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Nossos Astros na Ficção Científica: Vênus

Na série dos nossos astros na FC, hoje falaremos de Vênus.

Vênus é o segundo planeta a partir do Sol, e por seu brilho forte na Antiguidade era tido como uma estrela, quando não havia exatamente como se distinguir os astros. Surgindo logo depois do Poente e antes do Nascente, era chamada Estrela Vésper e Estrela D’Alva, referindo-se a dois astros distintos na cultura grega antiga (Phosphorus ou Heosphorus/Hesperus – “Portadora da Luz” e “Portadora da Manhã”) assim como na egípcia (Tioumoutiri e Ouaiti). Os sumérios, entretanto, identificavam-no como o mesmo corpo, associando-o à deusa Inanna, Ishtar pelos acádios, Ninsi’anna e depois Dilbat pelos babilônios, e finalmente como a “estrela de Vênus” pelos romanos – ainda que a correlação grega pudesse ser ainda utilizada, agora como Lucifer e Hesperus. A deusa romana do amor e da beleza acabou por conquistar o planeta.


Estrela de Ishtar

Vênus por Botticelli

Inanna

Como novamente não se pode deixar de observar, é nas obras de Athanasius Kircher (“Itinerarium Exstaticum”, 1656) e Emanuel Swedenborg (“De Teluribus”, título abreviado, 1758) que Vênus surge pela primeira vez como destino de alguma história.

A observação posterior com lunetas e telescópios revelou um mundo com uma contínua camada de nuvens, sem que se pudesse ver detalhes da superfície. Com o tempo, começou-se a associar que, já que nuvens são feitas de vapor d’água, um planeta com uma camada de nuvens assim devia ter muita água, considerando-se ainda a proximidade com o Sol. Não demorou para que se considerasse Vênus como sendo repleto de formas de vida, apesar da observação inicial não se poder dizer nada da superfície do planeta, como observou Carl Sagan em “Cosmos” (1980).

Três correntes especulavam, devido a isto, que ou Vênus poderia ser um mundo “oceânico”, com no máximo algumas ilhas em uma superfície quase toda coberta de água; um enorme pântano – isto é, terra exposta na superfície, mas não exatamente “seca” –; ou, por fim um, grande deserto. Essas três correntes de pensamento influenciaram bastante o que viria a ser escrito até final dos anos 1960.

Do mundo oceânico vieram histórias como “Last and First Men” (1930), de Olaf Stapledon, onde a odisseia da Humanidade que ele conta passa por Vênus, após sermos forçados a emigrar para lá, tendo em vista a queda da Lua na superfície da Terra. É a primeira história onde o conceito de terraformação é aplicado, embora não o nome – às custas do genocídio dos venusianos nativos.

Clássico da FC militar, “Clash by Night” (1943), de Henry Kuttner e C. L. Moore, conta sobre a Humanidade no 4o. Milênio, com a Terra destruída pela energia atômica e os sobreviventes em cidades-estado submarinas em Vênus, com companhias mercenárias guerreando pelas facções. A superfície é inóspita, coberta por uma fauna e flora agressiva e venenosa.

“Perelandra” (1943) de C. S. Lewis (mais conhecido pelas “Crônicas de Nárnia”) nos traz o oposto, um mundo idílico de humanoides verdes com um rei e uma rainha, onde a terra firme é substituída por enormes superfícies de vegetação flutuante.

“Lucky Starr e os Oceanos de Vênus” (1954), de Isaac Asimov, também descrevem um cenário de um mundo com pouca terra exposta.

Do mundo pantanoso; uma declaração do Nobel de Química de 1918, Svante Arrhenius, dando total certeza que a superfície de Vênus era coberta por pântanos, gerou toda sorte de histórias de um autêntico “Jurassic Planet”. Temos então Edgar Rice Burroughs reciclando seu “John Carter de Marte” no personagem Carson Napier de Vênus, com princesas alienígenas sendo salvas agora em um mundo gigantescas florestas e estranhas raças inteligentes e sociedades, em uma série de livros nos anos 1930. A série alemã “Perry Rhodan”, conhecida do público brasileiro, também apresenta Vênus similar. Um mundo de selvas e pântanos com primitivos homens-lagartos inteligentes é descrito no conto “Entre as Paredes de Eryx” (1939), por H. P. Lovecraft. Este é o Vênus também de Robert Heinlein, em seu ciclo da “Future History”, onde o clima, apesar de desconfortável para os humanos, não os impede de usá-lo para o plantio e colheita.

Um Vênus para propósitos agrícolas é descrito por Jack Williamson em “Seetee Ship” (1949) e “Seetee Shock” (1950), onde lá se planta arroz após uma iniciativa colonizadora dos povos da Ásia Oriental liderados pela China, que para lá transfere o governo, após os EUA montarem uma base de mísseis nucleares na Lua e assim dominarem a Terra.

O mestre Ray Bradbury apresenta um Vênus de chuvas eternas, ao ponto do enlouquecimento, em que náufragos de um foguete acidentado vindo da Terra têm que sobreviver em “The Long Rain” (1951). É dele também “All Summer in a Day” (1954), passado em um Vênus também eternamente em chuvas conseguindo ter o Sol por uma hora a cada sete anos, onde conta uma história de crueldade infantil.

Do mundo desértico, pouco depois da declaração de Arrhenius, em 1922 os astrônomos americanos Charles Edward St. John e Seth B. Nicholson não conseguiram detectar água ou oxigênio na análise espectroscópica que faziam de Vênus, propondo então um vasto mundo deserto. Obviamente que essa visão não poderia ser tão popular quanto a de um mundo pantanoso com dinossauros, mas isso não impediu que autores como Poul Anderson escrevessem “The Big Rain” (1954) ou Frederick Pohl e C. M. Kornbluth, “The Space Merchants” (1954).


Mapa topográfico de Vênus (fonte: wikipedia)

Nos anos 60, os programas de exploração espacial Mariner e Venera lançaram sondas a Vênus, derrubando de vez qualquer probabilidade de um Vênus facilmente habitável: apesar das dimensões venusianas serem próximas às da Terra (a gravidade é de 9/10 da nossa, ou seja, se você pesa 100 kg na Terra, em Vênus você pesaria 90 kg), Vênus muito difere em todo o resto. Vênus não é apenas “mais quente”, ele é infernal com seus 460o C na superfície (o suficiente para derreter chumbo), pressão atmosférica equivalente à 90 das nossas ao nível do mar e uma atmosfera composta, entre outros elementos que nos são tóxicos, de ácido sulfúrico. Sim, chove ácido sulfúrico em Vênus.

A partir daí, a literatura especulativa se ajustou à realidade recém-descoberta. O “Vênus jurássico- haitiano” só voltaria após uma explicação qual algum processo de terraformação que, a futuro, assim o deixaria.

Um conflito armado entre a França e China se dá em Vênus, com os soldados protegidos por armaduras especiais em “Man of Two Worlds” (1986), de Frank Herbert.

“Venus of Dreams” (1986), “Venus of Shadows” (1988) e “Child of Venus” (2001) compõem uma trilogia sobre a terraformação de Venus, pela autora Pamela Sargent.

Geoffrey A. Landis, em “The Sultans of Clouds” (2010), escreve sobre colonos habitando a alta atmosfera de Vênus em cidades-balões, onde a temperatura é razoavelmente próxima da Terra.


Arte conceitual da NASA sobre colônias aéreas na alta atmosfera de Vênus (fonte: NASA)

“Caliban’s War” (2012), de James S. A. Corey – de onde a série “The Expanse” se baseia – nos mostra Vênus sendo colonizada por uma protomolécula alienígena.

E, porque tudo é uma questão de estilo, a antologia “Old Venus” (2015) foi organizada por George R. R. Martin e Gardner Dozois, participando diversos autores que apresentam histórias em homenagem às visões de outrora, voltando a sonhar Vênus como ele nunca havia sido.

Luiz Felipe Vasques

26/04/2019

Links externos:

https://en.wikipedia.org/wiki/Venus_in_fiction
https://en.wikipedia.org/wiki/Terraforming_of_Venus
http://www.sf-encyclopedia.com/entry/venus
https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Map_of_Venus.png

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