De Alcântara para o Espaço
Por Naelton Mendes de Araujo – Astrônomo da Fundação Planetário do Rio de Janeiro
Novembro passado tive a oportunidade rara de visitar o Centro de Lançamentos de Alcântara, no Maranhão. Um ponto de tecnologia no meio de um lugarejo bem atrasado que só agora começa a se desenvolver. Depois de sacudir bastante a bordo de um pequeno catamarã, atravessamos a baía de São Marcos e chegamos a uma vila bem humilde. O ônibus avançou por uma viela poeirenta, mas logo estávamos em uma via pavimentada destoando das casinhas de sapê, lojas antigas e roças.
No caminho para a base da Aeronáutica pude ver carros com o logotipo da Alcântara Cyclone Space (ACS). Ano passado escrevi um artigo sobre esta empresa pública binacional de capital brasileiro e ucraniano.
Em 2003, poucos meses depois do acidente que destruiu o nosso foguete VLS e a sua base de lançamento, foi assinado um tratado entre Brasil e Ucrânia para o uso do foguete Cyclone 4. Essa foi a base para o surgimento da empresa três anos depois.
Há muita discussão sobre o pesado investimento já feito e o que falta fazer para tornar possível o lançamento destes foguetes ucranianos a partir da base brasileira. Infelizmente, não há transferência de tecnologia através desta empresa. Este é um ponto fraco do empreendimento que já consumiu quase R$400 milhões nos últimos seis anos. Há muitas incertezas se o projeto deve ou não continuar consumindo tantos investimentos.
Um dos problemas que a ACS enfrenta é o impasse devido a um acordo, por assinar, com os EUA. A falta de um acordo inviabiliza o lançamento de foguetes com componentes americanos a partir do Brasil.
Além disso, o Cyclone 4, apesar de barato e confiável, não é potente o suficiente para pôr grandes satélites de telecomunicação em órbita geoestacionária, que é o maior mercado espacial. Concorrer com as gigantescas lançadoras de satélites americanas e europeias não vai ser uma tarefa fácil mesmo com a vantagem geográfica de uma base de lançamento próxima do Equador e um lançador econômico.
Novamente nosso programa espacial anda ameaçado.