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Coluna do Astrônomo

Fusos Horários

Acho que comecei uma série neste blog, ainda que involuntária. Vou chamá-la de “Tolerância Zero”, em uma homenagem a um antigo quadro humorístico protagonizado pelo saudoso Francisco Milani.

Já reclamei sobre vários usos indevidos de expressões astronômicas e científicas (a mais recente foi o “sol a pino”). Pois volto às minhas reclamações…

Era a cobertura jornalística das últimas eleições – um show de jornalismo, diga-se de passagem –, quando o locutor, do Rio, chama a repórter, em Mato Grosso do Sul. Ela diz: “Aqui no Mato Grosso do Sul as eleições ainda não terminaram, pois temos fuso horário…”

Como assim? Aqui no Rio também temos fuso horário! Que eu saiba, não há lugar na Terra que não tenha fuso horário!

Certo, certo. Todos sabemos o que ela quis dizer. Ela quis dizer que o fuso do Mato Grosso do Sul é diferente do fuso do Rio. Sim, foi isso o que ela quis dizer. Mas não foi isso que ela disse! Grande diferença.

Os fusos horários são uma invenção humana e, podemos dizer, uma arbitrariedade. Na China, por exemplo, o segundo maior país do planeta, há apenas um fuso horário! Isso é um absurdo geográfico, mas como os fusos são arbitrários, o governo chinês decidiu que todos deveriam seguir a hora de Pequim.

Uma arbitrariedade mais respeitosa é o que se costuma fazer, considerando-se o fato de que cada quinze graus de longitude deve corresponder a uma faixa de fuso horário. Mas como definir uma origem para esse sistema?

A superfície da Terra é bidimensional, o que significa dizer que para localizarmos qualquer ponto sobre ela precisamos de um conjunto de dois números, chamados “coordenadas”. As coordenadas oficiais são a latitude e a longitude. Ora, se temos duas coordenadas, precisamos de duas linhas de base, dois “zeros”. O zero da latitude é fácil de encontrar, pois o movimento da Terra define um eixo imaginário e este eixo, por sua vez, define um círculo que divide a Terra em duas metades iguais (este círculo é o Equador).

É importante entender que qualquer círculo máximo divide a Terra em dois hemisférios, mas apenas o Equador se localiza no plano que está a noventa graus do eixo de rotação da Terra. A Natureza nos deu uma linha de base. Mas a outra, precisamos criar…

Há infinitos círculos máximos passando sobre a Terra. Dentre estes, há uma classe especial que são aqueles que cruzam o Equador de forma ortogonal (perpendicular). Este subconjunto, também com infinitos elementos, é formado pelos meridianos terrestres. Respeitando uma convenção antiga de que os eixos de um sistema de coordenadas devem ser, preferencialmente, perpendiculares, qualquer um dos meridianos terrestres seria uma boa linha de base para construirmos a longitude.

Mas se qualquer meridiano poderia ser usado, por que usar o de Greenwich?

Bom, poderíamos simplesmente dar de ombros e retrucar: por que não? Mas há uma razão, como descrita na Curiosidade do Mês de junho de 2000, publicada no folder da Fundação Planetário:

A maior potência do final do século XIX era, sem sombra de dúvidas, a Inglaterra. “O Sol nunca se põe no Império Britânico”, dizia-se na época. E como uma forma de manter coeso este vasto território, a Inglaterra investiu em tecnologia e conhecimento.

De cada quatro mapas da época, três eram de origem inglesa. Desenhados a partir dos dados obtidos pela Marinha britânica, estes mapas, já havia muito tempo, usavam a longitude do Observatório Real de Greenwich como marco zero.

Mas havia mapas feitos na França que usavam o meridiano de Paris como marco zero; e mapas russos que usavam o meridiano de Moscou e assim por diante. Com o crescimento do intercâmbio entre os países, ainda no século XIX, pensou-se que deveria haver uma unificação. Em 1884, houve uma reunião em Washington, EUA, onde 41 delegados representando 25 países finalmente colocaram um fim à confusão cartográfica. Como a maioria dos mapas já usava o meridiano de Greenwich, optou-se por torná-lo, oficialmente, o meridiano zero da Terra. Continuando a citar a Curiosidade do Mês: “Luis Cruls, astrônomo belga radicado no Brasil, declara o voto brasileiro: abstenção. A França também se abstém, e o pequeno San Domingos vota em Paris. Todos os demais países representados escolhem Greenwich. Estava criado o meridiano zero de nosso planeta (e, como consequência disso, nascia também o sistema de fusos horários que usamos até hoje).”
 
No século XIX, como nos dias de hoje, conhecimento era poder.