Inteligência Artificial em Marte
Quando ouvimos falar em inteligência artificial é comum, imediatamente, lembrarmos de filmes de ficção científica: AI – Inteligência Artificial, Homem Bicentenário, etc. A maioria das obras apresenta personagens extremamente inteligentes e capazes de realizar uma vasta quantidade de tarefas, como por exemplo o mordomo virtual J.A.R.V.I.S., que é capaz de atender praticamente todos os desejos do excêntrico Tony Stark. E para completar, desenvolveram ainda o sentimento.
Embora estejamos bem distantes da inteligência artificial com este nível de complexidade, já convivemos com esse aspecto da tecnologia moderna num nível menos “hard”: carros autônomos, conselheiros financeiros virtuais, e aplicativos de reconhecimento facial e de autopreenchimento de mensagens de texto, são alguns exemplos. Tá certo, o preenchimento automático nos deixa de “saia justa” de vez em quando, mas a tendência é ficar cada vez melhor.
Se ela está presente nas atividades comuns do nosso dia a dia, o que dizer da ciência? No caso específico da Astronomia, diversas soluções envolvendo a inteligência artificial têm sido testadas ou estão em processo de franco desenvolvimento. Para você ter uma ideia, já empregamos essa área de conhecimento na busca de exoplanetas, na classificação de galáxias e no controle de um robô em Marte. Vamos falar um pouquinho mais sobre esses três exemplos.
O robô Curiosity chegou em Marte em 6 de agosto de 2012 e, desde então, tem investigado a existência de vida no planeta vermelho. Ele carrega um conjunto de instrumentos científicos que permite analisar amostras retiradas do solo e de perfurações em rochas. Com base no que já aprendemos da Terra, sabe-se que nas rochas é possível encontrar registros do clima e da geologia do planeta. O pequeno laboratório que o robô carrega faz a análise química desse material, fornecendo informações valiosas sobre como é o ambiente marciano. Além disso, o robô dispara um feixe de laser sobre rochas selecionadas. O objetivo é aquecer a rocha até o ponto de liberar gás. É justamente o gás que é analisado, permitindo, por exemplo, determinar a composição química da rocha aquecida.
A distância média de Marte até a Terra é de 225 milhões de quilômetros, variando entre 55 e 400 milhões de quilômetros. Onde entra a inteligência artificial nessa conversa?
Bom, até 2016, os pesquisadores diziam para o Curiosity onde mirar o laser. Isso significa que, dependendo da distância do planeta vermelho, qualquer sinal enviado da Terra chegaria no robô em até 20 minutos. Naturalmente, o caminho de volta do sinal do robô para a Terra, precisaria do mesmo tempo. Cá entre nós, esse tempo “perdido” atrapalha muito a missão. Imagine uma imagem de uma rocha sendo enviada para a Terra. O pesquisador analisa e dá o veridito: lance o laser sobre ela! O disparo ocorre após 40 minutos, um tempo precioso para uma missão tão importante e cara. E temos ainda a situação na qual, pela rotação de Marte, o robô simplesmente fica impossibilitado de receber sinal da Terra, por estar do outro lado.
Tudo mudou em julho de 2016, quando o robô foi equipado com um novo software que analisa as imagens captadas pela sua câmera de navegação. Se o software encontra uma rocha particularmente interessante, o Curiosity emite o laser sobre ela. A escolha dos alvos de forma autônoma é uma importante aplicação das máquinas que aprendem (machine learning) no estudo do planeta vermelho. O uso de métodos da inteligência artificial tem se estendido a outras áreas da Astronomia, como a busca de novos planetas e a classificação de galáxias. Só que nesses casos, o nível de complexidade é bem maior, exigindo o desenvolvimento de redes neurais. Mas isso é papo para um outro blog. Até a próxima.