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Invente uma constelação

Os povos antigos sempre tiveram muita imaginação. Basta ver a criatividade usada para criar as constelações. São 88 e muitas delas saíram de histórias contadas pelos antigos.

E você? Tem muita imaginação? Então que tal criar as suas próprias constelações?

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A influência árabe nos nomes das estrelas

Todos os anos, nas noites quentes de verão do hemisfério sul, uma das constelações mais conhecidas dos brasileiros se destaca no céu. Trata-se da constelação do Órion, que é facilmente encontrada no céu, graças ao quadrilátero formado por quatro estrelas bem brilhantes. O conjunto é completado por três estrelas alinhadas na região central do quadrilátero: são as “Três Marias”, um dos asterismos mais famosos no mundo inteiro. A imagem abaixo apresenta o nome das principais estrelas.

Como você já deve ter percebido na imagem acima, vários nomes soam bem estranhos para um ouvido ocidental. São alguns dos muitos casos de estrelas que têm nomes de origem árabe.

A transmissão dos nomes árabes das estrelas se deu por duas vias: uma foi a tradução de obras astronômicas gregas para o árabe, com posterior tradução do árabe para o latim e o espanhol antigo; e a segunda com a chegada dos astrolábios aos centros de saber da Europa Medieval.

A proximidade do mundo islâmico com a China, possibilitou a chegada do papel na península arábica no século 8, facilitando a transmissão de ideias, filosofias e ciências em geral, por meio dos manuscritos. Este movimento mostrou-se decisivo, não somente para o desenvolvimento da ciência islâmica medieval, mas também na construção das bases da ciência moderna na Europa Renascentista.

O poder do papel na disseminação da Astronomia árabe é indiscutível, e os nomes das estrelas estão aí para não nos deixar esquecer. Graças ao papel (e ao astrolábio), sabemos que um dos grupos de estrelas mais conhecidos dos brasileiros – as “Três Marias” -, é formado por três estrelas que não se chamam Maria, Maria e Maria. Mas Alnitak, Alnilam e Mintaka, nomes de origem árabe.

Nomes indígenas árabes

Quem acha que navegar pelas estrelas é uma arte circunscrita aos marinheiros, está muito enganado. Os habitantes da península arábica se valiam dos astros para realizar suas viagens pelo deserto, e por isso, várias estrelas e conjuntos de estrelas, foram nomeados pelos povos nômades. Assim, vários nomes modernos das estrelas são verdadeiramente árabes, pois eram usados pelas tribos árabes muito antes de qualquer contato com a ciência grega. É o caso de Adhara, Almach, Alphard e Aldebarã (seguidor das Plêiades), que era usado tanto para o aglomerado das Hyades, como para a estrela alfa do Touro.

A Grécia chega ao Islã

A mais importante obra de Astronomia da antiguidade clássica é o Almagesto, do astrônomo Ptolomeu. Escrita no século 2, é uma valiosa síntese do conhecimento astronômico da civilização grega. Os modelos planetários contidos no Almagesto influenciaram decisivamente a Astronomia até o século 16. Essa obra foi preservada graças ao esforço hercúleo de tradução das obras clássicas que ocorreu no mundo islâmico, entre os séculos 8 e 10, durante a dinastia Abássida.

Além de modelos matemáticos para os movimentos dos planetas, o Almagesto continha uma seção com um grande catálogo estelar contendo 1.025 estrelas agrupadas em 48 constelações. Cada estrela era acompanhada de suas coordenadas, magnitude e de sua localização na constelação. Por exemplo, a descrição para a estrela alfa da constelação do Peixe Austral era: “aquela na boca do peixe, que é idêntica àquela no começo da água”.

Se passaram quase 800 anos até que o catálogo de Ptolomeu fosse finalmente estudado e revisado de maneira crítica, pelo astrônomo Abu Hussayn Abd al-Rahman ibn Umar al-Sufi. Nascido na Pérsia, al-Sufi (903-986) passou a maior parte da vida por lá. Mas apesar disso, seguindo o costume da época, escreveu seus tratados em árabe. Dentre seus vários trabalhos sobre Astronomia, astrologia e matemática, o mais marcante e ilustre, é o “Livro das Estrelas Fixas”, que teve como modelo o Almagesto. As descrições de localização das estrelas foram traduzidas do grego para o árabe, sendo frequentemente abreviadas para nomear as estrelas. Assim, temos o árabe Fomalhaut, “a boca do peixe”, emprestado da mencionada descrição de Ptolomeu para a estrela alfa do Peixe Austral. É o caso das estrelas Achernar, Algenib, Algol e Marfik.

O Livro das Estrelas Fixas é hoje uma referência de considerável relevância histórica. É uma contribuição genuinamente islâmica ao conhecimento das estrelas; apresenta uma revisão e correção de muitos dados de Ptolomeu; é uma tentativa de coletar e identificar um grande número de nomes árabes indígenas antigos; além disso, por meio de suas ilustrações, se estabeleceu uma tipologia padrão das imagens das constelações. É um verdadeiro manual das constelações, que se tornou dominante e influente por vários séculos, tanto no mundo islâmico como na Europa.

Constelação de Órion no “Livro das Estrelas Fixas” de al-Sufi. Manuscrito datado de 1009-1010 – Bodleian Library MS. Marsh 144.

Impacto na Europa Cristã

A Europa tomou conhecimento do Livro das Estrelas Fixas por tantas vias, que é difícil concluir qual a dominante, se é que houve uma. O que temos certeza é que cada uma delas teve seu papel na disseminação da obra de al-Sufi, e portanto, dos nomes árabes de diversas estrelas.

As primeiras traduções do árabe para o latim datam do século 12, formando o chamado “corpo latino” de al-Sufi, composto de inúmeros manuscritos propagando o uso de nomes árabes para estrelas. No século 13 o rei Alfonso X de Castela reuniu em sua corte sábios cristãos e judeus, que compuseram uma coleção de monografias astronômicas, que foram reunidas num grande manual conhecido como “Libros del saber”. Na parte dedicada às estrelas, foram incluídos muitos dos nomes árabes indígenas mencionados por al-Sufi.

No século 12 al-Sufi passou a ser conhecido em alguns círculos por “Azophi”, graças ao astrônomo judeu Ibn Ezra, cuja obra astronômica ficou famosa na Europa medieval.

Curiosamente um responsável de peso pela disseminação da obra de al-Sufi não era astrônomo. Trata-se do artista alemão Albrecht Dürer (1471-1528), que dentre diversos dons, possuía os da pintura e gravura. Com o auxílio de um astrônomo, publicou em Nuremberg, no ano de 1515, a primeira carta celeste impressa na Europa. Nos quatro cantos do mapa norte, Dürer retratou quatro astrônomos que fizeram contribuições fundamentais para o conhecimento das estrelas. No canto direito inferior, encontramos “Azophi Arabus”, certamente influenciado pela obra de Ibn Ezra e pelas traduções para o latim.

Carta celeste de Albrecht Dürer. No canto inferior direito, o artista fez uma homenagem ao astrônomo persa (Azophi Arabus).

No século 16 os nomes das estrelas ganharam status, se transformando em objeto de estudo de filologistas e linguistas ocidentais. Um importante trabalho foi realizado na Universidade de Oxford, dando ainda mais visibilidade ao trabalho de al-Sufi. Trata-se da publicação da edição comentada do catálogo do astrônomo persa Ulugh Begh (1394-1449), por Thomas Hyde em 1665. O comentário de Hyde foi muito influente entre os astrônomos modernos, servindo de fonte de consulta sobre nomes árabes (tanto indígenas, como tradução do grego).

Após Dürer, vários autores fizeram uso dos dados do então popularizado Azophi. Pode-se dizer que mencionar Azophi conferia status aos mapas estelares produzidos.

O astrônomo e padre jesuíta Giovanni Battista Riccioli (1598-1671) tinha noção da importância do astrônomo persa. Em 1661 publicou o primeiro mapa detalhado da Lua na obra “Almagestum Novum”. Ao nomear crateras e outras características lunares, deu o nome Azophi a uma delas. Mais tarde, Azophi foi adotado na nomenclatura oficial internacional da Lua.

Mapa lunar de Riccioli. A seta verde indica a cratera Azophi.

Graças a essa homenagem, al-Sufi (ou Azophi) será mencionado entre astrônomos por muito tempo, assim como os nomes árabes de estrelas, que ele ajudou a eternizar.

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Uma conversa de outro mundo!

Ainda não sabemos se existe vida fora da Terra. Estamos procurando faz tempo, mas é uma tarefa muito difícil!

Hoje sabemos que existem bilhões e bilhões de planetas. Já descobrimos cerca de 4.000 planetas. Mas encontrar vida é muito difícil. E, quando falamos em vida, procuramos em planetas onde possa existir água em estado líquido. Água é fundamental para a vida! Alguns destes planetas descobertos são candidatos a ter água.

Enquanto não encontramos vida, podemos imaginar como seriam estes seres de outro mundo. E podemos, ainda, usar a imaginação e tentar nos comunicar com eles. Será que eles têm um alfabeto como o nosso? Vamos nos divertir?

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O Alienígena Leu: “The Godmakers” (O Alienígena)

Planos dentro de planos, psiquismo misturado com religião, uma ordem secreta de mulheres conspirando nos mais altos escalões da política, um ar ‘árabe’ permeando toda a estória – Duna? Não, The Godmakers.

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Escrito por Frank Herbert em 1972, sete anos depois de sua grande obra, Duna, o livro ostenta estas similaridades , levando-me a crer que, se não lhe for um tema recorrente (é o terceiro livro apenas que li de Herbert, além do já citado e de uma tentativa frustrada de ler sua primeira continuação, O Messias de Duna), talvez ele tenha sentido que não tinha dito tudo com essas fontes de inspiração.

As semelhanças, apesar de fortes, não impedem de revelar um livro de aventuras e mesmo de bom humor, algo que não sabia que Herbert era capaz – convenhamos, deve haver poucas obras mais sisudas do que Duna escritas na FC.

A história, em um futuro distante, gira ao redor de Lewis Orne, um agente do governo galáctico, recém-saído do treinamento, a serviço de uma agência oficial que investiga o clima psicológico de mundos perdidos da grande civilização, em geral com o contato perdido após guerras civis. Orne tem excepcional habilidade, um verdadeiro faro para o assunto, nas mais tênues pistas decifrando tramas e armadilhas em mundos humanos e mesmo alienígenas. É como se fosse um profiler de mundos.

Ao mesmo tempo, uma linha de eventos paralelos nos leva a Amel, um planeta onde todas as religiões e subseitas convivem sob a paz da Trégua Ecumênica, e os sacerdotes se empenham em uma atividade muito curiosa: a criação de um deus. Deuses não nascem, são criados, afinal de contas. E a forma de criá-los envolve todo um mumbo-jumbo místico-psíquico que os leitores de Duna já conhecem. Aliás, as notas de início de capítulo são um recurso já manjado, da mesma obra… e que funcionam muito bem também aqui, devo dizer. Mas tudo isto leva à criação de um deus, preconizado logo no início, e revelado nos episódios finais do livro.

Os desdobramentos do mumbo-jumbo talvez se devam à época em que foi escrito. Experiências sensoriais, drogas, misticismo, havia um quê a se acreditar que em algum ponto, isto tudo se conectava. É uma leitura bastante interessante, embora tenha que se prender à lógica própria do autor, para se seguir o raciocínio. E em falando de temas recorrentes do autor, política e sistemas de governo também têm seu papel no livro.

A história tem um trecho um pouco estranho, ao meu ver: a ida ao mundo em que a conspiração de mulheres que citei lá em cima seria apresentada aos leitores, através de investigações e desdobramentos, simplesmente é substituída já pela volta do personagem, direto para a CTI, onde fica longos meses à beira da morte, após um clímax fatal envolvendo a revelação da tal conspiração. Necessidades editoriais? Falta de paciência do autor? Era para ser assim mesmo? Não sei, mas que achei estranho, sim, achei.

De resto, tem um quê de aventuras espaciais antigas, onde o papel feminino ainda consegue ser mais estereotipado do que o masculino: apesar de toda a capacidade intelectual daquela que será o amor verdadeiro do protagonista, ela praticamente só surge para disto se ter certeza e se preocupar com a saúde deste, e em seguida sair da trama.

É um livro, no final das contas, interessante, apesar de momentos que achei irregulares. Serviu para conhecer um pouco mais da obra do autor. Na wikipedia, um brevíssimo artigo conta que este livro é uma espécie de interseção entre dois universos fictícios do personagem, o de Duna e o da CoSentiency, obra por mim desconhecida.

Foi uma companhia interessante.

26/09/19

Luiz Felipe Vasques
Links externos:

Wikipedia:
https://en.wikipedia.org/wiki/The_Godmakers_%28novel%29

Resenha em originalmente em:https://blogdefc.blogspot.com/2009/09/godmakers.html

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A Lua e os “ursos-d’água”

Em abril deste ano, uma sonda israelense chamada Beresheet colidiu com a Lua. A sonda tinha como objetivo pousar no nosso satélite, mas falhas técnicas acabaram impedindo a missão de ser concluída. A parte mais interessante (e talvez preocupante) é que a Beresheet não era uma sonda qualquer. Ela era considerada a primeira “biblioteca lunar”.

A Beresheet carregava algo parecido com uma enciclopédia digital em folhas de níquel, contendo o equivalente a 30 milhões de páginas com milhares de imagens de livros, manuais, a Wikipédia em inglês, milhares de obras da literatura clássica, mostras de DNA humano, células e milhares de tardígrados. Ou seja, a sonda continha material terrestre e, com a colisão, provavelmente esse material foi despejado na Lua.

Mas, o que são tardígrados?

Os tardígrados, também conhecidos como ursos-d’água, são animais invertebrados de 0,1-0,5 milímetro de tamanho, semelhantes aos articulados. Habitam a Terra na superfície de musgos e de líquens. Eles são microrganismos extremófilos, capazes de suportar alta pressão (até 6 mil atmosferas), sobreviver a até 5 mil Gy de radiação e aguentam enormes mudanças de temperatura. Além disso, essas criaturas são capazes de “ressuscitar” depois de passarem até três décadas congeladas. Os ursos-d’água conseguem sobreviver em qualquer lugar, até mesmo no espaço!

Não é fofinho?

Alguns cientistas que analisaram a trajetória da nave e a composição da enciclopédia digital acreditam que existe uma grande possibilidade de que ela tenha sobrevivido à colisão. Isso significa que talvez os tardígrados tenham sobrevivido à queda e, considerando que esses bichinhos são quase imortais, a maior preocupação dos cientistas é que eles se proliferem e deem início a uma colônia na Lua.

Os responsáveis pelo desenvolvimento da missão afirmaram que os tardígrados estão em recipientes selados, e como estão desidratados, mesmo que esses recipientes tenham sido abertos, os organismos não terão condições de voltar à vida sozinhos e nem de se reproduzir, principalmente estando no ambiente lunar. Vamos torcer!

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ASTRONOMIA, FICÇÃO CIENTÍFICA E O OLHAR (O Alienígena)


Galileu Galilei e sua luneta astronômica: janela para um mundo maior.

A observação dos astros, naturalmente, veio primeiro pelo olhar. Um olho nu, sem instrumentos, mas de alguém curioso, que percebia os ritmos do céu, fossem os mais óbvios, como os do Sol e da Lua, fossem os mais obscuros, como os dos planetas.

Procurando algum sentido, significaram de alguma forma o que viam com desenhos e até mesmo arquitetura, orientando dólmens, templos e outras construções de acordo com o solstício e outras datas que lhes pareceram importantes. Onde o sol toca? Ali será o santuário de um deus, com a luz canalizada por corredores e muros. Frestas e janelas para estrelas-chave serem vistas ao se levantar do horizonte, e outras características hoje estudadas pela Arqueoastronomia.


As Linhas de Nazca, Peru: mensagens do mundo para os deuses acima.

O mundo visto do alto, província dos deuses da Antiguidade, só foi possível com o desenvolvimento de balões. Os aeronautas pioneiros dos Séculos 18, 19 e 20 retrataram um mundo diferente. Santos-Dumont, antes dos aeroplanos, retrata o calmo e silencioso panorama visto do alto, em balões. Em seus livros, comenta como era simples decolar na França e cair, digamos, na Bélgica.

Um ponto de mudança para como vemos o mundo veio em 1946, quando os norte-americanos tiraram a primeira foto da Terra, vista do espaço. O foguete carregando a câmera e outros instrumentos científicos chegou a somente 105 km de altura, o suficiente para uma sequência de fotos que, juntas, davam uma ideia da curvatura da Terra.


Toda a Humanidade (menos três pessoas) na foto Earthrise (1968).

Yuri Gagarin, o primeiro ser humano em órbita da Terra (1957), proferiu uma singela frase, “A Terra é azul”. Não exatamente o mais rigoroso dos pareceres técnicos, nem sequer uma nova descoberta (por balão, décadas antes já se havia visto a predominância do azul dos oceanos) a rigor: mas uma deparação, uma exclamação, uma apreciação estética.

A missão Apollo 11 (completados 50 anos em Julho de 2019), que levou o ser Humano à Lua, não foi o primeiro voo tripulado a alcançar nosso satélite: em uma missão para provar que a travessia podia ser feita em segurança para seres humanos, ida e volta, a Apollo 8 levou os astronautas Frank Borman, Jim Lovell e William Anders para executar 10 órbitas ao redor da Lua pelo Natal de 1968. Carregavam uma câmera fotográfica, para tirar imagens da Lua. Dado momento, notaram a Terra sobre o horizonte lunar, produzindo uma série de fotos em preto e branco e a cores, em uma versão de melhor resolução do que a sonda automática americana Lunar Orbiter 1 havia produzido dois anos antes. O nome da foto foi Nascer da Terra (Earthrise).

Em 2008, sem maiores tambores, a descoberta de um planeta ao redor de uma outra estrela foi feita através de observação direta. Beta Pictoris b orbita a estrela-mãe a 63,4 anos-luz de distância de nós. Outros métodos de detecção de exoplanetas já haviam nos revelado mais deles por aí: a diferença agora é que foi a primeira vez que se tirou a fotografia de um outro planeta em outro sistema solar.


O exoplaneta Beta Pictoris b, em infravermelho.

Os antigos gregos acreditavam que os olhos projetavam uma luz com a qual os objetos eram então revelados. Dois titãs eram ligados, de alguma forma, ao poder da observação: Hyperion era “aquele que observa do alto”, e sua esposa, Thea, tinha poderes oraculares, ou seja, lançava um olhar para o futuro. Divindades celestes, ambos eram pais do Sol, da Lua e da Manhã – forças que ajudavam a iluminar as coisas, apesar da crença acima. Estamos falando de lançar o olhar.


Dos desenhos por Galileu da nossa Lua e as de Júpiter (1610)…

No filme “O Primeiro Homem” (2018), o Neil Armstrong de Ryan Gosling tenta, quando ele mesmo se interrompe, explicar que a importância da ida à Lua também passa pela mudança de ponto de vista, ou seja, mentalidade: a mesma que Santos-Dumont demonstrava ao resolver nunca patentar nada, desejando que as pessoas tivessem acesso ao voo. Ele acreditava que, ao conhecer gente de países distantes, pessoas descobririam que o que nos separa nem é tão profundo assim e, uma vez debelado o medo do desconhecido, as guerras terminariam. Ingênuo? Talvez. Errado? Jamais.

A palavra-chave então é mentalidade, proposta por um diferente ponto de vista. E o que é a história da astronomia e do voo espacial, desde a Lua vista por Galileu com sua luneta até fotos da Terra como algo único e diminuto, que 500 anos de história da mudança do ponto de vista?

Em boa parte pelo entusiasmo, porém também pela preocupação, escritores de Ficção Científica entenderam as possibilidades trazidas pelas novidades e o desenvolvimento científico e acompanharam esse novo ponto de vista, extrapolando a não-realidade, apresentando mundos sonhados antes por poucos e especulados por menos. Talvez essa seja sua grande contribuição: apresentar e popularizar novas maneiras de pensar, lançando olhares sobre um mundo que nunca foi, ou que talvez pudesse ser. E desse imaginar, fabulamos.


… ao buraco negro na galáxia Messier 87 (2019). 

Em Abril de 2019 pode ter surgido a mais recente das descobertas, cuja visualização pode gerar assombro e inspiração, ajudando a conhecer mais sobre a natureza do universo que habitamos e somos.

 A reconstituição por algoritmo – este, desenvolvido por uma equipe chefiada pela Dra. Katie Bouman – que traduziu para cores visíveis o buraco negro na galáxia M87 comprovou a existência dos mesmos, conforme teorizados por Karl Schwarzschild cem anos atrás; fenômenos com que a ficção científica imaginou por décadas. M87 está a 53 milhões de anos-luz de nós, significando que a luz obtida para essa reconstrução partiu de lá quando a extinção dos dinossauros já ocorrera havia dez milhões de anos.

Precisamos de imagens. Delas, ao imaginarmos e fabularmos, podemos compreender. O que é essencial para que possamos nos inspirar.


A Dra. Katie Bouman e o olhar que diz tudo.

Luiz Felipe Vasques

19/09/2019

Links Externos:

Pálido ponto azul, de Carl Sagan (dublado)

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Encontrando as constelações do Zodíaco

Hoje vamos procurar os nomes das constelações do Zodíaco. Os nomes das doze constelações estão espalhadas neste emaranhado de letras abaixo. Boa caça!

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WORLDBUILDING: ATHELGARD (O Alienígena)


O mundo fantástico de Athelgard.

Na medida em que a literatura fantástica brasileira se consolida, era de se esperar que viessem histórias mais ambiciosas, cujo enredo levasse leitores e autores a criarem mais. Essas demandas se beneficiam sempre de um cenário mais robusto, o que inevitavelmente acabaria por acontecer.

Um caso é o do mundo em Fantasia desenvolvido pela escritora e curadora de manuscritos da Biblioteca Nacional Ana Lúcia Merege. 

Ana desenvolveu a terra de Athelgard, onde se passa sua série de livros para que pudesse contar mais histórias, fosse dos eventos da trilogia central (“O Castelo das Águias”, “A Ilha dos Ossos” e “A Fonte Âmbar”) ou em momentos e regiões mais distantes (por exemplo, “O Tesouro dos Mares Gelados”).

Sem mais delongas, com a palavra, a autora.

* * *

De onde surgiu a inspiração para criar Athelgard? 


A trilogia que leva a história central de Athelgard.

De uma coisa podem ter certeza: como todo universo fantástico, o meu não surgiu do nada. Não passei nem perto de fazer o mesmo que Tolkien, criando raças e idiomas complexos, mas, como ele, segui algumas regras indispensáveis a criar um mundo verossímil, que fizesse sentido para o leitor: baseei-me em povos e eventos existentes e coerentes, não criei sociedades monolíticas, pensei na vida cotidiana e em como as tecnologias (e a Magia, claro) poderiam afetá-la. 

Falei em “sociedades”, no plural, pois é isso de fato. Athelgard não foi planejado como um universo, e sim construído a partir das várias cidades, florestas, territórios em que se passavam minhas histórias. Em outras palavras, trata-se de uma ilha-continente que comporta vários cenários criados em textos isolados. Como eu sempre gostei de fazer meus personagens se encontrarem, comecei a escrever crossovers, até que um dia percebi que os mundos de onde eles provinham eram todos microcosmos que podiam fazer parte de um todo maior.

No início eu iria basear esse universo no mito de Atlântida, tanto que existem um mar e uma ilha interior, mas depois mudei de ideia e passei a usar principalmente os mitos nórdicos. Testei várias possibilidades e acabei ficando com um universo em que os humanos se misturam a descendentes de elfos e vanires, os quais partiram de seus mundos antes do Ragna-Rok, a batalha final da Mitologia nórdica. Isso explica, a meu ver, o porquê de os elfos de Athelgard serem tão parecidos com humanos: é que eles não são elfos de verdade, mas sim seus descendentes mestiços. Encontre um elfo proveniente da Ilha Interior e leve o maior susto da sua vida, como aconteceu com Mael em “O Anel do Escorpião”!

Quando escrevi as primeiras histórias em Athelgard, ainda não tinha um mapa. Os lugares foram sendo acrescentados à medida que surgiam: os Penhascos Gelados, onde vive uma tribo élfica, o Clã da Raposa Branca; uma cidade de humanos chamada Siberlint; Bryke, uma colônia fundada por elfos vindos de uma das onze grandes cidades no sul, região que mais tarde eu denominaria Terras Férteis. Depois apareceu uma cidade menor, de nome inspirado na mitologia indiana: Vrindavahn, onde se desenrola a trama de “O Castelo das Águias”, mas que, no princípio, foi apenas o palco de uma das histórias que rascunhei para meu saltimbanco Cyprien de Pwilrie.


“Orlando e o Escudo da Coragem”, ganhador este ano em Narrativa Longa Juvenil, do I Prêmio Odisseia de Literatura Fantástica.

Falando nele, é um personagem emblemático, que surgiu na tentativa de escrever um romance histórico; ele seria um trovador provençal, descendente de árabes. Não deu certo – as coisas que eu queria para o personagem ficariam anacrônicas na Europa do século XII –, mas, se ele estivesse num universo fantástico de características medievais, e não no cenário medieval “real”, não haveria problema. Assim, criei a cidade de Pwilrie, com características da França e da Ibéria pós-reconquista cristã, e o antes moçárabe Cyprien foi viver em Athelgard, embora tenha se recusado a permanecer na Escola de Artes Mágicas.

Já Anna de Bryke surgiu por volta de 2003 como uma contadora de histórias que, depois de várias viagens pelo norte, acabou se apaixonando por um mago. De repente me deu um estalo: que tal se esse cara estivesse na Escola de Magia que eu deixei lá atrás? Foi a partir daí que a história se desenrolou, e Anna de Bryke virou a protagonista de “O Castelo das Águias” juntamente com Kieran de Scyllix.

Hoje, muito tempo depois e com o mapa publicado, boa parte dos personagens já está em seu lugar. Já é possível ter uma cronologia mais ou menos segura dentro do arco de histórias do Castelo e também das histórias do Cyprien, que inclusive vão se cruzar mais tarde. O universo não está completamente mapeado, o que eu acho legal, pois isso significa que ele ainda se encontra em expansão – e, sendo assim, muitas histórias podem surgir quando e onde menos se espera. 

De tudo isso, o mais importante para mim é ter a convicção – e o testemunho dos leitores em suas resenhas, que confirma isso – de que, com todas as falhas que eu possa ter como escritora, Athelgard é um universo complexo, interessante, em que os personagens evoluem e as coisas se passam de maneira verossímil. Ou seja, as histórias são coerentes, embora de acordo com as regras daquele universo e não o com as do nosso. Acho que esse é um ponto fundamental para escrever boa Literatura Fantástica.

Ana Lúcia Merege

10/09/2019

***

Uma última nota: [o evento Feira de Literatura Fantástica inserir link https://fantasiabrasil.com.br/2019/08/16/marque-na-agenda-13-e-14-de-setembro/] ocorrerá nesta sexta-feira, 13 e amanhã, sábado, dia 14, no centro de Niterói, Praça da República, na Biblioteca Parque. No dia 14, estaremos eu e Ana Lúcia com nossas respectivas palestras às 10:00 – “Worldbuilding – Construção de Mundos de Fantasia e Ficção Científica” e às 12:00: “Duendes: O mundo feérico no folclore e na literatura de fantasia.” Ambas no Espaço Central da Biblioteca, térreo. 

Compareçam!

Links Externos:

Homepage oficial de O Castelo das Águias, com as ilustrações da coluna de hoje e mais informações sobre o mundo e os livros de Athelgard, além de acontecimentos e escritos em geral da autora.

https://castelodasaguias.blogspot.com

Ótimo artigo da autora detalhando mais seu processo:

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Cinco novas luas de Júpiter foram nomeadas com a ajuda dos internautas

Os planetas gasosos são conhecidos (entre outras características) por terem um número sempre crescente de satélites naturais. De tempos em tempos cientistas descobrem novos corpos orbitando esses gigantes do Sistema Solar. Em julho de 2018 foram descobertas 12 novas luas orbitando Júpiter, fazendo nosso campeão de satélites atingir a marca de 79 luas.

Com o intuito de aproximar a descoberta do público em geral, os responsáveis pela descoberta dos novos satélites lançaram um concurso para nomear os recém-descobertos. Para participar era necessário seguir várias regras, como por exemplo: todas as luas de Júpiter devem ser nomeadas em homenagem a personagens da mitologia grega e romana que eram descendentes ou amantes de Zeus ou Júpiter. Além disso, cada sugestão de nome poderia ter, no máximo, 16 caracteres e as letras finais tinham que corresponder à direção da órbita da lua — o nome das luas na órbita retrógrada devem terminar com um “e” e o das demais devem terminar com “a”. As propostas não poderiam incluir uma palavra ofensiva em nenhum idioma ou cultura, nem homenagear pessoas vivas, entre muitas outras restrições. 

Pouco tempo depois do prazo final para o envio das sugestões, a União Astronômica Internacional (IAU) divulgou os cinco nomes escolhidos: Pandia (representa as faces da Lua, era filha de Zeus e Selene), Ersa (representa as faces da Lua, era irmã gêmea de Pandia), Eirene (representa a paz, era filha de Zeus e Themis), Philophrosyne (espírito de boas-vindas e da bondade) e Eupheme (espírito do louvor e do bom presságio, neta de Zeus e irmã de Philophrosyne).

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Caçadores de satélites: ISS, Júpiter, Saturno e Lua juntos no céu

A Estação Espacial Internacional (ISS – International Space Station) terá uma passagem bem favorável na quarta-feira (11 de setembro) e, além disso, em seu “passeio” pelo céu vai passar próximo à Saturno, o planeta dos anéis. Nas proximidades, teremos ainda a Lua e Júpiter. Imperdível! Estados do Sudeste, parte do Sul do Brasil, além da Bahia, verão a passagem.

A ISS é visível porque reflete a luz do Sol, da mesma forma que a Lua. Ao contrário da Lua, ela não pode ser observada durante o dia mas, sob certas circunstâncias, momentos antes do amanhecer ou após o pôr do sol. Para alguns, ela lembra uma estrela, só que em movimento. Para outros, um avião, com a exceção de que a ISS não apresenta luz piscando.

Quando a passagem da estação se dá em condições favoráveis, como no caso desta quarta-feira, qualquer pessoa pode observar usando seus próprios olhos. Basta pegar a carta celeste e se dirigir para um local onde você tenha acesso ao céu e, de preferência, com o horizonte livre e sem luz urbana.

A carta celeste abaixo indica a passagem da ISS por entre as constelações, para a noite de 11 de setembro de 2019. Ela vale para a Cidade do Rio de Janeiro e arredores. Repare que às 18h30min a Estação Espacial estará bem no meio da constelação do Cruzeiro do Sul. Logo depois, às 18h32min, estará na constelação do Sagitário, bem perto de Saturno, que está alto no céu. Nas proximidades, veremos Júpiter, bem brilhante de cor branca, na constelação do Escorpião, e a Lua, em Capricórnio. Se você estiver em outra cidade, poderá obter uma carta adequada AQUI (lembre-se de informar a sua cidade antes de gerar a carta). Note que alguns horários estão indicados na carta, uma vez que precisamos saber não somente para onde olhar, mas também, quando!

Boa caçada!

Mapa do céu para a Cidade do Rio de Janeiro e arredores, para a noite de 11 de setembro de 2019. A trajetória da ISS está indicada, com alguns horários.