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Coluna do Astrônomo

Trânsito de Vênus e Planetas Extrassolares

 

Hoje, 5 de junho de 2012, e amanhã, 6 de junho de 2012 ocorrerá um trânsito de Vênus. O último ocorreu em 2004 e o próximo ocorrerá em 2117.

O Trânsito de Vênus em 8 de junho de 2004, que vemos na imagem abaixo, foi um dos eventos celestes mais bem fotografados. Enquanto esperamos as fotos do trânsito de 2012, podemos relembrar esse memorável trânsito de oito anos atrás.

 

Se você não encontrou Vênus, imagine uma linha horizontal cortando o Sol em duas metades. A imagem de Vênus é aquele círculo logo abaixo da linha horizontal na extremidade direita do disco solar.

O Trânsito de Vênus em 2004 foi especialmente importante devido ao projeto VT-2004 (do inglês Venus Transit-2004), liderado pelo Observatório Europeu do Sul, ESO (da sigla em inglês de European Southern Observatory) e pela Associação Européia para Educação em Astronomia, EAAE (da sigla em inglês de European Assossiation for Astronomy Education).

Particularmente, eu gosto muito de projetos de Astronomia que envolvam cientistas e público. E o projeto VT-2004 foi um projeto desse tipo. Cientistas e estudantes observaram o trânsito de diferentes lugares da Terra. As observações em diferentes latitudes, devido ao efeito de paralaxe, permite encontrar a distância entre a Terra e o Sol. Esse método foi utilizado na primeira vez no trânsito de Vênus de 1639.

Já o trânsito de 2012 oferece uma lista de oportunidades de pesquisas, especialmente interessantes para a busca e análise de planetas extrassolares:

• Determinar a diminuição do brilho de uma estrela durante o trânsito de um planeta – ajudará a refinar uma das técnicas de se encontrar planetas extrassolares;

• Medida do diâmetro aparente de Vênus, e compará-lo com seu diâmetro real – ajudará a estimar tamanhos de planetas extrassolares;

• Observação simultânea da atmosfera venusiana, com telescópios da Terra e com a sonda Venus Express – permitirá conhecer camadas mais profundas da atmosfera do planeta, o que melhorará nosso conhecimento sobre o clima por lá;

• Estudo da atmosfera de Vênus por espectrografia – servirá de base de comparação para estudos semelhantes com atmosferas de planetas extrassolares;

• O Telescópio Espacial Hubble vai verificar a luz refletida por Vênus na Lua (isso vai ser muito legal!) para determinar sua composição – talvez isso forneça uma outra maneira de estudar planetas extrassolares.

Como vemos, sempre estudamos astros distantes utilizando estudos feitos com astros próximos. Conhecendo bem o Sol podemos conhecer melhor estrelas distantes, e tirando o máximo de informação do trânsito de Vênus, podemos conhecer melhor os planetas extrassolares, que também produzem trânsitos nas estrelas que orbitam.

Não é nada fácil encontrar periodicidades em fenômenos astronômicos, mas os trânsitos de Vênus ocorrem em ciclos de aproximadamente 243 anos. Dois trânsitos separados por 8 anos ocorrem, e, depois de aproximadamente 121 anos e 6 meses  ocorrerão mais dois, também separados por 8 anos. Depois desses últimos, passam-se mais cerca de 105 anos e 6 meses para outros dois trânsitos separados por 8 anos, recomeçando o ciclo.

Em outras palavras, partido do trânsito de 1874, temos os seguintes eventos:

• dezembro de 1874 e dezembro de 1882 – 8 anos

• 121 anos e 6 meses depois…

• junho de 2004 e junho de 2012

• 105 anos e 6 meses depois, o ciclo recomeça…

• dezembro de 2117 e dezembro de 2125

A sequência segue, e muito outros trânsitos de Vênus ainda poderão ser vistos enquanto existir o Sistema Solar. E, claro, humanos para observá-los. Pode ser que o árido e tórrido Vênus nos ajude a encontrar planetas de clima agradáveis e, quem sabe, habitáveis pelo Universo.

 

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Uma Linda Modelo

 

A União Soviética foi a grande pioneira da conquista espacial. Mandou o primeiro animal para o espaço, o primeiro homem, colocaram o primeiro satélite artificial em órbita, enviaram a primeira sonda que tirou fotos diretamente na superfície lunar, criaram a primeira estação espacial, entre outros feitos. Já como Rússia,  para superar uma crise econômica que abalou seriamente seu programa, inventou o turismo espacial. E para quem pensou que essa turma pendurou as chuteiras, dê uma olhada na foto acima:

Essa é a foto de mais alta resolução de nosso planeta, com cerca de 1 pixel por quilômetro. Foi tirada pelo satélite geoestacionário russo Elektro-L, lançado em janeiro de 2011. Trata-se de um satélite meteorológico, e, como tal, foi desenhado para obter boas imagens da atmosfera, que permitam monitorar nuvens, furacões e outras coisas que não são legais nos finais de semana. Furacões não são legais nunca…

Concepção Artística da Elektro-L

Um satélite geoestacionário acompanha a rotação de Terra, ou seja, está sempre no mesmo ponto do céu para quem observa aqui no chão. Para isso, a órbita é bastante alta e próxima à linha do equador, o que permite fotos como essa. Nessas condições, nada mais justo que um satélite russo meteorológico geoestacionário esteja voltado preferencialmente para a Russia. Não procure a América do Sul nessa foto.

A foto anterior mais famosa da Terra chama-se Blue Marble (mármore azul, em português), e foi obtida pela tripulação da Apollo 17, a última missão espacial que levou homens à Lua.

É um planeta bonito, não? Afinal, por melhor que seja a câmera de um fotógrafo, nenhuma foto é realmente bonita se a modelo não ajudar.

Dados técnicos sobre o Elektro-L podem ser obtidos nesse link:
http://goes.gsfc.nasa.gov/text/geonews.html#ELECTRO-L

Mais imagens do Elektro-L podem ser vistas aqui:
http://planet–earth.ca/

Leia mais aqui:
http://www.gizmodo.com.br/conteudo/esta-e-a-foto-definitiva-do-planeta-terra/

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Um Telescópio Gelado e os Raios Cósmicos

O IceCube é um telescópio localizado na Antártica. Como se já não fosse frio o suficiente estar na Antártica, o IceCube, cujo nome vem do inglês “cubo de gelo”, é um telescópio literalmente afundado no gelo daquele continente. Não poderia ter um nome melhor.

Em vez de observar luz, como o famoso telescópio espacial Hubble ou diversos outros telescópios em solo, o IceCube observa neutrinos, partículas que parecem ter massa muito pequena e interagem muito pouco com qualquer coisa. E observar algo é exatamente detectar a interação, como a interação da luz com nossa retina, ou a interação da radiação com um detector apropriado. Observar algo que interage pouco não é nada fácil. Por isso a observação de neutrinos é complicada e precisa ser feita em condições muito especiais, como no fundo do gelo da Antártica.

Nessa quarta-feira foi publicado um artigo na revista Nature que diz que observações do IceCube mostram que os chamados surtos de emissão de raios gama, ou GRB, sigla em inglês de Gamma-ray bursts, não liberam tanta energia como se pensava.

Os surtos de emissão de raios gama são emissões muito intensas de radiação que ocorrem devido a uma supernova, um evento que marca o fim de uma estrela e o aparecimento de uma estrela de nêutrons ou de um buraco negro. E se considerava que essa seria uma das principais fontes de raios cósmicos com altas energias.

O IceCube foi usado para medir os fluxos de neutrinos de várias centenas de fontes de GRBs, e os fluxos observados foram  menores que um terço do esperado. Se essas observações forem confirmadas, teremos que repensar o que sabemos sobre os mecanismos que produzem raios cósmicos.

Do fundo do gelo da Antártica podem estar saindo dados que nos farão rever o que sabemos sobre o espaço!

 

Veja também:

O comentário no blog da Revista Nature (em inglês)

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Quem Tem Medo de Tempestade Solar?

O Sol está entrando num período de grande atividade. Isso faz parte de um ciclo que se repete a, pelo menos, muitos milhões de anos, e não representa nenhum risco à vida na Terra, nenhuma ameaça ao clima de nosso planeta, nem vai produzir qualquer desastre global.

A superfície do Sol, a parte amarela que vemos dele, é chamada fotosfera. Sua temperatura é de cerca de seis mil graus. Manchas escuras aparecem constantemente na fotosfera, produzidas por material que aflora à superfície e chega ali um pouco menos quente, com temperaturas entre três mil e cinco mil graus aproximadamente. Diferença entre temperaturas estão correlacionadas a diferenças entre cores e isso é bastante evidente na Astronomia. As regiões menos quentes na superfície do Sol, chamadas manchas solares, parecem escuras por causa da diferença de temperatura. Outro exemplo de cor indicando temperatura está na cor da estrela como um todo: estrelas azuis são mais quentes que estrelas vermelhas.

Esquema da estrutura do Sol: (1) Núcleo, (2) Zona Radiativa, (3) Zona Convectiva, (4) Fotosfera, (5) Cromosfera, (6) Coroa, (7) Mancha Solar, (8) Grânulos e (9) Protuberância [fonte: http://commons.wikimedia.org/wiki/User:Pbroks13]
Esquema da estrutura do Sol: (1) Núcleo, (2) Zona Radiativa, (3) Zona Convectiva, (4) Fotosfera, (5) Cromosfera, (6) Coroa, (7) Mancha Solar, (8) Grânulos e (9) Protuberância [fonte: http://commons.wikimedia.org/wiki/User:Pbroks13]

Abaixo da fotosfera, existe uma região chamada zona convectiva, ou zona de convecção. Nessa região, a energia que está percorrendo seu caminho desde o núcleo do Sol passa a ser transportada por convecção, um movimento de um fluido. Vemos convecção na água fervendo, onde partes quentes sobem e partes frias descem. Algo muito semelhante ocorre na zona convectiva de uma estrela.

O Sol não é sólido, como a Terra, e sua rotação não é a de um corpo rígido. Ele gira mais rápido em seu equador e a velocidade diminui em regiões mais próximas dos polos. Essa rotação com diferentes velocidades é chamada rotação diferencial, e é justamente ela que produz um enrolamento nas linhas do campo magnético do Sol na região de convecção. Se as linhas enrolam além de um determinado limite, elas espiralam, como acontece com um elástico comum.

O resultado é uma punção de linhas de campo magnético que ultrapassam a superfície e atrapalham a convecção. Onde as linhas atravessam a superfície o fluxo da energia transportada diminui. Menos energia faz com que a temperatura nesses pontos diminua. Essas regiões, mais frias e com menos energia, onde as linhas de campo magnético atravessam a superfície do Sol, são as manchas solares.

A figura abaixo ilustra como a rotação diferencial do Sol provoca torção nas linhas do campo.

Rotação diferencial do Sol torcendo as linhas de campo magnético
Rotação diferencial do Sol torcendo as linhas de campo magnético

Uma experiência simples com um elástico pode os mostrar como acontecem os loopings magnéticos causados pela rotação diferencial do Sol. Repare como as espirais que surgem no elástico retorcido lembram as estruturas em arcos que observamos se formar na superfície do Sol.

Usei um elástico simples, de uma pasta de plástico, nas fotos abaixo.


Essa é a forma como compreendemos o fenômeno do enrolamento das linhas de campo magnético do Sol e a formação das manchas. A cada cerca de 11 anos o Sol passa por um período de máxima atividade, e todo esse processo se torna mais intenso e acontece em maior quantidade.

As linhas que formam as manchas podem se reconectar umas com as outras e, nesse processo, ocorrem os flares. O vídeo abaixo mostra um flare acontecendo.

Um outro evento que produz liberação de partículas com grandes energias é a ejeção de massa coronal, que normalmente está associada a flares, mas pode ocorrer independentemente. O vídeo abaixo mostra um evento de ejeção de massa coronal.

Além das erupções, flares e ejeção de massa coronal, há uma constante de emissão de partículas solares chamada vento solar. Quando essas partículas carregadas chegam na Terra são, em geral, capturadas pelo campo magnético de nosso planeta. Aceleradas para os polos, produzem as bonitas auroras, como na foto abaixo.

Aurora (Fotografia de Daniel Lopez - http://apod.nasa.gov/apod/ap120321.html)

Aurora (Fotografia de Daniel Lopez – http://apod.nasa.gov/apod/ap120321.html)

Eventualmente, as partículas carregadas, principalmente as emitidas por flares e ejeção de massa coronal, chegam à Terra com velocidades altas o suficiente para fazer com que elas ultrapassem o campo magnético terrestre. Quando isso ocorre pode haver interferência nas telecomunicações. Tais interferências são apenas temporárias.

Manchas, flares, ejeção de massa coronal e vento solar são o que chamamos de atividades solares. Elas acontecem sempre e apenas se intensificam a cada cerca de 11 anos, quando os enrolamentos das linhas de campo magnético acontecem em maior proporção. Quando as atividades são bastante intensas, dizemos que ocorrem as tempestades solares.

As atividades do Sol são um processo natural, como as ondas do mar, vento, trovões, chuva ou marés.

Absolutamente nenhum risco à vida existe por causa das atividades solares. Pode haver, sim, uma relação entre o crescimento de algumas árvores e o ciclo de 11 anos da atividade solar, e alguns estudos apontam para uma pequena relação também na variação do clima. Mas essas variações climáticas, se existirem, são realmente pequenas o suficiente para não merecerem qualquer cuidado especial. Você deve usar protetor solar e evitar exposição excessiva durante toda sua vida, independente do Sol estar dormindo ou em máxima atividade.

E não há absolutamente nenhuma relação entre as atividades solares e terremotos ou tsunamis. Como a entrada do Sol num período de maior atividade está coincidindo com o ano do fim do mundo, segundo uma profecia Maia (que não profetizou o fim físico do mundo, mas uma mudança de comportamento da humanidade), os alarmistas de plantão estão felizes. A quantidade de e-mails, textos em blogs e até notícias sugerindo algo de anormal no Sol aumentou muito nas últimas semanas.

Mas… não há nada de anormal acontecendo. Ao contrário, seria anormal se o Sol não entrasse em um período de aumento de atividades agora! Lamento ajudar a acabar com a festa dos que esperam a qualquer custo o fim do mundo. Mais uma vez, não vai ser dessa vez.

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Halo Solar de 22°

Passei o Carnaval de 2012 com amigos, na região serrana do Rio de Janeiro. Na terça feira, dia 21 de fevereiro, vimos um belo Halo Solar de 22°, na Cachoeira dos Frades, proximidades de Teresópolis. Esse fenômeno atmosférico não é exatamente raro, mas também não acontece todos os dias. E é muito bonito, principalmente visto de uma bela paisagem, às margens de um rio e com o som de uma cachoeira

Um halo como esse acontece quando existem cristais de gelo altos na atmosfera, entre 5 e 10 Km de altura, na região chamada Troposfera. Esses cristais são formados, em geral, em nuvens do tipo Cirros (as mais branquinhas que parecem flocos de algodão desfiados). Grande parte do céu fica recoberto por esses pequeninos grãos de gelo, e aqueles que estão perpendiculares aos raios de Sol produzem o Halo.

Halo Solar, 21/02/2012. Minha mão tampando o Sol para captar as cores com mais nitidez. Repare as nuvens finas (cirros), onde formam os cristais de gelo.

Os Halos podem ser observados em toda região que está recoberta pelos cristais de gelo. Mas quando você está observando um Halo, observadores em regiões mais afastadas podem também estar vendo um halo produzido por grãos de gelo diferentes daqueles que estão produzindo o Halo que você está vendo.

Esses pequenos cristais de gelo têm a forma de um sólido com seis lados, e funcionam como prismas. Milhares de prismas espalhados no céu!

Esquema da Refração dos raios solares num cristal de gelo hexagonal. Esses cristais, formados em nuvens do tipo Cirros, provocam o efeito óptico do Halo de 22 graus.

A figura ao lado mostra o caminho de um raio de luz solar entrando por um dos lados de um desses cristais de gelo, e sendo desviada duas vezes. Esse desvio da direção de propagação da luz, chamado Refração, ocorre quando a luz passa de um meio a outro, incidindo em um ângulo diferente de 90°. A primeira mudança de direção acontece quando a luz sai do ar e entra no cristal do gelo, e a segunda mudança quando ela sai do cristal de gelo e volta para o ar.

A mudança de caminho provoca uma separação das diferentes cores que compõem a coloração da luz do Sol, exatamente como acontece nos Arco-Íris. Mas, diferentes dos Halos, os Arco-Íris se formam devido a gotículas de água, e não a cristais de gelo. É a forma hexagonal e o alinhamento dos cristais de gelo que produzem a forma circular do Halo.

O ângulo final, com que o raio de luz sai do cristal de gelo, é de cerca de 22°. O menor valor é de 21.540 para a luz vermelha e 22.370 para o azul. Entre esses valores, ficam separadas as cores que compõem a luz solar e podemos enxergar com nossos olhos, sem telescópios.

O resultado é um belíssimo círculo brilhante no céu, com 22° de diâmetro, e com o Sol no centro. Para se ter uma ideia do tamanho desse Halo, uma linha no céu, partindo do horizonte e indo até o ponto exatamente sobre sua cabeça tem 90°. O diâmetro do Halo é de, aproximadamente, um quarto dessa distância.

As fotos desse Halo de Carnaval, foram tiradas com meu telefone celular. A maioria dos telefones já permite obter fotos bastante boas do céu. E, por mais animada que esteja a companhia dos amigos ou a folia, procure sempre sempre um tempo para olhar o céu.

Leandro L S Guedes

Halo de 22 graus – Cachoeira dos Frades, Teresópolis, 21/02/2012:

Halo de 22 graus – Cachoeira dos Frades, Teresópolis, 21/02/2012.

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Phobos-Grunt, uma pequena queda

No domingo, 14 de janeiro, caíram no oceano Pacífico fragmentos da sonda russa Phobos-Grunt, desenhada para ir à lua marciana Fobos e retornar com amostras do solo. A sonda ficou presa em órbita da Terra por uma falha em seus motores durante o lançamento. Essa seria a primeira missão russa interplanetária nos últimos 15 anos.

Sempre que um objeto em órbita da Terra entra nas camadas mais densas da atmosfera, sem os parâmetros de reentrada corretos, ele é destruído. Isso aconteceu com o ônibus espacial americano Columbia, em 2003, que perdeu uma parte de seu revestimento externo, alterando sua forma, e acontece propositalmente diversas vezes para destruir satélites que terminaram sua vida útil. Assim, quando a Phobos-Grunt reentrou na atmosfera, foi destruída e apenas fragmentos chegaram à superfície.

Algo muito parecido ocorreu com o satélite americano UARS, que ficou sem comunicação com a base na Terra, e se destruiu na atmosfera terrestre no fim de 2011.

O programa espacial russo vem tentando se reerguer e a falha do Phobos-Grut foi um lamentável evento. Em geral, as notícias que nos chegam sobre astronáutica falam de conquistas americanas, mas é fundamental lembrar dos inúmeros sucessos obtidos pela União Soviética e, mais tarde, a Rússia. Antes do primeiro homem (um americano) pisar na Lua, os soviéticos já tinham enviado o primeiro animal para o espaço, colocado o primeiro homem em órbita, enviado a primeira sonda para a Lua e a primeira sonda para Vênus.

Os caras não fizeram poucas coisas e não são nada fracos. Além da Rússia temos também outros países atualmente, como China e Índia, mostrando seus rostos na conquista do espaço. Apesar de muitas vezes (ou sempre?) a tecnologia espacial ter estado ligada às atividades militares, o conhecimento e o alcance humanos pegam uma boa carona.

Esse aparente insucesso da Phobos-Grunt, que certamente, não servirá para desestimular os russos, também me lembra a explosão de um foguete na base de lançamento de Alcântara, ocorrido no mesmo ano do acidente com o ônibus espacial Columbia. O acidente matou cerca de 20 pessoas e muitas críticas foram levantadas sobre a competência dos engenheiros e técnicos brasileiros, e sobre os investimentos para nossa própria auto-suficiência em lançamentos espaciais.

Bom, os programas espaciais russos e americanos não pararam nem caíram no descrédito de seus cidadãos com nenhum dos acidentes ocorridos.

Leia mais sobre a missão Phobos-Grunt e seu fim nesses links, em inglês:
http://en.rian.ru/world/20120115/170769403.html
http://en.rian.ru/infographics/20111115/168723275.html

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Marte no Seu Celular

 

A tecnologia da informação já ultrapassou em muito as fronteiras do computador de mesa ou do laptop. Os tablets estão se popularizando cada vez mais e os telefones celulares não são apenas telefones, mas equipamentos que podem colocar nas suas mãos, literalmente, qualquer informação disponível na internet.

Um aplicativo muito interessante desenvolvido pela Powellware (não pela NASA, como diz a notícia), chamado Mars Images, traz ao seu telefone ou tablet as últimas imagens geradas pelo Opportunity, um pequeno veículo que chegou a Marte em 2004 e tem enviado imagens de lá para a Terra. As imagens ficam em um banco de dados na NASA e são baixadas pelo aplicativo para seu dispositivo iOS ou Android. Testei no meu Tablet Android e funcionou muito bem. As imagens não sofrem tratamento ou edição. São disponibilizadas da mesma forma que são obtidas pelos equipamentos da Opportunity, sem cores ou qualquer trabalho de contraste.

A quantidade de imagens que temos do espaço é gigantesca e a tendência é sempre aumentar e se tornarem disponíveis para o público, já que a Astronomia é uma área do conhecimento extremamente fotogênica.

Existem outros aplicativos que trazem imagens do espaço para seu dispositivo. Já que você está lendo isso no site do Planetário, sei que você gosta de Astronomia. Se também gosta de tecnologia, explore os aplicativos que podem trazer um pouco do céu para sua mão. Existem muitos gratuitos, como o Google Sky Map, que transforma seu celular ou tablet numa carta celeste, e o Hubble Space Telescope, que exibe imagens obtidas pelo telescópio espacial.

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Extinção vinda do Espaço

No que diz respeito a tragédias globais vindas do espaço, o cinema só explorou até agora impactos de asteroides gigantes e invasões de alienígenas malvados. Agora, talvez, uma nova fonte de destruição em massa entre para o repertório hollywoodiano.

Em 2003, cientistas americanos disseram que uma forte emissão de raios gama poderia ter acabado com a vida na Terra há 440 mil anos. Não havia muitas evidências, mas, recentemente, o cientista Wilfried Domainko do Instituto Max Planck de Física Nuclear, na Alemanha, mostrou argumentos que defendem a teoria dos americanos.

Um forte pico de emissão de raios gama acontece durante a explosão de uma supernova, ou quando dois objetos compactos, como estrelas de nêutrons que resultam das supernovas colidem. Esse segundo mecanismo dura menos de dois segundos e pode acontecer com mais frequência em aglomerados globulares, que possuem muitos pares de estrelas em seu interior.

Os aglomerados globulares contêm as estrelas mais antigas da Galáxia. São conjuntos com milhões de estrelas e não se localizam no disco galáctico, onde está o Sol. Mas, como tudo se move no espaço, os aglomerados globulares, eventualmente, cruzam o disco.

Pela quantidade de aglomerados e pela taxa de produção desses picos de emissão de raios gama, Domainko diz que é possível ter acontecido ao menos um evento desses no último bilhão de anos. Domainko lembra também que raios gama, além de poderem produzir extinções em massa, podem também levar a mutações, o que pode provocar o aparecimento de novas espécies. De fato, a evolução da vida na Terra foi afetada por diversos eventos de extinção em massa e também por períodos de rápido desenvolvimento de novas espécies, como no período conhecido como Explosão Cambriana.

A missão GAIA, programada para ser iniciada em 2013, tem como objetivo mapear a Via-Láctea e fornecer dados que nos permitam conhecer mais sobre a evolução de nossa galáxia. Isso inclui formação e evolução das estrelas, suas velocidades etc. O possível papel dos raios gama na evolução da vida na Terra pode ser confirmado ou negado com essa missão.

O artigo original de Wilfried Domainko, em inglês, encontra-se nesse link: http://arxiv.org/pdf/1112.1792v1

Bom, caso o cinema comece de fato a utilizar eventos de forte emissão de raios gama para criar emocionantes histórias de fim de mundo, espero que lembre os telespectadores que a possível taxa de eventos desses nas proximidades do Sistema Solar é menor ou igual a um a cada um bilhão de anos.

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Vencendo o Ofuscamento Solar

O espectro eletromagnético nos mostra as possibilidades de emissões de radiação eletromagnética que temos na natureza. Uma parte do espectro eletromagnético, chamada faixa do visível, pode ser captada por nossos olhos e é composta por toda a luz que podemos enxergar. Mas uma enorme porção só pode ser captada por equipamentos especiais, como as faixas do ultravioleta, raios-X, microondas etc.

A sonda Voyager, o único objeto construído pelo homem que cruzou os limites do Sistema Solar, captou um tipo de radiação que produz as linhas de Lyman-alfa, que estão na região do ultravioleta do espectro eletromagnético. Essa radiação é gerada por átomos de hidrogênio, o elemento químico mais abundante do Universo, e está associada a regiões de formação estelar. Elas já foram observadas em galáxias distantes, mas, agora, nossa distante e solitária viajante espacial Voyager nos mostra essa emissão sendo captada aqui dentro da Via Láctea.

Se você mora em uma cidade grande, ou já visitou alguma, deve ter percebido que o fundo do céu noturno não é totalmente negro nessas regiões, como na noite do campo. O céu da cidade é mais claro porque as luzes iluminam poeira na atmosfera e nos impede de ver nebulosas, cometas e estrelas pouco brilhantes. Da mesma forma, o hidrogênio presente na atmosfera do Sol produz um efeito de ofuscamento que nos impedia de observar essas linhas produzidas aqui por perto.

As sondas Voyager, lançadas no fim da década de 1970, são verdadeiros tesouros tecnológicos. Além de estarem fazendo muito mais do que aquilo para o quê foram planejadas, estudar os planetas exteriores, elas são um sinal humano sendo levado cada vez mais distante no espaço. Bem mais distante que as pegadas que já deixamos na Lua.

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Estrelas Extremófilas Estremecem Estruturas do Estudo de Evolução Estelar

 

Repita o título desse post dez vezes sem enrolar a língua.

Astrônomos do projeto GALEX (do inglês, Galaxy Evolution Explorer), descobriram estrelas se formando em regiões de baixa concentração de gás, onde pensávamos que não seria possível haver formação estelar.

Nosso conhecimento de evolução estelar parece muito bom. Identificamos com facilidade regiões de intensa formação estelar e eventos que produzem os starbursts, ou surtos de formação estelar.

Observamos estrelas em formação nos discos de galáxias espirais, onde também encontramos grande quantidade de gás e poeira, ingredientes necessários para se produzir estrelas. Fora do disco, no halo, encontramos estrelas antigas, o que indica que ali, não há formação estelar. Galáxias elípticas são pobres em gás e possuem estrelas antigas, o que nos indica que essas galáxias já produziram estrelas com seu gás original e não mais produzem estrelas na época atual.

Entretanto…

O GALEX é um telescópio espacial que enxerga no ultravioleta em uma faixa bastante relacionada a estrelas em estágios iniciais de sua formação. Esse telescópio observou estrelas jovens em locais pouco, ou nada prováveis, como em gás perdido por galáxias e nebulosas pouco massivas para se esperar formação estelar. Uma estrela se formando no gás que foi retirado de uma galáxia, além de ser uma estrela se formando em uma região de muito baixa concentração de gás, é também uma estrela se formando fora de uma galáxia!

Existe um parâmetro, chamado Massa de Jeans, que utilizamos para verificar se a pressão interna de uma região de gás é suficiente para impedir o colapso gravitacional ou não. Se a Massa de Jeans indicar que o colapso é possível, essa região pode ser uma região de formação estelar. Talvez, essas novas observações de estrelas extremófilas nos leve a rever os termos com que calculamos a Massa de Jeans.

O termo “extremófilas”, que está sendo utilizado para se referir a essas estrelas, foi tomado emprestado da biologia, que o utiliza para fazer referência a organismos encontrados em regiões onde não seria possível a vida para a maioria dos outros organismos, como em regiões submarinas sob alta pressão, ou ambientes muito ácidos com pH por volta de 2.0 ou ainda mais ácido.

Acho que nem mesmo um extremófilo “esquisito” consegue ler o titulo desse post rápido e mais de dez vezes sem enrolar a língua…

Leia mais aqui (em inglês): http://science.nasa.gov/science-news/science-at-nasa/2011/07nov_stellarextremophiles/