Desenvolvimento científico e desenvolvimento bélico sempre tiveram uma relação íntima, infelizmente. Enormes avanços na ciência foram conseguidos por causa do dinheiro investido para se fazer guerras ou para se proteger delas. A tecnologia usada para levar foguetes ao espaço, que vão lançar satélites ou levar astronautas, não é muito diferente da tecnologia usada para lançar mísseis que vão destruir cidades.
E a Síria, já com três anos de uma guerra civil, que matou mais de 140 mil pessoas, acaba de anunciar a criação de sua agência espacial. Segundo o governo, “com o objetivo de usar tecnologia espacial para exploração e observação da Terra”. A agência estatal de notícias da Síria disse ainda que a agência empregará sua tecnologia “a serviço do desenvolvimento”.
Não podemos deixar que guerras e conflitos internos impeçam um país de se desenvolver e, muito menos, de participar da construção do conhecimento científico. O que levanta questionamentos sobre os reais objetivos da agência espacial síria é o momento histórico em que ela está sendo criada.
O primeiro ministro sírio, Wael al-Halqi, calcula que a guerra já custou ao país cerca de 31,3 bilhões de dólares. O PIB sírio deste ano está estimado em 34 bilhões de dólares, pela Economist Intelligence Unit.
Pois é, com um balanço econômico desse, o mundo está se perguntando como a Síria vai conseguir erguer sua agência espacial.
Muitas vezes, projetos desse tipo são aprovados no papel mas condições práticas impendem sua concretização naquele momento. O Brasil nunca teve um conflito interno nas proporções do que acontece na Síria, mas o nosso Observatório Nacional começou a nascer com D. Pedro I e teve que esperar D. Pedro II para engrenar de fato.
Essa ligação íntima entre Ciência e guerra causa repúdio em muitos cientistas. Sobre guerra, Einstein disse: “prefiro deixar-me assassinar a participar desta ignomínia”. Vamos torcer para que essa agência, se começar de fato a funcionar, produza conhecimento e não fomente a insistência na ignorância da guerra. Que lance veículos espaciais e não mísseis.
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Jornal Al Arabiya (em inglês)
Site The Wire (em inglês)