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Coluna do Astrônomo

Coisinha do pai

Morreu Elizabeth Santos Leal de Carvalho, filha do Seu João e da Dona Maria, irmã da Vânia. Morreu Beth Carvalho, madrinha do samba.  Morreu ontem, 30 de abril de 2019, de infecção generalizada, após meses de internação. Amantes da música, amantes do samba, amantes da cultura brasileira choram e se recolhem em luto.

Beth Carvalho começou sua carreira na Bossa Nova, mas encontrou-se e fez sucesso no samba e no pagode. Revelou artistas como o grupo Fundo de Quintal, Zeca Pagodinho, Almir Guineto, Sombra, Sombrinha, Arlindo Cruz, Luis Carlos da Vila, Jorge Aragão e muitos outros. Era sucesso no Brasil e no mundo. E não só nesse mundo…

Um dos seus maiores sucessos é a música “Coisinha do Pai”. E foi justamente essa música, na voz de Elba Ramalho e Jair Rodrigues, que foi usada para acordar o robô Sojourner, na superfície de Marte, em 11 de julho de 1997.

O Sojourner foi o primeiro rover marciano, e tinha o tamanho de um grande forno de micro-ondas. Era a parte móvel de solo da missão Pathfinder, que chegou ao planeta no dia 4 de julho de 1997. Seu grande sucesso levou a missões mais ambiciosas e a rovers maiores e mais bem equipados. Mas em 1997, o Sojourner era o estado da arte da exploração planetária.

Sua superfície superior, revestida com uma placa fotovoltaica, absorvia a radiação solar durante o dia, permitindo uma autonomia maior das baterias. Durante a noite, o robô entrava em modo de hibernação, aguardando um sinal vindo da base de comando, na Terra, para retomar as atividades. Esse sinal poderia ser um pulso eletromagnético qualquer, um ruído para ouvidos humanos; mas os cientistas da NASA tem um quê de poetas e gostavam de acordar o rover com música.

No dia 11 de julho, o comando de despertar foi disparado pela brasileira Jacqueline Lyra, engenheira aeroespacial responsável pelo controle de temperatura do robô. E a música escolhida por ela foi justamente o grande sucesso de Beth Carvalho.

Segundo reportagem da Folha de São Paulo, do dia 12 de julho de 1997:

“A música, segundo a engenheira, é uma “forma simbólica” de enviar o sinal para que o robô comece a trabalhar. Esta era a forma usada para acordar os astronautas de outras expedições espaciais.

Nos dias anteriores, a trilha sonora foi composta por músicas de rock. No primeiro dia, foi a música “Mad About You”, música-tema do seriado norte-americano com o mesmo nome.

O samba seria “enviado” da Califórnia até o robô a partir das 19h de ontem (23h em Brasília). O dia começou ontem em Marte neste horário.

Jacqueline disse que escolheu a música, do CD “Casa de Samba”, depois de ouvi-la em casa e lembrar os dias festivos que a equipe do JPL (Laboratório de Propulsão a Jato), que projetou o robô para a Nasa, tem passado com o sucesso da expedição.

O CD é uma coletânea de sambas gravados por vários intérpretes. A música é de autoria de Jorge Aragão, Almir Guineto e Luís Carlos, e tem sua interpretação mais conhecida feita pela cantora Beth Carvalho.

O trecho, segundo Jacqueline, que a despertou foi: “Você vale ouro/todo o meu tesouro (…) Agradeço a Deus porque lhe fez/Ô coisinha tão bonitinha do pai”. A engenheira disse que a estrofe representa o carinho que os cientistas têm pelo pequeno robô.”

O episódio deixou Beth tão comovida que dois anos depois ela gravou o “Samba de Marte”:

Neste ou em outro planeta, Beth Carvalho sempre será um sucesso!

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São Jorge

Ontem foi dia de São Jorge. Santo guerreiro, padroeiro da Inglaterra, da Catalunha e de vários outros países, estados e cidades. Aqui no Rio de Janeiro, minha base de atuação, esse santo é muito popular e seu dia é feriado estadual.

Em sua homenagem, em reconhecimento à sua popularidade junto aos cidadãos cariocas e fluminenses, e também por conta de uma lenda que diz que ele mora na Lua, o Planetário do Rio fez a seguinte postagem no Instagram:

Ela vinha acompanhada de um verso da música de Caetano Veloso (“Lua de São Jorge”), da informação clara de que se tratava de uma arte e nada mais.

Alguns dos nossos seguidores de pensamento científico mais ortodoxo nos criticaram. Interpretaram que estávamos, ainda que subliminarmente, corroborando a noção de que São Jorge mora na Lua. Não estávamos. Estávamos, isso sim, reconhecendo um fato da cultura popular brasileira. Cultura popular e ciência são ramos distintos de uma mesma árvore, a árvore da sabedoria e do conhecimento. Podem estar distantes entre si, podem se ignorar ao máximo, mas são mais fortes quando se tocam e se conectam.

Quando falamos de lendas gregas, mitos indígenas, panteões de divindades antigas e remotas, somos aplaudidos como cultos e sábios. Isso tem acontecido com frequência na série em que listamos a origem dos nomes dos dias da semana… Não deveria ser diferente quando falamos de uma lenda brasileira!

Lenda brasileira? Sim! Ao que tudo indica, São Jorge na Lua é uma história tipicamente brasileira. Vem do sincretismo religioso, que associa o santo a Ogum, orixá de força masculina, que busca na Lua a feminilidade necessária para o seu equilíbrio. Sem comprovações científicas, essas histórias são tão mitológicas como as aventuras de Hércules ou a luta de Seth com Osíris.

Então fica combinado assim: sabemos que o primeiro homem na Lua foi o astronauta americano Neil Armstrong, e não Jorge da Capadócia, soldado romano do exército do imperador Diocleciano. Mas o povo fala de São Jorge na Lua. Por que não aproveitarmos essa associação para trazer essa discussão para a Astronomia?

E, se formos muito rigorosos, São Jorge está lá na Lua sim! É uma cratera de cerca de 2,5km de diâmetro, localizada na região dos Apeninos Lunares. Fica a uns 4km a sudoeste do local de pouso da Apollo 15. Seus astronautas, David Scott e James Irwin, passearam com o jipe lunar sobre o que se acredita ser o material sedimentar ejetado quando da formação dessa cratera. Imclusive trouxeram algumas amostras do local…

Entre as lendas e as brumas da história, sejamos mais tolerantes com a cultura popular. E mais humildes também. São Jorge está na Lua. Não o santo, mas a cratera…

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Acesso Remoto

Vivemos em uma era de milagres cotidianos… Tão comuns que não nos damos conta deles.

Vivemos em uma era onde já conhecemos mais de quatro mil planetas fora do Sistema Solar. Onde empresas privadas se desafiam em uma nova corrida espacial. Onde um buraco negro é revelado em uma foto espetacular!

E o que todos esses fatos têm em comum? A tecnologia!

E uma das tecnologias mais presentes em nossa vida, que define os rumos da sociedade atual, é a que nos permite estar conectados.

A conectividade mudou as nossas vidas. E mudou, também, o modo como fazemos ciência.

Não por acaso, o que hoje chamamos de internet começou na década de 1960 como ARPAnet, onde ARPA é a sigla em inglês para “agência de projetos de pesquisa avançada”. Sua versão atual, a World Wide Web (o famoso WWW) foi criada em 1992, em um instituto de pesquisa (o CERN, na Suíça).

A comunicação instantânea e o acesso remoto facilitou a interação entre pesquisadores, o que permite um fluxo maior de ideias. Permite a integração de grupos distantes e o uso compartilhado de equipamentos longínquos. A prova disso em maior evidência atual é o resultado do EHT, a bela foto do buraco negro que até meme já virou…

E o acesso remoto me permite escrever esse texto, em pleno feriadão carioca, há mais de 500km da minha base. Usando apenas um smartphone e uma boa conexão.

É ou não é uma era de pequenos milagres?

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A Páscoa e o calendário Gregoriano

Na Europa cristã, a pouca Astronomia que se praticava na Idade Média era voltada para fins cronológicos, em especial o cálculo da data da Páscoa. Isto porque este dia santo representa a ressurreição de Jesus Cristo e é, portanto, a pedra fundamental do dogma cristão. Como Jesus viveu na Palestina sob o calendário judaico, é natural que a data da Páscoa seja uma data móvel em nosso calendário atual. Calcular esta data dependia (e depende até hoje) de um bom entendimento dos movimentos celestes.

Em 325 da Era Comum, o Concílio de Nicéia estipulou que a Páscoa deveria ser celebrada no primeiro domingo depois da primeira Lua Cheia após o Equinócio de março (início da primavera para o Hemisfério Norte). Para celebrar a Páscoa em sua data correta, portanto, era preciso saber calcular as fases da Lua e, também, a chegada do Equinócio.

Por esta época, o calendário vigente era o calendário Juliano, criado por Júlio César em 44 AEC, sob a influência do astrônomo alexandrino Sosígenes. A duração média de um ano juliano era de 365 dias e 6 horas, devido ao ano bissexto, que se repetia a cada quatro anos. O ano astronômico é um pouco mais curto do que isso: 365 dias, 5 horas, 48 minutos e 47,5 segundos!

A diferença de pouco menos de 12 minutos, aparentemente insignificante, somava-se ano após ano, e com o passar do tempo passou a preocupar os religiosos. Afinal, se o calendário vigente errava ao dizer a data do Equinócio, errava também quanto à Páscoa. Algo precisava ser feito…

Beda, o Venerável (673 – 735), um monge beneditino inglês, foi o primeiro a chamar a atenção para o problema da data da Páscoa. Mas seus apelos não foram ouvidos pela cúpula da Igreja. Robert Grosseteste (c. 1175 – 1253), João de Sacrobosco (1190 – 1244) e Roger Bacon (c. 1219 -c. 1292) também chamaram a atenção sobre a defasagem do calendário civil em relação aos movimentos celestes. Bacon, em uma carta ao Papa Clemente IV, descreve o calendário juliano com sendo “intolerável, horrível e menosprezível”.

O papa Clemente VI, em 1344, chegou a contatar eminentes astrônomos da época para aconselhá-lo na reforma do calendário. Infelizmente, logo depois a Europa mergulhou num período muito triste de sua história, com a chegada da Peste Negra, e a reforma foi deixada de lado.

Em 1437, o cardeal Nicolau de Cusa (1401 – 1464) apresentou seus estudos perante uma comissão instituída pelo Concílio de Basel, em 1434. Nicolau recomendou a reforma do calendário juliano, a ser realizada em 1439. Novamente o destino interviu. Problemas políticos fizeram com que o papa Eugênio IV fosse deposto, assumindo Félix V em seu lugar. Durante um certo tempo, havia dois papas e a reforma, mais uma vez, foi deixada de lado.

Em 1475, o papa Sixto IV recrutou o astrônomo Johannes “Regiomontano” Muller (1436 – 1476) para reformar o calendário. Infelizmente, Regiomontano morreu um ano depois, sem ter avançado em seus estudos.

O astrônomo Paul de Middelburg (1446 – 1534) tentou convencer o papa seguinte, Inocente VIII, a reformar o calendário. Seus apelos só foram considerados em 1512, pelo Papa Leão X. Por querer consultar os reis europeus antes de realizar a reforma, Leão X não conseguiu colocar em prática as idéias de Paul de Middelburg.

Os próximos papas a tocarem neste delicado assunto, a reforma do calendário, foram Pio IV, Pio V e, finalmente, Gregório XIII. O primeiro, em 1562, colocou a reforma na pauta do Concílio de Trento. O Concílio decidiu por adiar qualquer medida. O sucessor de Pio IV, Pio V, reformou o calendário eclesiástico, algo de que não trataremos aqui, mas não teve força política para mexer no calendário civil.

Por fim chegamos a Gregório XIII, sucessor de Pio V. Antes mesmo de se tornar papa, o então cardeal Ugo Boncampagni já estava convencido da necessidade da reforma do calendário. Foi ele quem organizou a construção da Galleria della Carta Geografiche, apelidada de “Torre dos Ventos”, e durante a instalação de um relógio de Sol pelo astrônomo Ignazio Danti (1536 – 1586) pôde observar que, de fato, a posição do Sol estava em discordância com as previsões feitas pelo calendário juliano.

Ao assumir o papado, em 1572, Gregório XIII se imbuiu da tarefa de corrigir o calendário. O primeiro estudioso a apresentar uma proposta de reforma ao recém-empossado papa foi Aluise Baldassar Lilio (1510 – 1576), um astrônomo calabrês. Suas idéias eram muito similares às de João de Sacrobosco, mas é impossível saber se foram baseadas nelas.

Uma comissão de notáveis foi formada para estudar a proposta de Lilio, liderada pelo padre jesuíta Christopher Schlüssel, também conhecido como Clavius (1537 – 1612). Depois de muitas deliberações, Clavius encaminhou para Gregório XIII sua proposta para a reforma do calendário.

Em 1582, os países católicos alteraram seus calendários. Ao dia 4 de outubro seguiu-se o dia 15, para que o Equinócio de março voltasse a coincidir com sua data esperada (o dia 21). E para que o erro não voltasse a se repetir, Clavius sugeriu (e foi atendido) uma mudança na regra dos anos bissextos. A partir de então, os anos bissextos seriam aqueles que fossem múltiplos de 4, mas não de 100 (a não ser que estes últimos também fossem múltiplos de 400). Assim, os anos terminados em 00 seriam quase sempre anos comuns. As exceções foram os anos de 1600 e 2000.

Em nosso cotidiano, podemos até dizer que os anos bissextos acontecem a cada 4 anos, pois a próxima exceção, um ano que deveria ser bissexto mas não será, será o ano de 2100!

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Arrays

A astronomia tem uma peculiaridade em relação às demais ciências: nosso objeto de estudo nunca está ao nosso alcance. Não podemos programar uma incursão a uma estrela, nem tampouco podemos reconstruir uma em laboratório. Tudo o que sabemos sobre as estrelas, sabemos com base em informações que nos chegam do espaço. Daí a importância dos instrumentos que nos permitem coletar esses dados…

Quanto mais largo for um telescópio, mais luz entra nele. E quanto mais luz, mais detalhes conseguiremos discernir. O famoso telescópio de Galileu tinha uma abertura de 51mm de diâmetro. Hoje, o maior telescópio ótico do mundo tem um espelho coletor de imagens com 10,4m de diâmetro! E  já há conversas sobre construir um gigantesco telescópio com 30 metros de diâmetro!

Resumindo: quanto maior a abertura, mais dados conseguimos coletar.

E isso vale também para os radiotelescópios. As antenas parabólicas funcionam exatamente como os espelhos, coletando radiação eletromagnética em um ponto focal. No caso dos espelhos, essa radiação é no comprimento de onda visível. No caso das antenas, são ondas de rádio. Assim, quanto maior for a antena, melhores são os dados. A maior antena de radiotelescópio fica em Porto Rico, e tem 305m de diâmetro.

Mas há um limite estrutural para o tamanho máximo desses instrumentos. Tanto telescópios ótico quanto radiotelescópios podem sucumbir ante o próprio peso se forem muito grandes! Para superar essa limitação, surgiu a ideia das matrizes de telescópios, ou arrays, em inglês.

Mas o que é um array?

Quem dirige sabe a importância dos espelhos retrovisores. O que sempre me impressiona é que um conjunto pequeno de espelhos pequenos seja capaz de dar ao motorista toda a visão necessária para a segurança no trânsito. Isso acontece porque os três espelhos estão estrategicamente posicionados e, juntos, funcionam com um grande espelho único que dá visão total da parte de trás do veículo!

Assim funciona um array astronômico. Dado os comprimentos de onda envolvidos, os arrays são mais comuns na radioastronomia. Várias antenas estrategicamente posicionadas funcionando como uma gigantesca antena única, usando uma técnica conhecida como interferometria.


© Padilla https://www.almaobservatory.org/en/about-alma-at-first-glance/how-alma-works/technologies/interferometry/

Uma das matrizes de antena mais famosas é o ALMA (Atacama Large Milimeter Array, “Grande Matriz Milímetro do Atacama, onde o termo “milímetro” se refere ao comprimento de onda típico observado por suas antenas). São 66 antenas funcionando em conjunto, e dependendo de como elas forem configuradas, podem equivaler a uma antena de 16km de diâmetro!

Os arrays ganharam grande evidência recentemente com a divulgação da primeira foto de um buraco negro. Esse marco na história da ciência só foi atingido graças a uma gigantesca matriz de telescópios ao redor do mundo, coletivamente denominada de Event Horizon Telescope. E não por acaso, o ALMA faz parte desse conjunto!


By ESO/O. Furtak – https://www.eso.org/public/images/ann17015a/, CC BY 4.0,
https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=57580702

A história da astronomia pode ser contada através dos saltos tecnológicos. As matrizes de telescópios, ou arrays, certamente são um desses saltos!

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Os Dias da Semana

Em nossas redes sociais, estamos com uma série semanal falando sobre os dias da semana. Afinal, são sete dias em uma semana por conta dos sete “planetas” clássicos da Antiguidade.

(A palavra “planeta” vem entre aspas, pois faz referência ao termo grego original, “estrelas errantes”. Os sete “planetas” clássicos são: Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter, Saturno, Sol e Lua.)

Em nosso mais recente post sobre o assunto, na quinta-feira, falamos sobre Júpiter e Thor…

Mas eis que uma de nossas seguidoras nos passou uma missão! Falar sobre a origem dos nomes em português dos dias da semana . Pois bem, @rosa.pires31, missão dada é missão cumprida!

Por que o dia da Lua é segunda-feira em português? E o dia de Marte é terça?

O responsável por isso foi um bispo da cidade portuguesa de Braga, que posteriormente foi canonizado e hoje é conhecido como São Martinho Bracarense. Em meados do século VI, ele decidiu honrar a tradição da Semana Santa e tornar, naquela semana, todos os dias “feriados”. Ou, no linguajar da época, “ferias”. Tínhamos a “prima feria”, a “secunda feria”, a “tertia feria”, a “quarta feria”, a “quinta feria” e a “sexta feria”. O último dia da semana, o dia sagrado de descanso, teve seu nome adaptado do hebraico, e Shabbath virou “sabatum”.

O que começou valendo somente na Semana Santa acabou se tornando um hábito ao longo do ano e se espalhou por Portugal. Eventualmente, a “prima feria” foi dedicada ao Senhor e passou a se chamar Dies Domini, que acabou virando nosso domingo.

E assim ficamos com a nossa semana portuguesa, de domingo a sábado, contando numericamente os demais dias. Muito pouco astronômico, mas ainda assim interessantíssimo!

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Perspicillum

Ninguém sabe quem inventou o telescópio. Na maioria das vezes, isso é atribuído a Galileu Galilei, mas isso está errado. Não sabemos quem inventou o telescópio! Mas sabemos quem NÃO o inventou. Certamente não foi Galileu…

Outro nome associado à invenção do telescópio é o ótico holandês Hans Lippershey. Há mais verdade nisso do que na história de Galileu. De fato, Lippershey tentou patentear um instrumento “para ver coisas ao longe como se estivessem perto”. A patente não foi concedida, pois já havia rumores de que tais instrumentos já estavam em uso antes disso. Mas o governo holandês ficou tão impressionado que recompensou Lippershey com uma boa soma em dinheiro.

A “invenção” de Lippershey foi citada pelo Rei do Sião, em um relatório produzido por sua Embaixada na Holanda, endereçado ao Príncipe Maurício, datado de outubro de 1608. Tal documento circulou  pela Europa (o que hoje chamaríamos de “viralizou”) e estimulou vários óticos, físicos e filósofos a construírem seus próprios equipamentos. Entre tantos cientistas, Galileu Galileu.

Por falta de um nome oficial, Galileu batizou seu novo equipamento de perspicillum, um neologismo em latim que nasceu do mesmo tronco das palavras “perspicácia” e “perspectiva”. Para Galileu, aquele era um instrumento que lhe trazia uma nova perspectiva perante o mundo celeste. E, de fato o fez. Galileu descobriu luas ao redor de Júpiter, crateras na Lua, fases de Vênus…

Mas definitivamente não inventou o telescópio! Nem o nome oficial é de sua autoria… A palavra “telescópio” foi cunhada pouco tempo depois, em 1611, pelo matemático grego Demisiani. “Tele-”, longe; “scopos”, ver.

E como vemos longe com os nossos telescópios! Originalmente feito com lentes, evoluíram para os espelhos e se tornaram maiores, mais potentes e mais precisos. Hoje temos telescópios gigantes, além de um ambicioso projeto de construção de um telescópio de 30m de diâmetro em seu espelho principal!

O que seria da Astronomia sem essa perspicaz tecnologia?

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Primeiro de Abril

Nesta nova fase de nosso site, assumimos o compromisso de produzir cinco textos inéditos por semana, um para cada dia útil. E cada dia útil é temático. Ontem inauguramos a Terça Tech; amanhã será a vez da Quinta Kids.

Mas se amarrássemos tudo muito bem amarradinho, talvez estivéssemos amarrados demais! E assim surgiu o conceito da Quarta Qualquer, onde temos mais liberdade para falar de temas livres. Como o nome sugere, qualquer assunto, mesmo que apenas remotamente ligado à Astronomia, é bem-vindo nas nossas quartas-feiras!

E para começarmos bem, vamos falar de uma efeméride do nosso calendário, celebrada em abril: o Dia da Mentira!

Antes de mais nada, precisamos lembrar a todos que o início do ano, que celebramos em 1º de janeiro, é uma data completamente arbitrária. É uma convenção social, um acordo de cavalheiros. Tanto é que outros calendários, como o chinês ou o judaico, por exemplo, começam o ano em datas diferentes. Mas no nosso calendário, o ano começa em 1º de janeiro.

Só que nem sempre foi assim…

A data “natural” para o início do ano, antigamente, era o equinócio de março, início da primavera no Hemisfério Norte. É o final do longo sofrimento do inverno e a promessa de um recomeço. O próprio nome da estação, Primavera, faz alusão ao começo do ano. “Prima”, primeira…

Nos dias atuais, o equinócio de primavera do Hemisfério Norte varia entre 20 e 21 de março; mas já foi no dia 25.  Ou seja, durante muito tempo o ano começou no dia 25 de março…

Ainda na Roma Antiga, essa passagem de ano foi transferida para o dia 1º de janeiro. Mas a liturgia religiosa permaneceu observando o 25 de março. E dentro desse cenário religioso, esse início do ano em final de março é conhecido como “Estilo da Anunciação”, pois teria sido nessa data que a Virgem Maria recebeu, do Anjo Gabriel, a notícia de sua iminente gravidez.

(Por curiosidade, o início do ano em 1º de janeiro, segundo o cânone cristão, é conhecido como “Estilo da Circuncisão”, pois teria sido nessa data que o bebê Jesus, nascido sete dias antes, teria sido circuncidado.)

Durante muito tempo, havia dois inícios do ano na Europa Cristã. O 1° de janeiro (início do ano civil) e o 25 de março (início do ano litúrgico). E aparentemente todos conviviam bem com isso. Até que, em 1564, o Rei Carlos IX, da França, decretou que em seu reino apenas o calendário civil seria observado. Os católicos franceses protestaram e, para marcar posição, passaram a comemorar de forma ostensiva o 25 de março. Tão intensa era a comemoração que ela durava uma semana inteira! E assim, o primeiro “dia útil” para essa população era o 1º de abril…

A outra parcela da população francesa, fiel ao decreto real, passou a hostilizar os católicos por causa disso. Com o passar do tempo, criou-se a tradição das troças, mentiras e “pegadinhas” no 1º de abril. Ainda que, gradualmente, toda a população francesa tenha migrado para o “Estilo da Circuncisão” (especialmente após a criação do Calendário Gregoriano, em 1582).

Essa tradição da “mentira” no 1º de abril existe desde então. E isso é a mais pura verdade!

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O que é um planetário?

Mudança de fase faz parte do mundo eletrônico… E aqui, em nosso espaço
virtual, não poderia ser diferente. Mudamos de fase, trazendo para o nosso
público um novo site. E dentro dessa nova proposta, vêm colunas temáticas,
distribuídas ao longo dos dias da semana, de segunda a sexta.
Todas as terças, vocês vão encontrar aqui neste espaço um artigo sobre
tecnologia. Bem-vindos à Terça Tech!
E, para começar, nada mais justo do que falarmos do aparelho que dá nome à
nossa instituição…


O que é um planetário?


Planetário é o nome de um instrumento que projeta o céu estrelado e reproduz
seus movimentos; além das estrelas, tal projetor também reproduz os planetas
visíveis a olho nu, o Sol e a Lua. Originalmente este projetor era optomecânico,
isto é, possuía uma lâmpada que, através de um intrincado sistema de lentes
ou fibras ópticas, direcionava os raios de luz para a cúpula de projeção,
promovendo a simulação do céu noturno estrelado.
Tal projetor deve ser instalado no centro de uma cúpula, que serve como tela
de projeção. Com as luzes apagadas e o projetor ligado, as pessoas no interior
da cúpula vêem uma simulação do céu. Todas as projeções de um planetário
são feitas cuidadosamente de modo a reproduzir o céu real com a maior
fidelidade possível. Os movimentos deste aparelho se refletem na projeção e,
para a audiência, parece que o céu está se movendo.
Recentemente, um novo paradigma vem se fortalecendo. Os projetores deixam
de ser optomecânicos e passam a ser digitais. Um planetário digital usa um
conjunto de hardware/software para gerar as imagens celestes que serão
enviadas para a cúpula de projeção. Estas imagens não estão limitadas, como
no modelo clássico de planetário, a meras reproduções celestes. Um planetário
digital pode projetar, dentro da cúpula, qualquer imagem que seja gerada no
formato apropriado. Qualquer filme, foto ou figura que pode ser visualizado em
uma tela de computador, com o devido tratamento, pode também ser projetado
pelo planetário digital.

As imagens projetadas envolvem a plateia. Diferentemente de uma sala de cinema, onde a tela fica à frente de todos, em uma cúpula de planetário digital, a tela fica ao redor de todos. É o que se chama de imersão. As imagens projetadas são genericamente chamadas fulldome (em inglês, “toda a cúpula”). O formato de projeção é conhecido como fulldome imersivo. E como pode ser aplicado a qualquer imagem, em qualquer contexto, o planetário deixa de ser um instrumento dedicado exclusivamente à Astronomia. As cúpulas passam a ser “Teatros de Visualização Digital”.

O produto final do que é projetado na cúpula de um planetário é chamado de “filme fulldome”.

O que é um filme fulldome?

Há diferentes formatos de projeção, e os mais conhecidos são o 4:3 (televisão de tubo, tela quadrada) e o 16:9 (televisão de plasma, LED ou LCD; tela de cinema). No momento da produção de conteúdo, é preciso se pensar no formato em que ele será exibido. Filmes feitos para o cinema sempre terão as bordas “cortadas” quando vistos em televisões quadradas. Produções de TV feitas no formato 4:3 nunca preencherão a tela toda se vistas em uma TV de LCD.

O formato fulldome imersivo é diferente de tudo isso. Para ser exibido dentro da cúpula, a produção deve ter o formato redondo e, ainda por cima, sofrer uma distorção para adequá-la ao fato de que a tela onde será projetada simplesmente não é plana. Além disso, deve ser produzido em altíssima definição, pois mesmo cúpulas pequenas (com seis ou oito metros de diâmetro, por exemplo) possuem telas gigantescas para os padrões da produção audiovisual.

Um filme fulldome é uma produção audiovisual que respeita as restrições impostas pelo formato fulldome imersivo e, portanto, ao ser finalizado, estará apto para ser apresentado dentro de uma cúpula que possua um sistema de projeção compatível (planetário digital).

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Ondas Gravitacionais

Fonte: LIGO

O sistema binário estava morto; as duas estrelas haviam exaurido todo o seu combustível nuclear e não mais geravam energia. Mas seus corpos continuavam ali, agora mais densos do que antes, na forma de estrelas de nêutrons. Continuavam ali e girando, uma ao redor da outra, cada vez mais próximas, em evidente rota de colisão. Até que, enfim, colidiram.

Isso aconteceu há centenas de milhões de anos. E essa colisão foi tão forte que chacoalhou o espaço-tempo em suas redondezas. E essa perturbação se espalhou em todas as direções, na forma de ondas gravitacionais, como previsto pela Teoria da Relatividade Geral.

Uma vez que entendemos que a gravidade não é uma força em si, como dizia Isaac Newton, mas sim uma curvatura espaço-temporal causada pela presença da matéria (como disse Albert Einstein), não é difícil entender o que seja uma onda gravitacional. A presença de matéria curva o espaço. Se esta matéria muda (ou porque se move, ou porque se junta com mais matéria), esta curvatura espacial vai se alterando. Esta alteração na curvatura do espaço se propaga, como as ondas na superfície de um lago onde jogamos uma pedra.

A teoria é bela, e não é nova. Já sabemos disso há mais de 100 anos. O desafio era medir isso, comprovar de forma empírica o que as complexas equações de cálculo tensorial já afirmavam. Afinal, a passagem de uma onda gravitacional em nossa região deforma todo o espaço. Inclusive as réguas que usamos para medir o espaço. Ou seja, se o espaço encurta (e depois se estica), mas as réguas também encurtam (e se esticam), como medir isso?

Em um texto anterior, falei sobre isso e expliquei o funcionamento do LIGO, o “observatório de ondas gravitacionais por interferometria a laser” (em tradução livre do nome original em inglês). O LIGO revolucionou nossa capacidade de enxergar o Universo, pois nos deu uma nova janela. A janela das ondas gravitacionais. Como um bom pioneiro que é, o LIGO ainda é pouco sensível. Para conseguirmos obter uma medição, é preciso um evento catastrófico, que realmente impacte o espaço! Suas primeiras medições foram de choques entre buracos negros, os objetos mais massivos que existem.

Mas à medida que a tecnologia avança, e entendemos melhor o fenômeno, a sensibilidade do LIGO aumenta. E temos agora o Virgo, um interferômetro semelhante, construído por um consórcio europeu (o EGO, Observatório Gravitacional Europeu, na sigla em inglês), localizado na Itália. LIGO e Virgo detectaram recentemente um choque entre duas estrelas de nêutrons!

Estrelas de nêutrons são objetos astrofísicos, resultado da morte de estrelas de grande massa. Não são tão densos quanto os buracos negros, o que atesta para a eficiência melhorada dos observatórios gravitacionais terrestres. Os modelos teóricos apontavam para uma emissão de raios gama durante tal choque, e isso foi de fato observado por observatórios que operam nesta faixa do espectro eletromagnético.

Pela primeira vez, o mesmo fenômeno foi observado através de ondas eletromagnéticas e ondas gravitacionais. Vivemos tempos empolgantes. O céu é o limite. Literalmente!