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Coluna do Astrônomo

Uma das estrelas mais antigas já observadas – Não a estrela mais antiga do Universo!

 

Uma notícia correu nos últimos dias dizendo que “cientistas australianos descobrem estrela mais antiga do universo”. Veja esse título aqui (1), aqui (2), aqui (3), aqui (4), aqui (5), só para citar alguns locais na internet. Todos fizeram eco a uma má tradução de algo escrito pela Universidade Nacional da Austrália, ANU (sigla do inglês Australian National University), que publicou em seu site: “ANU astronomers discover oldest star“. Esse título deixa indefinido se a estrela em questão é a mais antiga do Universo ou a mais antiga já observada até o momento, o que é bastante diferente de ser a estrela mais antiga do Universo.

 

Por favor, sempre que você ler alguma reportagem científica, desconfie de coisas muito superlativas como “a mais do Universo”, “a menos do Universo”, ou de expressões que inspirem muita exatidão, como, “com precisão absoluta”, “absolutamente”, “o único do Universo”. Não conhecemos todas as estrelas do Universo. Portanto, como saber qual é a mais antiga de todas, se não conhecemos todas? O título do trabalho original dos Astrônomos, que pode ser lido aqui (em inglês), nem sequer sugere algo semelhante.

 
O que eles fizeram foi descobrir uma estrela que veio a ser uma das mais antigas já observadas, a SM0313 (uma abreviação de seu nome completo, SMSS J031300.36-670839.3). Ela está a uma distância de cerca de 6 mil anos-luz de nós na constelação da Hidra. Analisando o espectro da estrela, os astrônomos perceberam que ela não possui ferro ou uma quantidade abaixo do limite de 10-7,1 vezes a abundância de ferro no Sol. Comparando o perfil de abundâncias químicas dessa estrela com os modelos de evolução estelar e com os perfis de outras quatro estrelas conhecidas e muito pobres em elementos mais pesados que o hélio, os astrônomos concluíram que SM0313 nasceu de material enriquecido por uma supernova, essa, sim, membro da primeira geração de estrelas a se formarem após o big-bang. Os pesquisadores acham que apenas uma supernova esteve envolvida.
 
 
Em geral, supernovas são eventos que liberam muita energia. Mas essas supernovas da primeira geração de estrelas teriam sido eventos menos energéticos que as que acontecem na idade atual do Universo. Ainda assim, elas teriam produzido ferro e outros elementos mais pesados. Dada a baixíssima, ou ausente, quantidade de ferro em SM0313, os pesquisadores acreditam que essa supernova, que deve ter tido massa original de cerca de 60 vezes a do Sol,  deu origem a um buraco negro para onde teria ido o ferro e os outros elementos mais pesados produzidos.
 
 
Não podemos dizer, de maneira nenhuma, que essa é a estrela mais antiga do Universo, mas podemos dizer com segurança que é uma delas. E ela nos permite conhecer a química das primeiras estrelas e até especular sobre supernovas originadas das primeiras estrelas de fato. Desconfie dos títulos muito pirotécnicos, mas nunca desconfie da maravilha de qualquer trabalho na Astronomia.
 
 
Leia Mais:
 
 
Nota no Site da Australian National University (em inglês): http://news.anu.edu.au/2014/02/10/anu-team-discovers-oldest-star/
 
 
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Coluna do Astrônomo

Supernova na Galáxia do Charuto (M82)

 

Foi-se o tempo em que fumar era visto com algum glamour. Hoje, não são mais os mocinhos dos filmes que fumam, são os bandidos. Se a galáxia M82 tivesse seu nome popular criado nos dias atuais, dificilmente ela teria sido chamada de Galáxia do Charuto.

 

E essa galáxia ficou famosa porque durante uma aula do curso de graduação em Astronomia no Observatório da Universidade de Londres, em 21 de janeiro de 2014, o grupo de alunos e seu professor descobriram uma supernova. As supernovas são eventos que produzem muito brilho, tão intenso que normalmente se destaca em comparação com o brilho de todas as outras estrelas da galáxia. Não é possível se prever exatamente quando uma supernova irá acontecer. Aqui, na nossa Galáxia, podemos, no máximo, utilizar a estatística de que uma supernova acontece a cada 50 anos aproximadamente. Em outras galáxias, como a Galáxia do Charuto, não temos sequer uma estatística para nos deixar de olhos mais atentos.

 

Lembrando a inesquecível aula, o estudante Tom Wright disse à BBC:

 

“Num minuto estávamos comendo pizza, então, cinco minutos depois ajudamos a descobrir uma supernova. Não posso acreditar nisso!”

 

Sem mencionar nenhuma pizza, o Astrônomo e professor Steve Fossey também disse à BBC:

 

“Apontamos o telescópio para Messier 82 – é uma galáxia bastante brilhante, bastante fotogênica. Mas assim que ela apareceu na tela, não parecia normal para mim.”

 

Além do fato inusitado dessa supernova, batizada de SN 2014J, ter sido descoberta em uma aula de faculdade, ela é de um tipo muito importante para a Astronomia: Ia. Supernovas do tipo Ia são consideradas “velas padrão”, objetos utilizados para medir distâncias astronômicas.

 

A Galáxia do Charuto está a 12 milhões de anos-luz. Isso significa que essa supernova acontece 12 milhões de anos atrás e só agora sua luz chegou aqui para podemos observá-la. Parece longe? Muito tempo? Na verdade essa é a supernova mais próxima que observamos desde a SN1987A, que aconteceu em nossa vizinha Grande Nuvem de Magalhães e da SN 1993J em M81 (observadas respectivamente em 1987 e 1993).

 

A SN 2014J vai ser visível durante as próximas semanas mesmo com pequenos telescópios. Mas a Galáxia do Charuto se localiza na constelação da Ursa Maior, muito difícil de ser observada do hemisfério sul. Mas, se você estiver em uma posição privilegiada e tiver um telescópio, aproveite para tentar encontrar um nome mais saudável para essa galáxia.

 

Leia Mais:

Site da University College of London (em inglês): http://www.ucl.ac.uk/maps-faculty/maps-news-publication/maps1405

 

BBC News (em inglês): http://www.bbc.co.uk/news/science-environment-25860454

 

LEGENDA: M82, a Galáxia do Charuto fotografada pelo Telescópio Espacial Hubble. (Crédito: NASA/ESA)

 
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Coluna do Astrônomo

Primeiro exoplaneta orbitando gêmea solar em um aglomerado

 

Astrônomos descobriram três planetas orbitando estrelas do aglomerado aberto M67, também catalogado como NGC 2682, que reúne cerca de 500 estrelas a cerca de 2.500 anos-luz na constelação de Câncer, ou Caranguejo. Apesar de mais de mil exoplanetas, ou planetas extrassolares, já terem sido confirmados, poucos foram encontrados em aglomerados estelares.

 

E mais interessante ainda é que dois desses planetas orbitam estrelas semelhantes ao Sol, uma delas considerada gêmea solar. Uma gêmea solar é uma estrela quase idêntica ao Sol, em diversos aspectos. Esse é o primeiro exoplaneta detectado em uma gêmea solar dentro de um aglomerado. Esses dois planetas têm cerca de um terço da massa de Júpiter e são bastante velozes, orbitando suas estrelas em alguns dias.

 

 

Uma gêmea Solar influencia o espaço ao seu redor da mesma forma que o Sol, ou seja, mesma intensidade de vento estelar, mesma quantidade de radiação, mesmo brilho, mesma temperatura e mesmos tipos de atividades. Isso seria o cenário ideal para encontrarmos vida semelhante à da Terra, caso também fosse encontrado um planeta parecido com a Terra, a uma distância de cerca de uma unidade astronômica da estrela, e com uma Lua de tamanho proporcional à nossa Lua, com cerca de um quarto do tamanho do planeta. O fato da nossa Lua ser grande é um fator importante para a vida, pois ela mantém nosso eixo de rotação estável e protege o planeta de impactos de asteroides.

 

O terceiro planeta descoberto em M67 orbita uma estrela gigante vermelha, mais evoluída que o Sol. Tem mais massa que Júpiter e sua órbita demora 122 dias para se completar.

 

Veja abaixo um vídeo falando sobre os planetas de M67 (em inglês).

 

http://www.youtube.com/watch?v=ALGWq7BR0oU

 

Leia Mais:

 

Site do ESO (em inglês): http://www.eso.org/public/news/eso1402/

 

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Coluna do Astrônomo

Buraco Negro e o Ovo de Chocolate

 

Por Jorge Marcelino – Astrônomo da Fundação Planetário do Rio de Janeiro

 

A Páscoa é uma data importante em quase todos os lugares do mundo. Para os cristãos, simboliza a ressurreição de Cristo; para os judeus, a libertação e a fuga do Egito; e para os antigos pagãos, cuja festa foi absorvida pela cultura judaico-cristã, era símbolo de fertilidade e renovação associada à deusa nórdica Gefjun (aquela que provê prosperidade e felicidade).

Páscoa lembra também chocolate, um estimulante, com alto valor calórico e fuga do regime…

A NGC 4845 é uma galáxia espiral SA ab classificada como do Tipo Seyfert 2, localizada a uma distância de 14,5 Mpc (algo como 47,3 milhões de anos-luz de distância), que apesar de ser estudada há mais de 30 anos, nunca despertou muito interesse até agora. Um trabalho publicado na revista Astronomy & Astrophysics, no início deste mês, mostra que uma grande emissão de energia foi observada. Estudos comprovaram que o buraco negro central, com uma massa de trezentas mil massas solares, absorveu aproximadamente 10% da massa de uma estrela anã-marrom.

Buracos-negros não são “aspiradores de pó” gigantes que puxam tudo à sua volta. Apenas os objetos que estejam se movendo abaixo de uma determinada velocidade e se encontram a certa distância são atraídos gravitacionalmente e absorvidos. Um objeto, ao se aproximar do buraco negro, é destruído pela imensa força gravitacional e sua massa (do objeto) é “devorada”, aumentando a massa do buraco negro.

Li este artigo e resolvi escrever sobre ele porque foi isto que aconteceu comigo (e aposto que com vários de vocês): assim como o buraco negro que se encontra no centro da galáxia NGC 4845, que estava quieto e foi “provocado” por uma estrela anã-marrom com massa entre 14 e 20 massas de Júpiter, também me senti atraído por um ovo de Páscoa que ganhei… e, então,… adeus regime…

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Coluna do Astrônomo

Planeta Extrassolar no Sistema Estelar Mais Próximo do Sol – Alfa Centauri

Por Leandro Guedes – Astrônomo da Fundação Planetário

Astrônomos Europeus descobriram um planeta de massa semelhante à da Terra girando ao redor da estrela Alfa Centauri B, uma das componentes do sistema Alpha Centauri. Um sistema estelar é composto por algumas estrelas ligadas gravitacionalmente. Em Alpha Centauri temos três estrelas: Alpha Centauri A, Alpha Centauri B e Próxima Centauri. Essa última é a mais próxima do Sistema Solar, e também a menos brilhante.

Concepção artística de um planeta orbitando Alpha Centauri B, com Alpha Centauri A ao fundo (Fonte: ESO).
Concepção artística de um planeta orbitando Alpha Centauri B, com Alpha Centauri A ao fundo (Fonte: ESO).

As estrelas de Alpha Centauri são as mais próximas de nós depois do Sol. As estrelas deste sistema estão próximas o suficiente para que não possamos observá-las separadamente sem um equipamento. A pouco brilhante Proxima Centauri é a mais difícil de ser observada, mas com um telescópio simples, ou um bom binóculo, é possível observar as Alpha Centauri A e Alpha Centauri B.

No céu, o sistema pode ser observado nas proximidades do Cruzeiro do Sul. Podemos encontrar duas estrelas bem brilhantes formando uma linha reta quase apontando para a cabeça da cruz. A mais afastada do cruzeiro é Alpha Centauri. Não tente apertar os olhos ou usar a imaginação para ver separadamente Alpha Centauri A, Alpha Centauri B ou mesmo a Próxima Centauri sem telescópio! Não dá. Sem telescópio o sistema parece uma estrela única. Por isso, muitas vezes falamos na estrela Alpha Centauri, mas sem esquecer que se trata, na verdade de um sistema triplo de estrelas.

O Cruzeiro do Sul, à direita, com as estrelas Alpha Centauri e Beta Centauri. Alpha Centauri é a mais afastada do Cruzeiro.
O Cruzeiro do Sul, à direita, com as estrelas Alpha Centauri e Beta Centauri. Alpha Centauri é a mais afastada do Cruzeiro.

Bom, esse planeta, apesar de ter massa apenas um pouco maior que a da Terra, não está na zona de habitabilidade. Ele está a uma distância de 0,04 unidade astronômica de Alpha Centauri B. Isso é mais próximo do que Mercúrio está do Sol. Seu período de revolução ao redor da estrela, o ano desse planeta, é de apenas 3,2 dias, enquanto mercúrio completa uma volta ao redor do Sol em cerca de 88 dias.

Existem várias técnicas de detecção de planetas extrassolares.  A técnica utilizada para descobrir o pequeno e próximo planeta em Alpha Centauri B, foi a de observar o balanço da estrela provocado pela presença do planeta. O mais importante dessa descoberta não é exatamente o planeta, que não está nem na zona de habitabilidade, mas o grau de precisão com que essa técnica foi utilizada. A velocidade do deslocamento provocado em Alpha Centauri B por esse planetinha é de 1,8km/hora. Uma pessoa caminhando tem uma velocidade de cerca de 5km/h.

Com esse método de observação do deslocamento da estrela, é possível apenas se estimar a massa mínima do planeta. Para saber sua massa com mais exatidão, seria preciso conhecer a inclinação da órbita, o que não é possível apenas se observado o balanço da estrela ao longo da linha de visada (ou seja, o afastamento e aproximação ao longo de uma linha reta ligando a Terra à estrela). Entretanto, estatisticamente, essa massa mínima normalmente é próxima da massa real do planeta.

A descoberta foi feita com o equipamento HARPS, localizado no observatório de La Silla, pertencente ao Observatório Europeu do Sul, ESO (da sigla em inglês de European Southern Observatory). Esse observatório completou em 2012 cinquenta anos de funcionamento e coleta de dados revolucionários para a Astronomia.

Pois é, apesar de não estar na zona de habitabilidade esse planeta marca um grau de refinamento sem precedentes em nossa capacidade de detectar planetas extrassolares. Passo a passo, chegamos cada vez mais perto de encontrarmos planetas semelhantes à Terra e na zona de habitabilidade para podermos, então, tentar encontrar civilizações parecidas com a nossa. É só uma questão de tempo!

Links de interesse:

 

ESO (em português): http://www.eso.org/public/brazil/news/eso1241/
ESO (em inglês): http://www.eso.org/public/news/eso1241/
Artigo a Nature (em inglês): http://www.nature.com/nature/journal/vaop/ncurrent/full/nature11572.html
Informações complementares ao artigo na Nature (em inglês): http://www.nature.com/nature/journal/vaop/ncurrent/extref/nature11572-s1.pdf

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Coluna do Astrônomo

A Estrela que Engoliu um Planeta

Foi observada uma estrela que muito provavelmente engoliu um dos planetas que a orbitavam. O interesse despertado por essa observação está no fato de que algo semelhante deve acontecer com o Sol e a Terra.

Algumas estrelas passam por um estágio de sua evolução em que aumentam de tamanho, transformando-se em uma Estrela Gigante. Planetas próximos podem ser engolidos, e acredita-se que isso tenha acontecido com a estrela BD 48-740 e um planeta que a orbitava.

A abundância do elemento lítio na atmosfera da estrela BD 48-740, na constelação de Perseu, é incomum. Esse elemento é destruído pelas reações nucleares que geram a energia produzida pela estrela. Tal abundância pode ser explicada pela presença de material vindo de um possível planeta que a orbitava.

Além disso, medidas da velocidade da estrela ao longo da linha de visada, a linha imaginária que sai do seu olho, ou do telescópio, e vai até a estrela, indicam a presença de um planeta com 1,6 vezes a massa de Júpiter descrevendo uma órbita altamente excêntrica (excentricidade: e=0.67 +/- 0.17 , semi-eixo maior: a=1.89 UA , período de revolução P=771 dias). Essa configuração é incomum em sistemas planetários, e pode indicar um reordenamento por causa da evolução da estrela BD 48-740.

Se observações futuras confirmarem a hipótese dessa estrela ter se tornado uma gigante e engolido o pobre planetinha próximo, essa é a primeira vez que observamos esse acontecimento, já previsto pela teoria de evolução estelar. E é isso que deve acontecer com nosso Sol: se transformará numa gigante vermelha e engolirá Mercúrio, Vênus e Terra.

 

É sempre um momento importante quando observamos no céu algo que era previsto. Esse pode ser um desses momentos. Isso me faz lembrar o impacto do cometa Shoemaker-Levy 9 com Júpiter em 1994. Conhecemos milhares de crateras no Sistema Solar, na Lua, na Terra, em Marte, e em diversos corpos menores. Tais crateras só poderiam ter sido criadas por impactos. Mas nunca um desses impactos tinha sido observado, até esse evento em 1994.

Se você ficou preocupado em saber que o Sol vai virar uma gigante vermelha e engolir a Terra, esqueça isso. Ainda temos alguns bilhões de anos até esse processo se iniciar, mas, muito provavelmente, a vida em nosso planeta vai acabar bem antes disso acontecer. Nossos motivos reais de preocupação são os de sempre: poluição, violência, corrupção, grandes desníveis sociais etc. Temos um bom tempo de humanidade e ainda lidamos com esses fantasmas, criados por nós mesmos. É com isso que devemos nos preocupar. O Sol vai continuar sendo motivo de belos e alegres dias por muito tempo ainda.

Links de Interesse:

– Artigo Original (em inglês)

– BBC Brasil

 

– Veja

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Coluna do Astrônomo

Curiosity em Marte

Pousou em Marte o Curiosity, o mais novo robô enviado pelos Estados Unidos ao planeta vermelho. Diferente dos últimos simpáticos robozinhos Spirity e Opportunity, pequenos, de baixo custo e que pousaram quicando na superfície marciana, o Curiosity tem o tamanho de um automóvel, custou aproximadamente 2,6 bilhões de dólares (cerca de cinco bilhões de Reais) e teve um complexo sistema de pouso.

Curiosity chegou até Marte como parte integrante da missão Mars Science Laboratory (Laboratório Científico de Marte). Acomodado em um compartimento protegido por um escudo térmico, que furou a atmosfera de Marte, o Curiosity foi mantido no ar por um guindaste voador, que suavemente o colocou sobre a superfície enferrujada da Cratera Gale. Depois de deixar o veículo em solo, com a liberação dos cabos que o prendiam ao Curiositiy, o guindaste foi arremessado por seus próprios retrofoguetes para, pelo menos, 150 metros de distância.

Devido ao tamanho e peso dos equipamentos, o pouso teve que ser uma operação mais complexa que nas últimas missões. Quando o Curiosity tocou o solo, os relógios de Brasília marcavam duas horas, 14 minutos e 39 segundos da madrugada de 6 de agosto de 2012 (5h14m39s UTC, 6-ago-2012).

Esquema de descida do Curiosity em Marte

O que mais se espera da missão é que ela possa fornecer dados que permitam concluir se, de fato, Marte já pode abrigar vida na passado. A Cratera Gale certamente já foi um lago, portanto, um excelente lugar para a vida ter se desenvolvido, caso isso tenha sido possível no passado. Se o Curiosity matar nossa curiosidade com um retumbante “SIM!!!!”, ou melhor, um retumbante “YES!!!!”, um outro passo será verificar se ainda existe vida por lá nos dias de hoje.

Estamos falando de vida microscópica, ok? Nada de ET’s verdinhos com antenas, chupacabras ou civilizações que constroem pirâmides e esculpem macaquinhos nas pedras.

Me parece supreendente que em meio a uma crise financeira global a agência espacial norte-americana, NASA (do inglês National Aeronautic and Space Administration) tenha conseguido executar uma missão para Marte tão mais caras que as anteriores. Muita exploração já foi feita com menos dinheiro envolvido.

Como o Curiosity tem em sua lista de objetivos a verificação das condições do planeta para receber a visita de humanos, pode ser que esteja voltando de verdade à mente dos norte-americanos o envio de missão tripulada ao Planeta Vermelho. Todos ficamos animados com o anúncio do projeto de enviar astronautas a Marte, mas a crise financeira desse início de século XXI atrapalhou tudo. Se os norte-americanos estão realmente voltando a pensar em mandar homens a Marte, o que justificaria gastar mais dinheiro nesse momento para explorar o planeta, pode ser que o desenvolvimento aeroespacial da China, comandado pela agencia espacial chinesa, CNSA (do inglês, Chinese National Space Administration http://www.cnsa.gov.cn), esteja servindo como estímulo provocado pela concorrência.

Foi com esse espírito de concorrência, durante a Guerra Fria, que o homem chegou à Lua.

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Coluna do Astrônomo

Medindo o Tamanho do Sol

 

 

Temos razões óbvias para nos interessar muito em conhecer o Sol. Afinal, nossa vida depende dele, e queremos saber se ele está funcionando direitinho. Mas o interesse da Astronomia pelo Sol não se justifica apenas por sua importância para a vida na Terra. O Sol é a única estrela que não aparece como um ponto o céu. Podemos observar com clareza seu disco e obter detalhes de sua superfície com enorme nitidez, o que faz do Sol o melhor protótipo para compreendermos todas as outras estrelas.

 

E o Sol, como toda estrela, é dinâmico. Muito dinâmico. As reações de fusão nuclear que ocorrem em seu centro, o transporte de energia por radiação e por convecção levando luz e calor até a superfície, o emaranhamento das linhas de campo magnético, elevando partículas a milhares de quilômetros da superfície solar e atirando muitas com altas velocidades no espaço, tudo isso contrabalançado pela força gravitacional, pode produzir variação no tamanho de nossa estrela mais importante. E, se acontece com o Sol, deve acontecer com outras estrelas também.

 

Evidentemente essas variações de tamanho não são bruscas e as técnicas de medidas precisam ser cada vez mais precisas para obtermos bons resultados. Ganhou destaque recentemente o trabalho do Físico Marcelo Emilio, pesquisador da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Ele faz parte de um grupo de pesquisa dedicado ao estudo do Sol, que, através de imagens de trânsito de Mercúrio registrados em 2003 e em 2006, anunciaram uma medida bastante precisa do raio solar.

 

Um trânsito ocorre quando um astro visualmente menor passar na frente de outro visualmente maior. A medida do tamanho do Sol pela observação do trânsito de Mercúrio ou Vênus (quando Mercúrio ou Vênus passa na frente do Sol), é feita pela medida do tempo de duração do trânsito, ou seja, o tempo que o planeta leva desde sua entrada na frente do Sol, até a saída.

 

Medidas ainda mais precisas poderão ser obtidas com a análise do trânsito de Vênus ocorrido em Junho desse ano.

 

Se você quiser saber mais sobre a história e métodos de medida do tamanho do Sol, recomendo a leitura da tese de doutorado do Astrônomo Sérgio Calderari Boscardin, “Um Ciclo de Medidas do Semidiâmetro Solar com Astrolábio”, desenvolvida no Observatório Nacional.

 

Links de interesse:

 

http://www.bonde.com.br/?id_bonde=1-12–156-20120624

 

http://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2012/03/estudo-de-brasileiro-recalcula-o-tamanho-do-sol-com-mais-precisao.html

 

http://www.daf.on.br/andrei/TESE_SergioBoscardin/SergioBoscardin_TeseDoutotradoON2011.pdf

 

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Leap Second em 30 de Junho: atrase seu relógio em um segundo

 

 

Nosso calendário foi criado utilizando o céu como uma espécie de relógio. O tempo que a Terra leva para dar uma volta ao redor do Sol deu origem ao ano, o tempo que a Lua leva para dar uma volta ao redor da Terra deu origem ao mês e o tempo que a Terra leva para dar uma volta ao redor de si mesma, deu origem ao dia.  O dia foi dividido em duas partes de 12 horas cada uma por boas razões matemáticas.

 

Mas… O ano não dura 365 dias, a Lua não dá uma volta ao redor da Terra em 30 dias e o dia não dura exatamente 24 horas. Pois é, a natureza não é exata, numericamente falando, e se quisermos encaixar os períodos desses ciclos celestes um dentro do outro, são necessários alguns ajustes de vez em quando. O ajuste mais famoso em nosso calendário é o dia 29 de fevereiro que, de quatro em quatro anos, aparece nos chamados anos bissextos.

 

Os anos bissextos existem porque definimos o ano como o tempo que a Terra leva para dar uma volta ao redor do Sol. Esse tempo é de cerca de 365 dias e 6 horas. Assim, a cada quatro anos, temos, além dos 365 dias de cada ano, um dia a mais, por causa das seis horas “extras” de cada ano. Como eu disse que o ano dura, de fato, “cerca de” 365 dias e 6 horas, esse “cerca de” significa que não basta apenas somar um dia ao ano a cada quatro anos. De fato, alguns anos que seriam bissextos deixam de ser, e outros que não seriam passam a ser. Pois é, parece chato, mas foi a maneira que encontramos de ajustar nossas folhinhas ao céu.

 

E 2012, além de ser ano bissexto, assistirá também a um ajuste não tão famoso, o leap second, que em português seria algo como “salto de um segundo”. De vez em quando temos que acrescentar um segundo aos nossos relógios para ficarmos com um tempo coerente com pequenas irregularidades na duração da rotação da Terra. Isso acontecerá sábado, 30 de junho.

 

O método de marcação de tempo mais preciso que temos hoje é o Tempo Universal Coordenado, ou simplesmente UTC (Sigla em inglês), medido por relógios atômicos. Para mantermos o UTC próximo de um tempo marcado pelo  céu, acrescentamos um segundo aos nossos relógios, o leap second.

 

Esse ajuste pode ser feito em qualquer mês, mas, desde a primeira vez, em 1972, até esse ano, o leap second sempre foi acrescentado num 30 de junho ou num 31 de dezembro (meio e final do ano).

 

Você não vai ver a televisão lembrando para acertar o relógio com o leap second, como costuma acontecer no horário de verão – que não se trata de um ajuste de calendário, mas uma forma de aproveitarmos melhor a luz solar. Mas, se você gosta de Astronomia, fique atento a 30 de junho de 2012!

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Coluna do Astrônomo

Palestra no Planetário: De Planetas Extrassolares à Energia Escura, 28 de junho – 19h30m

Os surveys são mapeamentos de determinada região do céu através de imagens obtidas em determinados comprimentos de onda. Esse tipo de coleta de dados astronômicos tem mudado nossa maneira de pensar sobre o Universo. Um dos surveys mais importantes que foram realizados foi o Sloan Digital Sky Survey, ou SDSS, que está em sua terceira edição.

O primeiro SDSS, chamado de SDSS-I, mapeou mais de 8 mil graus quadrados de céu entre os anos 2000 e 2005. Você pode encontrar um artigo (em inglês) sobre a distribuição de densidade de estrelas na Via Láctea obtida com dados do SDSS-I aqui.

O segundo survey, SDSS-II, ocorreu entre 2005 e 2008, aumentou ainda mais as observações, inclusive com observações de supernovas do tipo Ia, um dos mais utilizados medidores de distâncias.

Agora, o SDSS-III, que se iniciou em 2008 e vai ate até 2014, consiste em quatro surveys voltados para diferentes temas:

BOSS (do inglês, Baryon Oscillation Spectroscopic Survey) – vai mapear a distribuição de galáxias vermelhas luminosas e quasares para identificar a escala característica da distribuição regular de matéria provocada por ondas acústicas (o que significa onda mecânica, e não significa que tem som no espaço!) do Universo primordial;

SEGUE-2 (do inglês, Sloan Extension for Galactic Understanding and Exploration) – o SEGUE-1 obteve o espectro de cerca de 240.000 estrelas. O SEGUE-2 observou cerca de 120.000 estrelas especificamente no Halo galáctico, localizadas entre 10 e 60 Kpc. Os dados se SEGUE-1 e SEGUE-2 fornecem um bom panorama da cinemática e distribuição química da nossa Via Láctea;

APOGEE (do inglês, Apache Point Observatory Galactic Evolution Experiment) – vai usar espectroscopia de alta resolução no infravermelho para observar através da poeira que obscurece o interior galáctico. Essa região ainda permanece pouco observada justamente pela dificuldade se enxergarmos através da grande concentração de poeira;

MARVELS (do inglês, Radial Velocity Exoplanet Large-area Survey) – vai monitorar a velocidade radial (aproximação ou afastamento no linha de visada) de 11.000 estrelas, com a precisão necessária para detectar planetas gigantes gasosos que completam uma volta ao redor de sua estrela entre algumas horas e dois anos.

Dia 28 de junho acontecerá no Planetário do Rio de Janeiro, na Gávea, uma palestra sobre o SDSS-III totalmente voltada para o público. Será uma grande oportunidade para se conhecer mais sobre o projeto, o que já foi alcançado e o que se espera alcançar.

A palestra, organizada pelo Observatório Nacional, Planetário do Rio e outros parceiros, será proferida pelo Dr. Michael Wood-Vasey, porta-voz científico do SDSS-III, e terá tradução simultânea para todos os presentes. Ah! Vale lembrar que a entrada é GRATUITA e que o Planetário possui estacionamento próprio pela Av. Vice-Governador Rubens Berardo 100.

Mais informações no folder abaixo, entre em contato ou acesse o link.