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Coluna do Astrônomo

Valongo

Subir a ladeira do Valongo é algo que não se faz à toa. O caminho é íngreme, o piso é irregular e escorregadio, a via é estreita, de mão dupla e oferece pouca visibilidade do que pode surgir logo à frente. A pé, em meus tempos de estudante, eu subia ziguezagueando, tentando amenizar a “escalada”. Mais tarde, de carro mil, subia rezando para não encontrar obstáculos pelo caminho… Para um carro sem motor, a retomada na subida era complicada!

Não é uma subida inócua, a ladeira do Valongo. Hoje, sempre que me vejo levado a visitar minha alma mater, olho para aquela ladeira com uma certa reverência. Lembro-me do meu primeiro dia, quando pensei que havia sofrido um trote por parte dos veteranos (quem não conhece a ladeira, mal consegue percebê-la a partir da Rua da Conceição, tão estreita que ela é).

Não é por acaso que se sobe a ladeira do Valongo. Há que se querer chegar ao topo do morrote, há que se ter vontade. Hoje, com um carro menor, mas com um motor mais potente, subo a ladeira brincando. Subo sorrindo, subo tranquilo. Mas, lá no fundo, faço todas as reverências possíveis. Subir a ladeira do Valongo, para um bacharel em Astronomia, é como subir o Monte Olimpo.

Sou do tempo em que o único curso de Astronomia no Brasil era o da UFRJ, com sua sede no Observatório do Valongo. Hoje há cursos análogos na USP e na UFRGS. Mas no meu tempo, era o Valongo e tão somente o Valongo. Daí a mística, daí a aura, daí o processo mental que se dá até hoje quando eu subo a ladeira do Valongo.

Grande parte dos professores que conheci não está mais lá. Aposentaram-se ou, mais triste, morreram. Há alguns daquele tempo que persistem. Mas a maioria são rostos novos, alguns ex-colegas, veteranos meus de tempos outros. Chegar ao topo já não me comove como antes acontecia. Minha memória afetiva conflita com os fatos atuais e fico eu a perambular pelo terreno do Observatório tentando lembrar de coisas que eu fazia, agredido pelos ares de modernidade. É o mesmo sentimento que se tem quando visitamos a casa de nossos pais e tudo está mudado em relação aos tempos que lá morávamos. Sabemos, racionalmente, que a mudança foi boa. Mas queríamos reviver o passado, queríamos acessar um diorama afetivo que só existe dentro de nós.

A ladeira, porém, permanece a mesma. Subi-la, hoje em dia, me emociona mais do que chegar ao seu fim. Não que eu faça isso com frequência. Acho que talvez eu o faça uma vez por ano, se tanto. Geralmente convidado para fazer alguma coisa no Observatório — palestra para os calouros tem sido o motivo recorrente. Não desta última vez!

Da última vez que fui ao Valongo, fui participar de uma semana de comemorações pelos 50 anos do curso de Astronomia. Houve várias atividades naquela semana, e a parte que me coube foi participar de um debate sobre “o prazer de escrever livros de Astronomia” (sim, acho que o título era esse).

O convite veio da Professora Encarnación (e se o Valongo é o Olimpo, ela seria facilmente Palas Atenas, embora muitos prefiram evocar Afrodite), prontamente aceito. Com três livros publicados, sendo que dois deles por uma editora comercial com distribuição nacional, acho que eu realmente tinha algo a acrescentar ao debate. Embora debate não tenha havido…

A experiência foi muito melhor do que isso! Estávamos lá alguns ex-alunos, com livros publicados, conversando com alunos e professores sobre o que significa ser autor de um livro. Fiquei feliz com este encontro. Informal e amistoso, como tudo que é peculiar ao Valongo. Por um breve instante, revivi a mágica daquele lugar…

O que foi dito e o que foi ouvido, hoje eu já não saberia precisar. Lembro-me que, em particular, eu dei algumas dicas para os que sonham em seguir por este caminho. Não que eu tenha muitas dicas para dar. Na verdade, as dicas são sempre as mesmas.

Ser amigo do conhecimento.

Ser amigo do seu idioma.

Ler muito e escrever muito.

Com o tempo e a dedicação, escrever muito se torna, naturalmente, escrever bem. Não sei se já cheguei lá. Mas, para a minha felicidade, pessoas compram os meus livros, o que equivale a dizer que alguém está disposto a pagar para ler o que eu escrevo. Isso pode ser uma pequena indicação de que estou no bom caminho. Pequena, mas valiosa.

Espero estar vivendo os primeiros anos de uma longa carreira como escritor científico. Quem sabe, quando o curso do Valongo completar 100 anos, não me chamem de novo para falar? Se tudo der certo, e eu ainda estiver por aqui, vou estar com 85 anos. Vai ser duro subir a ladeira…

Mas se chamarem, eu vou.

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Coluna do Astrônomo

Buracos de minhoca em um engarrafamento

Aqui na Gávea, onde fica a sede principal da Fundação Planetário, temos uma das maravilhas da moderna engenharia de tráfego: um daqueles painéis que nos avisam o tempo médio que levaremos para chegar a algum lugar…

O painel aqui da Gávea, logo na saída do túnel acústico (parte da Autoestrada Lagoa-Barra) nos dá três opções: “Rebouças via Borges”, “Centro via Rebouças” e “Centro via Orla”.

Para os leitores não familiarizados com a geografia carioca (ou, pelo menos, da Zona Sul), “Rebouças” é o túnel Rebouças, que liga o Rio Comprido à Lagoa Rodrigo de Freitas; “Borges” é a Borges de Medeiros, uma das avenidas que margeia a lagoa (a outra é a Epitácio Pessoa).

Certo. Uma vez familiarizados com a geografia, não precisamos de muito para entender que se pegarmos o tempo anunciado para o trajeto “Centro via Rebouças” e subtrairmos o tempo do trajeto “Rebouças via Borges”, teremos um tempo estimado para o trajeto “Rebouças-Centro”. Perfeito!

Pois outro dia, saindo do Planetário, me deparei com o seguinte enigma: “Rebouças via Borges: 17 minutos”; “Centro via Rebouças: 17 minutos”. Qualquer pessoa normal teria interpretado isso como um erro, um bug.

Mas eu sou astrônomo e físico, o que me coloca um pouquinho à margem da normalidade (só um pouquinho!). Se da Gávea eu levo 17 minutos até o centro, via Rebouças, mas eu levo exatamente 17 minutos para chegar ao túnel, então só há uma resposta possível…

Buracos de minhoca! É claro, óbvio e evidente que alguma distorção do espaço-tempo (o famoso “warp”) vai me fazer percorrer toda a extensão do túnel Rebouças (mais o elevado Paulo de Frontin, no Rio Comprido) em exatamente 0 minuto! Só assim vou respeitar o que está escrito no letreiro luminoso.

Ah! Os buracos de minhoca… Originalmente chamados de “pontes de Einstein-Rosen”, eles unem dois pontos distintos do espaço-tempo através de uma distorção gravitacional. Quando o comandante Kirk ordena que sua nave viaje com velocidade warp, é isso que ele está dizendo: “distorça o espaço-tempo de modo que nosso destino fique consideravelmente mais próximo de nós do que ele está agora, e assim minha viagem seja encurtada em sua duração”. (OK, não precisa ser um gênio do cinema para entender que esta frase JAMAIS entraria em um filme…)

Infelizmente, não há o menor vislumbre tecnológico de que algum dia conseguiremos manipular o espaço-tempo desta maneira, construindo pontes de Einstein-Rosen em nosso benefício.

É… o aviso luminoso devia estar com algum defeito naquele dia…

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Coluna do Astrônomo

Viva o besouro!

Outro dia estava assistindo a uma notícia em algum jornal televisivo e a imagem me impressionou. A tela cheia mostrava uma floresta de coníferas (já não saberia dizer onde, mas provavelmente no Canadá) sendo devorada por uma praga de besouros.

O motivo da praga era, como não poderia deixar de ser, o vilão da vez: o aquecimento global. Dizia a notícia que a elevação da temperatura em menos de um grau centígrado foi suficiente para criar condições mais propícias para a reprodução do besouro. Resultado: uma praga que está devorando as florestas do Canadá.

Pobres coníferas… sofrem muito com o aquecimento global. Mas alguém perguntou para os besouros o que eles acham disso?!?

 

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Coluna do Astrônomo

Cruzando o Universo. Ou não…

A notícia era simples e direta: foi encontrado um novo anel em Saturno. Isso por si só já me causa um certo incômodo… Sim, pois o sistema anelar de Saturno deveria ser entendido como uma faixa contínua de detritos que circundam o planeta, algumas regiões mais densas e outras menos.

Acho que, do ponto de vista científico, a manchete deveria ser: foi descoberta que a região dos anéis de Saturno é mais extensa do que se pensava. Mas, é claro, isso dilui (e muito) a força da notícia. E de modo nenhum critico o jornalismo sério que, vez ou outra, precisa exagerar em suas manchetes. É a manchete que prende o leitor (ou telespectador) e, portanto, ela é fundamental para o sucesso da notícia. Se o texto que se segue for correto, que mal há em se “aditivar” a chamada?

Pois era essa a manchete: um novo anel foi descoberto ao redor do planeta Saturno. E acompanhando a cobertura do telejornal de maior audiência de nosso país, vejo o correspondente nos EUA abrir a matéria com a seguinte frase:

“O telescópio Spitzer, que cruza o Universo…” (estou citando de memória; posso ter errado a palavra exata, mas o sentido certamente é o mesmo…)

Eu não sei quanto a vocês, mas quando ouço esta frase penso logo em algo ao estilo da fictícia nave Enterprise, do seriado de televisão Jornada nas Estrelas (e dos filmes, claro!). “Cruzar o Universo” me leva longe, “a lugares nunca antes visitados”. Imagino o vazio espacial, a solidão do vácuo, a distância infinita. E lá está o telescópio Spitzer singrando o nada interestelar… Isso, para mim, é “cruzar o Universo”: ir de um lado a outro, deste vasto, vasto Cosmos!

O telescópio Spitzer é um dos quatro grandes observatórios da NASA, todos telescópios espaciais. Os outros três são o Compton, o Chandra e, claro, o mais famoso de todos, o Hubble. O Spitzer está em órbita heliocêntrica, ou seja, ele fica dando voltas ao redor do Sol. Dá uma volta a cada ano. Isso não parece familiar? Seu movimento pelo espaço é exatamente igual ao da Terra: órbita solar com período de um ano.

Você diria que a Terra “cruza o Universo” ao descrever seu movimento? Certamente eu não diria isso. Ou seja, como frase de abertura para uma notícia, pode ter sido muito bela. Mas acho que induz o telespectador ao erro.

Se dependesse de mim, a matéria teria começado com a seguinte frase: “o telescópio Spitzer, em órbita do Sol…” Bem menos poético, eu sei, mas bem mais acurado. Mas talvez eu esteja sendo hipercuidadoso. O que não deixa de ser bom, para quem lida com divulgação científica…

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Coluna do Astrônomo

Origem do Nosso Calendário

Introdução

A todo momento fazemos referência a algum sistema de contagem do tempo sem nos darmos conta das dificuldades que surgiram para sua padronização e sua adequação com os fenômenos sazonais.
Mas qual teria sido a origem da designação dos nossos dias, como os conhecemos hoje?

Muitas perguntas surgem.
Por que o ano tem 12 meses e a semana sete dias?
Por que o ano começa em 1º de janeiro?
Por que alguns anos são bissextos e outros não?
Por que os meses e dias da semana têm esses nomes?
A relação entre o calendário e a Astronomia é direta. Cedo, o homem sentiu necessidade de dividir o tempo para comemorar suas festas religiosas e, principalmente, para saber a época de suas atividades agrícolas e comerciais.

Os primeiros povos tinham dois sistemas básicos para contagem de longos períodos de tempo que eram baseados nos movimentos do Sol e da Lua. No caso do Sol, geralmente toma-se como referência o ano trópico, cujo intervalo de tempo entre dois solstícios de verão consecutivos, hoje sabemos, é 365,2422 dias. Já os calendários lunares são baseados no período de 12 lunações, ou seja, 354,36708 dias. Uma lunação é o intervalo entre duas luas novas consecutivas e dura 29,53059 dias.

Por algum tempo utilizou-se exclusivamente o calendário lunar. Como para ocorrerem 12 lunações são necessários 354 dias, faltavam, ainda, cerca de dez dias para o Sol ocupar a mesma posição na eclíptica. Conseqüentemente, as estações do ano iriam ocorrer, pelo calendário lunar, a cada ano, cerca de dez dias mais cedo. Imagine o transtorno que isso traria aos povos que dependiam diretamente dos fenômenos sazonais (plantio, caça, pesca, etc.)!
Ainda assim, alguns povos utilizam até hoje o calendário exclusivamente lunar, como os árabes. Já os judeus utilizam um calendário lunissolar. O mundo ocidental usa o calendário solar, embora ainda guarde alguns resquícios do antigo calendário lunar, como os 12 meses, originários das 12 lunações.

Os Primeiros Calendários Romanos

Calendário Romano

Este calendário, criado por Rômulo (753-717 a.C.), tinha 304 dias divididos em dez meses, cada mês variando entre 16 e 36 dias. Posteriormente, o número de dias de cada mês teria 30 ou 31 dias, compreendendo dez meses lunares, sendo que o ano deveria sempre se iniciar no equinócio da primavera. Ora, como o ano trópico tem 365,2422 dias, eles deveriam ter algum sistema para corrigir o déficit de 61 dias, mas não sabemos qual era esse processo. Mesmo que houvesse algum método engenhoso, sabe-se que este calendário teve pouca duração, pois os meses flutuavam pelas estações do ano.

Origem do Nosso Calendário

Calendário de Numa Pompilo

Na época do imperador Numa Pompilo (717-673 a.C.), sucessor de Rômulo, foram feitas algumas modificações no calendário. Os romanos daquela época eram extremamente supersticiosos e consideravam números pares como fatídicos. Então aboliram os meses de 30 dias, que passaram a ter 31 ou 29 dias. Além disso, aumentou-se para 12 o número de meses, sendo introduzidos Januarius (29 dias), em homenagem a Jano, deus com duas caras, e Februarius (28 dias), deus dos infernos e das purificações. Esses meses eram, respectivamente, o décimo primeiro e o décimo segundo do ano, permanecendo o início em Martius. Com os 355 dias desse calendário, ainda havia uma diferença de 10,25 dias para o calendário solar. Para corrigir isso, era acrescentado, periodicamente, no final do ano, um mês denominado intercalar, chamado Mercedonius (segundo alguns deriva de merces – renda, imposto, porque nessa época eram recolhidos os impostos).

A periodicidade obedecia um ciclo de 24 anos chamado pompiliano, que era subdividido em períodos de quatro anos. Os anos que tinham numeração ímpar neste ciclo e o último (o 24) tinham 12 meses de 355 dias; os restantes tinham 13 meses (com o intercalar que poderia ter 22 ou 23 dias). Mercedonius tinha 22 dias quando se intercalava no 2º, 6º, 10º, 18º, 20º e 22º ano do ciclo pompiliano, e 23 dias quando no 4º, 8º, 12º e 16º ano do ciclo, contendo, portanto, Februarius, 28 dias nos anos ordinários, e 50 ou 51 dias nos anos com intercalação. Isto porque o mês intercalar não vinha após Februarius, mas no meio deste. Depois de “23 de Februarius” contava-se 1, 2, 3…22 ou 23 Mercedonius, e retornava-se para o 24º dia de Februarius.

O ano de Numa Pompilo tinha, portanto, 12 meses com 355 dias e quando havia a intercalação, alternadamente 377 ou 378, ou seja, num período de quatro anos, tínhamos: 355, 377, 355 e 378 dias, dando uma média de 366,24 dias.

Os dois últimos períodos de quatro anos do ciclo de 24 anos tinham, respectivamente, 371 e 372 dias, em vez de 377 e 378, eliminando 12 dias em 24 anos, o que provocou um ano ligeiramente maior que 365 dias.

Com isso conseguiu-se um calendário bastante razoável, embora um pouco complicado para o povo romano.

A intercalação dos meses e o controle dos números de dias eram atributos dos pontífices. É importante notar que estes acabaram tendo em suas mãos o poder sobre a época da investidura dos cônsules. Assim os responsáveis pela observância das regras da intercalação adiavam ou antecipavam a introdução do mês Mercedonius, primeiramente pela conveniência de prolongarem as magistraturas ou para favorecimento de amigos. Desse modo acabaram perdendo o controle sobre o calendário, e em pouco tempo o caos havia se formado.

A duração dos meses no calendário de Numa Pompilo ficou assim:

* Nos dois últimos períodos de quatro anos num ciclo de 24 anos, os anos pares tinham sua duração reduzida para 371 e 372 dias, respectivamente.

Calendário Juliano

O imperador Júlio César (100-44 a.C.) tomou para si a tarefa de reordenar o
calendário, chamando para isso o astrônomo Sosígenes.
Dentre as modificações introduzidas temos:
1- O ano se iniciaria em Januarius, e não mais em Martius. Para isso ele fez com que calendas januaris (1º de janeiro) coincidisse com a primeira Lua nova depois do solstício de inverno, que naquela época se dava em antediem VIII calendas januarii (25/12). Júlio César atendeu, assim, a antigas crenças dos calendários solar e lunar.
2- O ano teria 365 dias, sendo que de quatro em quatro anos haveria um dia excedente em Februarius: o bis VI antediem calendas martii, onde antes se intercalava o Mercedonius. O ano anterior ao uso do calendário juliano é conhecido como ano da confusão, pois foram feitas várias modificações nesse ano para preparar o calendário para a reforma; houve 15 meses com 445 dias.
Júlio César, após ser assassinado em 44 a.C., foi homenageado e, para isso, lhe foi reservado o mês Julius, antigo Quintilis.
Os pontífices encarregados de regular o calendário e de acompanhar as observâncias das leis erraram nas interpretações das regras do calendário e estavam tornando bissextos os anos em intervalos de três anos, ao invés de quatro em quatro. Com isso, nos 37 primeiros anos foram considerados 12 anos bissextos: 42, 39, 36, 33, 30, 27, 24, 21, 18, 15, 12 e 9 a.C., quando deveriam ser nove: 41, 37, 33, 29, 25, 21, 17, 13 e 9, produzindo uma diferença de três dias.
César Augusto (44 a.C. – 37 d.C.) decretou que não se fizessem bissextos os três anos seguintes que deveriam sê-los, ou seja, 5 e 1 a.C., assim como 4 d.C.
Graças a essas contribuições, o imperador foi homenageado com seu nome no lugar de Sextilis, mês em que nasceu, que passou a ter 31 dias, o mesmo número de Julius, visto que sendo imperador, como Júlio César, ambos deveriam merecer a mesma homenagem. Com o aumento no número de dias de Augustus, o prejudicado foi o mês de Februarius, que passou a ter 28 ou 29 dias.

Calendas, Nonas e Idos

Na Roma antiga os meses eram divididos em três partes, denominadas: calendas, nonas e idos. Estas eram ainda contadas de trás para frente, e assim 2 de janeiro era antediem IV nonas januarii; 10 de março era antediem VI idus martii; e o primeiro dia do mês era simplesmente Kalendae, daí o nome calendário.

Quando o calendário romano era exclusivamente lunar, o primeiro dia das calendas (e dos meses) fazia-se coincidir com a Lua nova, as nonas na Lua crescente e os idos na Lua cheia. Depois abandonou-se o sistema de contagem baseado nas fases da Lua e os dias passaram a ser predeterminados. As calendas passaram a corresponder ao primeiro dia do mês, já as nonas e os idos aos dias 7 e 15 nos meses de março, maio, julho e outubro, e aos dias 5 e 13 nos outros meses.
Calendário Juliano/dias

Calendário Gregoriano

Mesmo após a reforma juliana, havia algumas incorreções que só se tornaram apreciáveis depois de muitos séculos.

Com a reforma juliana passou-se a considerar o ano com 365 dias, havendo a intercalação de quatro em quatro anos de um ano com 366 dias, o que tornava na média a duração do ano com 365,25 dias. Mas como o ano trópico tem 365 dias, 5 horas, 48 minutos e 47,5 segundos, restando, portanto, uma diferença de 11 minutos e 12,5 segundos, a cada quatro anos aumentava-se 24 horas, quando na verdade deveria aumentar-se 23 horas, 15 minutos e 10 segundos.

Com essa diferença temos, a cada 128,5 anos, um atraso de um dia nas datas dos equinócios e solstícios.

Em 325 d.C., quando o Concílio de Nicea se reuniu para definir a época da Páscoa, entre outros assuntos, já se havia percebido que o equinócio da primavera, fixado por Júlio César para 25 de março, estava ocorrendo já em 21 de março. Os bispos então refixaram o equinócio da primavera para 21 de março nos anos comuns, e 20 de março nos anos bissextos. Mas isso apenas atualizava o equinócio, não corrigindo ainda a duração do ano.
Foi somente em 1582 que o papa Gregório XIII (1512-1586) efetuou a reforma no calendário, quando já havia um atraso de 10 dias da data do equinócio (estava ocorrendo em 11 de março, ao invés de 21 de março).

As modificações introduzidas com a reforma gregoriana foram as seguintes:

1 – Supressão de dez dias do calendário. O dia seguinte à quinta-feira, 4 de outubro de 1582, passou a ser sexta-feira, 15 de outubro de 1582, para que o equinócio voltasse a concordar com a deliberação do Concílio de Nicea.
2 – Ausência de anos bissextos durante três anos em cada período de 400 anos. O primeiro destes ciclos começou em 1600, que foi bissexto, mas 1700, 1800 e 1900 não foram bissextos, já 2000 será. Desse modo, após três anos seculares comuns, haverá um bissexto. Assim só serão bissextos os anos seculares divisíveis por 400. No calendário juliano, todos os anos seculares eram bissextos.
3 – Contagem dos dias através da designação dos números cardinais 1, 2, 3, … pela ordem e seguidamente (e não mais por calendas, nonas e idos).
Há ainda uma diferença residual de 2 horas, 43 minutos e 2 segundos a cada 400 anos, o que produz um acréscimo de um dia a cada 3.532 anos. Isso deverá tornar bissexto o ano 4000, embora esta questão não tenha sido tratada pela reforma gregoriana.
Algumas publicações usam a expressão “velho estilo” e “novo estilo”, referindo-se a ano juliano ou gregoriano, respectivamente.
A reforma gregoriana não foi aceita de imediato. Vários povos se opuseram a ela, principalmente os não católicos.
Os católicos, como Portugal e Espanha, aceitaram de imediato, em outubro de 1582; a França, em dezembro de l582; já a Alemanha e a Áustria, em 1584, Hungria em 1587, Inglaterra em 1752, Suécia em 1753 e a Rússia em 1923. Esta última teve que eliminar 13 dias do seu calendário.

A Era Cristã

Os romanos começavam a contagem dos anos a partir da fundação de Roma, em 753 a.C. (era romana). Este sistema foi usado também por povos conquistados pelos romanos por muito tempo, embora existissem outros como a era Nabonassar ou a era César. No século VI d.C., um monge grego chamado Dionísio propôs que se iniciasse a partir do nascimento de Cristo. Para tanto, ele fez cálculos para saber em que ano Cristo teria nascido, o que era uma tarefa muito difícil. Ao final, sugeriu que se começasse a era cristã a partir do ano 754 da fundação de Roma. Passados 1.200 anos de Dionísio, os cronometristas descobriram que ele havia cometido um erro de quatro anos para menos, mas o sistema não foi alterado. Cristo nasceu provavelmente no ano 4 a.C. da era cristã.

A Semana

São necessários sete dias, aproximadamente, para a Lua ir de uma fase a outra, e parece que esse foi o motivo para a semana ter sete dias. Esta divisão era, ainda na Antigüidade, quase universal. Na Roma antiga era chamada “Septmana” – sete manhãs. Os babilônios talvez tenham sido os primeiros a utilizá-la. Eles deram como nomes desses dias os mesmos dos planetas que conheciam (os cinco planetas visíveis a olho nu que conhecemos hoje, acrescidos do Sol e da Lua). Esta prática, muito antiga, já era usada pelos babilônios. Foi adotada pelos romanos e outros povos europeus influenciados por estes.
Latim

Como vemos, os dias da semana estão ordenados da seguinte maneira: dia do Sol, dia da Lua, dia de Marte, dia de Mercúrio, dia de Júpiter, dia de Vênus e dia de Saturno. Notamos que aparentemente esta ordem não tem nenhum sentido.

No sistema aristotélico, a ordem de afastamento dos “planetas” da Terra era: Lua, Mercúrio, Vênus, Sol, Marte, Júpiter e Saturno. Esta ordem foi corretamente deduzida pela velocidade destes astros na esfera celeste.

Esta origem atribui-se ao hábito, na Antigüidade, de dedicar-se cada hora e cada dia a um planeta que influenciaria esta hora ou este dia. Os planetas eram ordenados do mais afastado para o mais próximo; o planeta que influenciaria a primeira hora do dia era também o planeta daquele dia.

Por exemplo: o dia em que sua primeira hora fosse atribuída ao Sol era obviamente “dia do Sol”, a segunda hora, a Vênus, a terceira, a Mercúrio, a quarta, a Lua, a quinta, a Saturno, a sexta, a Júpiter, e a sétima, a Marte. Aí se repetia o ciclo; a oitava ao Sol, e assim por diante. Para saber qual seria a primeira hora (e as seguintes) do dia, e conseqüentemente o “planeta do dia”, usava-se a “estrela dos magos”, ou heptacorda, uma figura cabalística.

A língua portuguesa não dividiu os dias segundo o nome dos planetas, porque no começo do Cristianismo a Páscoa durava uma semana, sendo o trabalho reduzido ao mínimo possível e o tempo destinado exclusivamente a orações. Esses dias eram os feriaes, ou seja, feriados. Para enumerar os feriaes, começou-se pelo sábado, como os hebreus faziam. O dia seguinte ao sábado seria o feria-prima (domingo), depois seria o segunda-feria (segunda-feira), e assim por diante. O sábado origina-se de Shabbath, dia do descanso para os hebreus.

O imperador Flávio Constantino (280-337 d.C.), após se converter ao Cristianismo, substituiu a denominação de Dies Solis ou Feria-prima para Dominica (dia do Senhor), que por sua vez foi adotada por povos latinos.

Sugestões para Leitura

ASSAFIN, M. SALDANHA, A. Calendários. Observatório Nacional, Rio de Janeiro, 1989.

DONATO, H. História do calendário. Universidade de São Paulo, São Paulo, 1976.

KAUSE, A. Astronomia para todos. Iberia, 1944.

LOBO, A. M. Ciência atraente e recreativa. volume 5, Rio de Janeiro.

ENCICLOPÉDIA Mirador Internacional. São Paulo / Rio de Janeiro, 1983.

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Qual é a sua frase preferida de Einstein?

Hoje terminei um curso na ENAP, Escola Nacional de Administração Pública. Estava alimentando meu lado não-astrônomo, que muitas vezes fica abandonado, esquecido, relegado ao segundo plano. O curso em si não cabe aqui para ser comentado. Mas fiquei impressionado com as citações de Einstein que o professor (um administrador) usou! Talvez Einstein seja a pessoa mais citada da face da Terra! (Provavelmente Shakespeare ganha, mas sendo autor teatral, ele quase seria um caso à parte, ou “café-com-leite”, como se diz por aí…)

A citação surgiu em meio a um estudo de caso, ligado diretamente à administração. Cito, de memória, o professor citando Einstein. Posso estar errando algo… Disse Einstein: “Há duas coisas realmente infinitas. Uma é o Universo. A outra é a estupidez humana. E não estou tão certo assim sobre a primeira…”

Confesso que não me recordo o contexto no qual Einstein disse essa frase. Seca e incisiva, ela destoa da figura doce e brincalhona que todos guardamos do grande cientista. Certamente algo o havia irritado. E muito!

Há outras frases famosas de Einstein. Gosto muito de “Deus não joga dados com o Universo” e de “A imaginação é mais importante do que o conhecimento”.

E você? Qual é a sua frase preferida de Einstein?

 

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Queda de Meteoritos: Efeitos Imediatos

Quando os meteoritos estão em queda, podemos observar alguns efeitos que os acompanham. Esses fenômenos são visíveis e audíveis a grandes distâncias, causando uma grande euforia nas pessoas que os observam.

O fenômeno luminoso da queda de um bólido é provocado por dois fatores principais: a queima do próprio corpo sólido e a incandescência da atmosfera em torno do corpo queimando.

Quando um meteoróide em queda ultrapassa a altitude de 90 km, a atmosfera se torna densa o suficiente para começar a converter uma pequena fração da energia cinética do objeto em calor, que irá aquecer as partes externas do meteoróide, fazendo com que ele se torne incandescente a uma temperatura média de 1650ºC.

Inicia-se a catástrofe para o meteoróide. Com a contínua queda e o aumento da resistência do ar, o aquecimento continua. Começa o processo a que chamamos de ablação. O meteoróide incandescente vai perdendo material rapidamente por evaporação. Parte deste material, ao se separar da parte que está queimando, condensa-se também rapidamente, tanto em torno do próprio objeto quanto no ar.

O ar em torno da rocha em brasa começa a ficar ionizado, ou seja, inicia-se uma perda de elétrons dos gases atmosféricos. Ao recuperarem a sua configuração original, esses gases tornam-se incandescentes e passam a emitir luz, formando o rastro observado nos bólidos.

No fim da parte visível, observamos algumas vezes, dependendo principalmente da energia cinética do bólido, ocorrências de explosões, quando os meteoróides fragmentam-se em várias partes. Esse ponto é chamado de ponto de retardamento, do qual falaremos em outro artigo.

A cor da luz observada durante o fenômeno da queda é a mais variada possível. Em geral, relatos mostram que a luz branca é a mais observada, porém o verde, o vermelho e o amarelo também são vistos. Isto ocorre, basicamente, devido à composição química do meteoróide. Por exemplo, a queima do sódio produz uma intensa coloração amarelada, o níquel, uma luz esverdeada, o magnésio, quando queimado, emite uma cor branco-azulada, e assim por diante.

Um pouco mais terrificante que o efeito luminoso é o fenômeno sonoro produzido pela queda de um meteorito. Talvez hoje, acostumados com a poluição luminosa das grandes cidades, as pessoas não sintam tanto medo quanto o causado nos povos antigos que, algumas vezes, associavam a visão do bólido e o som à destruição e a castigos divinos.

O som relacionado com a queda de um meteorito pode ser ouvido em uma grande área. Investigações realizadas próximas à área de queda mostram que foram ouvidos num raio de 70 km.

A origem do som são as ondas de choque produzidas pela viagem do bólido a velocidades muito grandes, produzindo uma variedade de ruídos cacofônicos. A turbulência provocada na atmosfera pelo meteoróide, assim como reflexões das ondas sonoras em nuvens e na superfície produzem os diversos tipos de sons. Além disso, se o objeto quebrar em vários fragmentos, cada um desses irá produzir a sua própria onda de choque. Como os meteoróides viajam a velocidades muito maiores que a do som, eles podem ser vistos muito antes, às vezes até poucos minutos antes de serem ouvidos

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A Lua é Realmente Maior Quando está Próxima ao Horizonte?

É bastante difundida a idéia de que a Lua, quando próxima ao horizonte, fica maior que quando está alta no céu. Algumas pessoas chegam a estimar em duas ou três vezes maior.

A órbita da Lua é uma elipse de modo que ora ela se aproxima mais da Terra, ora se afasta. Com isso, seu tamanho aparente também varia. Mas obviamente esta explicação não é satisfatória, porque quando a Lua está nascendo para um observador, para outro, em algum lugar da Terra, ela estará bem alta no céu. O efeito da excentricidade da órbita da Lua afeta o tamanho aparente da Lua igualmente para todos os observadores da Terra que a vêem naquele momento. Além disso, o tempo necessário entre o apogeu e o perigeu da Lua é de mais ou menos 14 dias, e não seis horas (período aproximado entre o nascer e a culminação).

Vamos desenvolver um experimento bastante simples para avaliar se realmente ela fica maior no horizonte. Precisamos de um sarrafo com 1,50 metro de comprimento e seção reta de 10x10mm (isto pode ser encontrado em serrarias); uma régua milimétrica e uma calculadora com função trigonométrica. Será necessário também um pedaço de papel cartão cortado, segundo o desenho abaixo. Este deverá ser “encaixado” sem folga no sarrafo.

Num dia de Lua cheia, medimos o tamanho angular da Lua de hora em hora, desde o nascer até a culminação. Para isso, aproxime a ponta do sarrafo de um dos olhos e veja a Lua pela janela do papel cartão, ajustando a distância do papel aos olhos, de modo que as bordas da Lua toquem exatamente nas paredes laterais da janela. É importante que o sarrafo permaneça imóvel para obtermos um resultado confiável; devemos, portanto, apoiá-lo em um muro, por exemplo.

O tamanho angular da Lua é obtido por: arco tangente L/d, onde L é a largura da janela (15mm) e d a distância do anteparo ao olho, em milímetros.

Qual foi o resultado? O tamanho angular da Lua variou?

Na verdade a Lua não fica maior no horizonte; o que ocorre é uma ilusão de óptica.

Se usarmos instrumentos mais precisos, concluiríamos justamente o oposto. No horizonte a Lua está menor do que quando alta, porque no horizonte é somado o raio da Terra em relação à observação feita na culminação. A distância média entre a Terra e a Lua é de 60 raios terrestres. Veja no desenho por quê.


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Translação ou Revolução?

 

 A idéia de que a Terra se move é relativamente nova, se considerarmos que as mais antigas ciências surgiram com a civilização humana (algo entre 7 mil e 10 mil anos atrás). Ainda que alguns pensadores antigos, notadamente Aristarco de Samos, na Grécia, tenham defendido que a Terra era um planeta como outro qualquer e que, portanto, movia-se pelo vazio do espaço, o paradigma científico, desde a época de Aristóteles (século IV antes da Era Comum), sempre foi considerar a Terra fixa, no centro do Universo.

(A própria palavra Universo surgiu a partir desta concepção equivocada. Se a Terra estava fixa, no centro, a única maneira de explicar o ciclo diário dos objetos celestes era supor que giravam todos em uníssono. O conjunto dos objetos celestes passou a ser chamado de “aquilo que gira como algo único”, unus verterem, em latim. Daí a origem da nossa palavra Universo.)

Mas a Terra se move, hoje já não há mais dúvidas. A revolução copernicana, em meados do século XVI, colocou nosso planeta em seu devido lugar: girando ao redor do Sol. Copérnico não conseguiu se livrar de sua educação aristotélica por completo e preconizou órbitas circulares; estava errado. Kepler, em 1609, defendeu corretamente que as órbitas planetárias (a da Terra inclusive) eram elipses.

A alternância entre os dias e as noites, bem como todos os ciclos diários vistos no céu eram causados pelo movimento de rotação, que a Terra realiza em torno de si, com período de cerca de 24 horas. Já a mudança das estações, o caminho do Sol pelo Zodíaco, o movimento retrógrado dos planetas, tudo isso é conseqüência de um outro movimento terrestre, que nosso planeta faz ao redor do Sol: a translação.

Translação? Seria esse o nome correto deste movimento da Terra? Ou este movimento, por ser cíclico, não deveria ter sido batizado de revolução? Curiosamente, foi este o termo usado originalmente pelo próprio Copérnico, como atesta o título de sua obra maior: “Da Revolução das Orbes Celestes”. Chega a ser até curioso perceber como uma palavra nos serve tão bem a dois propósitos distintos.

A palavra “revolução” tem várias acepções; segundo o Dicionário Aurélio, revolução é uma “transformação radical dos conceitos artísticos ou científicos dominantes numa determinada época”. Assim, é óbvio que estamos, ao migrarmos do sistema geocêntrico para o heliocêntrico, em meio a uma revolução. A revolução copernicana. Mas a palavra “revolução”, ainda segundo o Aurélio, também significa “volta, rotação, giro”. Ou seja, a palavra “revolução” descreve muito bem o movimento que a Terra faz ao redor do Sol.

Está mais do que correto, portanto, dizer que os dois principais movimentos da Terra chamam-se rotação (ao redor de si mesma) e revolução (ao redor do Sol).

E a translação? Confesso que não sei quando este termo entrou na Astronomia (mas a pesquisa continua!). É quase certo que tenha surgido, nesse contexto, primeiramente em francês. Mas chamar o movimento da Terra de translação é um erro do ponto de vista físico, pois a palavra “translação”, sempre de acordo com o Aurélio, significa “movimento de um corpo em que todas as partículas têm em cada instante a mesma velocidade e esta mantém uma direção constante”. Esta definição, um pouco hermética, equivale a dizer que a translação é o deslocamento de um corpo, em movimento uniforme, ao longo de uma linha reta. Isso, obviamente, a Terra não faz ao redor do Sol.

O erro é tão antigo e está tão arraigado em nossa língua que o próprio Dicionário Aurélio registra, logo depois, a definição de “translação da Terra”! E define este termo como o movimento que o nosso planeta realiza ao redor do Sol. Parece-me que este movimento, então, sofre de uma identidade dupla. Do ponto de vista mecânico, seguindo as leis da Física, este é um movimento de revolução. Mas de acordo com o uso comum — e a própria Astronomia! –, este movimento possui um nome próprio: Translação (que, a rigor, deveria ser grafado sempre com letra maiúscula, pois se trata agora de um nome próprio).

Resumindo, os dois principais movimentos da Terra (na verdade, de qualquer planeta do Sistema Solar) são a rotação e a revolução. Para o nosso planeta, em especial, a revolução, movimento cíclico ao redor do Sol, ganhou, por misteriosas razões lingüístico-astronômicas, o nome de Translação.

Retomando a pergunta inicial. Translação ou revolução? Tanto faz, desde que se saiba o que se está querendo dizer.

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Observando Uma Queda

Quando se observa um bólido, costuma-se pensar que é só seguir o rastro e facilmente encontra-se o meteorito. Isso não é bem assim. A visão de um bólido rasgando o céu com um brilho, algumas vezes, superior ao do Sol causa um espanto e uma admiração tão grandes que as pessoas esquecem de observar pequenos detalhes que iriam ajudar muito o trabalho dos pesquisadores de meteoritos.

As quedas de meteoritos ocorrem tão esporadicamente e nos mais diversos lugares que os cientistas têm pouca oportunidade de fazer observações. A meteorítica é a linha de pesquisa que mais necessita da ajuda da população.

Ao sair para o campo, na tentativa de localizar um meteorito, certas informações recolhidas são de vital importância. Uma delas é a trajetória verdadeira da queda do bólido. Isso pode ser feito ao se traçar, sobre um mapa da região, as trajetórias aparentes relatadas pelos observadores. Durante o dia, deve-se utilizar alguns pontos de referência, como por exemplo casas, árvores e igrejas, além do ponto onde estava o observador. Durante o período noturno, as estrelas servem como um padrão, desde que seja anotada a hora em que foi feita a observação.

Após encontrarmos a trajetória do bólido, precisamos determinar a altura em que foi observado. A posição espacial do meteoróide só pode ser determinada se tivermos, pelo menos, duas observações de locais bem distantes. Normalmente, os observadores não presenciam a posição de entrada do meteoróide na atmosfera, mas conseguem observar um ponto mais importante, o ponto de retardo, quando a luz se extingue. A importância desse ponto está no fato de que, nessa posição, o meteoróide perde toda a sua velocidade cósmica e cai em queda livre.

O cálculo da trajetória de um meteorito pode ser encontrado, com grande acurácia, se a trajetória puder ser fotografada de diversas regiões. Atualmente, três redes de estações automáticas, na Eslováquia, nos Estados Unidos e no Canadá, fotografam continuamente o céu noturno. Usando-se quatro câmaras fotográficas, direcionadas para os quatro quadrantes do céu, e um obturador, que se fecha com freqüência de 20 vezes por segundo, pode-se calcular a velocidade do corpo a partir do comprimento dos segmentos e reconstruir a órbita destes meteoritos em torno do Sol.

Uma estatística realizada no hemisfério norte, com o intuito de tentar prever o período do ano em que ocorre maior quantidade de quedas de meteoritos, nos mostra que existe uma ocorrência maior durante os meses de maio, junho, julho e agosto. Alguns cientistas tentam associar essa curva à distribuição de meteoróides no espaço, porém deve-se levar em conta que, como as observações foram feitas no hemisfério norte, a estação do verão pode ter influenciado os resultados, uma vez que poucas pessoas estão fora de suas casas durante as noites de inverno.

Frederick C. Leonard, um grande estudioso americano de meteoritos, usando as informações de 469 meteoritos descobertos, cujas quedas foram observadas, mostrou que a grande maioria delas ocorreu por volta das 15 horas, e a menor ocorrência de observações foi às 3 horas da manhã. A causa mais provável para esse efeito no gráfico é a própria atividade humana. O ser humano é um animal diurno; poucas pessoas estão acordadas por volta das 3 horas da manhã. Porém, alguns estudiosos sugerem que o movimento orbital da Terra tenha uma influência significativa nesses resultados.