Há dez anos, vários astrônomos do mundo todo se reuniram em Praga (República Tcheca), na 26ª Reunião Anual da União Astronômica Internacional (cuja sigla em inglês é IAU). Entre os diversos assuntos a serem tratados, um era realmente palpitante: a definição de PLANETA.
A causa da discussão era o então planeta Plutão. Desde sua descoberta em 1930, pelo americano Clyde Tombaugh (1906-1997), muita coisa mudou. Naquela data, a imagem do astro não passava de um ponto luminoso contra um fundo de estrelas fixas. Foi preciso comparar fotos tiradas em dias diferentes para notar o movimento lento de Plutão em relação as estrelas.
Com o desenvolvimento de telescópios mais potentes em terra e no espaço, podemos calcular o diâmetro de Plutão. Logo se percebeu que o astro era muito pequeno e isso detonou uma discussão sobre sua natureza: seria mesmo um planeta ou apenas um asteroide? Na década de 30, se achava que Plutão tinha a massa da Terra. Dez anos depois, o astrônomo Gerard Kuiper (1905-1973) calculou que sua massa era um décimo deste valor. Hoje sabemos que Plutão não chega a 0,2% da massa terrestre e seu diâmetro é de uns 2370 km (menor que a nossa Lua).
Com o avanço das observações, se descobria cada vez mais corpos além da órbita de Netuno. Hoje aquela região é conhecida como Cinturão de Kuiper, onde milhares de pequenos corpos gelados orbitam; Plutão é apenas um destes corpos, talvez o maior deles.
O que levou a IAU a ter que definir o que é planeta e reclassificar Plutão foi a descoberta, em 2003, de um corpo pouco menor que este. Este astro recebeu o nome da deusa grega Éris da discórdia e foi o estopim de toda acirrada discussão acerca do tema. Depois de muita polêmica, a IAU criou três critérios para um astro ser considerado “planeta”:
- O objeto precisa estar em órbita ao redor do Sol. Isto descarta todos os satélites naturais.
- O objeto precisa ter massa grande o suficiente para torná-lo esférico pela própria gravidade. Isto descarta muitos asteroides e cometas com suas formas irregulares (parecendo batatas).
- Ele precisa ser gravitacionalmente dominante, ou seja, na órbita do objeto não pode haver outros objetos cuja massa somada seja maior que a sua própria.
Plutão não satisfaz o terceiro critério, só Éris tem quase a massa de Plutão. Criou-se a categoria “planeta anão” para Plutão, Ceres, Éris e outro objetos do Cinturão de Kuiper.
Houve muita polêmica e ainda existe em torno do tema. Não foi um “rebaixamento”, apenas uma classificação mais coerente, mas nem todos gostaram disso.