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Nossos Astros na Ficção Científica: o Sol

Dos corpos celestes de nosso Sistema Solar, sete são conhecidos desde a Antiguidade: o Sol, a Lua, Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno – fora os cometas e chuvas de meteoros ocasionais. Era o que conseguíamos ver, a olho nu. Acreditávamos, por tabela, que todos orbitavam ao redor da Terra.

Sempre intrigada, a Humanidade se questionava que fenômenos seriam estes, e primeiro os emplacou em seus sistemas de crenças como forma auxiliar de marcação do Tempo para fins agrícolas, divinatórios, etc; e, no devido momento, registrou-os na Literatura – literatura fantástica, inclusive.

Hoje começamos uma série dos corpos celestes do Sistema Solar na Ficção Científica, e veremos que, bem antes de pensarmos nela própria, eles já ajudavam a preencher nossa imaginação.

Quando descobrimos a realidade heliocentrista, viu-se que somente a Lua orbitava a Terra, enquanto a Terra e os planetas orbitavam o Sol, na ordem do mais próximo do Sol para o mais distante: Mercúrio, Vênus, Terra, Marte, Júpiter e Saturno. O aprimoramento da Astronomia nos levou a descobrir ainda Urano e Netuno, além planetoides, asteroides, anéis e luas em outros planetas e a natureza dos cometas e meteoros.

Começaremos, portanto, com o próprio Sol. Nosso Astro Rei é, sob os dados que atualmente dispomos, uma estrela com 4,6 bilhões de anos, tida como de meia-idade. Considera-se que o Sol nasceu da compactação de uma nuvem de matéria local pela gravidade, colapsando em um núcleo gravitacional principal que engoliu quase toda matéria disponível, dando ignição por um processo de fusão a uma estrela, com o resto da matéria local girando-lhe ao redor em um disco de acreção que resultou no nosso Sistema Solar: planetas, luas, cometas, etc. As dimensões do Sol nos são estarrecedoras, se compararmos com a Terra, com um diâmetro de 1,39 milhões de quilômetros ou 109 vezes o do nosso planeta, e uma massa 330.000 vezes a do nosso planeta. Mesmo assim, o Sol não é, mas nem de longe, a maior estrela existente – mas certamente é o centro de nossas vidas.

Sua luz, calor e periodicidade, além de possibilitar a vida na Terra, sempre também nos foram referências para medirmos a passagem do Tempo, e mais tarde o elencamos para fazer parte de nossos mitos nas antigas religiões. Por exemplo, os astecas acreditavam que o deus do Sol devia sempre ser alimentado através de sacrifícios humanos em massa. Os japoneses acreditavam que seus imperadores descendiam da deusa do Sol. Ainda, uma mesma mitologia pode apresentar variações sobre um mesmo tema ou história: os gregos antigos tinham o Sol como a carruagem do deus Apolo, mas também o Sol podia ser Helios, titã filho de Hyperion (a luz celeste) com sua esposa Theia (senhora do azul brilhante do céu). O famoso e trágico voo de Ícaro também está relacionado com o Sol.

Além das lendas, a literatura fantástica não-religiosa de época por vezes aproveitou o Sol como motivo ou característica em suas histórias. O autor cristão Luciano de Samosata, no Século II d.C., escreve “História Verídica”, que a despeito da época em que foi escrita, curiosamente apresenta elementos compatíveis com os temas de hoje em dia na Ficção Científica: uma viagem para o espaço, um primeiro encontro com formas de vida alienígenas, guerra e imperialismo interplanetário e colonização de planetas, o desejo de viajar e conhecer, além de alguns outros (o que vale a essa obra uma posição na disputa para saber qual foi a primeira obra de Ficção Científica escrita no mundo). Ainda que não se resuma apenas a isso, em “História Verídica”, os reis do Sol e da Lua estão em guerra para decidir quem colonizará a Estrela da Manhã (sim, o planeta Vênus, o próprio). Apesar dessas coincidências, a obra é uma sátira – a começar pelo próprio título –, criticando costumes e religiões da época, em vez de ser uma obra filosófica focada em especular sobre a natureza dos astros do céu, por exemplo. Mas, é claro, fica o registro na História.

Samosata inspirou outra sátira séculos depois, “O Outro Mundo ou Estados e Impérios da Lua” (1657), onde o autor Cyrano de Bergerac escreve que seu protagonista vai até a Lua e o Sol, onde é julgado pelos crimes da Humanidade contra os pássaros, mas um que o conhecia acaba o soltando. Em outro trecho, habitantes (detalhe: pessoas, como na Terra) de uma mancha solar lhe ensinam sobre o Sistema Solar de forma a relacionar ao movimento dos átomos. Uma outra explicação no texto revela que toda a matéria vem das estrelas sendo expelida por elas, e uma vez que o Sol fique sem combustível, ele consumiria os planetas e renovaria o ciclo.

A ideia do Sol queimando todo o combustível e apenas apagando (a noção da fusão nuclear só surgiria mais tarde) apareceria ainda em algumas obras, como “Omega” (1893-94), do astrônomo francês C. Flammarion e “A Máquina do Tempo” (1895) de H. G. Wells ou “A Casa Sobre o Abismo” (1908), de W. H. Hodgson.

Atualizados os princípios por trás da natureza das estrelas no Século XX e com o estabelecimento da Ficção Científica, novas e variadas histórias foram surgindo, ainda que alguns temas ainda fossem semelhantes com as histórias mais antigas: a noção que o Sol possa ser habitado – agora por alguma forma de vida alienígena, em vez de pessoas – inspirou Arthur C. Clarke a escrever o conto “Vindo do Sol” (1958). Antes dele, Olaf Stapledon descreve alienígenas do Sol em “The Flames” (1947), e o astrônomo e escritor David Brin (entrevistado da coluna no artigo “Três Visões Vernianas”) descreve “fantasmas do Sol” vivendo na cromosfera solar em “Sundiver” (1980).

Já sobre o fim do Sol, que hoje em dia estipulamos que será depois de mais 5 bilhões de anos (estrela de meia-idade, lembram-se?) de estabilidade até entrar no processo que a transformará em uma gigante vermelha; igualmente histórias não faltam: Clarke trata do tema algumas vezes ao longo de sua carreira, destacando-se os romances “A Cidade e as Estrelas” (1956), onde fala sobre uma estrela já avermelhada ao redor da qual orbita uma melancólica Terra sem Lua ou oceanos e com único e vasto deserto, daqui a um bilhão de anos; e “As Canções da Terra Distante” (1986), onde deu um fim ao Sol perto do ano 3.600, ao transformá-lo prematuramente em Nova, forçando a Humanidade a voar para as estrelas atrás de planetas habitáveis, dormindo por séculos em enormes naves colonizadoras em voo sub-luz. O autor Jack Vance praticamente inaugurou um sub-estilo na FC chamado “Dying Earth” (“Terra Agonizante”), com histórias suas passadas neste período melancólico.

Outras mídias também aproveitaram o Sol (e o seu fim) como mote: em “Sunshine – Alerta Solar” (2007), o Sol está morrendo e a Terra está congelando, e uma missão ao Sol é lançada, para lançar uma bomba que conseguiria “fazer pegar” nossa estrela. A agonia do Sol também está em “The Wandering Earth” (2019), superprodução chinesa (ainda sem nome no Brasil) onde, devido à entrada na fase de gigante vermelha, a Humanidade decide mover a Terra para Alfa Centauri.

Acham exagero? Bem, o que achar de uma frota dos – então – nove planetas do Sistema Solar em busca de uma nova estrela-mãe com em “Thundering Worlds” (1934), por Edmond Hamilton? 🙂

Poderíamos ainda desenvolver sobre outros aspectos do Sol na literatura fantástica, como eclipses ou o vento solar, mas por hoje ficamos por aqui.

Links relacionados (em inglês):

https://www.theoi.com/
http://www.sf-encyclopedia.com/entry/sun
https://futurism.media/top-dying-earth-science-fiction-books

Luiz Felipe Vasques


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