

“Auf zwei Planeten” (1897, “Em Dois Planetas”, tradução livre), de Kurd Lasswitz, obra alemã bastante influente em seu país, é sobre exploradores do Ártico encontrando uma expedição marciana no Polo Norte, desejando um contato amistoso com a Terra. Apesar de um bom início, tensões com o Império Britânico escalonam até a guerra.

Já havendo descrito uma expedição humana à Lua, H. G. Wells escolhe Marte para nos invadir em “A Guerra dos Mundos” (1898), em uma metáfora sobre os desmandos genocidas do Exército Colonial Britânico. Uma adaptação para um programa de rádio por Orson Welles em 1938 fez muita gente crer que era uma reportagem em tempo real, trazendo pânico às massas. Ela não foi a primeira história de invasão alienígena publicada, mas, sem dúvida, foi a mais famosa e influente dentro do tema, com ramificações desde adaptações até influência temática de várias outras obras.


Mapa topográfico de Marte: predominância de terras altas no hemisfério sul.

Edgar R. Burroughs descreve um Marte bem semelhante ao de Pope em sua série de “John Carter de Marte”, bem mais famosa, provavelmente tendo Pope como influência. Ele escreveu as aventuras de Carter em Barsoom – o nome que os marcianos dão ao seu próprio mundo – entre as décadas de 1910 e 1940.

“Les Navigateurs de l’Infini” (1925), por J.-H. Rosny aîné, conta sobre viajantes da Terra até Marte, onde encontram duas raças competindo pelo controle do planeta.

Stanley G. Weinbaum, ao escrever “Uma Odisseia Marciana” (1934), imagina um cenário, criaturas e formas inteligentes realmente estranhas, com um resultado que se destacou na época, apresentando alienígenas com seus próprios propósitos, inumanos que fossem, mas que não eram apenas um pastiche, desafio ou um auxiliar para o protagonista humano. Foi o primeiro autor que lembrou que alienígenas deveriam ser… alienígenas, perante nossos olhos e razão.

Ray Bradbury nos dá em “As Crônicas Marcianas” (década de 1950) histórias inter-relacionadas contando o contato turbulento entre colonizadores da Terra e nativos marcianos, no que é considerado um clássico da Ficção Científica até hoje.

Arthur C. Clarke escreve seu primeiro romance de FC pondo Marte como alvo de uma viagem do protagonista em “As Areias de Marte” (1951). O curioso é que o personagem é um escritor de FC, que escrevia desde antes os voos espaciais começarem e agora tinha a chance de ir para Marte quando a primeira colônia lá estava sendo estabelecida, em uma cidade protegida sob um domo transparente. Não há como imaginar que Clarke não poderia estar falando de si mesmo, e um futuro que ele acreditou por muito tempo. Dado momento, há uma pequena discussão sobre o “prazo de validade” da FC, entre a especulação de um escritor e o que a realidade acaba trazendo.

Isaac Asimov escreve “Nós, os Marcianos” (1952) para contar como colonos se viram para sobreviver depois que um governo populista na Terra resolve cortar a exportação de água necessária para manter a população marciana. A série juvenil de “Lucky Starr”, escrita nos 1950, Asimov fala de uma antiga e desconhecida raça marciana que habita os subterrâneos de Marte, sem que os colonos oriundos da Terra, na superfície, de nada saibam.

Com a passagem das sondas espaciais e a confirmação de que Marte não somente era desabitado, mas longe de ser um cenário adequado à vida, houve uma queda de interesse por parte dos autores de FC, pelos anos 70 até meados dos anos 80, quando o interesse se reacendeu.

“Homem Mais” (1976), de Frederik Pohl, fala de adaptação radical biológica para o novo ambiente marciano, em vez de apenas viver em ambientes pressurizados ou terraformar o planeta.

John Varley publica seu conto “In the Hall of the Martian Kings” em 1977, no qual se aprende que o Marte que conhecemos é o de um longo, longo inverno, enquanto a raça marciana hiberna.


A “Trilogia Marciana” de K. S. Robinson.

Em 1990, uma curiosa proposta foi escrita por Harry Turtledove. Em “A World of Difference”; para resolver como pôr sociedades nativas viáveis no quarto planeta o autor simplesmente mudou o mundo: não é Marte, é Minerva, de dimensões similares à Terra, atmosfera, vida e… vida inteligente.

A obra literária mais reconhecida sobre Marte, hoje em dia, talvez seja a “Trilogia Marciana” de Kim Stanley Robinson. “Red Mars” (1992), “Green Mars” (1993), “Blue Mars” (1996) e ainda a coletânea “The Martians” (1999) contam sobre a colonização e terraformação do planeta vermelho, discutindo ecologia, sociedade e política, enquanto a Terra enfrenta os problemas da superpopulação e o colapso ambiental. A história se desdobra através dos séculos e das gerações.

Assim como Vênus, George R. R. Martin e Gardner Dozois publicaram “Old Mars” (2013), antologia resgatando os antigos temas de um Marte habitado por vida inteligente, antes da desmistificação trazida pelas sondas espaciais dos anos 1960 e 70.

Andy Weir escreve “O Marciano” (2014, adaptado para o cinema em 2015) contando sobre um náufrago na superfície de Marte, após um acidente com a expedição que o levou até lá.

O cinema, como não podia deixar de ser, interessou-se por Marte diversas vezes. “Robinson Crusoé em Marte” (1964) é uma outra história de naufrágio em Marte bem antes da de Weir, uma livre adaptação da obra original de Daniel Defoe; e em 2001 “Stranded” mostrou não um, mas cinco astronautas naufragados em Marte tendo que contar seus recursos. “A Guerra dos Mundos” ganhou versões no cinema em 1953 e 2005, além de uma série de TV em 1989. “Total Recall” (1990 e 2012, mas a de 2012 se passa inteira na Terra) é a versão mais conhecida que o original do papel de “We Can Remember It for You Wholesale” (1996), escrita por Phillip K. Dick, estrelando Arnold Schwarzenegger e também se passando em Marte, entre conspirações de espionagem, memórias roubadas e tecnologia marciana ancestral. Mais recentemente, “Vida” (2017) conta como a rotina a bordo da Estação Espacial Internacional se torna problemática quando uma forma de vida unicelular marciana é recuperada e reage aos experimentos de maneira inesperada.

Entretanto, a destacar nas telas grandes é a comédia de humor negro de 1996 “Marte Ataca!”, baseado em uma franquia de “trading cards” americana de 1962.


Ack! Ack! Ack!

Na Tv, em tempos recentes temos duas séries sobre o quarto planeta. “Marte” (2016), série sobre a colonização de Marte a partir do ano de 2033, já com duas temporadas. “The First” (2018), com Sean Penn, fala sobre o processo de mandar uma expedição tripulada a Marte em um futuro próximo, com todos os problemas envolvidos após o acidente fatal com a primeira expedição: ambas as séries primam por destacarem tanto os problemas pessoais dos personagens quanto os políticos nas situações, assim como o papel da iniciativa privada no processo de se alcançar e habitar Marte.

Nas últimas décadas vimos o interesse se reacender quanto as possibilidades de Marte, e obviamente que isso se reflete na cultura pop. Sondas são mandadas para lá com uma certa constância, e carros robôs capazes de investigar o planeta em sua superfície estão se tornando fato corriqueiro. A presença da iniciativa privada na ida a Marte já passou da mera especulação, e isso pode trazer uma nova perspectiva ao se resolver as coisas – pode-se dizer igualmente da presença de países até então com pouca ou nenhuma tradição de programa espacial.

Pessoalmente, gostaria que a ida a Marte – e sua colonização – fosse fruto de um esforço conjunto internacional, em vez da competição da agenda nacional local ou do interesse financeiro deste ou daquele grupo: ambições interplanetárias, recursos e esforço planetários. De qualquer forma, é claro que tudo ainda está muito no início. E se obviamente problemas e soluções se revelarão e se resolverão no devido tempo, confio que ao final de tudo ainda será como Sagan também diz, concluindo o capítulo sobre Marte em “Cosmos”: “Os marcianos seremos nós.”


Nosso invasor favorito.

Semana que vem a coluna deverá interromper a série “Nossos Astros na Ficção Científica” – mas não entre em pânico.

Apenas traga uma toalha.

Luiz Felipe Vasques

14/05/2019

Links Externos:

https://en.wikipedia.org/wiki/Mars_in_fiction
http://www.sf-encyclopedia.com/entry/mars
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6 filmes infantis com temática espacial: parte 5 Marte Precisa de Mães (2011)

O filme Marte Precisa de Mães conta a história de Milo, um menino de nove anos que está ocupado demais vendo filmes de monstros e lendo gibis e, certamente, não tem tempo para tarefas chatas do dia a dia, como lição de casa e comer legumes, como sua mãe quer que ele faça. Após uma discussão, Milo acaba dizendo que seria melhor não ter mãe, mas depois percebe que errou e decide pedir desculpas. Nessa hora, ele descobre que a mãe está sendo abduzida por uma nave espacial e acaba sendo levado junto. A nave está a caminho de Marte, onde estão precisando de mães para criar seus filhos, roubando a personalidade das mães da Terra para criá-los obedientes. O problema disso é que, ao roubar a personalidade da pessoa, a mesma é desintegrada, logo, Milo percebe que precisa salvar sua mãe e voltar para a Terra.

Esse filme ficou bem famoso quando foi lançado, pois mostra que, mesmo parecendo chato, às vezes, tudo que nossas mães falam é para nos ajudar e elas realmente fariam muita falta na nossa vida se não estivessem aqui.

E, claro, é uma viagem pelo espaço!

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Gemini – altas aventuras no espaço

1965 – O programa Gemini, de naves para dois astronautas, é sucessor das cápsulas Mercury (para um só tripulante). A primeira Gemini a levar astronautas ao espaço foi a de número 3, lançada em março de 1965. Por insistência do comandante Virgil Grissom, foi a única nave Gemini a ser batizada: Molly Brown. A referência foi a cápsula Mercury “Liberty Bell” 7 (todas Mercury eram numeradas de 7) que pilotou e que afundou ao amerissar no Pacífico. Molly Brown, chamada de insubmersível, teria sido uma das poucas sobreviventes do naufrágio do Titanic. O copiloto da Gemini 3 foi John Young.

As Gemini, ao contrário das Mercury, tinham capacidade de realizar manobras complicadas em órbita. Seriam as naves que realmente poderiam colocar os norte-americanos em pé de igualdade dos cosmonautas soviéticos. Até aquele momento a URSS estava realizando várias proezas espaciais. A bordo da nave Voskhod o cosmonauta Alexei Leonov foi o primeiro homem a passear no espaço em março de 1965. O primeiro passeio espacial norte-americano só viria acontecer em junho do mesmo ano com Edward H. White na Gemini 4. Neste período, enquanto os soviéticos lutavam com o desenvolvimento das suas naves Soyuz, as Gemini se destacaram em missões orbitais.

Março de 1966 – A nave Gemini 8 tinha uma missão ousada: interceptar e se acoplar a um veículo não tripulado intitulado Agena. Neil Armstrong (ainda novato naquela época) foi o piloto e o copiloto foi David Scott (ambos tripularam naves Apollo que iriam à Lua mais tarde). No momento em que as duas naves se acoplaram, começaram a rodopiar vigorosamente no espaço sem controle. Foi preciso desconectar a Gemini da Agena, mas esta continuava a girar loucamente. A solução encontrada foi acionar os retrofoguetes e tirar a nave de órbita antes do tempo previsto e realizar um pouso de emergência. Estas cenas são reproduzidas de forma vertiginosa no filme O Primeiro Homem (Damien Chazelle, 2018). Recomendo para quem curte espaço, mas não para quem tem vertigens.

Gemini foi o projeto que realmente alavancou os EUA para superar a URSS durante a Corrida Espacial.

Estas e outras histórias você poderá conhecer no Curso de Astronáutica do Planetário do Rio.

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A missão Cassini a Saturno

A Missão Cassini explorou o planeta Saturno, seus anéis, e suas luas de 2004 até 2017. A nave Cassini levou a sonda Huygens, construída pela Agência Espacial Europeia, para descer na lua Titã.

A palestra vai mostrar os resultados principais da missão, como o vulcanismo de gelo em Enceladus, a geologia de Titã, os anéis de Saturno, e as enormes tempestades na atmosfera do planeta.

A Dra. Rosaly Lopes é brasileira, natural do Rio de Janeiro. Ela saiu do Brasil aos 18 anos para estudar Astronomia em Londres e desde 1991 trabalha para a NASA – a Agência Espacial Norte-Americana –, e hoje analisa dados da Missão Cassini, que explorou o planeta Saturno e suas luas.

Dra. Rosaly é especialista em geologia e vulcanologia dos planetas e das luas, e entrou para o Guinness Book of World Records por ter descoberto mais vulcões ativos (71 em Io) do que qualquer outra pessoa.

Recentemente tornou-se Editora Chefe da revista científica Icarus, aonde são publicados trabalhos sobre ciências planetárias. Já ganhou muitos prêmios, incluindo a medalha Carl Sagan da American Astronomical Society e o prêmio Ambassador da American Geophysical Union. É autora de mais de 120 trabalhos científicos e oito livros.

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Peça teatral

Anjo Azul – Acerca de Tudo

“Anjo Azul – Acerca de Tudo” conta a saga dos autistas e seus familiares na sua relação com o mundo e a sociedade, que fecham as portas, segregam, discriminam, dificultam ou não permitem o acesso aos espaços coletivos, com o devido respeito às suas peculiaridades.

Partindo do olhar do autista, o autor tenta, de forma sucinta, representar em linguagem teatral e lúdica, os entraves causados pelo o desconhecimento da maioria das pessoas, o que dificulta ou impedem o acesso ou a convivência do TEA em ambientes urbanos coletivos, visto que, em geral a pessoa com o Autismo não apresenta características físicas que tornem visíveis no primeiro olhar as suas diferenças.

“Anjo Azul – Acerca de Tudo” coloca em pauta de discussão, o comportamento, a forma de pensar, ver e estar no mundo, pelos os olhos da pessoa com o Transtorno do Espectro Autista, na voz e nos gestos dos personagens. A peça mostra as dificuldades encontradas por eles na comunicação social, interação social e padrões de comportamento e, o melhor, como podem ser rompidas as barreira da sociedade a partir do conhecimento, da convivência, e o respeito às diferenças.

No dia 19 de maio de 2019, no Planetário da Gávea, no Rio de Janeiro – RJ, às 14h30min, os Autistas pedem passagem e ocupam a instituição para falar de si mesmos, num espetáculo teatral de autoria de Joel Vieira, pai Azul que decide contar com arte teatral um pouco da vida de autista num mundo dos ditos neurotípicos. A Direção é de Joel Vieira e conta com um elenco de oito atores, dentre eles Monica Ferreira, atriz, coautora e mãe Azul, que dá vida a uma personagem que, por várias vezes, ela e sua filha Autista encontram pelo mundo afora as portas fechadas para os anjos Azuis.

Elenco: Bia Ferreira, Fausye Gama, Gil Miranda, Logan Moura, Monica Ferreira, Thaila Freitas e Vitor Brandão
Participação especial: Laura Helena de Souza e Vanessa Ferreira
Música: Gil Miranda
Produção: Cia Artismo

ENTRADA FRANCA – Distribuição de senhas às 14h, na bilheteria do Planetário

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Coluna do Astrônomo

Fotometria – medindo a luz das estrelas (parte 1)

Junto com a espectroscopia, a fotometria forma a base da astrofísica moderna. Fotometria astronômica é essencialmente medir a intensidade da luz que vem dos astros. As primeiras medidas de luminosidade usavam o conceito de magnitude visual. As estrelas mais brilhantes eram consideradas de primeira magnitude; as menos brilhantes, de segunda magnitude, e assim respectivamente: em uma escala inversa. Tudo isso a olho nu. Mesmo visualmente já se notava variações da intensidade luminosa de planetas e de algumas estrelas. Foi o caso da Estrela Algol, Beta de Perseu, chamada olho do demônio pela sua inexplicável variação de brilho.

Com a invenção da fotografia podemos tirar o fator subjetivo da determinação de magnitude estelar. Agora há um registro da observação. As primeiras placas astrofotográficas surgiram a partir de 1840. Eram de feitas de vidro coberto de emulsão fotográfica a base de nitrato de prata. Geralmente se usava imagens negativas direto pois, quanto menos processos de revelação, menos interferência e ruídos apareciam. Estrelas mais brilhantes produzem imagens mais negras e maiores diretamente proporcionais à intensidade luminosa. O principal problema do processo fotográfico é a questão do tempo de exposição (de algumas horas) que limita acompanhar eventos mais rápidos (de alguns segundos, por exemplo).

Típico campo estelar em negativo fotográfico. Note a diferença dos tamanhos dos pontos
pretos. Estrelas brilhantes produzem imagens maiores.

https://pt.wikipedia.org/wiki/Fotometria_(astronomia)