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Coluna do Astrônomo

Alpha-Scorpiideas e Lua Crescente

Essa semana teremos duas coisas bastante interessantes no céu: o pico de atividade de uma chuva de meteoros e a Lua no quarto-crescente. Sim, são duas coisas bastante interessantes, mas são ainda mais interessantes quando não estão juntas no mesmo céu.

As chuvas de meteoros são muito comuns, e o que mais se destaca em Alpha Scorpiideas é sua fácil localização no céu logo no início da noite. Chuvas de meteoros acontecem quando a Terra cruza o rastro de poeira deixado por um cometa ou um asteroide. A grande maioria das chuvas é associada a algum cometa, mas há aquelas associadas a asteroides também.

O quarto crescente é a melhor fase para se observar a Lua ao telescópio, por ela estar alta no céu logo no início da noite e também pelo efeito causado pelas sombras das montanhas e crateras, que nos permite uma melhor percepção da superfície lunar. Essa percepção é bastante prejudicada na Lua Cheia, quando a luminosidade do Sol incide perpendicularmente sobre a superfície lunar e não temos sombras. Certamente a Lua estará em nossa próxima observação do céu aqui do Planetário.

A carta celeste abaixo é para o céu do Rio de Janeiro dessa próxima semana, no início da noite.

As chuvas de meteoros são caracterizadas pela posição de seu radiante, um ponto no céu de onde parecem sair os meteoros. A constelação onde está o radiante dá nome à chuva, de modo que Alpha Scorpiideas acontece na constelação do Escorpião. Procure essa constelação um pouco acima de onde você viu o Sol nascendo.

Note na carta celeste, que a Lua, já brilhante, saindo do quarto crescente e indo para a fase cheia, estará muito próximo, o que prejudicará a observação de Alpha Scorpiideas. O pico dessa chuva ocorre hoje, dia 13 de maio, mas será possível observar meteoros dela até por volta do dia 20 de maio. A taxa de meteoros esperada é de 5 por hora, num céu ideal, longe da poluição luminosa e sem Lua.

Apesar das condições não serem as ideais, temos a vantagem, do Escorpião estar no céu no início da noite, e de ser uma constelação especialmente fácil de se identificar. Portanto, fica a sugestão de tentar observar ao menos alguns meteoros nas próximas noites!

Ah, e não se esqueça de fazer um pedido para cada um que conseguir ver.

Bons céus!

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Coluna do Astrônomo

O Sistema Alpha Centauri

Nas proximidades do Cruzeiro do Sul, onde está a Caixinha de Jóias, sobre a qual conversamos semana passada, encontramos um sistema estelar muito interessante, que também faz parte da lista de objetos para os quais os observadores do céu gostam de apontar seus telescópios.

Normalmente não apontamos um telescópio para uma estrela por um motivo simples: estrelas estão tão tão distantes (pedindo licença ao Shrek), que mesmo no maior telescópio do mundo ela continua sendo observada como um pontinho. O telescópio pode te mostrar uma quantidade maior de estrelas do que a quantidade que você enxerga sem ele, mas nenhum telescópio pode te mostrar uma estrela maior do que você vê diretamente.

Entretanto, Alpha Centauri é uma exceção por se tratar de um sistema estelar que pode ser resolvido com o telescópio, ou seja, enquanto sem instrumento vemos apenas uma estrela, com um telescópio conseguimos ver duas, bem próximas uma da outra. As duas estrelas são chamadas Aplha Centauri A, também conhecida como Rigel Kentaurus ou Rigel Kent e Alpha Centauri B, também conhecida como Toliman.

A Carta Celeste dessa semana mostra os nomes de algumas estrelas notáveis. Procure por Rigel Kentaurus à esquerda do Cruzeiro do Sul, na região sul do céu (próximo á letra “S”).

Carta Celeste com o céu do Rio de Janeiro, dia 15 de maio de 2019 às 19h (horário local)

As estrelas do sistema Aplha Centauri são as mais próximas de nós depois do Sol. Estão a cerca de 4.4 anos-luz de distância.

Rigel Kentaurus e sua companheira Alpha Centauri B orbitam ao redor do seu centro de massa em cerca de 80 anos. Mas essas são as duas estrelas mais brilhantes do sistema… só que, na verdade, há ainda uma terceira estrela aí!

Curiosamente, essa terceira estrela, a Alpha Centauri C, também conhecida como Próxima Centauri, é a estrela mais próxima de nós e a única que não conseguimos ver nem com um telescópio de uso amador. Trata-se de uma anã vermelha, pequena e pouco brilhante.

Rigel Kentaurus, ou Alpha Centauri A é a estrela mais brilhante à esquerda. Toliman ou Alpha Centauri B está à direita e Próxima Centauri, a mais próxima de nós, está na região destacada pelo círculo vermelho (Wikimedia Commons)

O fato de Próxima Centauri ser de fato a estrela mais próxima de nós depois do Sol e ser tão difícil de ser observada nos lembra que apenas olhando para o brilho das estrelas não podemos dizer absolutamente nada sobre suas distâncias. Uma estrela mais brilhante que outra não está necessariamente mais próxima, assim como uma menos brilhante não está necessariamente mais distante.

Bons Céus!

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Coluna do Astrônomo

Jóias no Céu

Olhando para céu no início das noites nessa época do ano, um pouco acima do horizonte sul, podemos ver uma das constelação mais representativas do céu brasileiro: o Cruzeiro do Sul.

Inicialmente tombada no começo da noite, ele vai se erguendo na medida que as horas passam. Nessa constelação encontramos um objeto extremamente interessante de se observar ao telescópio.

Aglomerado aberto da Caixinha de Jóias, ou NGC 4755 (ESO)

Trata-se de um aglomerado estelar formado por estrelas bastante coloridas, de onde vem seu bonito nome de Caixinha de Jóias. Está localizado a uma distância de cerca de 6.4 mil anos-luz e suas estrelas são bebês astronômicos, com apenas 16 milhões de anos de idade.

Nas estrelas, cores estão sempre associadas com temperaturas, sendo as mais azuladas mais quentes e as mais avermelhadas menos quentes (é o contrário do que diz nossa percepção que associa vermelho ao quente).

As estrelas de um aglomerado nascem da mesma nebulosa, e no mesmo período de formação estelar. Ou seja, possuem todas a mesma idade. O fato de terem cores diferentes indicam que se desenvolveram de maneiras diferentes, devido ás diferentes massas co que cada uma se formou. Por isso, os aglomerados são excelentes laboratórios para os astrônomos estudarem evolução estelar.

O brilho da Caixinha de Jóias está bem no limite do que olho humano consegue observar sem instrumentos, mesmo num céu ideal, longe da poluição luminosa. Mas pode ser encontrado facilmente na constelação do Cruzeiro do Sul. Veja a Carta Celeste abaixo, para a próxima quinta-feira, às 19h no Rio de Janeiro.

Carta Celestes para o Rio de Janeiro, dia 2 de maio de 2019 às 19h no Rio de Janeiro.

A Caixinha de Jóias fica nas proximidades da estrela que marca o braço esquerdo da cruz, a estrela conhecida como Mimosa.

Sempre que possível observamos a Caixinha aqui do Planetário, às quartas ou aos sábados.

Bons Céus!

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Coluna do Astrônomo

A Nebulosa de Órion

Semana passada falamos sobre uma das lendas que povoam o céu, uma lenda que fala de um recado de Zeus para a humanidade, deixado na forma de uma eterna encenação celeste que envolve as constelações de Órion e do Escorpião.

Aproveitando os últimos momentos do Órion no céu noturno, gostaria de chamar sua atenção essa semana para um dos objetos mais notáveis nessa constelação, a nebulosa M42 ou nebulosa de Órion.

Constelação do Órion com as Três Marias e a nubulosa de Órion (Skatebiker)

Pensando no desenho de um caçador, onde as Três Marias representam o cinto dele, a nebulosa de Órion seria a espada pendurada no cinto. Como qualquer objeto de pouco brilho, ela é muito mais facilmente identificada num céu bem escuro, longe da poluição luminosa das grandes cidades.

Situada a cerca de 1.340 anos-luz de nós, essa nebulosa é a regão de formação estelar mais próxima de nós.

Nebulosas são regiões de gás e poeira. Algumas nebulosas conseguem dar origem a estrelas, e esse é o caso da nebulosa de Órion. Partes dela estão colapsando, formando glóbulos onde lá no centro se formará uma estrela quando a pressão for suficiente para dar início às reações de fusão nuclear. Na nebulosa do Órion já foram observadas cerca de 700 estrelas em diversos estágios de evolução.

Para encontrar a nebulosa no céu, procure pelas Três Marias, acima do seu horizonte oeste, perto de onde o Sol se pôs, bem no início da noite.

Carta Celeste do Rio de Janeiro, dia 24 de abril de 2019 às 18h, no horário local. O Órion está à direita, próximo do horizonte oeste (letra “W”)

Nebulosas como a do Órion nos permitem estudar os estágios iniciais da formação estelar e, como sabemos, ao redor das estrelas se formam também planetas. O Telescópio Espacial Hubble observou mais de 150 discos protoplanetarios na nebulosa do Órion, discos de gás e poeira girando ao redor de uma estrela em formação que abrigará planetas. É bastante possível que, assim como ocorreu no Sistema Solar, alguns desses discos protoplanetários tenham também as condições para a criação da vida.

Discos Protoplanetários observados pelo Telescópio Espacial Hubble (HST)

A nebulosa do Órion é também um dos objetos mais fotografados do céu noturno, sendo um dos modelos celestes preferidos dos astrofotógrafos.

Aproveite as próximas noites para procurar no céu esse berçário de estrelas, fácil de se observar diretamente sem nenhum instrumento. Quem tiver a oportunidade de estar com um telescópio ou mesmo com um simples binóculo, também não perca a oportunidade de apreciar a nebulosa com maiores detalhes.

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Coluna do Astrônomo Curiosidades

O Caçador e o Escorpião: A Eterna Batalha de Gigantes no Céu

O céu que os rodeia está cheio de objetos interessantes e mistérios a serem desvendados. Nos últimos dias, por exemplo, tivemos a primeira foto do horizonte de eventos de um buraco negro, algo desejado pelos astrônomos há décadas!

Além dos mistérios aguardando o espírito humano os alcançarem, o espaço nos mostra cenas de beleza estonteante e guarda lendas criadas por nossos antepassados. Nessas noites, acontece no céu um belíssimo espetáculo teatral onde duas constelações são atores da representação de uma das mais belas lendas, que nos fala sobre uma mensagem que Zeus, o deus dos deuses na mitologia grega, queria que a humanidade recebesse e se recordasse constantemente. Essa mensagem fala sobre arrogância.

Órion era um gigante e um exímio caçador, muito corajoso e habilidoso. Mas também era pouco humilde e gostava de se gabar demais de suas proezas. Um dia, ele disse que era o maior dos caçadores e que não havia nenhum animal capaz de escapar à sua caçada. Dizendo isso, enfureceu Artemis, deusa da caça. Apesar de ser a deusa da caça, Artemis era protetora dos animais, e não gostou nada do que disse o gigante Órion. Assim, enviou um escorpião para duelar com o caçador. Na briga, Órion foi picado pelo escorpião e morreu.

Carta Celeste do céu do Planetário do Rio, 17 de abril de 2019 às 20h30min (horário local). Clique na Carta para ver maior

Para que os homens se lembrassem do caçador que foi morto por um escorpião em consequência de sua arrogância, Zeus os transportou para o céu de modo que a cena da perseguição se eternizasse sobre nossas cabeças.

Repare na Carta Celeste acima. No horizonte oeste (à direita marcado pela letra W) vemos o Órion se pondo. Do outro lado do céu, no ponto oposto, ao leste (à esquerda, onde está a letra E), vemos o Escorpião surgindo. (O Escorpião é a constelação que abriga o aglomerado estelar M4, em evidência na Carta Celeste.)

O movimento que vemos as estrelas fazendo ao longo de uma noite é o mesmo movimento que percebemos no Sol durante o dia. Chamamos esse movimento de movimento diurno, e ele é uma consequência do movimento de rotação da Terra. Nosso planeta gira e vemos tudo o que está fora dele se movendo no sentido oposto.

Graças ao movimento diurno, a constelação do Órion e a constelação do Escorpião nunca são vistas por inteiro juntas no céu. Apenas quando uma se põe a outra aparece.

Essa é apenas uma das várias versões que existem na mitologia para a morte de Órion e sua relação com Artemis, ou Diana, na mitologia romana.

E Zeus, além de nos deixar esse eterno lembrete numa encenação celestial, também nos deixou uma boa dica para quem busca conhecer o mapa das estrelas: se você estiver vendo o Órion no céu, não estará vendo o Escorpião; e se estiver vendo o Escorpião, pode ter certeza que não estará vendo o Órion.

Leia também:

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Primeira Foto dos Limites de Um Buraco Negro

A publicação feita hoje da primeira foto de um buraco tem por trás uma história que nos faz refletir sobre: o poder humano de conhecer cada vez mais a natureza; o poder da arte em representar a natureza, mesmo com relação a algo que não tenha sido observado ou experimentado pela ciência; e o poder de acreditarmos em nossas próprias ideias quando sentimos que são válidas, por mais impossíveis que possam parecer  a outras pessoas.

Em 1993 o doutorando Henio Falcke percebeu que um certo tipo de emissão de rádio, intensa o suficiente para ser capturada da Terra, seria gerado nos limites de um buraco negro. Não lhe deram muitos ouvidos. Ele também foi marcado por um artigo de 1973 que dizia que um buraco negro poderia parecer duas vezes e meia maior que seu tamanho real devido ao efeito da forte gravidade. Essas duas hipóteses fizeram com que Falcke acreditasse que seria mesmo possível observar os limites de um buraco negro. Foram 20 anos de defesa de suas ideias até conseguir o patrocínio que mostraria que  ele estava certo.

A região que marca os limites de um buraco negro é chamada horizonte de eventos. Esse é o ponto que, se ultrapassado, não há mais volta. Buraco negro é um objeto que nasce quando uma estrela muito massiva morre (é possível  também que existam os buracos negros primordiais, formados logo após o big-bang). Inicialmente chamados de objetos gravitacionalmente colapsados, os buracos negros são definidos como objetos cuja gravidade não permite nem que o ente com a maior velocidade na natureza, a luz, consiga escapar. Esse efeito de “entra e não sai” acontece com qualquer coisa que cruze o horizonte de eventos.

Primeira imagem do horizonte de eventos de um buraco negro (EHT)

As imagens mostram gás interestelar caindo no horizonte de eventos. As imagens que resultaram nesta já clássica fotografia da Astronomia moderna foram obtidas pelo Event Horizon Telescope (do inglês Telescópio de Horizonte de Evento), um conjunto de oito observatórios espalhados na Terra que, juntos, funcionam como um enorme telescópio único.

Event Horizon Telescope, o conjunto de oito telescópios que funcionam em conjunto (BBC)

O buraco negro observado tem 40 bilhões de quilômetros de diâmetro e está na galáxia M87,  localizada a 55 milhões de anos-luz de nós, na constelação da Virgem. Sua massa é 6,5 bilhões de vezes a massa do Sol. Não foi à toa que Falcke o classificou como “um monstro”.

Notem que observar esse buraco negro tão distante foi mais fácil que observar o buraco negro que existe no centro de nossa própria galáxia. A Astronomia é uma ciência que lida muito com dificuldades observacionais e, de vez em quando, o que está mais próximo não está exatamente nas melhores condições de observação.

Buracos negros foram primeiro descobertos numa folha de papel, como solução para equações da relatividade geral, a teoria de Einstein, que descreve o Universo como sendo formado por uma malha onde espaço, tempo, energia e matéria estão interligados e não são coisas independentes.

Bom, uma solução como aquela poderia ser apenas um exercício matemático, mas a natureza poderia não ser capaz de produzir um espaço como aquele, com tanta gravidade que nem a luz poderia escapar. Até que, algumas décadas depois, a Astrofísica mostrou que o colapso estelar que antecede a explosão de uma supernova poderia de fato produzir um buraco negro.

Após isso foram observadas diversas situações que sugeriam a presença de um buraco negro, como jatos de matéria emitidos do centro de galáxias e até material espiralando para um provável buraco negro. Mas observar exatamente o horizonte de eventos desses misteriosos objetos era algo inacreditável.

Após o horizonte de eventos, nada escapa. O tempo para. Nada se move. O que isso significa exatamente? Não sabemos… Mas conseguimos chegar um pouco mais perto de um dos segredos da natureza, perto o suficiente para darmos uma olhadinha. E isso graças a um conjunto de tecnologias que nos permite tanto a tomada de dados da natureza quanto o processamento desses dados.

Os discos rígidos onde foram armazenados os dados que permitiram a primeira imagem de um horizonte de eventos (BBC)

E algo ainda nos chama a atenção nessa imagem do horizonte de eventos: ela é idêntica à maioria das representações artísticas feitas para representar um buraco negro. Como eles não emitem luz, desenhar um buraco negro é muito difícil. Normalmente, em figuras ou mesmo no cinema, a representação é feita se utilizando a luz que estaria sendo emitida no horizonte de eventos.

O que a arte nos mostrou é muito próximo do que a ciência agora nos revela, graças à utilização saudável de nossos avanços tecnológicos e à perseverança de um homem que soube seguir seu instinto desde a época de estudante.

Representação artística de um buraco negro do filme Interestellar, de 2014.

Leia Mais: BBC – First ever black hole image released (em inglês), CNN-This is the first photo of a black hole (em inglês)

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Lua No Quarto

Seja bem vindo!

Esse é o primeiro texto da coluna Segunda do Céu, que faz parte dessa nova fase do website do Planetário do Rio. Aqui, todas as segunda-feiras, conversaremos sobre coisas relacionadas ao céu e à sua observação. Falaremos sobre identificação do céu, astronomia fundamental, astronomia de posição, equipamentos de observação, técnicas observacionais e quaisquer outros assuntos que possam nos aproximar dessa deliciosa atividade de observação do céu.

Se você nunca teve o hábito de olhar para o céu, e está começando suas leituras por aqui, a primeira coisa que quero é: sinta o frio na barriga! Sinta o arrepio que olhar para o céu nos proporciona! E mantenha isso, nunca deixe de se admirar com o céu. Se a observação do céu já uma rotina para você, suponho que você conheça esse encanto produzido pelo céu, e quero que o cultive cada vez mais. Espero que esses textos possam estimular e dar aos leitores algumas informações sobre o céu que observamos. Espero também que esses textos sirvam de reforço ao permanente convite para você vir observar o céu com os telescópios do Planetário às quartas ou aos sábados.

Nessa semana de estréia, temos um céu cuja grande atração para observação será a Lua, que passa pelo quarto crescente dia 12 de abril, sexta-feira. A Lua próximo do Quarto Crescente aparece numa região alta do céu ainda no início da noite e está iluminada de forma a proporcionar a melhor observação ao telescópio.

Em geral, a Lua cheia é a mais bonita para contemplação, sem telescópios ou binóculos. Mas quando a Lua está próxima a um dos quartos, crescente ou minguante, temos apenas uma parte iluminada e outra parte sem receber luz do Sol. Nessa situação, o contraste entre a parte iluminada e a parte não iluminada nos permite ver com mais clareza num telescópio os detalhes de sua superfície. Na Lua Cheia sua superfície está tão iluminada que fica difícil perceber detalhes da superfície.

A Lua nessa semana em que entra no Quarto Crescente estará passando pela constelação do Touro. A Carta Celeste abaixo mostra o céu do Rio de Janeiro dia 10 às 18h30.

Rio de Janeiro, 10 de abril de 2019, 18h30 (hora local)

Um pouco mais baixo que da Lua, mais próximo ao horizonte, ainda podemos ver Marte no céu, já se tornando um planeta difícil de se observar. Objetos mais altos no céu são melhores de se observar por estarem numa posição com menos influência da poluição luminosa e com menos obstáculos, como prédios e montanhas.

Nas próximas semanas vamos ter a chance de falar sobre outros aspectos desse céu e, ao longo do ano, vamos acompanhando as mudanças celestes que ocorrem.

Bons Céus!

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Hubble observa o quasar mais brilhante já observado no Universo primordial

Quasares são núcleos ativos de galáxias, extremamente brilhantes, que contêm um buraco negro supermassivo circundado por um disco de material que, ao cair no buraco negro, libera muita energia. Ela é observada em todos os comprimentos de onda: visível, infravermelho, raios X, etc.
 

Esse objeto começou a brilhar quando o Universo tinha apenas a idade de cerca de um bilhão de anos (atualmente, o Universo tem cerca de 14 bilhões de anos), e brilha o equivalente a cerca de 600 trilhões de sóis.

Apesar disso, o objeto só foi observado por um efeito que compreendemos através da teoria da relatividade, de Einstein. A gravidade de uma galáxia pouco brilhante localizada exatamente entre o quasar e a Terra distorce o espaço ao seu redor, gerando o que chamamos de lente gravitacional. Esse efeito produz uma distorção no caminho percorrido pela luz que chega a nós vinda do quasar, fazendo com que ele seja observado 50 vezes mais brilhante do que seria sem a lente gravitacional.

Objetos como esse podem ajudar a compreender as etapas iniciais pelas quais passou o Universo em seu início. O time de astrônomos trabalha agora em determinar a composição química e temperatura de um objeto dessa fase inicial do Universo. E o grupo espera também observar esse quasar com o Telescópio Espacial James Webb, com lançamento previsto para março de 2021. Com esse telescópio no espaço e outros em terra, o grupo pretende observar detalhes das vizinhanças do buraco negro central, sua influência no gás ao redor e na formação estelar da galáxia que o abriga.

 
Leia Mais:

(em inglês) https://www.spacetelescope.org/news/heic1902/?lang

Concepção artística de um quasar distante (NASA)

 

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Histórias de Natal e História do Natal

Papai Noel

O Natal é provavelmente a época mais mágica do ano. Não há quem não se enterneça com as músicas, cores e mensagens natalinas. Mas o aspecto mais interessante do Natal talvez seja sua abrangência, que ultrapassa limites territoriais, culturais e religiosos. E esse alcance pode ter raízes nas origens da festa natalina, que são muito anteriores ao cristianismo.

Natal é também uma época de se contar histórias. Mas façamos algo diferente hoje: em vez de contarmos histórias de Natal, vamos lembrar um pouco da história do Natal.

Nossa história começa no frio, mais precisamente no inverno do hemisfério Norte. Muitas culturas antigas mantinham festividades de inverno que, em geral, eram as mais populares de todas que aconteciam durante o ano. O inverno era uma época em que não se tinha grandes necessidades de dedicação aos trabalhos agrícolas, e havia a alegre expectativa por dias mais longos e noites mais curtas após o solstício de inverno. É exatamente no solstício do inverno no hemisfério Norte que está uma das origens do nosso atual Natal.

À medida que a Terra executa sua revolução (ou translação), vemos o Sol se deslocar no céu. Esse deslocamento não é o ciclo diário de nascer e ocaso, conseqüência da rotação terrestre, mas a mudança de posição que faz com que vejamos o Sol nascer em um lugar diferente a cada dia.

Ao longo do caminho percorrido pelo Sol na abóboda celeste, temos quatro instantes importantes nos quais acontecem os inícios das estações do ano. Dois são chamados de equinócio e ocorrem quando o Sol cruza o equador celeste, projeção do equador da Terra no céu. Os outros dois instantes são os solstícios, que marcam o início do verão e do inverno, e acontecem quando o Sol atinge seu máximo afastamento do equador celeste.

Nos dias dos equinócios, o dia tem exatamente a mesma duração da noite. A palavra vem do latim “aequus”, que significa igual, e “nox”, que significa noite. Após o equinócio de setembro, os dias no hemisfério Norte passam a ser mais curtos que as noites, e a diferença continua aumentando. Isso é causado pelo movimento gradual do Sol, que diariamente se afasta do equador celeste adentrando o hemisfério Sul celeste. Quando o afastamento chega em seu limite, o Sol pára de se afastar, e temos um solstício. A palavra solstício também vem do latim e significa “Sol estático”. Nesse momento, o Sol volta a se aproximar novamente do equador celeste, e os dias começam a ter maior duração, enquanto as noites passam a ser mais curtas.

Para comemorar o aumento da duração dos dias e a diminuição das noites, os romanos festejavam no dia 25 de dezembro o “Dies Natalis Solis Invicti”, ou o “Dia do Nascimento do Sol Invencível”. Quando Julio Cesar instaurou o calendário juliano em 45 a.C., o solstício de inverno do hemisfério Norte (ou seja, solstício de verão no hemisfério Sul) acontecia próximo a 25 de dezembro (nos dias atuais acontece em 21 ou 22 de dezembro). Nesse dia, nascia o Sol invencível, que não foi vencido pelas trevas, e irá proporcionar dias mais longos dali em diante, até o próximo solstício. O festival parece ter sido instaurado pelo imperador romano Elagabalus, que governou de 218 a 222. Perceba que a palavra “Natalis” está associada ao nascimento do Sol, não de Jesus Cristo.

Duas festas de inverno do hemisfério Norte ainda mais antigas estão também associadas ao nosso atual Natal. Uma delas é a Saturnália, uma festa dedicada ao deus Saturno. Inicialmente, acontecia em 17 de dezembro, sendo depois prolongada até o dia 23 do mesmo mês. Durante a Saturnália, trabalhos eram suspensos e até escravos participavam. Pessoas bebiam, cantavam e dançavam. Havia um aumento exagerado da informalidade, lembrando muito as nossas atuais festas de Carnaval. Mas também fazia parte da Saturnália troca de pequenos presentes ou lembranças entre as pessoas, tradição que foi herdada por nossa atual festa de Natal.

Outra celebração relacionada ao nosso atual Natal é a Yule, de origem escandinava. Era uma festividade dedicada a Thor, deus do trovão, que durava cerca de 12 dias e acontecia entre o fim de dezembro e o início de janeiro. Entre as práticas da Yule, havia o sacrifício de um porco, cujo reflexo histórico vemos hoje em nossas mesas sob a forma do pernil de Natal. Ainda hoje, a palavra “yule” é usada para fazer referência à época do Natal na língua inglesa.

As velas que usamos hoje para decorar nosso Natal podem estar associadas a antigas fogueiras acesas durante festividades de inverno. Elas tinham como objetivo incentivar ou alimentar o Sol que estava voltando a brilhar por mais tempo. Acender uma fogueira dentro de casa é uma péssima idéia, mas a tradição continuou viva através das bonitas velas de Natal que usamos hoje.

E falando de Natal não podemos de maneira alguma esquecer dele, o Papai Noel! A lenda do bom velhinho parece ter origem em um bispo chamado Nicolau, nascido por volta do ano de 280 onde hoje é a Turquia. Com vários exemplos de boa vontade no currículo, sua figura foi associada ao Natal, a festa mais mundialmente fraterna que temos até os dias de hoje. Desenhos de São Nicolau o mostram usando barba.

As origens da árvore de Natal são bem mais incertas, mas devem estar relacionadas com antigos rituais de decorar árvores com símbolos que representavam o Sol, a Lua, almas de pessoas falecidas, e também com prendas. Apesar desses rituais serem bastante antigos, a “National Christmas Association” diz que o primeiro registro escrito de uma árvore de Natal decorada foi feito em 1510.

Percebam que não é simples traçar o desenvolvimento histórico de tradições modernas, ainda mais quando suas raízes são tão antigas como as festas e tradições que deram origem ao nosso Natal. Para vocês terem uma idéia de como é complicado termos certeza da origem de uma tradição dessas, vamos falar sobre outro assunto pertinente e de origem bem mais recente: a roupa de Papai Noel.

Como vimos, o Natal teve sua origem no inverno do hemisfério Norte, então, é natural que Papai Noel use pesados agasalhos e use um trenó de neve. A “Coca-Cola”, sim, do famoso refrigente, diz que foi a inventora da roupa vermelha do bom velinho quando, em um anúncio do refrigerante na década de 1930, Papai Noel aparecia vestido com as cores do produto. Mas uma outra empresa americana, a “White Rock Beverages”, já tinha usado a figura de Papai Noel vestida com as roupas que conhecemos hoje num anúncio de 1923, depois de já ter usado a mesma figura para vender água mineral em 1915! Voltando ainda mais no tempo, há ilustrações de Papai Noel do século XIX, que o mostram usando roupas bem parecidas com as que conhecemos hoje.

Podemos perceber como é complicado construir o conhecimento histórico de nossa cultura. Existem origens incertas, opiniões divergentes por parte dos historiadores. Mas o que sabemos com certeza, é que o Natal tem origem astronômica: a celebração do solstício de inverno no hemisfério Norte.

Com o império romano adotando o cristianismo como religião oficial, houve um grande esforço para propagá-lo. Em vez de abolir as antigas festas ditas pagãs, o império sabiamente as assimilou, forçando apenas algumas alterações. Em vez de comemorar o solstício, as festas podiam continuar, mas o motivo da comemoração passaria a ser o nascimento de Cristo. Sabemos hoje que o homem Jesus Cristo de Nazaré não nasceu no dia 25 de dezembro, e nem no ano atribuído ao seu nascimento. Jesus Cristo deve ter nascido entre 5 a.C e 7 a.C. É estranho falar que Cristo nasceu “antes de Cristo”, não é? Mas é verdade, houve um erro na determinação do verdadeiro ano do nascimento de Cristo. Atualmente, alguns autores utilizam aEC e EC, que significam, respectivamente, “antes da Era Comum” e “Era Comum” para substituir o a.C. e o d.C.

O melhor de toda essa confusão histórica é que o Natal relembra a todos os homens que é muito melhor cultivarmos o amor que qualquer sentimento contrário a ele. Dar presentes, ou simplesmente um aperto de mão ou uma palavra amiga é a melhor mostra de reverência que podemos mostrar pelo Sol, que nos fornece energia essencial para a vida, por Jesus Cristo, que nos deixou inúmeras parábolas e exemplo de amor, ou simplesmente aos outros homens que compartilham conosco a vida nesse belo planeta azul.

Feliz Natal!

Uma versão resumida desse texto foi publicada no folder e site da Fundação Planetário da Cidade do Rio de Janeiro em dezembro de 2007

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Papai Noel e o Solstício de Verão

Por que Papai Noel se agasalha tanto se sentimos calor durante nosso Natal? A lenda do bom velhinho parece ter origem em um bispo chamado Nicolau, nascido por volta do ano de 280 onde hoje é a Turquia. Com vários exemplos de boa vontade no currículo, sua figura foi associada ao Natal na Alemanha, séculos mais tarde. Sendo europeu, Papai Noel se veste de acordo com o frio do inverno, que começa por lá em dezembro, no mesmo momento em que começa nosso verão por aqui. As diferenças sazonais entre hemisfério Norte e Sul estão relacionadas com a posição do Sol no firmamento.

À medida que a Terra executa sua revolução (ou translação), vemos o Sol se deslocar no céu. Esse deslocamento não é o ciclo diário de nascer e ocaso, consequência da rotação terrestre, mas a mudança de posição que faz com que vejamos o Sol nascer em um lugar diferente a cada dia.

Ao longo de seu caminho, o Sol dá início às estações do ano em quatro instantes importantes. Dois são chamados de equinócio e ocorrem quando o Sol cruza o equador celeste, projeção do equador da Terra no céu. Os outros dois instantes são os solstícios, que marcam o início do verão e do inverno, e acontecem quando o Sol atinge seu máximo afastamento do equador celeste.

O equador celeste é um círculo imaginário que divide o céu nos hemisférios Norte e Sul celestes. Nesse mês de dezembro, dia 21, acontecerá o solstício, que será de verão para o hemisfério Sul, e de inverno para o hemisfério Norte. O Sol atingirá seu máximo afastamento do equador celeste pelo lado sul, e teremos o início do nosso verão. Nesse mesmo instante, países do hemisfério Norte terrestre estarão passando pelo início do inverno. Em julho, acontecerá o inverso, ou seja, o Sol atingirá seu máximo afastamento do equador celeste pelo outro lado, e teremos solstício de inverno no hemisfério Sul e solstício de verão no hemisfério Norte.

A palavra Solstício vem do latim e significa “Sol estático”. É no momento do Solstício que o Sol pára de se afastar do equador celeste e começa a se aproximar novamente dele, até tocá-lo e acontecer o equinócio, que marca o início da primavera para um hemisfério e do outono para o outro.

Por mais que as estações do ano tenham impacto indiscutível sobre o planeta, as lendas podem se dar ao luxo de usar a roupa que quiserem. Assim, ao som de uma gostosa gargalhada, “ho-ho-ho!”, e indiferente ao solstício, Papai Noel se mantém agasalhado e pilotando um trenó, na sua tarefa de percorrer o imaginário popular trazendo à tona o que há de melhor nos corações humanos.

Uma versão resumida desse texto foi publicada em dezembro de 2005 na Curiosidade do Mês no folder e site da Fundação Planetário da Cidade do Rio de Janeiro