Primeiro de Abril
Nesta nova fase de nosso site, assumimos o compromisso de produzir cinco textos inéditos por semana, um para cada dia útil. E cada dia útil é temático. Ontem inauguramos a Terça Tech; amanhã será a vez da Quinta Kids.
Mas se amarrássemos tudo muito bem amarradinho, talvez estivéssemos amarrados demais! E assim surgiu o conceito da Quarta Qualquer, onde temos mais liberdade para falar de temas livres. Como o nome sugere, qualquer assunto, mesmo que apenas remotamente ligado à Astronomia, é bem-vindo nas nossas quartas-feiras!
E para começarmos bem, vamos falar de uma efeméride do nosso calendário, celebrada em abril: o Dia da Mentira!
Antes de mais nada, precisamos lembrar a todos que o início do ano, que celebramos em 1º de janeiro, é uma data completamente arbitrária. É uma convenção social, um acordo de cavalheiros. Tanto é que outros calendários, como o chinês ou o judaico, por exemplo, começam o ano em datas diferentes. Mas no nosso calendário, o ano começa em 1º de janeiro.
Só que nem sempre foi assim…
A data “natural” para o início do ano, antigamente, era o equinócio de março, início da primavera no Hemisfério Norte. É o final do longo sofrimento do inverno e a promessa de um recomeço. O próprio nome da estação, Primavera, faz alusão ao começo do ano. “Prima”, primeira…
Nos dias atuais, o equinócio de primavera do Hemisfério Norte varia entre 20 e 21 de março; mas já foi no dia 25. Ou seja, durante muito tempo o ano começou no dia 25 de março…
Ainda na Roma Antiga, essa passagem de ano foi transferida para o dia 1º de janeiro. Mas a liturgia religiosa permaneceu observando o 25 de março. E dentro desse cenário religioso, esse início do ano em final de março é conhecido como “Estilo da Anunciação”, pois teria sido nessa data que a Virgem Maria recebeu, do Anjo Gabriel, a notícia de sua iminente gravidez.
(Por curiosidade, o início do ano em 1º de janeiro, segundo o cânone cristão, é conhecido como “Estilo da Circuncisão”, pois teria sido nessa data que o bebê Jesus, nascido sete dias antes, teria sido circuncidado.)
Durante muito tempo, havia dois inícios do ano na Europa Cristã. O 1° de janeiro (início do ano civil) e o 25 de março (início do ano litúrgico). E aparentemente todos conviviam bem com isso. Até que, em 1564, o Rei Carlos IX, da França, decretou que em seu reino apenas o calendário civil seria observado. Os católicos franceses protestaram e, para marcar posição, passaram a comemorar de forma ostensiva o 25 de março. Tão intensa era a comemoração que ela durava uma semana inteira! E assim, o primeiro “dia útil” para essa população era o 1º de abril…
A outra parcela da população francesa, fiel ao decreto real, passou a hostilizar os católicos por causa disso. Com o passar do tempo, criou-se a tradição das troças, mentiras e “pegadinhas” no 1º de abril. Ainda que, gradualmente, toda a população francesa tenha migrado para o “Estilo da Circuncisão” (especialmente após a criação do Calendário Gregoriano, em 1582).
Essa tradição da “mentira” no 1º de abril existe desde então. E isso é a mais pura verdade!