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Júpiter Soberano

Por Naelton Mendes de Araujo – Astrônomo da Fundação Planetário da Cidade do Rio de Janeiro

Depois de Marte, além do cinturão de asteroides, nós vamos encontrar o planeta Júpiter, o maior planeta do Sistema Solar e o primeiro de uma outra categoria de planetas. Enquanto os planetas mais internos (Mercúrio, Vênus, Terra e Marte) são planetas densos e pequenos, os planetas externos são chamados de gigantes gasosos: muito maiores, menos densos e compostos basicamente de gases. Destes o maior é Júpiter.

Júpiter é conhecido desde a antiguidade pois é fácil vê-lo no céu. Ele é um dos cinco planetas visíveis à vista desarmada: Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno. Pelo seu movimento lento e o brilho intenso (é o quarto objeto natural mais brilhante visível no céu da Terra), várias civilizações antigas atribuíram grande destaque a Júpiter. Foi associado à maior divindade do Panteão grego: Zeus, o Deus dos Deuses e o rei do Olimpo. Muitos povos associaram-no ao seu deus do trovão.

Da esquerda para a direita: Júpiter (Roma), Thor (Escandinávia) e Zeus (Grécia).

Em 1610, o sábio italiano Galileu Galilei (1564-1642) registrou suas observações de Júpiter no livro Mensageiro Sideral. Este livro foi o primeiro registro metódico de observações celestes feitas através de um instrumento óptico: a recém-inventada luneta astronômica. Observando Júpiter, Galileu percebeu quatro pontos luminosos alinhados com o disco do planeta. Ao observar por um período notou um movimento pendular ao redor do astro maior. Não poderiam ser estrelas: eram os quatro maiores satélites de Júpiter. Mais tarde receberam a denominação de luas galileanas, em homenagem a Galileu.
Mesmo com um telescópio com baixo aumento é possível vê-las. Essa descoberta foi muito importante para a determinação de que a Terra não era o centro do Sistema Solar.

Luas Galileanas: no alto uma imagem telescópica. Abaixo fotos obtidas por sondas espaciais (da esquerda para a direita): Io, Europa, Ganimedes e Calixto.

Essas luas são Io, Europa, Calixto e Ganimedes. Cada uma destas é um pequeno mundo particular. A cada dia se descobre mais coisas interessantes sobre cada uma delas. Io é vulcânica e Europa tem um oceano recoberto de gelo que pode abrigar condições de vida. Esta é um dos mais esperados alvos de missões futuras.

Neste momento nós sabemos que existem pelo menos 79 luas jovianas, mas pode ser que existam mais. Como Júpiter tem uma gravidade muito intensa, ele recolheu muito material ao seu redor durante a sua formação bilhões de anos atrás. Algumas dessas luas podem ter se formado junto com o planeta. Outras luas podem ter sido asteroides ou cometas capturados ao longo da história do Sistema Solar.

Sendo essencialmente gasoso fica estranho falar em uma atmosfera joviana. O planeta, em termos de massa, é composto por 75% de hidrogênio e 24% de hélio. O 1% restante é composto de metano, amônia, fósforo e vapor de água, nesta ordem de abundância. O planeta gira rapidamente em torno do seu próprio eixo num período de quase 10 horas. Mas o ano joviano dura um pouco menos que 12 dos nossos anos terrestres.

Rotação da atmosfera joviana. Note a grande mancha vermelha um pouco à esquerda do centro.

Várias sondas espaciais já visitaram Júpiter. Algumas sobrevoaram e outras ficaram em órbita. A maior parte do que sabemos hoje deste planeta devemos a estes aparatos espaciais.

Primeiras sondas a sobrevoar Júpiter: Pioneer 10 e 11

As primeiras sondas a ultrapassar o cinturão de asteroides foram as Pioneer 10 (1973) e 11 (1974). Esta última chegou a meros 34.000 km da superfície nebulosa do planeta gigante. As primeiras fotos detalhadas de Júpiter e suas luas foram obtidas naquela época.

Voyager 1 e 2: primeira parada Júpiter.

Cinco anos mais tarde, duas sondas Voyager visitaram o planeta em um intervalo de poucos meses. Estas sondas sobrevoaram o planeta gigante e depois prosseguiram para outros destinos, como as sondas Ulysses (1992), Cassini (2000) e New Horizon (2007).

Sobrevoando Júpiter de passagem: Ulysses foi para o Sol, Cassini para Saturno e a New Horizon para Plutão e além.

A primeira sonda a orbitar Júpiter foi a Galileu (1995) que, apesar de uma problema na sua antena, transmitiu dados até 2003. Esta missão também incluiu um pequena sonda atmosférica que penetrou o envoltório gasoso do planeta e transmitiu dados antes de ser esmagada. Em 2016 a sonda Juno entrou em órbita do planeta. Particularmente interessantes foram a fotos de alta resolução dos polos jovianos com seus inúmeros vórtices de gás. Até o momento Juno ainda transmite dados.

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Oposição de Saturno 2018

O segundo maior planeta do Sistema Solar é Saturno, um gigante gasoso. Sua densidade é menor que a da água, mas o que realmente o distingue dos demais é seu vasto sistema de anéis. Os anéis de Saturno são compostos por uma miríade de partículas de gelo e rocha que circundam seu equador em diversos anéis concêntricos. Existem, além de anéis, 62 satélites conhecidos até o momento. Entre estas luas saturnianas encontramos Titã, uma vez e meia maior que a nossa Lua. Várias sondas espaciais já visitaram Saturno e a maior parte das imagens deslumbrantes deste astro vieram destes encontros.

Saturno é considerado o planeta mais bonito visto ao telescópio. Depois da Lua Crescente, é o que há de melhor para começar a observar o céu ao telescópio. Nos dias de Lua Cheia, esta atrapalha um pouco. Se você nunca observou o céu ao telescópio, uma noite ideal é aquela que tenha uma lua crescente e Saturno no céu. As próximas noites de observação aqui no Planetário com estas duas joias no céu são: 18/07, 18/08 e 15/09. No próximo dia 27, uma quarta-feira, Saturno estará em oposição, a melhor época para observar planetas externos à órbita terrestre. Se não conseguir observar no dia não tem problema. Nos próximos dias ainda vai dar para ver bem. Saturno estará praticamente tão brilhante no próximo mês como no dia da oposição. É só torcer para o tempo ajudar e não nublar.

mapa do céu durante a oposição de Saturno 2018
27/6/2018 – O céu no dia da oposição de Saturno (marcado com uma cruz vermelha). Saturno estará bem perto da Lua, na constelação do Sagitário e visível no início da noite na direção do nascente. Bem mais acima, na constelação da Libra (de frente ao Escorpião) estará, ainda bem brilhante, o planeta Júpiter.

Como falei acima, quando ocorre a oposição é a melhor época para ver um planeta externo à órbita da Terra (Marte, Saturno e Júpiter, só pra citar os mais brilhantes). Nesta época a distância do planeta à Terra é menor e, por consequência, o brilho e o tamanho da sua imagem são maiores. Além disso, o planeta fica mais tempo acima do horizonte: praticamente a noite toda. É o início do período bom para observar estes planetas na nossa atividade de observação do céu (às quartas 18h30min e sábados às 19h). Veja em http://www.planetariodorio.com.br/observacao-do-ceu/. Em julho será a vez de Marte, no dia 27. Por enquanto ele aparece como um astro brilhante e dourado durante as madrugadas mais limpas. Vamos aguardar.

Oposição de Saturno
Representação, fora de escala, das posições do Sol, da Terra e de Saturno durante a oposição.

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Oposição de Júpiter

No próximo dia 8 de maio, o planeta Júpiter estará em oposição, melhor época para observá-lo. Ele já está bem visível no céu e permanecerá assim por um bom tempo mas, no período da oposição, ele fica mais tempo no céu noturno.

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Como encontrar os planetas no céu

O céu do começo das próximas noites terá vários planetas visíveis a olho nu. Ao longo dos próximos dias, poderemos ver cinco planetas ao entardecer, mas dois deles serão bem difíceis de observar.

Começando pelos mais fáceis: Júpiter, o mais brilhante de todos, será visível no começo da noite, a oeste, na constelação do Leão. O maior planeta do Sistema Solar, será visível até às 21h30min. Marte, o planeta vermelho, surge bem alto no céu no começo da noite, na constelação de Libra, podendo ser observado até às 2h da madrugada. Ele está bem brilhante, embora não tanto quanto Júpiter.

Bem perto de Marte, encontramos o planeta Saturno, na constelação do Serpentário. O planeta dos anéis poderá ser observado até às 3h da madrugada. Marte, Saturno e Antares, uma estrela avermelhada e a mais brilhante da constelação do Escorpião, formarão um triângulo no céu nas próximas noites.

Agora os planetas mais complicados para observar: Mercúrio e Vênus. Ao longo de julho eles aparecerão no céu do entardecer por alguns minutos, na direção oeste, logo após o pôr do Sol, com o céu ainda não totalmente escuro. Estes dois planetas serão um desafio para os aficionados.

A disposição que os planetas terão no céu leva as pessoas a dizerem que os mesmos estarão alinhados. Do nosso referencial, na Terra, os planetas sempre parecerão estar alinhados no céu, uma vez que todos giram ao redor do Sol em planos orbitais relativamente próximos. O que muda, de tempos em tempos, é a separação destes no céu (que também é influenciada pelo nosso referencial). No caso presente, os cinco planetas estão bem espalhados no céu, indo de oeste até leste. Boas observações!

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Espaço 2015: Alguns aniversários notáveis da pesquisa espacial

Uma vez uma pessoa ao telefone me veio com está pergunta insólita: Está acontecendo algo no Universo? Pego meio de surpresa, respondi sincera e instintivamente: Sempre está acontecendo algo no Universo! É claro que todo ano, todo mês, todo dia, toda hora tem algo ocorrendo no espaço cósmico. Gostaria de destacar alguns acontecimentos e datas memoráveis da exploração espacial que marcaram 2015. Entretanto não é fácil fazer uma lista de missões completa e unânime. Prefiro dar uma visão pessoal temperada com alguns aspectos culturais.

Em órbita da Terra:

Desde muitos anos temos telescópios espaciais vasculhando estrelas. O Kepler, por exemplo, já encontrou mais de 1.200 sistemas planetários girando ao redor de outras estrelas.

Neste ano, precisamente em abril, comemoramos um aniversário muito especial. O veterano Telescópio Espacial Hubble completou 25 anos em órbita. Nossa visão do cosmos mudou muitíssimo depois do trabalho deste aparelho fantástico. O Hubble forneceu dados para praticamente todos os ramos da Astronomia dentro e fora do Sistema Solar.

No mesmo mês completaram exatos 55 anos do lançamento do primeiro satélite metereológico: Tiros 1. Não precisa dizer a importância deste tipo de aplicação espacial no nosso dia a dia.

Em maio fez 70 anos que o engenheiro e escritor Arthur C. Clarke propôs o uso de órbitas geoestacionárias para telecomunicação. Estas posições orbitais são intensamente disputadas pelas empresas de comunicação via satélite.

Lua

Nosso satélite natural, a Lua, continua atraindo a atenção. Este ano comemoramos 150 anos de lançamento do livro “Da Terra à Lua” do pioneiro escritor de ficção científica Júlio Verne. Vários eventos comemoraram o aniversário desta obra durante o ano.

Em março completaram-se 175 anos da primeira foto detalhada da Lua feita pelo cientista John Draper. Fez 45 anos em abril da dramática missão Apolo 13, tão bem retratada pelo filme interpretado por Tom Hanks.

Outros aniversários interessante sobre a Lua chamam a atenção. Em novembro comemoramos 45 anos do lançamento, pela ex-URSS, do primeiro rover (veículo de exploração robótico): o Lunokhod 1. Este veículo percorreu 10km na superfície lunar durante quase um ano de atividade.

Mercúrio

Em abril a sonda Messenger foi lançada propositalmente contra a superfície mercuriana. Após 11 anos de missão revelou muitos mistérios de um dos planetas menos conhecidos do Sistema Solar.

Vênus

Logo em janeiro de 2015 a sonda Venus Express perdeu contato com a Agência Espacial Europeia encerrando quase nove anos de pesquisa ao redor do nebuloso planeta. A sonda Messenger também sobrevoou Vênus antes de ir para Mercúrio em 2007. Está planejada uma missão para 2017, a BepiColombo.

Marte

Quase que simultaneamente dois eventos chamaram a nossa atenção para o Planeta Vermelho. Em outubro a Nasa anunciou indícios seguros da presença de água corrente em Marte. No mesmo mês foi lançado o filme Perdido em Marte, baseado no livro homônimo de Andy Weir (ambos recomendadíssimos).

Júpiter

A caminho do maior planeta do Sistema Solar temos a sonda Juno, lançada em 2011, e que deve chegar ao seu destino ano que vem em meados de julho.

Saturno

A sonda Cassini passou o ano tirando fotos dos arredores interessantíssimos de Saturno compostos de vários anéis e inúmeros satélites. A missão foi lançada em 1997. A sonda entrou em órbita em 2004 e deve permanecer em atividade até 2017, nove anos a mais do que o programado inicialmente. A Cassini descobriu sete novas luas no sistema saturniano. Dos satélites de Saturno mais conhecidos, Titã se destaca. Em 2005 a sonda Huygens (que viajou acoplada à Cassini) atravessou a atmosfera titaniana e revelou um ambiente gelado e desafiador.

Planetas-anões, asteroides e cometas

Podemos dizer que este foi o ano dos corpos menores do Sistema Solar. Logo em janeiro a sonda New Horizon começou a enviar fotos do planeta-anão Plutão. Com a aproximação máxima, em julho, nos foi revelado pela primeira vez detalhes da superfície plutoniana em fotos de alta resolução. Em março a sonda Dawn chegou a outro planeta-anão, Ceres. A grande surpresa foram manchas brilhantes dentro de uma cratera: seria gelo? Algum mineral? Ainda não se sabe.

A sonda Rosetta continua mandando dados à medida que acompanha o cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko. Nunca se acompanhou um cometa de tão de perto e por tanto tempo.

Nota triste do ano:

Um fato, não astronômico, que marcou o ano para muitos colegas que amam o espaço, foi a morte do ator Leonard Nimoy em fevereiro. Ele interpretava nada mais nada menos que o Sr. Spock, personagem da série Jornada nas Estrelas (Star Trek). Difícil não mencionar esta perda para a maior partes dos apaixonados por astros e astronaves.

 

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Um planeta diferente

Mais um planeta foi descoberto fora do Sistema Solar. Hoje já são aproximadamente 2.000 planetas descobertos. Só o telescópio Kepler anunciou em fevereiro deste ano 715 novos mundos. É claro que alguns deles ainda terão que ser confirmados por novas observações, determinando suas características (massa, tamanho, temperatura, etc.).

 

O que tem intrigado os cientistas é a presença de um planeta rochoso, o Kepler-10c, descoberto em 2011, e agora confirmado, com cerca de 17 vezes a massa da Terra e duas vezes o seu tamanho. Sua temperatura é mais de 850 graus e ele orbita a estrela em apenas 45 dias. Quando foi descoberto pelo telescópio Kepler, através do método do trânsito (quando o planeta passa na frente da estrela e diminui o seu brilho), não se pode saber se o planeta era gasoso ou rochoso. Isso só foi possível com a ajuda de outro equipamento, o HARPS-North, nas Ilhas Canárias.

 

Veja mais em: http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/06/140602_ciencia_planeta_novo_hb.shtml?ocid=sw_facebook

 

Mas qual a importância deste planeta? Até então se pensava que um planeta com essa massa deveria ser formado de gases, com um núcleo rochoso, como os planetas Urano, Netuno, Júpiter e Saturno. Mas este se apresenta sem a grande camada gasosa, sendo formado de rochas. E ele não perdeu essa camada gasosa, pois tem massa suficiente para aprisioná-la. Foi formado assim.

 

Outro fato curioso é que o sistema planetário Kepler-10 (que tem outro planeta o Kepler-10b) tem 11 bilhões de anos, mais que o dobro do tempo de vida do Sol. Isso é apenas três bilhões de anos após o Big Bang, o início da expansão do Universo. Naquela época praticamente só existiam hidrogênio e hélio. Para se formar planetas rochosos é necessário ter elementos mais pesados como o ferro, por exemplo, com a evolução das primeiras gerações de estrelas. E esses elementos pesados só se espalham pelo espaço, incorporando matéria em outros sistemas planetários, com a explosão de estrelas, o que só deve ter acontecido muito tempo depois do Big Bang, bilhões de anos depois. Mas, então, como se formou um planeta rochoso com essa grande massa e pequeno tamanho, ou seja, tão denso, em uma época em que existiam poucos elementos pesados provenientes de explosões de estrelas?

 

Isso ainda não se sabe, mas agora estamos sabendo que a formação de mega planetas, como o Kepler-10c, pode ter ocorrido mais cedo do que nossos estudos indicavam. Este é mais um dos mistérios da Astronomia, que agora começamos a decifrar. E aumentou muito a chance de encontrarmos planetas parecidos com a Terra.

 

Crédito da imagem: Harvrad-Smithsonian Center for Astrophysics/David Aguilar

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Anel em pequenos corpos

 

Figura 1 – Curva de Luz da estrela UCAC4 248-108672 durante a ocultação pelo asteroide Chariklo. (Crédito: ESO)

 

Enormes, com muita massa e um número grande de luas, os planetas gasosos destacam-se também pela presença de anéis ao seu redor. O único conjunto de anéis notado da Terra, por pequenos telescópios, é o do planeta Saturno. No entanto as sondas espaciais que visitam estes planetas nos últimos 30 anos confirmaram a presença desta estrutura em todos eles.

 

A própria Terra já possuiu, logo no início de sua formação, um anel causado pela colisão com um planetesimal (termo usado em astronomia para designar planeta em formação) cujas dimensões assemelhavam-se a de Marte. O material da crosta terrestre ejetado pelo choque ficou vagando em órbita formando um pequeno anel que, posteriormente, uniu-se formando nossa Lua.

 

De acordo com a amostra que tínhamos até agora, apenas corpos com grande massa possuíam anéis. Esta ideia mudou após a observação da ocultação de uma estrela pelo asteroide Chariklo. Este pequeno objeto, de apenas 250km, pertence à classe de asteroides Centauro, cuja característica principal é apresentar órbitas instáveis e deslocarem-se entre os planetas gigantes. Especula-se, devido às suas características muito diferentes dos objetos do cinturão de asteroides, localizado entre os planetas Marte e Júpiter, que os Centauros tenham a sua origem no Cinturão de Kuiper, situado após o planeta Netuno (Saiba mais).

 

Capitaneada pelo brasileiro Felipe Braga-Ribas (Observatório Nacional/MCTI), uma equipe de astrônomos, em sete telescópios diferentes, fizeram a curva de luz da estrela UCAC4 248-108672 durante a ocultação pelo asteroide, ou seja, estudou como a luminosidade da estrela se comportava durante a passagem do asteroide na frente da estrela, o que aconteceu no dia 3 de junho de 2013. O resultado pode ser observado no gráfico abaixo:

Observa-se no gráfico acima duas pequenas quedas na luminosidade da estrela antes e depois do fenômeno principal, que é a ocultação propriamente dita. Note que as quedas no fluxo luminoso da estrela ocorrem no mesmo intervalo e com a mesma intensidade, indicando a presença de objetos diametralmente opostos ao asteroide.

Veja a evolução da curva de luz durante a ocultação clicando aqui.
A cooperação com outros observatórios permitiu que diversas características do anel pudessem ser obtidas, como por exemplo: a espessura, a orientação e a forma deste.
Figura 2 – Contribuição e localização dos diversos observatórios. (Crédito: Nature)

 

Com dois anéis de espessuras de sete e três quilômetros, e um intervalo entre eles de nove quilômetros, o sistema de anéis encontrado pelos pesquisadores é único, até agora, em um corpo de pequenas dimensões. Os anéis foram denominados Oiapoque e Chuí, informalmente, pois quem faz as denominações oficiais é o Centro de Planetas Menores da União Astronômica Internacional.

 

 

Como disse Braga-Ribas: “Não estávamos à procura de anéis, nem pensávamos que pequenos corpos como o Chariklo os poderiam ter, por isso esta descoberta – e a quantidade extraordinária de detalhes que obtivemos do sistema – foi para nós uma grande surpresa!”.

 

Figura 3 – Concepção artística do asteroide Chariklo e seu sistema de anéis. (Crédito: ESO)

 

A hipótese formulada para tentar explicar a presença de anéis é semelhante à da formação de nossa Lua: uma colisão com outro objeto lançou fragmentos para o espaço, e estes ficaram aprisionados pela gravidade do objeto.

 

Braga-Ribas sugere a presença de pelo menos uma lua ao redor do asteroide que esteja ordenando a forma do anel, como as luas pastoras que se encontram entre os anéis de Saturno, e que o material do anel, formado possivelmente de rocha e gelo, possa no futuro formar uma ou mais luas.

 

Esta semana está sendo bem movimentada para as pesquisas sobre o sistema Solar. Além da descoberta de anéis ao redor de um asteroide, um novo planeta-não foi incluído em nossa lista de objetos (falaremos sobre ele em outro artigo).

 

Desejamos sucesso para o Felipe Braga-Ribas e toda a sua equipe, esperado ansiosamente por novas descobertas.

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Planeta sem futuro

 

Para quem não está acostumado com a nomenclatura em Astronomia, Kepler 78b pode parecer um nome estranho para um planeta. Foi descoberto pelo satélite astronômico Kepler, razão do nome do planeta. Entretanto, algumas de suas características são bem mais estranhas, tornando-o um alvo atraente de estudo.

 

Kepler 78b está localizado na constelação do Cisne e dista 400 anos-luz. Seu tamanho, apenas um pouco maior que o da Terra, faz com que seja o planeta extrassolar, descoberto de forma direta (por reflexão da luz da estrela central), mais parecido com o nosso planeta.

 

Sua órbita é bem mais extraordinária: ele está 40 vezes mais próximo da estrela central do que Mercúrio está do Sol, por exemplo. Note-se que Mercúrio é o planeta mais próximo do Sol. O raio orbital de Kepler 78b é apenas três vezes o raio da estrela central. Estando tão próximo da fonte de calor, a temperatura pode passar dos 3000°C, tornando-o inabitável (até a rocha fica líquida nessa temperatura).

 

O curioso é que, segundo os modelos de formação de planetas, Kepler 78b não poderia ser formado numa órbita tão pequena. É atualmente um enigma para os especialistas, que acreditam que o planeta será dragado gravitacionalmente pela estrela central em até 3 bilhões de anos.

 

A pequena órbita de Kepler 78b produz outra curiosidade: o planeta dá uma volta ao redor da estrela central em apenas 8 horas e meia. Ou seja, em um dia na Terra, se passam dois “réveillons” no planeta. Motivos para comemorar, nesse caso, não existem, pois cada ano que passa, para o planeta, o aproxima da destruição inevitável.

 
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Doce Veneno

 

Beta Pictoris é uma estrela bem próxima da Terra (apenas 63 anos-luz de distância) que tem sido estudada com muito interesse nos últimos 20 anos. O motivo é que ao seu redor existe uma densa nuvem de gás, poeira e rochas de todos os tamanhos, contendo (até agora) um planeta em formação.

 

Na semana passada, o astrônomo da NASA, Aki Roberge, anunciou novidades sobre essa estrela. A equipe de pesquisadores da qual ele faz parte, após realizar observações com o conjunto de antenas do Atacama, verificou que pode haver mais um planeta. A informação veio na forma de monóxido de carbono.

 

Apesar de tóxico para nós, o monóxido de carbono é um dos muitos gases encontrados em cometas e outros corpos gelados. Num ambiente típico ao redor de uma estrela jovem, como é o caso de Beta Pictoris, cometas frequentemente se chocam, gerando fragmentos, grãos de gelo e gases. As novas observações mostraram que Beta Pictoris contém monóxido de carbono numa quantidade equivalente a 1/6 da massa total dos oceanos na Terra. Esse gigantesco reservatório venenoso dista 13 bilhões de quilômetros de Beta Pictoris (três vezes a distância de Netuno ao Sol).

 

A enorme quantidade de monóxido de carbono observada sugere algo interessante. A própria radiação da estrela (na verdade, a parte ultravioleta dela) quebra as moléculas de monóxido de carbono de forma que, muito provavelmente, alguma coisa deve estar repondo o material. Segundo os cálculos, um cometa deveria ser destruído a cada cinco minutos!

 

Uma hipótese, segundo os cientistas, é que existam duas enormes aglomerações de gás e um enorme planeta, com massa similar a de Saturno, que atrairia para si uma espécie de ”chuva de cometas”. Apesar de parecer fantasioso, ou tirado de algum filme de ficção científica, algo similar acontece bem perto, em nosso Sistema Solar. Milhares de asteroides passam ao redor de Júpiter continuamente, devido à sua intensa gravidade (de fato, Júpiter é o maior e mais massivo planeta do Sistema Solar). É possível, portanto, que algo parecido esteja acontecendo com um planeta ainda desconhecido em Beta Pictoris, atraindo para si os cometas. Por outro lado, se ao invés de duas, existir uma única aglomeração de gás, o cenário sugere que uma colisão entre dois planetas gelados, do tamanho de Marte, tenha produzido o “enxame” de cometas.

 

O cenário proposto pelos astrônomos do projeto está ilustrado no vídeo abaixo:

 

http://www.youtube.com/watch?v=Xi_Pv2S8GgY

 

 

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Um planeta igual, mas diferente

 

Durante a semana passada, eu ouvi no rádio um radialista falar da nova descoberta feita pelo telescópio espacial Kepler: um planeta fora do sistema solar parecido com a Terra. O comentarista aproveitou o mote para viajar na imaginação e pensar numa viagem de férias até um planeta como este. Felizmente, ele fez bem o dever de casa e leu o resto da notícia. O tal planeta é rochoso e tem uma massa entre uma e duas massas terrestres. Pronto, acabou a semelhança. Ele se move muito, mas muito perto mesmo do seu sol. A consequência disto: a temperatura fica entre 1.500 e 3.000 graus centígrados. Ou seja, o tal planeta “parecido com a Terra” é mais parecido sim com um inferno onde chumbo derrete e escorre. Rios de metal derretido e nada água líquida em lugar algum.

 

Além disso Kepler-78b fica muito longe: 700 anos-luz. Lembrando que um ano-luz é a distância coberta por um raio de luz se movendo durante um ano. Isto dá mais de nove trilhões de quilômetros. A velocidade da luz é estupidamente grande: mais de um bilhão de quilômetros por hora. Até onde se sabe da física atual, é o limite de velocidade do nosso universo. Nada pode se mover tão rápido. Mesmo assim nenhum veículo humano já chegou nem perto disso. Resumindo: não dará pra visitar Kepler-78b tão cedo. Ainda bem; é um lugar nada aprazível.

 

É chato ter que ser “pé no chão” e desfazer os sonhos de muitos. Entretanto, ainda não existe tecnologia para observar diretamente, com toda certeza, um planeta igualzinho à Terra. Mas quem sabe, em breve, surjam equipamentos e técnicas que possam realizar tal proeza.