Hoje, 5 de junho de 2012, e amanhã, 6 de junho de 2012 ocorrerá um trânsito de Vênus. O último ocorreu em 2004 e o próximo ocorrerá em 2117.
O Trânsito de Vênus em 8 de junho de 2004, que vemos na imagem abaixo, foi um dos eventos celestes mais bem fotografados. Enquanto esperamos as fotos do trânsito de 2012, podemos relembrar esse memorável trânsito de oito anos atrás.
Se você não encontrou Vênus, imagine uma linha horizontal cortando o Sol em duas metades. A imagem de Vênus é aquele círculo logo abaixo da linha horizontal na extremidade direita do disco solar.
O Trânsito de Vênus em 2004 foi especialmente importante devido ao projeto VT-2004 (do inglês Venus Transit-2004), liderado pelo Observatório Europeu do Sul, ESO (da sigla em inglês de European Southern Observatory) e pela Associação Européia para Educação em Astronomia, EAAE (da sigla em inglês de European Assossiation for Astronomy Education).
Particularmente, eu gosto muito de projetos de Astronomia que envolvam cientistas e público. E o projeto VT-2004 foi um projeto desse tipo. Cientistas e estudantes observaram o trânsito de diferentes lugares da Terra. As observações em diferentes latitudes, devido ao efeito de paralaxe, permite encontrar a distância entre a Terra e o Sol. Esse método foi utilizado na primeira vez no trânsito de Vênus de 1639.
Já o trânsito de 2012 oferece uma lista de oportunidades de pesquisas, especialmente interessantes para a busca e análise de planetas extrassolares:
• Determinar a diminuição do brilho de uma estrela durante o trânsito de um planeta – ajudará a refinar uma das técnicas de se encontrar planetas extrassolares;
• Medida do diâmetro aparente de Vênus, e compará-lo com seu diâmetro real – ajudará a estimar tamanhos de planetas extrassolares;
• Observação simultânea da atmosfera venusiana, com telescópios da Terra e com a sonda Venus Express – permitirá conhecer camadas mais profundas da atmosfera do planeta, o que melhorará nosso conhecimento sobre o clima por lá;
• Estudo da atmosfera de Vênus por espectrografia – servirá de base de comparação para estudos semelhantes com atmosferas de planetas extrassolares;
• O Telescópio Espacial Hubble vai verificar a luz refletida por Vênus na Lua (isso vai ser muito legal!) para determinar sua composição – talvez isso forneça uma outra maneira de estudar planetas extrassolares.
Como vemos, sempre estudamos astros distantes utilizando estudos feitos com astros próximos. Conhecendo bem o Sol podemos conhecer melhor estrelas distantes, e tirando o máximo de informação do trânsito de Vênus, podemos conhecer melhor os planetas extrassolares, que também produzem trânsitos nas estrelas que orbitam.
Não é nada fácil encontrar periodicidades em fenômenos astronômicos, mas os trânsitos de Vênus ocorrem em ciclos de aproximadamente 243 anos. Dois trânsitos separados por 8 anos ocorrem, e, depois de aproximadamente 121 anos e 6 meses ocorrerão mais dois, também separados por 8 anos. Depois desses últimos, passam-se mais cerca de 105 anos e 6 meses para outros dois trânsitos separados por 8 anos, recomeçando o ciclo.
Em outras palavras, partido do trânsito de 1874, temos os seguintes eventos:
• dezembro de 1874 e dezembro de 1882 – 8 anos
• 121 anos e 6 meses depois…
• junho de 2004 e junho de 2012
• 105 anos e 6 meses depois, o ciclo recomeça…
• dezembro de 2117 e dezembro de 2125
A sequência segue, e muito outros trânsitos de Vênus ainda poderão ser vistos enquanto existir o Sistema Solar. E, claro, humanos para observá-los. Pode ser que o árido e tórrido Vênus nos ajude a encontrar planetas de clima agradáveis e, quem sabe, habitáveis pelo Universo.