Usamos cookies em nosso site para lhe dar a experiência mais relevante, lembrando suas preferências e repetindo visitas. Ao clicar em "Aceitar tudo", você concorda com o uso de TODOS os cookies. No entanto, você pode visitar "Configurações de cookies" para fornecer um consentimento controlado.

Visão geral da privacidade

Este site usa cookies para melhorar sua experiência enquanto você navega pelo site. Destes, os cookies categorizados conforme necessário são armazenados no seu navegador, pois são essenciais para o funcionamento das funcionalidades básicas do site. T...

Sempre ativado

Os cookies necessários são absolutamente essenciais para que o site funcione corretamente. Esta categoria inclui apenas cookies que garantem funcionalidades básicas e recursos de segurança do site. Esses cookies não armazenam nenhuma informação pessoal.

Quaisquer cookies que podem não ser particularmente necessários para o funcionamento do site e são usados especificamente para coletar dados pessoais do usuário através de análises, anúncios, outros conteúdos incorporados são denominados como cookies não necessários. É obrigatório obter o consentimento do usuário antes de executar esses cookies em seu site.

Nossos Astros na Ficção-Científica: Mercúrio (O Alienígena)

Na série dos nossos astros na FC, prosseguimos com o planeta Mercúrio.

Mercúrio é o primeiro a partir do Sol, com uma órbita curta equivalente a quase 88 dias aqui na Terra. A brevidade de sua órbita o torna difícil de vê-lo, pondo-se no horizonte antes de Vênus, logo após o Poente ou sumindo logo após o Nascente: ainda assim, a Humanidade já o havia observado há tempo, sendo a mais antiga observação conhecida datando do Século 14 a.C., feita pelos assírios. Essa característica fugaz levou os povos grego e romano a associá-lo com suas respectivas versões do deus do Olimpo, Hermes e Mercúrio. Já os povos germânicos o associaram a Odin, os egípcios com Thot: todos deuses ligados à sabedoria. Não é à toa que ele guarda a entrada do prédio antigo do nosso Planetário da Gávea.


Hermes/Mercúrio, Thot e Odin

Literariamente, Marte e Vênus sempre foram paragens mais populares entre os escritores para suas histórias do que Mercúrio, por parecerem mais prováveis de poderem abrigar vida do que um planeta tão próximo ao Sol. O que não impede de ter havido explorações e conjecturas literárias, das quais creio valer à pena destacar abaixo.

A primeira viagem interplanetária pode ter sido escrita em 1656 pelo jesuíta e polímata Athanasius Kircher, incluindo Mercúrio, Vênus e Marte em sua obra “Itinerarium Exstaticum”. O protagonista Theodidactus é então guiado através dos céus pelo anjo Cosmiel em um sonho.

Chevalier de Béthune em 1750 escreve “Relation du Monde de Mercure”, onde vividamente descreve diversas espécies de alienígenas vivendo em cidades construídas em rígidos padrões geométricos, alguns possuindo asas e todos envolvidos em tremendas batalhas uns contra os outros: pode ter sido esta a primeira história com Mercúrio sendo o foco principal.

Em suas considerações filosóficas e metafísicas, o pensador sueco Emanuel Swedenborg inclui Mercúrio (e os demais planetas) em suas conversas com espíritos que lá habitavam no seu “De Telluribus” (título abreviado, 1758).

Em 1889, o astrônomo italiano Giovanni Schiaparelli pensou ter observado que Mercúrio tinha uma face virada eternamente para o Sol. A razão por trás disso é chamada “efeito de maré”, em que a proximidade excessiva de um astro que orbita outro de maior gravidade leva o primeiro a mostrar a mesma face sempre para o segundo, uma vez que agora a rotação do primeiro tem a mesma duração do tempo de sua órbita – é por isso que a Lua sempre mostra a mesma face para a Terra.

Essa observação, entretanto, foi equivocada, e só com a radioastronomia em 1965 descobriu-se que Mercúrio tinha um dia equivalente a 59 dos nossos. A essas tantas, a Ficção Científica já tinha o primeiro planeta como cenário de suas histórias, mas como a literatura – mesmo a fantasiosa – tende a refletir o mundo em que vivemos, o novo dado a respeito dele passou a constar nas obras subsequentes.

Entre Schiaparelli e a descoberta de 1965, Mercúrio era pensado como sendo fustigado por temperaturas extremas de ambos os lados, muito altas pela face voltada para o Sol e muito baixas pela face oposta. A ideia de uma faixa de eterno crepúsculo onde, por crateras e vales, poderia haver um meio termo minimamente tolerável, com ambientes subterrâneos ou pressurizados, protegidos à sombra e com painéis solares que captavam a energia do Sol, não fugiu aos autores de FC: Isaac Asimov, nas aventuras juvenis de seu personagem Lucky Starr descreve o fantasma vermelho de Mercúrio, ou o eterno brilho solar no horizonte da faixa crespuscular em O Grande Sol de Mercúrio (1956). Larry Niven em seu  “The Coldest Place” (1964) conta uma história no lado frio de Mercúrio… um ano antes da descoberta.


Algumas capas de Mercúrio

O Mercúrio atualizado surge no conto de John Varley’s “Retrograde Summer” (1975), apresentando o planeta como um lugar de beleza e perigo, onde com um traje apropriado de campo de força, pode-se nadar em lagos de mercúrio escaldante e admirar o brilho do vapor de mercúrio ionizado acima.

No magistral “Encontro com Rama” (1973), de Arthur C. Clarke, em um sistema solar colonizado, o governo de Mercúrio decide abater o misterioso veículo que adentra o sistema solar e ruma para o Sol.

Em “Sundiver” (1980), de David Brin – citada coluna passada –, entre as idas à cromosfera solar, os personagens passavam o tempo em Mercúrio.

Terminator é a cidade ambulante que viaja em Mercúrio sobre trilhos, sempre adiante do nascer do Sol, impulsionada pela dilatação do metal dos trilhos na área já aquecida, na obra de Kim Stanley Robinson: “The Memory of Whiteness (1985)”, “Mercurial” (na coletânea “The Planet on the Table”, 1986), “Blue Mars” (1996), and “2312” (2012).

Stephen Baxter descreve Mercúrio como sendo o último bastião da Humanidade contra uma raça invasora hostil em “Manifold: Space” (2000), que pretendia desmantelar nosso sol para seus próprios fins de energia.

Ben Bova, um dos velhos mestres da FC ainda vivos, em 2005 escreve “Mercury”, onde uma boa descrição do que uma sociedade mercuriana poderia vir a ser.

“Lockstep” (2014), de Karl Schroeder, situa-se 14 mil anos no futuro: Mercúrio não mais existe, havendo sido matéria-prima para criar uma “nuvem de Dyson”, colossal estrutura para captar a energia do Sol e assim abastecer lançamentos de naves espaciais e tecnologia pós-humana.

A Ficção Científica em outras mídias também se lembrou de Mercúrio: a série animada Invasor Zim (2001) conta que Mercúrio é uma nave protótipo construída pelos antigos marcianos, no universo de games, e os quadrinhos de Buck Rogers no arco “Attacked by Mercurians” (1932) falam de uma guerra entre os dois lados de Mercúrio, o da noite e o do dia, e depois da criação de uma lua para o planeta. O game “Destiny” mostra um Mercúrio terraformado por alienígenas, a sequência “Destiny 2” fala que o planeta foi tornado oco para hospedar um gigantesco computador.

Mais sobre Mercúrio na Ficção Científica pode ser lido nos links abaixo.


Mercúrio, em cores falsas.

Luiz Felipe Vasques

15/04/2019

Links principais consultados:

https://en.wikipedia.org/wiki/Mercury_in_fiction
http://www.sf-encyclopedia.com/entry/mercury

Deixei um comentário