Microgravidade e o Corpo Humano
Por Naelton Mendes de Araujo – Astrônomo da Fundação Planetário da Cidade do Rio de Janeiro
Muito antes do primeiro astronauta, Yuri Gagarin, ir ao espaço em 1961, já havia uma grande preocupação com os efeitos do espaço no corpo humano. O ambiente espacial tem vários fatores de estresse físico e psicológico que podem causar grandes problemas aos astronautas. A radiação e o vácuo exigem trajes e naves para controlar o ambiente. Mas a gravidade é a maior barreira. No interior de uma nave em órbita (com os motores desligados) os corpos não apresentam peso. Chamamos este estado de imponderabilidade ou microgravidade. Flutuar no interior de uma nave ou estação espacial pode parecer bonito, mas traz vários problemas ao nosso organismo que funciona usando a gravidade terrestre para várias funções corporais.
Desde os primeiros voos tripulados de longa duração há uma grande preocupação em que os astronautas façam exercícios para não perderem massa muscular devido ao pouco uso em microgravidade. Está confirmado também que os ossos perdem cálcio em estadias prolongadas no espaço. Outro problema é a questão da distribuição da pressão sanguínea. Nos primeiros dias de imponderabilidade o sangue flui para a parte superior do corpo. Depois da alguns dias a situação melhora um pouco, porém, só volta ao normal quando o astronauta volta à Terra.
Para complicar mais ainda, as longas viagens espaciais também produzem um efeito ainda mais nocivo: a queda da imunidade. Desde a década de 70, quando as primeiras estações espaciais e as missões à Lua estavam no auge, se percebe a baixa nas defesas imunológicas dos astronautas. Daí a necessidade de quarentena (isolamento) para evitar que fiquem expostos a uma carga grande de germes. Em alguns dias o corpo volta a produzir anticorpos como antes. Recentemente descobriu-se que a baixa imunidade é devido à ausência de peso. Uma matéria recente trouxe um estudo científico que comprova este comportamento.
Este tipo de problema pode ser muito grave em uma viagem a Marte, por exemplo. Imagine os astronautas pegando uma infecção de um possível fungo marciano. Não seria nada aventuresco ter uma tripulação inteira com olhos inchados e nariz escorrendo na hora da volta.
Uma solução já cogitada é produzir “gravidade artificial”. Isso pode ser feito através de um compartimento rotativo que produza uma aceleração centrífuga que simule o efeito do peso sobre os astronautas. Se você já assistiu ao filme “2001, Uma Odisseia no Espaço” (1968) certamente já viu isso no interior da nave fictícia Discovery One.
Links interessantes: