O Planetário pausará as suas atividades no dia 16 de Dezembro para manutenção de equipamentos e retornará a partir do dia 03 de Janeiro de 2023.
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Nesse vídeo vamos conversar sobre uma escala de tamanho dos planetas do nosso Sistema Solar. Você sabe qual o tamanho da Lua em comparação com a Terra? Sabe quantas Terras caberiam dentro do Sol? Um dos pontos fundamentais da Astronomia é a noção de escala, que nos permite conhecer tamanhos, distâncias e volumes sem decorar números. Esperamos que depois desse vídeo os alunos tenham uma compreensão melhor das dimensões relativas entres os tamanhos planetas do Sistema Solar, a Lua e o Sol. Também e feita uma comparação entre o tamanho do Sol e algumas estrelas fáceis de se observar no céu noturno.
Assista às lives que oferecemos para tirar dúvidas online dos alunos da Rede Pública Municipal de Ensino da Cidade do Rio de Janeiro.
Nesta época do ano podemos ver, logo no início da noite, um aglomerado de estrelas conhecido como Plêiades. Este grupo de estrelas nasceu de uma mesma nuvem de gás e poeira, chamada nebulosa, aproximadamente há 100 milhões de anos. A olho nu, nas cidades, onde tem muita iluminação, vemos com certa dificuldade algumas poucas estrelas. Elas estão perto da estrela Aldebaran, o olho da constelação do Touro. Aldebaran é uma estrela avermelhada e a mais brilhante do Touro, facilmente observada.
Mas
voltando às Plêiades, sete estrelas se destacam. São elas: Merope,
Maia, Alcione, Asterope, Electra, Taigete e Celeno. Elas receberam o
nome das sete filhas de Atlas e Pleione, segundo a mitologia grega.
Com um binóculo, ou um pequeno telescópio, este grupo é muito
bonito de se ver.
Mas o que Vênus tem a ver com elas? A princípio, nada, a não ser que ele está bem próximo das Plêiades. Vênus vai cada dia se aproximando deste grupo até, finalmente, ficar na frente dele, no dia 3 de abril de 2020, e depois vai se afastando. Como o planeta é muito brilhante, ele ofuscará o aglomerado. Como será no início da noite, vale a pena tentar observar essa aproximação. Mas, claro, tomando todas as medidas de segurança neste tempo de COVID-19. Portanto, não se exponha!
Com a carta celeste a seguir, para o dia 3/4/2020, na cidade do Rio de Janeiro, você poderá encontrar Vênus, Aldebaran (a estrela laranja grande à esquerda de Vênus, na cabeça do Touro, lembrando a letra V) e as Plêiades (o grupo azul junto com Vênus). Você terá que ter o horizonte voltado para lado do pôr do sol. O horário da carta é 22h UTC, que no horário de Brasília corresponde a 19h. Se você se encontra em outra cidade, vá no nosso sitee acesse a carta celeste para a sua localização.
Hoje, dia 26 de março de 2020, diversas cidades e estados estão em quarentena devido ao surto do COVID-19. Um vírus que teve origem na China, mas se espalhou por todo o globo terrestre (sim, a Terra é redonda!). Escolas, centros comerciais e equipamentos culturais (como museus, teatros, cinemas, etc.) fecharam temporariamente suas portas para tentar minimizar a propagação do vírus.
A Fundação Planetário da Cidade do Rio de Janeiro está fazendo a sua parte!! Estamos fechados para a visitação presencial, mas toda a equipe continua trabalhando, principalmente em regime conhecido como home office, ou seja, em casa, para a segurança de nossos funcionários e mantendo a excelência de nossos serviços.
Com este intuito, a fim de manter a divulgação da Astronomia e do conhecimento científico de uma forma geral, farei uma série de pequenos artigos sobre o tema: “A Matéria Escura”. Este assunto gera enorme interesse em todas pessoas que gostam desta ciência. Assim, dividirei em pequenos tópicos que apresentarei semanalmente, para que nossos leitores possam ler, aprender um pouco mais e interagir através de perguntas enviadas para as nossas mídias sociais (Facebook, Twitter, Instagram, etc.)
Introdução
Para falar de matéria escura, primeiramente
pedirei para o leitor fazer um pequeno exercício de imaginação.
Vocês gostam de filmes de terror? Lembram-se daqueles em que portas abrem e fecham sozinhas? Correntes são arrastadas e passos são ouvidos no sótão e no porão? Já adivinharam sobre o que estou falando? Claro que estou descrevendo efeitos observados de um personagem comum da imaginação popular: o fantasma! A menos que carregue um lençol branco, só poderemos constatar a presença desta entidade quando os efeitos acima descritos são percebidos.
Não querendo ofender nenhuma crença ou
religião, para a Ciência, isto é apenas fruto de nossa imaginação e pode ser
explicado de diversas formas, mas esta não é a intenção deste artigo.
Agora imagine uma “entidade” cuja presença é
detectada pela forma como esta interage gravitacionalmente com os corpos em seu
entorno, influenciando a movimentação e a forma da curva de rotação de
galáxias, a velocidade de estrelas dentro de aglomerados estelares, a colisão
de galáxias e até possibilitando observar objetos tão distantes que nem os
melhores telescópios atuais possuem resolução espacial suficiente para
enxergar!
Para esta “entidade” damos o nome de matéria
escura!! Uma matéria que não pode ser verificada por nenhum detector de emissão
eletromagnética, em nenhum comprimento de onda, nem no raio gama, no
ultravioleta, no visível, no infravermelho, no micro-ondas, no raio X, etc.,
mas seus efeitos gravitacionais em materiais visíveis, chamados de matéria
bariônica, são observados de maneira direta e contundente.
A matéria bariônica, para simplificar a compreensão do leitor, é aquela que podemos observar através de algum tipo de interação eletromagnética, que emite “luz” em algum tipo de comprimento de onda listado acima. Apesar de ser a matéria que observamos diariamente e através dela termos a noção da pequenez de nossa existência, observando as estrelas, os planetas e as galáxias, a matéria bariônica é apenas 5% da densidade de energia do Universo. O restante, aproximadamente 22%, é de matéria escura e 73% está na forma de energia escura (falaremos sobre isso em outros artigos).
Os primeiros observadores da matéria escura
Para iniciar esta série de textos, falarei
sobre as observações e os trabalhos que foram feitos para a descoberta e a
comprovação da matéria escura.
Fritz Zwick e o aglomerado de Coma
O primeiro cientista a propor a existência da
matéria escura foi Fritz Zwick, um astrônomo suíço que, usando um teorema
físico chamado Virial, observou o movimento das galáxias no aglomerado de Coma,
em 1933. Zwick observou uma anomalia ao estimar a massa gravitacional do
aglomerado, utilizando a velocidade rotacional das galáxias, em comparação à
massa obtida através da observação direta da luminosidade emitida pelas
estrelas, nebulosas e o envoltório de gás.
Zwick estimou que existiria uma quantidade
400 vezes maior de massa que não emitia radiação eletromagnética, matéria
escura, em relação à matéria bariônica. Hoje sabemos que 90% da massa do
aglomerado é composta de matéria escura.
Vera Rubin e as curvas de rotação das galáxias
“Como é possível você viver no planeta Terra
e não querer estudar o Universo”. Esta frase icônica da astrônoma
norte-americana Vera Rubin exprime muito desta mulher pioneira em uma área
dominada por homens nos anos de 1970.
No final dos anos de 1960 e início dos anos
de 1970, Vera Rubin estudou a velocidade de rotação de galáxias próximas, de
uma forma bem precisa e sistemática. Ao publicar seu trabalho, mostrou que
existia uma discrepância entre o valor calculado, através da Lei de Kepler, e o
valor observado. Ela encontrou uma constância na velocidade de rotação para as
regiões mais afastadas do centro das galáxias.
Para tentarmos explicar esta constância,
podemos tentar contornar utilizando uma teoria alternativa, chamada MOND ou
Dinâmica Newtoniana Modificada, que não tem muita aceitação no meio acadêmico.
Poderemos falar sobre ela em um outro momento, ou propor a existência da
matéria escura. Esta última é muito mais aceita, não apenas pela simplicidade, mas
também por ter mais evidências de sua existência.
O aglomerado da bala
Este objeto é o resultado de uma colisão de
dois aglomerados de galáxias e nos mostra de forma clara como a matéria escura influencia
no resultado de um encontro entre cada um dos componentes destes aglomerados.
A imagem mostra uma composição feita com observações
do telescópio espacial em raio X, o Chandra, e do telescópio espacial, no
comprimento de onda visível, o Hubble.
A observação em raio X nos mostra os
componentes de gás intergaláctico que colidiram, aquecendo-se, e estão
representados na imagem pela cor rosa. Observe que o gás está na região mais
central, pois, por ser mais disperso e interagir de forma mais eficiente,
“ficou para trás”.
A região azulada representa a distribuição de
matéria escura na qual as galáxias estão imersas. Como as galáxias não se
colidem individualmente, porque suas dimensões são bem menores em relação à
separação entre elas, atravessaram a área central da colisão, acompanhando a
matéria escura e separando-se do envoltório intergaláctico de gás.
Lentes gravitacionais
A distorção do espaço-tempo permite que
façamos inúmeros trabalhos. Um deles é observar objetos que estão atrás de
outros mais próximos (um exemplo foi a observação de uma estrela que se
encontrava angularmente atrás do Sol durante o eclipse de 1919 em Sobral, no
Ceará, e na Ilha do Príncipe, na costa da África, servindo para comprovar a
Teoria da Relatividade Geral).
Uma outra utilização é determinar a massa que
está causando esta deformação, uma vez que algumas destas são provocadas por
matéria que não emite nenhum tipo de radiação, ou seja, pela matéria escura, que
pode estar em uma galáxia supermassiva ou em um aglomerado de galáxia.
Veja abaixo a imagem de lentes gravitacionais
e a explicação gráfica do caminho percorrido pela luz. Existem diversos objetos
que comprovam, tanto a existência das lentes gravitacionais, quanto da matéria
escura que as provocam.
Estamos terminando este primeiro texto sobre
a matéria escura. Colocarei semanalmente esta série de textos tentando
elucidar, e até mesmo criar mais dúvidas, para os nossos leitores.
Continuem a nos seguir pelas diversas mídias sociais.
Teremos novidades todos os dias.
No dia 24, terça-feira, o planeta Vênus estava em sua elongação máxima. O que isso significa? Como Vênus está em uma órbita interior à órbita terrestre ele sempre está muito próximo ao Sol: ou à tarde ou pela manhã. Dia 28 Vênus fica bem do lado do crescente lunar. É fácil identificar Vênus no céu: é o astro mais brilhante do céu depois do Sol e da Lua.
O planeta é acompanhado pela humanidade desde que alguém começou a notar a diferença do movimento de cinco dos astros mais brilhantes do céu. As estrelas pareciam estar fixas, umas em relação às outras, permitindo formar desenhos imaginários: as constelações. Já os planetas se moviam de forma complicada através da faixa do zodíaco. Pela proximidade de Vênus com o Sol muitos povos pensaram ser dois planetas diferentes: um vespertino e outro matutino. Os gregos chamavam de Fosforus e Hesperus; os romanos de Lúcifer e Vésper; já os egípcios chamavam de Tioumoutiri e Ouaiti . Os maias acompanharam e registraram os movimentos venusianos e os usaram em seus calendários.
Com a invenção do telescópio, Vênus se mostrou ainda mais misterioso. Galileu identificou suas fases em 1610. Em 1761, durante um trânsito (quando o planeta cruza o disco solar visto da Terra), Mikhail Lomonosov descobriu evidências da existência de atmosfera.
Mais de 40 sondas foram enviadas a este planeta desde a década de 1960. Algumas sobrevoaram, outras colidiram, outras lançaram sondas atmosféricas e poucas pousaram em sua superfície. Algumas falharam, mas as que nos enviaram dados nos ajudaram muito a compreender mais sobre este misterioso vizinho. A sonda Magellan, por exemplo, mapeou a sua superfície usando radar pois as nuvens de Vênus encobrem tudo.
Vênus tem quase a mesma massa e o mesmo tamanho da Terra, o que faz com que sua gravidade seja praticamente a igual a nosso planeta. Por outro lado, a pressão da atmosfera marciana é enorme, capaz de nos esmagar se estivéssemos em sua superfície. Isso acontece devido à composição química da atmosfera venusiana. O principal componente é o dióxido de carbono (CO2); quase 97% da atmosfera. Isto torna a atmosfera mais densa e mais opaca à radiação infravermelha. A luz solar penetra nas camadas gasosas, aquece a superfície, se torna infravermelha (forma de propagar calor por radiação) e esta radiação fica presa no planeta através do que se usou chamar de efeito estufa. Em decorrência disso, Vênus é o planeta mais quente do Sistema Solar, mesmo estando mais longe do Sol que Mercúrio (que não tem atmosfera).
Mas a atmosfera venusiana não é só densa e quente. Ela gira muito mais rápido que o planeta em seu movimento de rotação. Vênus, este estranho, gira ao contrário dos demais planetas e faz isso muito lentamente: mais de 200 dias terrestre pra dar uma volta. Mas a atmosfera gira no sentido oposto, em torno de quatro dias terrestres. Isto gera ventos que podem atingir 300km/h ou mais, compatíveis com os furacões da Terra. Este fenômeno, chamado de super-rotação, tem intrigado pesquisadores que hoje geram modelos de computador para simular o que está acontecendo no planeta. Este modelos levam em consideração não só a densidade e a temperatura dos gases, mas sua viscosidade e o transporte de calor nas diversas latitudes venusianas.
O maior planeta do Sistema Solar é Júpiter. Dentro dele cabem mais de 1.000 planetas iguais à Terra! Se a Terra fosse uma uva, Júpiter seria do tamanho de uma bola de basquete. E você sabia que ele tem duas vezes mais massa que todos os outros planetas juntos?
Ele está distante do Sol cerca de 800 milhões de quilômetros. A essa distância ele demora 12 anos terrestres para completar uma volta ao redor do Sol (um ano de Júpiter). Mas o dia lá é bem curto: demora apenas 10 horas!
Assim como Saturno, Urano e Netuno, Júpiter tem anéis. Mas são difíceis de observar e só foram descobertos quando a nave Voyager passou por lá.
Sua temperatura média é de 110 abaixo de zero! Muuuito frio!
É o segundo planeta com o maior número de satélites do Sistema Solar. São 79! Por enquanto só perde para Saturno com 82 satélites.
Vamos ver se você consegue encontrar alguns destes satélites?
Alexei Arkhipovich Leonov nasceu em 30 de Maio de 1934 e faleceu dia 11 de Outubro último. Ele foi um piloto e general da antiga Força Aérea soviética, escritor, artista e cosmonauta.
É dele a primeira atividade extra-veicular, ou caminhada espacial: quando o cosmo/taiko/astronauta sai da segurança de sua nave e se expõe aos rigores do espaço, com seu traje espacial selado. Sem a tecnologia desenvolvida mais tarde que oferecia a possibilidade de propulsão, somente um cabo umbilical o conectava à cápsula Voskhod-2. Isso foi executado em 18 de março de 1965.
Nos 1960s, a ficção científica já era gênero estabelecido, e com a corrida espacial, era como se seus escritores antecipassem o futuro em alguns poucos anos: Gagarin havia ido ao espaço em 1957 e agora as duas superpotências competiam por feitos no espaço exterior. Até o fim da década, a Lua seria visitada e “2001 – Uma Odisseia no Espaço” estaria publicado e filmado, e a todos era óbvio que Marte seria alcançado pela Humanidade em coisa de dez anos, se tanto.
O gênero também se diversificava nessa década, com a entrada de temáticas ligadas às ciências humanas e sociais em campo. Em 1965, Phillip K. Dick tinha seu “Os Três Estigmas de Palmer Eldritch” publicado, Harry Harrison publicava a sátira à Guerra do Vietnã “Bill, o Herói Galáctico”, e um dos marcos do gênero como um todo, falando de política, religião e civilização também era lançado: “Duna”, de Frank Herbert. Era a entrada da “new wave” da FC, com temas indo além de extrapolações antecipadas por autores com afinidades nas Ciências Exatas.
As telas ainda nos davam “Viagem Fantástica”, “Fahrenheit 451” e “O Planeta dos Macacos”, entre muitos outros.
Leonov teve a experiência, sentiu a inspiração e deu vazão pela técnica: pintor auto-didata, ele foi um raro caso de criador de “arte espacial” tendo uma vivência em primeira mão. Quando subiu ao espaço, levava lápis e um caderno, retratando o que via pelas escotilhas. As pinturas que vemos ao longo da coluna de hoje são de suas obras.
Ele ainda contribuiu para a ficção científica ao co-escrever o roteiro do filme soviético “The Orion Loop” (1980), de Vasily Levin.
O próprio gênero lembrou-se dele: Arthur C. Clarke, ao escrever “2010 – Uma odisseia no espaço II” (1982), apresenta uma nave soviética que leva seu nome.
A similaridade de uma das imagens icônicas de “2001 – Uma Odisseia no Espaço” (1968) com um quadro seu (abaixo) não lhe escapou, obtendo Clarke um desenho autografado mais tarde.
Dez anos depois, em julho de 1975, Leonov esteve em uma missão orbital de grande importância, quando uma cápsula soviética Soyuz e uma americana Apollo se encontraram em órbita, e seus ocupantes confraternizaram, executando um símbolo pela paz nos tempos de guerra fria e lutando por outros sonhos e inspirações, não menos importantes.
Nada mal, para quem teve um início modesto pintando flores em fogões ajudando com a renda da família.
Luiz Felipe Vasques
14/10/19
Links Externos
Algumas de suas obras, a fonte das imagens de hoje:
Todos os anos, nas noites quentes de verão do hemisfério sul, uma das constelações mais conhecidas dos brasileiros se destaca no céu. Trata-se da constelação do Órion, que é facilmente encontrada no céu, graças ao quadrilátero formado por quatro estrelas bem brilhantes. O conjunto é completado por três estrelas alinhadas na região central do quadrilátero: são as “Três Marias”, um dos asterismos mais famosos no mundo inteiro. A imagem abaixo apresenta o nome das principais estrelas.
Como você já deve ter percebido na imagem acima, vários nomes soam bem estranhos para um ouvido ocidental. São alguns dos muitos casos de estrelas que têm nomes de origem árabe.
A transmissão dos nomes árabes das estrelas se deu por duas vias: uma foi a tradução de obras astronômicas gregas para o árabe, com posterior tradução do árabe para o latim e o espanhol antigo; e a segunda com a chegada dos astrolábios aos centros de saber da Europa Medieval.
A proximidade do mundo islâmico com a China, possibilitou a chegada do papel na península arábica no século 8, facilitando a transmissão de ideias, filosofias e ciências em geral, por meio dos manuscritos. Este movimento mostrou-se decisivo, não somente para o desenvolvimento da ciência islâmica medieval, mas também na construção das bases da ciência moderna na Europa Renascentista.
O poder do papel na disseminação da Astronomia árabe é indiscutível, e os nomes das estrelas estão aí para não nos deixar esquecer. Graças ao papel (e ao astrolábio), sabemos que um dos grupos de estrelas mais conhecidos dos brasileiros – as “Três Marias” -, é formado por três estrelas que não se chamam Maria, Maria e Maria. Mas Alnitak, Alnilam e Mintaka, nomes de origem árabe.
Nomes indígenas árabes
Quem acha que navegar pelas estrelas é uma arte circunscrita aos marinheiros, está muito enganado. Os habitantes da península arábica se valiam dos astros para realizar suas viagens pelo deserto, e por isso, várias estrelas e conjuntos de estrelas, foram nomeados pelos povos nômades. Assim, vários nomes modernos das estrelas são verdadeiramente árabes, pois eram usados pelas tribos árabes muito antes de qualquer contato com a ciência grega. É o caso de Adhara, Almach, Alphard e Aldebarã (seguidor das Plêiades), que era usado tanto para o aglomerado das Hyades, como para a estrela alfa do Touro.
A Grécia chega ao Islã
A mais importante obra de Astronomia da antiguidade clássica é o Almagesto, do astrônomo Ptolomeu. Escrita no século 2, é uma valiosa síntese do conhecimento astronômico da civilização grega. Os modelos planetários contidos no Almagesto influenciaram decisivamente a Astronomia até o século 16. Essa obra foi preservada graças ao esforço hercúleo de tradução das obras clássicas que ocorreu no mundo islâmico, entre os séculos 8 e 10, durante a dinastia Abássida.
Além de modelos matemáticos para os movimentos dos planetas, o Almagesto continha uma seção com um grande catálogo estelar contendo 1.025 estrelas agrupadas em 48 constelações. Cada estrela era acompanhada de suas coordenadas, magnitude e de sua localização na constelação. Por exemplo, a descrição para a estrela alfa da constelação do Peixe Austral era: “aquela na boca do peixe, que é idêntica àquela no começo da água”.
Se passaram quase 800 anos até que o catálogo de Ptolomeu fosse finalmente estudado e revisado de maneira crítica, pelo astrônomo Abu Hussayn Abd al-Rahman ibn Umar al-Sufi. Nascido na Pérsia, al-Sufi (903-986) passou a maior parte da vida por lá. Mas apesar disso, seguindo o costume da época, escreveu seus tratados em árabe. Dentre seus vários trabalhos sobre Astronomia, astrologia e matemática, o mais marcante e ilustre, é o “Livro das Estrelas Fixas”, que teve como modelo o Almagesto. As descrições de localização das estrelas foram traduzidas do grego para o árabe, sendo frequentemente abreviadas para nomear as estrelas. Assim, temos o árabe Fomalhaut, “a boca do peixe”, emprestado da mencionada descrição de Ptolomeu para a estrela alfa do Peixe Austral. É o caso das estrelas Achernar, Algenib, Algol e Marfik.
O Livro das Estrelas Fixas é hoje uma referência de considerável relevância histórica. É uma contribuição genuinamente islâmica ao conhecimento das estrelas; apresenta uma revisão e correção de muitos dados de Ptolomeu; é uma tentativa de coletar e identificar um grande número de nomes árabes indígenas antigos; além disso, por meio de suas ilustrações, se estabeleceu uma tipologia padrão das imagens das constelações. É um verdadeiro manual das constelações, que se tornou dominante e influente por vários séculos, tanto no mundo islâmico como na Europa.
Impacto na Europa Cristã
A Europa tomou conhecimento do
Livro das Estrelas Fixas por tantas vias, que é difícil concluir
qual a dominante, se é que houve uma. O que temos certeza é que
cada uma delas teve seu papel na disseminação da obra de al-Sufi, e
portanto, dos nomes árabes de diversas estrelas.
As primeiras traduções do árabe para o latim datam do século 12, formando o chamado “corpo latino” de al-Sufi, composto de inúmeros manuscritos propagando o uso de nomes árabes para estrelas. No século 13 o rei Alfonso X de Castela reuniu em sua corte sábios cristãos e judeus, que compuseram uma coleção de monografias astronômicas, que foram reunidas num grande manual conhecido como “Libros del saber”. Na parte dedicada às estrelas, foram incluídos muitos dos nomes árabes indígenas mencionados por al-Sufi.
No século 12 al-Sufi passou a ser conhecido em alguns círculos por “Azophi”, graças ao astrônomo judeu Ibn Ezra, cuja obra astronômica ficou famosa na Europa medieval.
Curiosamente um responsável de peso pela disseminação da obra de al-Sufi não era astrônomo. Trata-se do artista alemão Albrecht Dürer (1471-1528), que dentre diversos dons, possuía os da pintura e gravura. Com o auxílio de um astrônomo, publicou em Nuremberg, no ano de 1515, a primeira carta celeste impressa na Europa. Nos quatro cantos do mapa norte, Dürer retratou quatro astrônomos que fizeram contribuições fundamentais para o conhecimento das estrelas. No canto direito inferior, encontramos “Azophi Arabus”, certamente influenciado pela obra de Ibn Ezra e pelas traduções para o latim.
No século 16 os nomes das estrelas ganharam status, se transformando em objeto de estudo de filologistas e linguistas ocidentais. Um importante trabalho foi realizado na Universidade de Oxford, dando ainda mais visibilidade ao trabalho de al-Sufi. Trata-se da publicação da edição comentada do catálogo do astrônomo persa Ulugh Begh (1394-1449), por Thomas Hyde em 1665. O comentário de Hyde foi muito influente entre os astrônomos modernos, servindo de fonte de consulta sobre nomes árabes (tanto indígenas, como tradução do grego).
Após Dürer, vários autores fizeram uso dos dados do então popularizado Azophi. Pode-se dizer que mencionar Azophi conferia status aos mapas estelares produzidos.
O astrônomo e padre jesuíta Giovanni Battista Riccioli (1598-1671) tinha noção da importância do astrônomo persa. Em 1661 publicou o primeiro mapa detalhado da Lua na obra “Almagestum Novum”. Ao nomear crateras e outras características lunares, deu o nome Azophi a uma delas. Mais tarde, Azophi foi adotado na nomenclatura oficial internacional da Lua.
Graças a essa homenagem, al-Sufi (ou Azophi) será mencionado entre astrônomos por muito tempo, assim como os nomes árabes de estrelas, que ele ajudou a eternizar.