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Coluna do Astrônomo

Como destruir a Terra?

 

A Fundação Planetário da Cidade do Rio de Janeiro é, como todos sabem, um órgão de divulgação de Astronomia e recebe milhares de visitantes todos os anos. Temos diversas atividades e, uma das mais gratificantes é o contato direto com as pessoas e a possibilidade de conversar sobre assuntos astronômicos.

 

Na última semana fui chamado pelas recepcionistas para atender e tentar dirimir algumas dúvidas de um visitante. Como qualquer um dos astrônomos da instituição poderia fazer, prontamente atendi ao chamado. E, antes mesmo que fosse devidamente apresentado, o visitante perguntou: “Como destruir a Terra?” Parei. Respirei e milhares de figuras vieram a minha cabeça. Nesta época de vandalismos, terrorismos e todos os outros “ismos”, esta pergunta nos leva a pensar. Minha reação foi manter dois braços de distância dele e dizer: “Acho que não entendi a sua pergunta, vamos tentar novamente?”

 

O visitante sorriu e começou a explicar que tinha visto um documentário sobre dinossauros e choque de asteroides e gostaria de saber mais detalhes. Fiquei mais confiante e me aproximei um pouco. Falei sobre a hipótese da aniquilação dos dinossauros, o iridium da camada geológica KT e a cratera de Chicxulub no México (podemos falar sobre isto em outra postagem).

 

O próximo assunto foi colisão de planetas e por último ele me pediu – Explique-me sobre estes “aspiradores de pó” gigantescos e como podem destruir a Terra. Com o espírito mais calmo pedi que explicasse sobre o que estava falando. O senhor, mais que depressa disse: “Buracos Negros”, com um ar de sapiência, como quem diz: “Você não sabe que os buracos negros são aspiradores de pó gigante?”.

Passei uma boa parte da minha tarde desconstruindo este conceito. Falamos sobre tipos de buracos negros – Schwarzschild, Kerr, Nordstrom –, massa, singularidade, horizonte de eventos, espaguetificação, localização nos núcleos de galáxias e a possibilidade infinitamente pequena, praticamente zero, de um buraco negro absorver o nosso planeta pois não se observa nenhum objeto deste tipo próximo a nós.

 

Após esta conversa ele me prometeu nunca mais chamar um buraco negro de aspirador de pó e agradeceu pelos novos conhecimentos adquiridos.

Devo confessar que esta é a parte mais gratificante da nossa profissão, ver um visitante interessado em aprender, apresentar suas dúvidas e seus conceitos prévios e aceitar novos modelos, saindo satisfeito e agradecendo. Alguns podem dizer que perdi uma tarde com este senhor. Na verdade, tive um prazer enorme em poder ensinar.