Grandes Tempestades Solares
Por Naelton Mendes de Araujo – Astrônomo da Fundação Planetário do Rio de Janeiro
Em 1859, uma tempestade solar sem precedentes causou bastante transtorno nos Estados Unidos. Cabos telegráficos apresentaram correntes elétricas intensas que geraram faíscas e pequenos incêndios. Houve auroras boreais em quase toda América do Norte, visíveis até a Florida e o Caribe. Foi uma das primeiras evidências de uma conexão da atividade solar com o campo magnético terrestre.
Em 1989, uma tempestade destas provocou descargas na rede elétrica no Canadá e causou um grande apagão.
Mas o que são estas tempestades? Elas serão mais comuns nos próximos anos? Temos o que temer? Qual a extensão destes efeitos terrestres?
Algumas explosões na superfície do Sol produzem “nuvens” de plasma, partículas carregadas e radiação intensa. Se este plasma atinge em cheio a Terra (o que não é comum) temos uma tempestade geomagnética. As partículas solares não chegam a atingir a superfície terrestre. Elas são desviadas pelo campo magnético do nosso planeta e somente algumas conseguem atingir a alta atmosfera ao longo dos polos magnéticos. As auroras (boreais no norte e austrais nos sul) são o produto da interação destas partículas com os átomos da nossa atmosfera. Se a quantidade de matéria solar for bem grande surgem correntes elétricas no solo capazes de causar os efeitos observados em 1859 e 1989 em países mais próximos aos polos.
O Sol sempre está ativo, mas a cada 11 anos atingimos um máximo de atividade. Cada ciclo não é exatamente igual ao anterior. Este ciclo atual tem se mostrado pouco intenso comparado com os anteriores. Não há nada que indique uma atividade solar maior para os próximos anos.
Nenhuma grande nuvem de plasma solar atingiu a Terra desde de que entramos na era espacial. Hoje temos satélites em diversas órbitas. Os satélites geoestacionários e os GPS são os mais vulneráveis por estarem mais distantes, fora da proteção do campo magnético terrestre. Uma pane parcial nestes serviços não seria algo improvável numa situação de tempestade solar severa.
Vários países e agências já levam isso em consideração. Existem redes de monitoramento contínuo do “clima espacial” que dão alertas quando necessário. Os satélites mais modernos têm sistemas de proteção que podem evitar ou minimizar panes em situações de atividade solar intensa.
É bem difícil sermos atingidos em cheio por uma emissão de plasma solar. Se isso acontecer os países do hemisfério norte seriam os mais atingidos devido à sua proximidade com os polos magnéticos. Muitos meios de comunicação exageram um pouco a extensão destes efeitos. Não haveria dano a celulares, pois eles não usam satélites diretamente. As redes elétricas em altas latitudes sofreriam um “blackout” temporário, mas não permanente. Haveria bastante transtorno sim, mas nada tão apocalíptico.
Este link abaixo mostra um pouco destas preocupações: http://oglobo.globo.com/ciencia/cientistas-alertam-sobre-fragilidade-diante-de-supertempestade-solar-7547720