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Coluna do Astrônomo

Valongo

Subir a ladeira do Valongo é algo que não se faz à toa. O caminho é íngreme, o piso é irregular e escorregadio, a via é estreita, de mão dupla e oferece pouca visibilidade do que pode surgir logo à frente. A pé, em meus tempos de estudante, eu subia ziguezagueando, tentando amenizar a “escalada”. Mais tarde, de carro mil, subia rezando para não encontrar obstáculos pelo caminho… Para um carro sem motor, a retomada na subida era complicada!

Não é uma subida inócua, a ladeira do Valongo. Hoje, sempre que me vejo levado a visitar minha alma mater, olho para aquela ladeira com uma certa reverência. Lembro-me do meu primeiro dia, quando pensei que havia sofrido um trote por parte dos veteranos (quem não conhece a ladeira, mal consegue percebê-la a partir da Rua da Conceição, tão estreita que ela é).

Não é por acaso que se sobe a ladeira do Valongo. Há que se querer chegar ao topo do morrote, há que se ter vontade. Hoje, com um carro menor, mas com um motor mais potente, subo a ladeira brincando. Subo sorrindo, subo tranquilo. Mas, lá no fundo, faço todas as reverências possíveis. Subir a ladeira do Valongo, para um bacharel em Astronomia, é como subir o Monte Olimpo.

Sou do tempo em que o único curso de Astronomia no Brasil era o da UFRJ, com sua sede no Observatório do Valongo. Hoje há cursos análogos na USP e na UFRGS. Mas no meu tempo, era o Valongo e tão somente o Valongo. Daí a mística, daí a aura, daí o processo mental que se dá até hoje quando eu subo a ladeira do Valongo.

Grande parte dos professores que conheci não está mais lá. Aposentaram-se ou, mais triste, morreram. Há alguns daquele tempo que persistem. Mas a maioria são rostos novos, alguns ex-colegas, veteranos meus de tempos outros. Chegar ao topo já não me comove como antes acontecia. Minha memória afetiva conflita com os fatos atuais e fico eu a perambular pelo terreno do Observatório tentando lembrar de coisas que eu fazia, agredido pelos ares de modernidade. É o mesmo sentimento que se tem quando visitamos a casa de nossos pais e tudo está mudado em relação aos tempos que lá morávamos. Sabemos, racionalmente, que a mudança foi boa. Mas queríamos reviver o passado, queríamos acessar um diorama afetivo que só existe dentro de nós.

A ladeira, porém, permanece a mesma. Subi-la, hoje em dia, me emociona mais do que chegar ao seu fim. Não que eu faça isso com frequência. Acho que talvez eu o faça uma vez por ano, se tanto. Geralmente convidado para fazer alguma coisa no Observatório — palestra para os calouros tem sido o motivo recorrente. Não desta última vez!

Da última vez que fui ao Valongo, fui participar de uma semana de comemorações pelos 50 anos do curso de Astronomia. Houve várias atividades naquela semana, e a parte que me coube foi participar de um debate sobre “o prazer de escrever livros de Astronomia” (sim, acho que o título era esse).

O convite veio da Professora Encarnación (e se o Valongo é o Olimpo, ela seria facilmente Palas Atenas, embora muitos prefiram evocar Afrodite), prontamente aceito. Com três livros publicados, sendo que dois deles por uma editora comercial com distribuição nacional, acho que eu realmente tinha algo a acrescentar ao debate. Embora debate não tenha havido…

A experiência foi muito melhor do que isso! Estávamos lá alguns ex-alunos, com livros publicados, conversando com alunos e professores sobre o que significa ser autor de um livro. Fiquei feliz com este encontro. Informal e amistoso, como tudo que é peculiar ao Valongo. Por um breve instante, revivi a mágica daquele lugar…

O que foi dito e o que foi ouvido, hoje eu já não saberia precisar. Lembro-me que, em particular, eu dei algumas dicas para os que sonham em seguir por este caminho. Não que eu tenha muitas dicas para dar. Na verdade, as dicas são sempre as mesmas.

Ser amigo do conhecimento.

Ser amigo do seu idioma.

Ler muito e escrever muito.

Com o tempo e a dedicação, escrever muito se torna, naturalmente, escrever bem. Não sei se já cheguei lá. Mas, para a minha felicidade, pessoas compram os meus livros, o que equivale a dizer que alguém está disposto a pagar para ler o que eu escrevo. Isso pode ser uma pequena indicação de que estou no bom caminho. Pequena, mas valiosa.

Espero estar vivendo os primeiros anos de uma longa carreira como escritor científico. Quem sabe, quando o curso do Valongo completar 100 anos, não me chamem de novo para falar? Se tudo der certo, e eu ainda estiver por aqui, vou estar com 85 anos. Vai ser duro subir a ladeira…

Mas se chamarem, eu vou.

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Buracos de minhoca em um engarrafamento

Aqui na Gávea, onde fica a sede principal da Fundação Planetário, temos uma das maravilhas da moderna engenharia de tráfego: um daqueles painéis que nos avisam o tempo médio que levaremos para chegar a algum lugar…

O painel aqui da Gávea, logo na saída do túnel acústico (parte da Autoestrada Lagoa-Barra) nos dá três opções: “Rebouças via Borges”, “Centro via Rebouças” e “Centro via Orla”.

Para os leitores não familiarizados com a geografia carioca (ou, pelo menos, da Zona Sul), “Rebouças” é o túnel Rebouças, que liga o Rio Comprido à Lagoa Rodrigo de Freitas; “Borges” é a Borges de Medeiros, uma das avenidas que margeia a lagoa (a outra é a Epitácio Pessoa).

Certo. Uma vez familiarizados com a geografia, não precisamos de muito para entender que se pegarmos o tempo anunciado para o trajeto “Centro via Rebouças” e subtrairmos o tempo do trajeto “Rebouças via Borges”, teremos um tempo estimado para o trajeto “Rebouças-Centro”. Perfeito!

Pois outro dia, saindo do Planetário, me deparei com o seguinte enigma: “Rebouças via Borges: 17 minutos”; “Centro via Rebouças: 17 minutos”. Qualquer pessoa normal teria interpretado isso como um erro, um bug.

Mas eu sou astrônomo e físico, o que me coloca um pouquinho à margem da normalidade (só um pouquinho!). Se da Gávea eu levo 17 minutos até o centro, via Rebouças, mas eu levo exatamente 17 minutos para chegar ao túnel, então só há uma resposta possível…

Buracos de minhoca! É claro, óbvio e evidente que alguma distorção do espaço-tempo (o famoso “warp”) vai me fazer percorrer toda a extensão do túnel Rebouças (mais o elevado Paulo de Frontin, no Rio Comprido) em exatamente 0 minuto! Só assim vou respeitar o que está escrito no letreiro luminoso.

Ah! Os buracos de minhoca… Originalmente chamados de “pontes de Einstein-Rosen”, eles unem dois pontos distintos do espaço-tempo através de uma distorção gravitacional. Quando o comandante Kirk ordena que sua nave viaje com velocidade warp, é isso que ele está dizendo: “distorça o espaço-tempo de modo que nosso destino fique consideravelmente mais próximo de nós do que ele está agora, e assim minha viagem seja encurtada em sua duração”. (OK, não precisa ser um gênio do cinema para entender que esta frase JAMAIS entraria em um filme…)

Infelizmente, não há o menor vislumbre tecnológico de que algum dia conseguiremos manipular o espaço-tempo desta maneira, construindo pontes de Einstein-Rosen em nosso benefício.

É… o aviso luminoso devia estar com algum defeito naquele dia…

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Viva o besouro!

Outro dia estava assistindo a uma notícia em algum jornal televisivo e a imagem me impressionou. A tela cheia mostrava uma floresta de coníferas (já não saberia dizer onde, mas provavelmente no Canadá) sendo devorada por uma praga de besouros.

O motivo da praga era, como não poderia deixar de ser, o vilão da vez: o aquecimento global. Dizia a notícia que a elevação da temperatura em menos de um grau centígrado foi suficiente para criar condições mais propícias para a reprodução do besouro. Resultado: uma praga que está devorando as florestas do Canadá.

Pobres coníferas… sofrem muito com o aquecimento global. Mas alguém perguntou para os besouros o que eles acham disso?!?

 

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Cruzando o Universo. Ou não…

A notícia era simples e direta: foi encontrado um novo anel em Saturno. Isso por si só já me causa um certo incômodo… Sim, pois o sistema anelar de Saturno deveria ser entendido como uma faixa contínua de detritos que circundam o planeta, algumas regiões mais densas e outras menos.

Acho que, do ponto de vista científico, a manchete deveria ser: foi descoberta que a região dos anéis de Saturno é mais extensa do que se pensava. Mas, é claro, isso dilui (e muito) a força da notícia. E de modo nenhum critico o jornalismo sério que, vez ou outra, precisa exagerar em suas manchetes. É a manchete que prende o leitor (ou telespectador) e, portanto, ela é fundamental para o sucesso da notícia. Se o texto que se segue for correto, que mal há em se “aditivar” a chamada?

Pois era essa a manchete: um novo anel foi descoberto ao redor do planeta Saturno. E acompanhando a cobertura do telejornal de maior audiência de nosso país, vejo o correspondente nos EUA abrir a matéria com a seguinte frase:

“O telescópio Spitzer, que cruza o Universo…” (estou citando de memória; posso ter errado a palavra exata, mas o sentido certamente é o mesmo…)

Eu não sei quanto a vocês, mas quando ouço esta frase penso logo em algo ao estilo da fictícia nave Enterprise, do seriado de televisão Jornada nas Estrelas (e dos filmes, claro!). “Cruzar o Universo” me leva longe, “a lugares nunca antes visitados”. Imagino o vazio espacial, a solidão do vácuo, a distância infinita. E lá está o telescópio Spitzer singrando o nada interestelar… Isso, para mim, é “cruzar o Universo”: ir de um lado a outro, deste vasto, vasto Cosmos!

O telescópio Spitzer é um dos quatro grandes observatórios da NASA, todos telescópios espaciais. Os outros três são o Compton, o Chandra e, claro, o mais famoso de todos, o Hubble. O Spitzer está em órbita heliocêntrica, ou seja, ele fica dando voltas ao redor do Sol. Dá uma volta a cada ano. Isso não parece familiar? Seu movimento pelo espaço é exatamente igual ao da Terra: órbita solar com período de um ano.

Você diria que a Terra “cruza o Universo” ao descrever seu movimento? Certamente eu não diria isso. Ou seja, como frase de abertura para uma notícia, pode ter sido muito bela. Mas acho que induz o telespectador ao erro.

Se dependesse de mim, a matéria teria começado com a seguinte frase: “o telescópio Spitzer, em órbita do Sol…” Bem menos poético, eu sei, mas bem mais acurado. Mas talvez eu esteja sendo hipercuidadoso. O que não deixa de ser bom, para quem lida com divulgação científica…

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Qual é a sua frase preferida de Einstein?

Hoje terminei um curso na ENAP, Escola Nacional de Administração Pública. Estava alimentando meu lado não-astrônomo, que muitas vezes fica abandonado, esquecido, relegado ao segundo plano. O curso em si não cabe aqui para ser comentado. Mas fiquei impressionado com as citações de Einstein que o professor (um administrador) usou! Talvez Einstein seja a pessoa mais citada da face da Terra! (Provavelmente Shakespeare ganha, mas sendo autor teatral, ele quase seria um caso à parte, ou “café-com-leite”, como se diz por aí…)

A citação surgiu em meio a um estudo de caso, ligado diretamente à administração. Cito, de memória, o professor citando Einstein. Posso estar errando algo… Disse Einstein: “Há duas coisas realmente infinitas. Uma é o Universo. A outra é a estupidez humana. E não estou tão certo assim sobre a primeira…”

Confesso que não me recordo o contexto no qual Einstein disse essa frase. Seca e incisiva, ela destoa da figura doce e brincalhona que todos guardamos do grande cientista. Certamente algo o havia irritado. E muito!

Há outras frases famosas de Einstein. Gosto muito de “Deus não joga dados com o Universo” e de “A imaginação é mais importante do que o conhecimento”.

E você? Qual é a sua frase preferida de Einstein?

 

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Translação ou Revolução?

 

 A idéia de que a Terra se move é relativamente nova, se considerarmos que as mais antigas ciências surgiram com a civilização humana (algo entre 7 mil e 10 mil anos atrás). Ainda que alguns pensadores antigos, notadamente Aristarco de Samos, na Grécia, tenham defendido que a Terra era um planeta como outro qualquer e que, portanto, movia-se pelo vazio do espaço, o paradigma científico, desde a época de Aristóteles (século IV antes da Era Comum), sempre foi considerar a Terra fixa, no centro do Universo.

(A própria palavra Universo surgiu a partir desta concepção equivocada. Se a Terra estava fixa, no centro, a única maneira de explicar o ciclo diário dos objetos celestes era supor que giravam todos em uníssono. O conjunto dos objetos celestes passou a ser chamado de “aquilo que gira como algo único”, unus verterem, em latim. Daí a origem da nossa palavra Universo.)

Mas a Terra se move, hoje já não há mais dúvidas. A revolução copernicana, em meados do século XVI, colocou nosso planeta em seu devido lugar: girando ao redor do Sol. Copérnico não conseguiu se livrar de sua educação aristotélica por completo e preconizou órbitas circulares; estava errado. Kepler, em 1609, defendeu corretamente que as órbitas planetárias (a da Terra inclusive) eram elipses.

A alternância entre os dias e as noites, bem como todos os ciclos diários vistos no céu eram causados pelo movimento de rotação, que a Terra realiza em torno de si, com período de cerca de 24 horas. Já a mudança das estações, o caminho do Sol pelo Zodíaco, o movimento retrógrado dos planetas, tudo isso é conseqüência de um outro movimento terrestre, que nosso planeta faz ao redor do Sol: a translação.

Translação? Seria esse o nome correto deste movimento da Terra? Ou este movimento, por ser cíclico, não deveria ter sido batizado de revolução? Curiosamente, foi este o termo usado originalmente pelo próprio Copérnico, como atesta o título de sua obra maior: “Da Revolução das Orbes Celestes”. Chega a ser até curioso perceber como uma palavra nos serve tão bem a dois propósitos distintos.

A palavra “revolução” tem várias acepções; segundo o Dicionário Aurélio, revolução é uma “transformação radical dos conceitos artísticos ou científicos dominantes numa determinada época”. Assim, é óbvio que estamos, ao migrarmos do sistema geocêntrico para o heliocêntrico, em meio a uma revolução. A revolução copernicana. Mas a palavra “revolução”, ainda segundo o Aurélio, também significa “volta, rotação, giro”. Ou seja, a palavra “revolução” descreve muito bem o movimento que a Terra faz ao redor do Sol.

Está mais do que correto, portanto, dizer que os dois principais movimentos da Terra chamam-se rotação (ao redor de si mesma) e revolução (ao redor do Sol).

E a translação? Confesso que não sei quando este termo entrou na Astronomia (mas a pesquisa continua!). É quase certo que tenha surgido, nesse contexto, primeiramente em francês. Mas chamar o movimento da Terra de translação é um erro do ponto de vista físico, pois a palavra “translação”, sempre de acordo com o Aurélio, significa “movimento de um corpo em que todas as partículas têm em cada instante a mesma velocidade e esta mantém uma direção constante”. Esta definição, um pouco hermética, equivale a dizer que a translação é o deslocamento de um corpo, em movimento uniforme, ao longo de uma linha reta. Isso, obviamente, a Terra não faz ao redor do Sol.

O erro é tão antigo e está tão arraigado em nossa língua que o próprio Dicionário Aurélio registra, logo depois, a definição de “translação da Terra”! E define este termo como o movimento que o nosso planeta realiza ao redor do Sol. Parece-me que este movimento, então, sofre de uma identidade dupla. Do ponto de vista mecânico, seguindo as leis da Física, este é um movimento de revolução. Mas de acordo com o uso comum — e a própria Astronomia! –, este movimento possui um nome próprio: Translação (que, a rigor, deveria ser grafado sempre com letra maiúscula, pois se trata agora de um nome próprio).

Resumindo, os dois principais movimentos da Terra (na verdade, de qualquer planeta do Sistema Solar) são a rotação e a revolução. Para o nosso planeta, em especial, a revolução, movimento cíclico ao redor do Sol, ganhou, por misteriosas razões lingüístico-astronômicas, o nome de Translação.

Retomando a pergunta inicial. Translação ou revolução? Tanto faz, desde que se saiba o que se está querendo dizer.

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Equações de Maxwell

Estas equações relacionam o campo elétrico () e o campo magnético (), juntamente com suas variações no espaço (representadas pelo operador diferencial nabla – ) e no tempo . Nas equações de Maxwell também aparecem a corrente (), a densidade de cargas elétricas () e e duas grandezas inerentes ao meio em que os campos elétrico e magnético se propagam: a permissividade () e a permeabilidade (); no caso do vácuo, aparece o subscrito 0.

 1. Lei de Gauss para o campo elétrico    
    

 2. Lei de Faraday-Henry    
    

 3. Lei de Gauss para o campo magnético    
    

 4. Lei de Ampère-Maxwellv    
    

Uma manipulação habilidosa deste conjunto de equações, bastante simplificadas se considerarmos regiões do espaço sem cargas e correntes, resulta em um par de outras equações que são prontamente reconhecidas como equações de ondas:

A teoria ondulatória nos diz que a velocidade de propagação de uma onda é dada pela raiz quadrada do inverso da constante que multiplica o termo temporal de sua equação. Assim, a onda elétrica (e também a magnética) se propaga no vácuo com uma velocidade de

(É muito importante frisar que este valor é calculado, e não medido. Os valores numéricos de
e de são obtidos, e só então é calculada a velocidade da luz).

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Os Primórdios da Relatividade: Einstein

Por Alexandre Cherman (alexandre.cherman@planetario.rio.rj.gov.br)

Invariância é uma propriedade que algumas leis físicas possuem sob certas transformações de sistemas de coordenadas. Ela é muito importante visto que pode ser considerada uma medida da abrangência da validade das equações que regem os processos físicos. As transformações de Galileu mantinham invariantes as equações de movimento propostas por Newton, e isto apenas reforçava a importância da visão do mundo sugerida pelo físico inglês.

Com o surgimento de um novo ramo da física, o eletromagnetismo, percebeu-se que as equações de Maxwell não eram invariantes sob transformações de Galileu. Esta constatação levava à óbvia (e perigosa) bifurcação: ou mexia-se nas transformações de Galileu ou mexia-se nas equações de Maxwell.

Confiante na validade da cinemática proposta pelas equações do eletromagnetismo de Maxwell, Einstein se propôs a encontrar um conjunto de transformações de coordenadas que mantivessem intactas as formas destas equações. Mais precisamente, fez isso através de dois postulados básicos:

1. As leis da física assumem a mesma forma em todos os referenciais inerciais;

2. Em qualquer referencial inercial a velocidade da luz, é sempre a mesma, seja emitida por um corpo em repouso ou por um corpo em movimento uniforme.

Vemos que o primeiro postulado nada mais é do que o argumento de invariância já descrito aqui (repare sempre que Einstein, neste momento, exclui forças e acelerações).

O segundo postulado é o mais importante, por assim dizer. Ele representa uma quebra do bom senso. Imaginemos um lançador de bolas de tênis que lance as referidas bolas a uma velocidade de 10m/s. Vamos colocá-lo, agora, em cima de um caminhão que esteja andando a 5m/s. É óbvio que para um desafortunado tenista que esteja frente a frente com o veículo, as bolas estarão chegando com uma velocidade de 15m/s. O que o segundo postulado de Einstein nos diz é que se o lançador estiver arremessando “bolas de luz” (a 300.000km/s), tanto faz ele estar parado ou em cima de um caminhão em movimento (com uma velocidade de 5m/s ou 200.000km/s): a velocidade das “bolas de luz” será sempre de 300.000km/s. É este desafio ao bom senso que a Relatividade nos apresenta.

Para entendermos como isso é possível, fisicamente, basta abandonarmos a lei de adição comum que usamos para as velocidades (em nosso caso acima, 5+10=15). A nova lei de adição de velocidades, proposta por Einstein, é:

Como em nosso caso, e na grande maioria dos fenômenos cotidianos, a razão

é muito pequena, podemos tomá-la como zero, recaindo na fórmula usual de adição.

Por que Einstein propôs a velocidade da luz como um limite físico para o movimento (sim, pois vemos pela nova regra de adição que nada poderá viajar mais rapidamente do que a luz)? Se a confiança de Einstein na nova dinâmica proposta por Maxwell era limitada, podemos dizer que era total quanto à cinemática. Assim, as equações da onda eletromagnética deveriam ser válidas independentemente da velocidade do observador em relação à luz.

O que veria alguém que viajasse na velocidade da luz? A princípio, não veria nada. Sim, pois as ondas eletromagnéticas não o alcançariam. Mais precisamente, neste referencial comum, a velocidade de propagação da onda é zero, descaracterizando-a como tal. A onda luminosa deixa de existir! Einstein se recusou a concordar com isso. Surgia, então, seu segundo postulado.
A partir de seus dois postulados, Einstein obteve um conjunto de transformações entre dois referenciais inerciais que mantivessem as equações de Maxwell inalteradas. Não por acaso, as transformações obtidas eram as próprias transformações de Lorentz para um deslocamento relativo na direção

Devemos atentar para o fato de que, na época desta sua conclusão, o físico alemão não tinha conhecimento nem da experiência de Michelson e Morley, nem da solução proposta por Lorentz.

Começava aqui o longo caminho de sucesso de um novo ramo da física.

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Os Primórdios da Relatividade: As Transformações de Lorentz

Toda onda necessita de um meio material para se propagar. O som que ouvimos normalmente nada mais é do que variações de pressão em pequenas faixas de ar. Como se costuma dizer na literatura de ficção científica, “no vácuo, ninguém pode ouvir você gritar”; não há um meio para as ondas sonoras viajarem. A onda de luz, e posteriormente a onda eletromagnética, utilizava-se do éter luminífero (aether luminipherus = “ar portador de luz”) para viajar pelo espaço. Este era uma substância estranha e misteriosa que preenchia o espaço vazio, remetendo às idéias clássicas da “quinta essência” de Aristóteles e dos neoplatônicos.

Uma vez que se sabia bem o que era luz, pensou-se em usá-la para estudar o éter. Mais precisamente o movimento da Terra através dele. Em 1881, o físico americano Albert Michelson concebeu um instrumento por ele batizado de interferômetro. Esse aparelho servia para dividir um raio de luz em dois feixes distintos, remetendo cada um deles em uma direção e reunindo-os novamente a seguir. Se os dois feixes percorressem precisamente a mesma distância, com a mesma velocidade, eles se juntariam depois ainda na mesma fase (a luz permanecendo inalterada). Mas se a distância percorrida ou a velocidade mudassem, mesmo que ligeiramente, os feixes reunidos estariam fora de fase e o aparelho registraria uma interferência semelhante à obtida por Young oitenta anos antes.

Michelson projetou os dois feixes de luz em percursos perpendiculares – um dos quais seguia na direção do movimento da Terra através do éter. Como a composição das velocidades (da luz em relação à Terra e da Terra em relação ao éter) seria diferente para os diferentes feixes, o aparelho deveria acusar uma interferência na chegada das ondas. Isso não foi encontrado.

Michelson atribuiu o fracasso de seu experimento ao método utilizado para as medições. Por vários anos ele refinou sua aparelhagem tentando medir as franjas de interferência, por menor que fossem. Já em 1887, auxiliado pelo químico americano Edward Morley (1838-1923), ele executou sua derradeira experiência e mais uma vez não obteve os resultados esperados. Várias explicações pouco prováveis (entre elas a de que a Terra “arrastava” uma porção do éter em seu movimento e por isso a velocidade relativa entre ambos era zero) foram sugeridas, mas nenhuma foi de fato levada a sério. Talvez a experiência de Michelson e Morley tenha sido o fracasso mais importante da história da ciência moderna.

Em 1892, o físico irlandês George Fitzgerald (1851-1901) propôs uma solução para o problema que rompia as barreiras do bom senso. Disse ele que o espaço (i.e., a distância percorrida) se contraía na direção do movimento. Essa mudança na distância seria tal que manteria em fase os feixes de luz viajando em direções distintas. A contração de Fitzgerald, como é conhecida, lembrava o ideal platônico de “salvar os fenômenos”, visto que era uma hipótese complicadora proposta ad hoc.

Seguindo os passos de Fitzgerald, o físico holandês Hendrik Lorentz (1853-1928), em 1895, corroborou a contração de Fitzgerald, incorporando-a às suas idéias sobre sistemas em movimento, e foi mais além. Lorentz postulou que a massa de uma partícula qualquer aumentava à medida que esta atingia velocidades cada vez maiores. Começava aqui a surgir a noção da velocidade da luz como limite máximo no Universo. Este aumento de massa foi medido em laboratório cinco anos depois. Lorentz também ressaltou o fato de que uma contração na distância acarretaria uma dilatação do tempo (o tempo passa mais devagar para quem está se movendo).

Lorentz propôs um conjunto de equações que descreviam estes “fenômenos”. Por deformarem espaço e tempo, estas equações mantinham constante a velocidade da luz, pois velocidade é espaço percorrido dividido pelo tempo. A figura de interferência era impossível, pois a luz sempre viaja com a mesma velocidade, independente da velocidade com que esteja viajando sua fonte!

Um certo físico alemão chegou a estas mesmas conclusões, apesar de ter trilhado um caminho diferente.

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Os Primórdios da Relatividade: O Eletromagnetismo

O caminho histórico que nos leva à Teoria da Relatividade, proposta pelo físico alemão Albert Einstein (1879-1955) em 1905 e posteriormente generalizada por ele mesmo em 1915, começa (se é que é possível fixar um início exato para uma revolução ou descoberta) com a unificação da eletricidade e do magnetismo, cujo primeiro vislumbre se deu através dos experimentos do físico dinamarquês Hans Christian Orsted (1777-1851).

Antes dele, muitos já cogitavam a hipótese de que eletricidade e magnetismo possuíam algum tipo de relação. Afinal, ambos apresentam-se em dois aspectos opostos (no caso da eletricidade, temos as cargas positivas e negativas; no caso do magnetismo, temos os pólos norte e sul). Nos dois casos os opostos se atraem e os semelhantes se repelem. Ainda em ambos os casos, as forças de repulsão e atração diminuem com o quadrado da distância (dobre-se a distância entre duas cargas ou pólos e a força que sentiam será quatro vezes menor do que antes).

Em 1820, Orsted (em sala de aula) aproximou o ponteiro de uma bússola de um fio por onde passava uma corrente elétrica. Para surpresa geral, o ponteiro mudava sua posição, deixando de indicar o pólo norte. Caso a corrente fosse invertida, invertia-se também a posição do ponteiro. Ficava claro que a presença de uma corrente elétrica no fio perturbava as propriedades magnéticas das proximidades.

Esta idéia ganhou força com os experimentos de outros eminentes físicos da época. Ainda em 1820, o francês André-Marie Ampère (1775-1836) mostrou que dois fios paralelos que apresentassem correntes na mesma direção se atraíam. Se as correntes fossem em direção oposta, os fios se repeliam. Outro francês, François Aragos (1786-1853), demonstrou que se uma corrente passasse por um fio de cobre, este poderia atrair e manter filamentos de ferro, exatamente como um ímã. Por fim, o alemão Johann Schweigger (1779-1857) observou que a quantidade de deflexão da agulha variava em proporção à força da corrente no fio, em referência à experiência original de Orsted (inventando assim o galvanômetro – aparelho que mede a intensidade da corrente em um fio).

Estas descobertas provocaram uma avalanche de experimentos científicos. No ano seguinte, o físico inglês Michael Faraday (1791-1867) organizou um circuito elétrico que incluía dois fios e dois magnetos. Em um dos casos, o fio era fixo e o ímã era móvel. No outro, era o ímã que ficava fixo e o fio móvel. Quando a corrente passava através do fio, o fio móvel movia-se em torno do magneto fixo e o magneto móvel movia-se em torno do fio fixo. Dessa maneira, Faraday demonstrou pela primeira vez que as forças elétricas podiam produzir movimento.

Independente desta conclusão (que daria origem ao dínamo e aos motores elétricos), Faraday propôs a existência de linhas de força ao redor do fio: um campo magnético gerado pela corrente. Começou com esta experiência a concepção que hoje é um dos pontos centrais da física: a de que o Universo é permeado por campos, que são os condutores das forças.

Paralelamente a estas descobertas físicas, o matemático alemão Carl Gauss (1777-1855) desenvolveu seu teorema da divergência (também conhecido por teorema de Gauss), que relaciona o fluxo através de uma superfície fechada com a quantidade contida no volume definido por esta superfície. Uma vez que se percebeu que a eletricidade e o magnetismo podiam ser representados por campos, o teorema de Gauss simplificava bastante a compreensão de certos resultados.

Dispondo do cálculo integral e diferencial, o matemático britânico James Clerk Maxwell (1831-1879) conseguiu, em 1855, traduzir o conceito de Faraday para a forma matemática e demonstrar que a visão intuitiva do físico inglês sobre as linhas de força estava correta. Maxwell teve a habilidade necessária para compilar os trabalhos da época e interligá-los em um conjunto de quatro equações que são conhecidas como as equações de Maxwell.

Estas equações nos mostram que uma variação do campo elétrico gera um campo magnético e vice-versa. Assim, ao se propagar no vácuo (ou em qualquer outro meio), uma onda elétrica gera uma onda magnética. Temos, na verdade, um conjunto indissolúvel conhecido como onda eletromagnética. Estavam unificados os campos elétrico e magnético, dando origem ao ramo da física conhecido por eletromagnetismo.

Não por acaso, a velocidade calculada para a onda eletromagnética coincidia com o valor conhecido na época (bastante correto) para a velocidade da luz. Sabia-se também, através dos resultados experimentais obtidos em 1801 pelo físico inglês Thomas Young (1773-1829) envolvendo os fenômenos de difração e interferência, que a luz era uma onda. Ela, que já havia sido “o mais imaterial dos corpos” segundo os neoplatônicos, e também um fluxo contínuo de corpúsculos como primeiramente pensado por Isaac Newton (1642-1727), mostrava-se agora como uma onda eletromagnética. Este novo status permitia uma manipulação numérica mais precisa e conseqüente melhora nos resultados experimentais e nas previsões teóricas.

Mas, se a luz é uma onda – e uma onda nada mais é do que uma perturbação em um certo meio – o que a onda luz ondula, afinal?