H. P. LOVECRAFT (O Alienígena)
Terça última, dia 20 de Agosto, Howard Phillips Lovecraft teria feito 129 anos.
Natural de Providence, estado americano de Rhode Island, teve sua região natal da Nova Inglaterra como cenário de várias de suas histórias.
Desde criança, Lovecraft demonstrou interesse por ciências, como química e astronomia, esta se tornando uma paixão. Na juventude, era um dedicado astrônomo amador, mantendo nos tempos de escola um jornalzinho de astronomia, com um professor. Era frequentador assíduo do Observatório Ladd, em sua cidade natal, e assinou diversos artigos sobre astronomia para jornais locais. Escrevia uma história envolvendo um planeta imaginário no sistema solar, quando a descoberta de Plutão foi anunciada: rapidamente o incluiu na história.
Mas também pelas letras, começando pela poesia, desde cedo. Entre suas influências literárias estão Edgar Allan Poe e Edgar R. Burroughs, além de Arthur Machen e Lord Dunsany.
O organizador da antologia “Tales of the Cthulhu Mythos” (Arkham House, 1984) nota que, se seguirmos a obra de Lovecraft cronologicamente ele começa no terror e o gótico e aos poucos migra para uma forma de ficção científica, que como gênero consolidava exatamente naquele período (o nome do gênero surgiu em 1928). Tomos mofados de conjuração de forças arcanas e cultistas de missas negras não mais invocam demônios, mas seres estranhos à própria realidade. Pela incapacidade de situá-lo, em geral o classificam como um dos precursores de weird fiction.
A ciência embarca como estranha forma de explicar o que continua sendo inexplicável, fantasmas e demônios clássicos se tornam seres alienígenas no mais distante e distorcido senso que ele consegue descrever, a arqueologia levanta a descoberta de cidades e templos remontando a milhões e milhões de anos, bem antes até da vida como a conhecemos – que dirá a Humanidade – existir na Terra.
Em Lovecraft, a fonte de horror mantém um pé mínimo na materialidade, mas só. A ideia é que o que concebemos como real, e ao que se referem tanto os valores da sociedade quanto os fatos científicos são apenas uma ilusão gerada por nossas mentes para nos protegermos: pois se estivéssemos face a face com a Realidade titânica, cósmica e incompreensível, na melhor das hipóteses indiferentes a nós, na pior delas conspirando contra, nós simplesmente enlouqueceríamos.
Lovecraft começou a atrair outros autores que, como ele, publicavam no circuito de revistas pulp, as publicações de papel barato com literatura de consumo e descarte: horror, espionagem, aventuras na selva, policial, e… ficção científica, ou o aquilo que ela vinha se tornando; na época a se destacar a Weird Tales Magazine.
No “Círculo Lovecraftiano” estava Robert E. Howard, o criador de Conan, o Bárbaro. Ambos chegaram a citar elementos da obra um do outro nas respectivas histórias, como o Povo-Serpente ou os deuses Pai Dagon e Mãe Hydra. Os autores do Círculo trocavam ideias constantemente entre si, gerando farta correspondência. Lovecraft estimulava que usassem suas ideias, sem problema algum, quase como um “open source” antes do tempo.
Entretanto, suas histórias começaram a fazer sucesso nos anos 1960, trinta anos depois de sua morte. Pode ser que Lovecraft o autor de literatura fantástica mais influente do Século XX, superado por J. R. R. Tolkien. Seu novo jeito de ver as coisas e os temas a partir daí propostos transcenderam a literatura, indo para o universo dos RPGs, boardgames, games, quadrinhos e cinema, algumas vezes como adaptações diretas, outras diversas vezes como referência ou inspiração. Vários criadores de peso o têm como influência maior, bastando citar três gigantes em suas áreas: Guillermo del Toro (cinema), Mike Mignolla (quadrinhos) e Stephen King (literatura), este inclusive que também elege a Nova Inglaterra como cenário de suas histórias. Jorge Luis Borges apreciava, dedicando-lhe o conto “There are more things”. Suas ideias atraíram um círculo de escritores que, com ele, brincavam com seus elementos de terror e ficção científica, desenvolvendo uma informal porém reconhecível “literatura lovecraftiana”, dentro do tema e do estilo.
Em vida, não conheceu a fama e o sucesso que suas histórias tiveram mais tarde, falecendo de câncer aos 46 anos, depois de uma série de revezes financeiros ao longo de sua vida.
Sua obra é conhecida do público brasileiro há décadas, desde os tempos da saudosa Francisco Alves, e depois que entrou em domínio público alguns anos atrás, tornou-se mais fácil de encontrar entre as variadas editoras que o publicam no Brasil.
De minha recomendação, seu livro “O Horror Sobrenatural em Literatura”, em que discorre sobre… bem, o que está no título, no mínimo é ótima fonte de referências para quem deseja conhecer dicas de nomes e obras. Das novelas e contos, “Nas Montanhas da Loucura”, as histórias passadas nas Dreamlands e minha favorita, “Uma Sombra Fora do Tempo”.
Fica uma nota discricionária aos interessados: Lovecraft tinha uma postura xenofóbica e racista, refletida em seus escritos, o que é lamentável sob o aspecto que se queira ver. Infelizmente, obra e autor não conseguiram transcender o tempo e o espaço da maneira que os panoramas e vistas propiciados por sua poderosa imaginação conseguiam, sendo produtos de sua própria época e contexto.
Luiz Felipe Vasques
Rio, 21/08/2019
LINKS EXTERNOS
H. P. Lovecraft na Wikipedia
H. P. Lovecraft Archive
Lovecraft, Howard e a Weird Tales Magazine (legendas em inglês).
Mundo Tentacular – blog lovecraftiano brasileiro de Luciano Paulo Giehl, com bastante conteúdo, entre notícias, RPG, e estranhezas gerais.