O pulsar de um coração
O que se espera de um coração é que ele pulse, bata, sem parar. Então não tem nenhuma novidade no título deste texto, não é? A resposta é sim, se estivéssemos falando de um coração normal. Mas vou explicar.
O homem sempre busca formas conhecidas quando observa o céu. Foi assim com as constelações (Órion, Escorpião, etc.), há mais de cinco mil anos na Mesopotâmia, ou com índios no Brasil (Anta, Ena, etc.). Continua assim quando nomeamos as nebulosas e supernovas (Anel, Esquimó, Caranguejo, etc.). Já identificamos um rosto em Marte ‒ que nada mais era uma formação geológica, já desfigurada pela ação do vento e da erosão. Quando olhamos a Lua cheia podemos ver um “poodle”, ou um coelho, ou ainda um velho carregando um monte de feno. Basta usar a imaginação.
Desde que a sonda New Horizons (Novos Horizontes) chegou em Plutão, em 2015, e começou a nos enviar as suas imagens, uma formação em sua superfície chamou a atenção: um coração! É deste coração que estou falando.
Esta enorme região é chamada de Planície Sputnik e se mantém mais jovem que as demais partes de Plutão. Isso ocorre por um processo chamado de convecção. O gelo de nitrogênio é aquecido em partes subterrâneas do planeta e sobe para a superfície, espalhando-se e renovando a região, apagando marcas, como crateras, mantendo-a sempre “jovem”. Esse processo é lento – podemos fazer uma comparação com o crescimento das unhas, que é de alguns milímetros por mês. Em Plutão, esse processo de renovação da superfície leva milhares de anos (de 500.000 a um milhão de anos), mas pode ser determinado por simulações de computador.
Por enquanto, o coração está ativo, pulsando, mas daqui há alguns milhões de anos o coração poderá mudar de forma e vamos ter que buscar uma nova imagem para o “coração de Plutão”.