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Coluna do Astrônomo

O Bólido de Tcheliabinsk

 

Por Jorge Marcelino – Astrônomo da Fundação Planetário do Rio de Janeiro

 

Ainda bem que não estamos mais na Guerra Fria!

 

Com a derrocada do comunismo, no final do século passado, as tensões entre o ocidente e o oriente estão gradativamente diminuindo e o perigo de uma guerra nuclear encontra-se cada vez mais improvável. Mas, por que um astrônomo está comentando política internacional? Na manhã de ontem (15/2/2013), em Tcheliabinsk, às 9h20 na hora local, 1h20 no horário de Brasília, um grande bólido foi visto e registrado por muitas pessoas com o auxílio de seus aparelhos celulares.

 

Há alguns anos escrevi uma série de artigos sobre meteoroides, meteoros e meteoritos, que estão publicados no site da Fundação Planetário e em diversos outros. Neles o leitor poderá encontrar explicações sucintas sobre suas origens, composições químicas, fenômenos associados, etc.

 

A intensidade do fenômeno em Tcheliabinsk foi tão grande que várias janelas estilhaçaram, causando ferimentos em aproximadamente 500 pessoas, sendo 22 em estado grave. (Veja vídeos)

 

Apenas como comparação e guardadas as devidas proporções, a quebra de vidros por onda de choque foi observada no dia 1/7/2012, em Brasília, durante um ato de troca da Bandeira Nacional. Dois caças Mirage da Força Aérea Brasileira fizeram um sobrevoo rasante na Praça dos Três Poderes. A onda de choque arrebentou os vidros de parte das fachadas laterais e do fundo do Supremo Tribunal Federal, alarmes de carros dispararam e muitas pessoas relataram uma sensação de medo.

 

A grande novidade no bólido de Tcheliabinsk foi ter ocorrido sobre uma área habitável (lembremos que o planeta é quase 75% coberto por água) e graças à facilidade de ser ter uma câmera de qualidade com quase todas as pessoas (o número de celulares com câmera é enorme) o seu registro foi imediatamente dispersado pela Rede Mundial de Computadores.

 

Em 30 de junho de 1908, em Tunguska, na Sibéria, um fenômeno semelhante aconteceu. Porém, por ser uma região inóspita, não existe registro fotográfico, apenas relatos de moradores distantes e relatórios de uma expedição científica realizada 19 anos depois. (Mais detalhes sobre Tunguska)

 

Agora o leitor pode estar se perguntando: O que tem a Guerra Fria com o bólido de Tcheliabinsk? Respondo: o vice-presidente da DUMA, equivalente à nossa Câmara dos Deputados, afirmou e depois foi desmentido pelo Ministério para Assuntos de Emergência, que o fenômeno tratava-se de um teste militar norte-americano que visava avariar a maior planta de produção de combustível nuclear da Rússia.

 

–Ainda bem que o mundo está mudado e paranoias podem ser desfeitas apenas com imagens da Internet ou correríamos o risco de destruição da humanidade, não por um objeto impactando com a Terra mas por uma guerra nuclear.

 

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Quando maior é melhor

 

Na antiguidade, os maiores e mais fortes sempre impuseram a sua vontade. Isto mudou com a invenção da pólvora pelos chineses. Porém, na construção dos telescópios, a máxima de quanto maior for seu instrumento melhor a qualidade da imagem ainda prevalece.

Acredita-se hoje que o pioneiro na construção de telescópios tenha sido o óptico holandês Hans Lipperhey. O seu instrumento era bem simples e tinha fins militares, sendo considerado segredo de estado. A vantagem conseguida por um navio ao saber com antecedência da chegada de uma embarcação próxima à sua permitiria ao comandante avaliar a melhor estratégia de combate ou uma retirada rápida.

Galileu Galilei, ao tomar conhecimento da existência de um instrumento que permitia ver mais distante, passou a tentar produzir seu próprio. Em 1609, após algumas tentativas, construiu seu telescópio refrator, com o qual inicia estudos sistemáticos do céu, levando a enormes mudanças conceituais sobre o conhecimento astronômico.


Diversos astrônomos construíram seus instrumentos e, com isto, a visão antiga de Mundo precisou ser mudada e continua até hoje trazendo novas luzes sobre a origem e a evolução do Universo.

Atualmente, as lentes desenvolvidas para os telescópios são substituídas por espelhos, uma vez que aquelas possuem uma limitação quanto ao tamanho. Lentes com mais de um metro de diâmetro são praticamente impossíveis de serem utilizadas em telescópios devido ao peso excessivo, causando torções nos tubos que as prenderiam.

Os espelhos dos grandes telescópios atuais também sofrem com o problema de peso, com a vantagem da luz não passar por eles, mas apenas refleti-la. Esta característica permite que espelhos mais finos possam ser produzidos, acoplados a uma base que possuem atuadores que corrigem qualquer tipo de torção provocado pelo peso do material. A correção por meio de atuadores na superfície de contato do espelho é a forma mais básica de correção de imagens. Esta técnica é chamada de óptica ativa.

Com a utilização da óptica ativa, espelhos enormes passaram a ser produzidos. Como exemplo, podemos citar os espelhos do VLT do Observatório Europeu do Sul, no Chile. Cada um possui 8,2 metros de diâmetro e apenas 20 centímetros de espessura. Repousando sobre uma série de atuadores, controlados por computadores, permite uma precisão da ordem de nanômetros em seu formato.


Apesar da precisão incrível na forma dos espelhos, a óptica ativa não consegue solucionar todos os problemas ópticos a que uma imagem está sujeita. Outro problema surge independente e mais complexo que distorções mecânicas: a atmosfera.

A perturbação causada pela atmosfera é muito familiar a qualquer observador do céu. A cintilação das estrelas parece um efeito mágico fazendo o céu parecer um ser animado, atraindo a nossa atenção, maravilhando-nos. Mas, tudo tem o seu preço. O cintilar faz com que as imagens capturadas pelos detectores acoplados aos telescópios sejam pequenos borrões não pontuais, como desejado. Objetos extensos, como galáxias e nebulosas, ficam com baixa resolução, ou seja, os detalhes interessantes do objeto se misturam formando um borrão que não permitirá apreciar todo seu esplendor.

O problema: como corrigir a atmosfera com seu comportamento aleatório? Alterações na velocidade do vento nas camadas superiores da atmosfera misturam células de ar com diferentes temperaturas e densidades de vapor de água. O raio de luz passa por regiões atmosféricas com índices de refração diferentes modificando a sua trajetória inicial, fazendo-o chegar em regiões diferentes do detector, borrando a imagem.

A solução: óptica adaptativa! A melhor forma de corrigir um problema é saber suas causas e seu comportamento e, a partir daí, encontrar uma solução. A óptica adaptativa é a grande maravilha dos instrumentos localizados em terra (não podemos esquecer que os telescópios espaciais não sofrem estes problemas, mas o custo é muitas vezes maior).

Esta técnica produz, utilizando um projetor laser, uma estrela artificial nas camadas superiores da atmosfera, próximo do objeto de interesse. Sensores utilizam a imagem desta falsa estrela para medir as distorções atmosféricas. A imagem da falsa estrela é corrigida e as informações são repassadas a um espelho que vibra centena de vezes de modo a corrigir a imagem do objeto de estudo influenciada pela turbulência atmosférica. O efeito atmosférico está corrigido!


A óptica ativa, permitindo construir espelhos maiores e mais finos, combinado com a óptica adaptativa, que corrige as alterações provocadas pela atmosfera permite a construção de telescópios gigantescos, correto? Sim e não. Teoricamente sim, pois poderíamos construir telescópios com as dimensões que desejássemos; na prática não é bem assim, porque os custos envolvidos são grandes.

Com as crises financeiras, alguns países diminuíram a verba para a Ciência e a Tecnologia. Isto levou os pesquisadores a buscar alternativas para aumentar cada vez mais o tamanho dos instrumentos.

Uma técnica utilizada há muito tempo para os radiotelescópios foi adaptada para os telescópios ópticos – a interferometria.

A ideia por trás da interferometria é pegar dois ou mais instrumentos e combinar as informações recebidas individualmente de modo que o resultado seja equivalente ao de um único instrumento de diâmetro muito maior que o dos dois juntos. No caso dos radiotelescópios, os pesquisadores brasileiros do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) utilizam este método para estudar amplificações de micro-ondas (MASERs) de água e hidroxilas em nebulosas próximas juntamente com pesquisadores chineses, sendo um dos instrumentos o radiotelescópio de Itapetinga – SP e o outro na China.

Na interferometria óptica, a luz do objeto é coletada individualmente e canalizada por meio de fibras ópticas para laboratórios, de modo a ser combinada e sua onda ampliada, resultando em imagens de altíssima resolução.

Citado anteriormente, o VLT demonstra o sucesso desta técnica. Os quatro telescópios de 8,2m e mais quatro menores de 1,8m são combinados de modo a funcionar como um único telescópio de 130m de diâmetro. Um exemplo de utilização é a observação de detalhes de estrelas binárias cerradas com uma resolução até 50 vezes superior a do telescópio espacial Hubble. Nesse caso, foi possível até observar as deformações causadas pela proximidade das estrelas componentes.

Com estas três técnicas observacionais novos desafios aparecem. Nossa visão do mundo amplia-se cada vez mais, aumentando a necessidade de novos pesquisadores e cientistas para trabalharem as informações contidas em nosso Universo.

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Eclipses Solares

 

Fenômeno natural impressionante, os eclipses solares causam grande impacto em qualquer pessoa que os observa. Apesar de seu apelo emotivo, falando objetivamente, não passa de uma conjunção de fatores, um alinhamento entre o Sol, a Lua e a Terra.

 

Tive a oportunidade de observar três eclipses totais do Sol, em 1994, 1998 e 2006 e vou contar um segredo: se pudesse, iria observar todos. Não apenas pelo aspecto profissional, mas, principalmente, pela beleza do espetáculo. É a oportunidade perfeita para observar a Coroa Solar, a Lua, alguns planetas e estrelas durante o dia. A temperatura cai vários graus e o silêncio é amedrontador. Emocionante!

 

Infelizmente não foi observado, no Brasil, o eclipse anular do dia 20 de maio e os próximos eclipses anulares que poderão ser visíveis por aqui serão nos dias 14 de outubro de 2023, 26 de janeiro de 2028 e 12 de setembro de 2034. Nosso país está sem sorte, o próximo eclipse total somente poderá ser observado em 12 de agosto de 2045. Espero estar vivo até lá e poder viajar para Fortaleza. Eclipse, praia e carne de Sol… combinação perfeita.

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50 horas de Centaurus A

 

A peculiaridade da galáxia Centaurus A é imensa. Apesar de classificada como uma galáxia do tipo elíptica, ela apresenta uma grande quantidade de gás e poeira, característica típica de uma galáxia espiral. Teorias recentes sugerem que esta galáxia seja resultado da coalescência entre uma elíptica gigante e uma espiral.

 

Este objeto vem sendo estudado desde agosto de 1826, inicialmete pelo astrônomo inglês James Dunlop, e recebeu a denominação de Centaurus A nos anos 50 do século passado, por ter sido o primeiro objeto emissor de rádio descoberto na direção da constelação do Centauro.

Situada a 12 milhões de anos-luz de distância, esta galáxia apresenta forte emissão na frequência rádio e jatos de matéria (como pode ser observado na parte superior da foto), produzidos por um gigantesco buraco negro localizado em sua região central com massa de 100 milhões de massas solares. Infelizmente não é possível, devido à enorme quantidade de gás e poeira na região equatorial da galáxia, observar diretamente o objeto central.

A grande notoriedade desta imagem é seu grande tempo de exposição total, cerca de 50 horas. Ela foi produzida utilizando três filtros coloridos (azul, vermelho e verde) além de filtros que realçam o Hidrogênio e o Oxigênio. Estes filtros foram colocados no instrumento denominado Imageador de Grande Campo e acoplado ao telescópio de 2,2 metros do Observatório Europeu do Sul localizado no Chile.

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Houston, we have a problem

 

Dia 13 de abril de 1970, com a frase “Houston, we have a problem” (em poruguês: “Houston, temos um problema!”), o centro de controle de missões espaciais da NASA transformou-se em um centro de controle de crise. Após 55h55min de voo da missão lunar Apollo 13 (a nave foi lançada às 13h13min13s do dia 11 de abril) um forte abalo foi sentido pela tripulação. Momentos de tensão e a constatação: uma explosão no Módulo de Serviço iria impossibilitar o pouso em solo lunar.

 

Estando em um ponto da órbita impossível de retornar, sem que fosse utilizada uma quantidade enorme de energia, a solução seria dar uma volta ao redor da Lua. Os estoques de energia para manutenção, oxigênio e água não eram empecilho, uma vez que tinham em quantidade suficiente. O maior problema era quanto à filtragem do dióxido de carbono no Módulo de Pouso Aquarius, o salva-vidas da tripulação. Os filtros sobressalentes do Módulo de Comando Odissey tinham formatos diferentes e foi necessária a ajuda dos engenheiros em terra para desenvolver uma adaptação com o mínimo de recursos disponíveis.

 

Com o problema principal resolvido, agora seria possível voltar para a Terra. Lutavam “apenas” com a falta de espaço na Aquarius, racionamento de água e uma temperatura interna de 5º C, além do receio do motor não religar quando fosse necessário para escapar da força gravitacional da Lua e para a reentrada.

 

Às 13h43min do dia 17 de abril de 1970: “Adeus, Aquarius. E muito obrigado!”. Era a despedida do módulo lunar após o retorno ao módulo de comando e a sua liberação no espaço; 24 minutos depois, pousaram próximo à Ilha Samoa, no Oceano Pacífico.

 

Durante quatro dias, milhões de norte-americanos e pessoas de vários países acompanharam a luta para trazer de volta os três astronautas com vida. Dois meses depois, após uma exaustiva análise, concluiu-se que uma mudança na voltagem dos suprimentos de energia, sem um reforço na ventoinha de resfriamento, causou um superaquecimento no tanque de oxigênio do Módulo de Serviço e a consequente explosão.

 

Muitos creditaram os problemas aos sucessivos números 13… grande bobagem.

 

 

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O Observatório Europeu do Sul e o Brasil

O Observatório Europeu do Sul (ESO) completa 50 anos em 2012. Idealizado pelos astrônomos Walter Baade e Jan Oort, teve a sua criação no dia 5 de outubro de 1962 com a participação de cinco países (Alemanha, Bélgica, França, Holanda e Suécia). Atualmente conta com a participação de 15 países, sendo o Brasil o único não europeu (o Chile participa do consórcio apenas com a cessão dos sítios de observação e, por isto, seus pesquisadores têm direito a alguns dias por ano de utilização dos instrumentos).

O ESO é o observatório de solo mais produtivo do mundo, rivalizando, em número de publicações, com o telescópio espacial Hubble. Dois projetos de grande envergadura estão em andamento: o ALMA, composto por 66 antenas de alta precisão, que estudará a radiação enviada pelos objetos mais frios do Universo, e o E-ELT (European Extremely Large Telescope), um telescópio óptico de 40 metros, que irá procurar planetas na zona de habitabilidade das estrelas e estudar a matéria escura e a energia escura.

O Senado brasileiro ainda não ratificou o acordo de inclusão do país no consórcio assinado no final de 2010, contudo, espera-se que seja feito o mais rápido possível. Pesquisadores brasileiros poderão trabalhar com o que há de mais moderno em questão de equipamentos e abrirá a oportunidade para as grandes construtoras do país participarem das obras de construção dos grandes telescópios que estão por vir.

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Até logo a um amigo

Estou de férias, desde o dia 19 de julho, e só retorno no dia 18 de agosto. Durante 15 dias, fiz exatamente o que disse que faria: desliguei o celular e não entrei na internet para ver as mensagens eletrônicas. Isto está sendo ótimo, estou descansando… e, por favor, não mandem mensagens para falar de Astronomia; liguem-me se for com o intuito de me convidar para tomar um chope ou para um churrasco…

Apesar de estar sendo ótimo, por estar praticamente incomunicável, a ausência de informações não permitiu que eu pudesse me despedir de um amigo que nos deixou no dia 28 de julho de 2010, vítima de um Acidente Vascular Cerebral (AVC). Estou falando do físico e divulgador de Astronomia do Observatório Nacional Marcomede Rangel, o Marcomídia para os íntimos ou, como carinhosamente o cartunista Ziraldo o denominava: Marcometa.

O tio Minhoca, outra de suas alcunhas, devido ao seu livro sobre o cometa Halley de 1985, sempre atuou para a divulgação desta ciência que nos é tão preciosa. E não pensem que ele ficava chateado com seus apelidos. Estivemos durante alguns dias juntos em Natal, por ocasião do eclipse solar total de 2006, e o vi enumerando uma dezena destes apelidos com uma explicação depois de cada um deles, seguidas de muitas gargalhadas de todos os que tiveram o privilégio de compartilhar este fenômeno conosco.

Grande amigo, descanse em paz, você cumpriu a sua missão aqui. Até quando nos encontrarmos novamente, com certeza em clima de grande alegria, como sempre.

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Novos membros extrassolares

Lançado em 27 de dezembro de 2006 e com provisão de funcionamento mínimo de dois anos e meio, o satélite COROT (um acrônimo das palavras COnvecção, ROtação e Trânsito) encontrou mais seis planetas fora do Sistema Solar. Ele tem a missão de buscar planetas extrassolares e de estudar a sismologia de estrelas (apesar de o dicionário do Aurélio Buarque de Holanda Ferreira utilizar o termo apenas para os fenômenos terrestres, sismologia é o termo empregado pelos astrônomos para os eventos que produzem ondas que se propagam na superfície de estrelas).

Dos 461 planetas extrassolares encontrados até a metade do ano de 2010, 16 deles devem sua descoberta ao trabalho de pesquisadores do consórcio formado por franceses, alemães, austríacos, belgas e brasileiros.  No Brasil, as instituições que participam do consórcio são: o Instituto Astronômico e Geofísico da USP, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, o Laboratório Nacional de Astrofísica, o Observatório Nacional, a Universidade Estadual Paulista, a Universidade Federal do Rio Grande do Norte, a Universidade Federal do Rio Grande do Sul, a Universidade Federal de Santa Catarina, a Universidade Federal de Minas Gerais e a Universidade Mackenzie de São Paulo.

Os pesquisadores brasileiros participaram ativamente no desenvolvimento dos programas de controle e de análise dos dados obtidos, além da seleção dos objetos-alvo para os estudos.

O primeiro planeta extrassolar encontrado pelo COROT está orbitando uma estrela de magnitude 13,6, na constelação de Monoceros, distante do Sol 1.560 anos-luz, com uma massa estimada de 1,3 massa de Júpiter e com um período orbital de mísero 1,51 dia terrestre!

Esperamos que novas descobertas sejam feitas em breve e, para aqueles que prestaram atenção no início do texto e atentaram para o período de funcionamento do satélite de 2,5 anos, gostaria de esclarecer mais um pequeno item: as estimativas do tempo de vida dos satélites baseiam-se, principalmente, na quantidade de combustível que é usado para fazer as correções em suas órbitas devidas às interações gravitacionais e magnéticas com o nosso planeta.

Os satélites posicionados em grandes órbitas e os geoestacionários geralmente utilizam uma quantidade de combustível maior porque precisam estar melhor posicionados e com as antenas perfeitamente apontadas para uma região do planeta.

No caso do COROT, como está em uma órbita polar baixa e possui dois centros de recepção de dados, sendo um deles no Maranhão, a Estação de Satélites Científicos, na base de Alcântara., o direcionamento das antenas e a manutenção da altura da órbita não são tão críticos, o que possibilita e possibilitará ainda por mais tempo a utilização deste satélite tão importante para a Astronomia.

 

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Queda de Meteoritos: Efeitos Imediatos

Quando os meteoritos estão em queda, podemos observar alguns efeitos que os acompanham. Esses fenômenos são visíveis e audíveis a grandes distâncias, causando uma grande euforia nas pessoas que os observam.

O fenômeno luminoso da queda de um bólido é provocado por dois fatores principais: a queima do próprio corpo sólido e a incandescência da atmosfera em torno do corpo queimando.

Quando um meteoróide em queda ultrapassa a altitude de 90 km, a atmosfera se torna densa o suficiente para começar a converter uma pequena fração da energia cinética do objeto em calor, que irá aquecer as partes externas do meteoróide, fazendo com que ele se torne incandescente a uma temperatura média de 1650ºC.

Inicia-se a catástrofe para o meteoróide. Com a contínua queda e o aumento da resistência do ar, o aquecimento continua. Começa o processo a que chamamos de ablação. O meteoróide incandescente vai perdendo material rapidamente por evaporação. Parte deste material, ao se separar da parte que está queimando, condensa-se também rapidamente, tanto em torno do próprio objeto quanto no ar.

O ar em torno da rocha em brasa começa a ficar ionizado, ou seja, inicia-se uma perda de elétrons dos gases atmosféricos. Ao recuperarem a sua configuração original, esses gases tornam-se incandescentes e passam a emitir luz, formando o rastro observado nos bólidos.

No fim da parte visível, observamos algumas vezes, dependendo principalmente da energia cinética do bólido, ocorrências de explosões, quando os meteoróides fragmentam-se em várias partes. Esse ponto é chamado de ponto de retardamento, do qual falaremos em outro artigo.

A cor da luz observada durante o fenômeno da queda é a mais variada possível. Em geral, relatos mostram que a luz branca é a mais observada, porém o verde, o vermelho e o amarelo também são vistos. Isto ocorre, basicamente, devido à composição química do meteoróide. Por exemplo, a queima do sódio produz uma intensa coloração amarelada, o níquel, uma luz esverdeada, o magnésio, quando queimado, emite uma cor branco-azulada, e assim por diante.

Um pouco mais terrificante que o efeito luminoso é o fenômeno sonoro produzido pela queda de um meteorito. Talvez hoje, acostumados com a poluição luminosa das grandes cidades, as pessoas não sintam tanto medo quanto o causado nos povos antigos que, algumas vezes, associavam a visão do bólido e o som à destruição e a castigos divinos.

O som relacionado com a queda de um meteorito pode ser ouvido em uma grande área. Investigações realizadas próximas à área de queda mostram que foram ouvidos num raio de 70 km.

A origem do som são as ondas de choque produzidas pela viagem do bólido a velocidades muito grandes, produzindo uma variedade de ruídos cacofônicos. A turbulência provocada na atmosfera pelo meteoróide, assim como reflexões das ondas sonoras em nuvens e na superfície produzem os diversos tipos de sons. Além disso, se o objeto quebrar em vários fragmentos, cada um desses irá produzir a sua própria onda de choque. Como os meteoróides viajam a velocidades muito maiores que a do som, eles podem ser vistos muito antes, às vezes até poucos minutos antes de serem ouvidos

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Observando Uma Queda

Quando se observa um bólido, costuma-se pensar que é só seguir o rastro e facilmente encontra-se o meteorito. Isso não é bem assim. A visão de um bólido rasgando o céu com um brilho, algumas vezes, superior ao do Sol causa um espanto e uma admiração tão grandes que as pessoas esquecem de observar pequenos detalhes que iriam ajudar muito o trabalho dos pesquisadores de meteoritos.

As quedas de meteoritos ocorrem tão esporadicamente e nos mais diversos lugares que os cientistas têm pouca oportunidade de fazer observações. A meteorítica é a linha de pesquisa que mais necessita da ajuda da população.

Ao sair para o campo, na tentativa de localizar um meteorito, certas informações recolhidas são de vital importância. Uma delas é a trajetória verdadeira da queda do bólido. Isso pode ser feito ao se traçar, sobre um mapa da região, as trajetórias aparentes relatadas pelos observadores. Durante o dia, deve-se utilizar alguns pontos de referência, como por exemplo casas, árvores e igrejas, além do ponto onde estava o observador. Durante o período noturno, as estrelas servem como um padrão, desde que seja anotada a hora em que foi feita a observação.

Após encontrarmos a trajetória do bólido, precisamos determinar a altura em que foi observado. A posição espacial do meteoróide só pode ser determinada se tivermos, pelo menos, duas observações de locais bem distantes. Normalmente, os observadores não presenciam a posição de entrada do meteoróide na atmosfera, mas conseguem observar um ponto mais importante, o ponto de retardo, quando a luz se extingue. A importância desse ponto está no fato de que, nessa posição, o meteoróide perde toda a sua velocidade cósmica e cai em queda livre.

O cálculo da trajetória de um meteorito pode ser encontrado, com grande acurácia, se a trajetória puder ser fotografada de diversas regiões. Atualmente, três redes de estações automáticas, na Eslováquia, nos Estados Unidos e no Canadá, fotografam continuamente o céu noturno. Usando-se quatro câmaras fotográficas, direcionadas para os quatro quadrantes do céu, e um obturador, que se fecha com freqüência de 20 vezes por segundo, pode-se calcular a velocidade do corpo a partir do comprimento dos segmentos e reconstruir a órbita destes meteoritos em torno do Sol.

Uma estatística realizada no hemisfério norte, com o intuito de tentar prever o período do ano em que ocorre maior quantidade de quedas de meteoritos, nos mostra que existe uma ocorrência maior durante os meses de maio, junho, julho e agosto. Alguns cientistas tentam associar essa curva à distribuição de meteoróides no espaço, porém deve-se levar em conta que, como as observações foram feitas no hemisfério norte, a estação do verão pode ter influenciado os resultados, uma vez que poucas pessoas estão fora de suas casas durante as noites de inverno.

Frederick C. Leonard, um grande estudioso americano de meteoritos, usando as informações de 469 meteoritos descobertos, cujas quedas foram observadas, mostrou que a grande maioria delas ocorreu por volta das 15 horas, e a menor ocorrência de observações foi às 3 horas da manhã. A causa mais provável para esse efeito no gráfico é a própria atividade humana. O ser humano é um animal diurno; poucas pessoas estão acordadas por volta das 3 horas da manhã. Porém, alguns estudiosos sugerem que o movimento orbital da Terra tenha uma influência significativa nesses resultados.