Um Conversível no Espaço – Falcon Heavy
Que história é essa de colocar um carro no espaço? Quem teve essa ideia maluca? Por que isso é notícia?
Para responder estas perguntas temos que pensar no momento atual da exploração espacial.
Pequeno Panorama da Exploração Espacial Atual
Desde a corrida espacial entre EUA e URSS, nas décadas de 50 e 60, muita coisa mudou. O gigantesco foguete Saturno V (com 111 metros de comprimento) foi o grande veículo espacial do programa Apollo. Este foguete foi projetado pela NASA (Marshall Space Center, sob o comando de Von Braun) e construído por três grandes indústrias aeroespaciais norte-americanas: Boing, North American Aviation e Douglas Aircraft. O último astronauta a pisar na Lua foi em 1972 e desde então o Saturno V foi aposentado. Entre 1975 (missão conjunta Soyuz-Apollo, usando o Saturno IB, uma versão reduzida do Saturno V) e 1981 (a primeira missão do Space Shuttle) os norte-americanos não fizeram nenhum voo tripulado.
Qual a principal diferença entre o Saturno V e o Space Shuttle? O Saturno V, como a grande maioria dos foguetes que funcionam hoje, é todo descartável. São três grandes estágios que vão sendo descartados ao longo da missão. A única coisa que volta do conjunto é a cápsula e mesmo assim imprestável, sem chance de ser recuperada para outra missão. No caso do Space Shuttle (construído pela empresas United Space Alliance, Thiokol/Alliant Techsystems, Lockheed Martin/Martin Marietta e Boeing/Rockwell) a nave principal é parecida com um avião (na verdade é um planador hipersônico) e pousa de forma parecida (totalmente recuperável). No lançamento, dois boosters (foguetes que só funcionam no momento do lançamento) agem como primeiro estágio: se destacam mas podem ser recuperados depois (pousam de paraquedas no mar). A única parte que não é reaproveitada é o enorme tanque de propelente (veja a figura abaixo).
Em 2011, após 135 missões, incluindo viagens à Mir e à ISS, os Space Shuttles foram aposentados. Mesmo sendo um sistema reutilizável, o lançamento de um Space Shuttle custa algo entre 450 milhões a 1,5 bilhão de dólares. Desde então os norte-americanos tem dependido das naves russas Soyuz para visitar a ISS. Várias empresas privadas, contratadas ou não pela NASA, tem tentado desenvolver lançadores mais econômicos e práticos para levar carga e tripulantes ao espaço. É neste cenário que surge a SpaceX, empresa que projeta, constrói e lança foguetes e espaçonaves desde 2002. Seu fundador, diretor técnico e executivo, é o multimilionário Elon Musk (1971, África do Sul).
O que o Falcon Heavy tem de revolucionário?
Desde de 2006 a SpaceX desenvolveu uma família de motores denominada Merlin. Os motores Merlin usam oxigênio líquido e RP1 (uma espécie de querosene de aviação muito refinada). Foi esta família de motores que equipou uma série de foguetes denominados Falcon. O grande sucesso do Falcon 9, em sua versão reutilizável, permitiu que a empresa de Musk se tornasse a grande esperança de revolucionar a exploração espacial. Utilizando o Falcon, a SpaceX desenvolveu também uma cápsula retornável que já fez várias viagens à ISS, a Dragon. O Falcon Heavy consiste de três Falcon 9 colocados lado a lado. A carga útil vai em cima de um estágio superior (o único que não retorna). Em 6 de fevereiro de 2018 (nesta última terça-feira) foi o seu primeiro voo teste. Foi um sucesso mesmo com um dos Falcon 9 não conseguindo pousar. Mas porque é tão importante?
1- É o foguete mais potente em atividade hoje. Só perde para o Saturno V que está fora de linha.
2 – Mais da metade do conjunto é reutilizável. Seu preço é muito menor que o seus principais concorrentes como o Delta IV, o Proton e Ariane V (ver figura abaixo).
E o carro?
O Tesla Roadster que foi enviado pelo Falcon Heavy vai apenas como um peso necessário para testar a capacidade do foguete de lançar cargas pesadas. Foi na verdade um grande golpe de propaganda: o Elon Musk também um dos donos da Tesla Motors. Não tem função científica alguma. Subiu com o conteúdo dos livros de Isaac Asimov e Douglas Adams. Mesmo sem propagar som no espaço havia um tocador de música “Space Oddity” de David Bowie. Além disso, um boneco usando um protótipo de traje espacial compôs cenário promocional. O carro foi posto em uma órbita heliocêntrica (girando ao redor do Sol) que cruza a órbita de Marte e atinge um ponto de maior afastamento do sol (afélio), próximo ao planeta-anão Ceres dentro do cinturão principal de asteroides.
Animação do voo teste do Falcon Heavy.