Memorial no Espaço
Por Naelton Mendes de Araujo – Astrônomo da Fundação Planetário
A uma distância de uns 36.000km acima do nível do mar, em uma órbita no mesmo plano do equador terrestre, um satélite giraria com a mesma velocidade da rotação da Terra. Nesta posição o veiculo espacial pareceria pairar sobre a mesma posição geográfica. Essa órbita recebeu o nome de Anel de Clarke, em homenagem ao escritor de ficção científica Arthur C. Clarke (1917-2008). Ele era também técnico em telecomunicação e previu a utilidade desta trajetória espacial na revista Wireless World em 1945, doze anos antes do lançamento do primeiro satélite artificial. Este anel é povoado por centenas de satélites de telecomunicação e meteorológicos em posições que valem muito nos dias de hoje. Quando um satélite destes termina sua vida útil os operadores reservam uma quantidade de combustível para a sua última manobra. Os motores levam então o veículo, agora “aposentado”, para seu destino final liberando uma vaga preciosa.
A chamada “órbita cemitério”, para onde vão os satélites geoestacionários fora de operação, fica a uns 300km acima do Anel de Clarke. Um objeto colocado ali não cai novamente na Terra. Nesta distância as perturbações gravitacionais e a pressão da radiação não são capazes de diminuir o tamanho da órbita. Ele pode ficar girando ali por milênios. Um disco como o da Voyager pode durar indefinidamente se for protegido contra a radiação solar. O artista americano (veja o artigo: Coleção de fotos e ilustrações será lançada ao espaço a bordo de satélite) escolheu um lugar bem apropriado para preservar suas mensagens para o futuro: um memorial no espaço numa órbita cemitério.