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Nossos Astros na Ficção Científica: Asteroides e Cometas

Na série dos Nossos Astros na FC, hoje falaremos de asteroides e cometas.


Eros, Pallas e Ceres: prêmios de consolação.

Segundo as hipóteses e simulações mais recentes e acuradas, o processo de formação de um sistema como o solar envolve uma massa primordial de matéria que vai se aglutinando em dados pontos de concentração pela força da gravidade, distribuindo-se em um assim chamado disco de acreção. O ponto maior envolverá tanta matéria que iniciará um processo de fusão atômica, dando ignição a uma ou mais estrelas. Pontos de menor concentração de matéria se tornarão astros bem menores que irão se solidificar em uma forma redonda também pela força da gravidade, que serão os planetas – e mesmo planetas-anões e algumas luas maiores. 

E pontos de menor concentração ainda darão origem a corpos que esfriarão rápido demais antes de sua gravidade lhes dar uma forma redonda, solidificando-se em pequenos astros irregulares: asteroides e cometas. Por assim dizer, eles são os restos do material de construção do sistema solar. Dado às suas órbitas ditas excêntricas, por vezes eles se aproximam bastante do Sol, vindo das profundezas do sistema solar, para depois lá retornar, sumindo de vista por um bom tempo. E se, nessa aproximação do Sol, o corpo tiver uma boa parcela de água congelada em suas proporções, na verdade agregando poeira em sua composição, o calor irá derreter e evaporar a água, a força do vento solar gerará coma e cauda, e assim ele será chamado de cometa.


Anatomia de um cometa.

E estrelas cadentes, meteoros e meteoritos?

Vamos para mais definições. Um meteoro avistado queimando pela atmosfera é, como indica na verdade o nome, um fenômeno meteorológico: trata-se apenas de um asteroide ou cometa (ou ainda um pequeno pedaço de rocha ou poeira) que foi atraído pela força da gravidade de um planeta e que, ao brilhar céus abaixo graças ao atrito com uma atmosfera densa o bastante (ou seja, condições como as da Terra), produz um efeito de luz (daí: estrela cadente) e, em alguns casos, um efeito físico como uma cratera de impacto no solo. Se o núcleo do objeto sobreviver, a isto se chamará meteorito.


Crateras de impacto Barringer (Terra), Tycho (Lua) e Korolev (Marte).

Nunca deixaram de ser imaginados pelo ser Humano. Devido aos avistamentos irregulares eram sempre sinônimos de algum presságio, em geral não muito bons, de algo que estaria por vir. 

Em tempos realmente mais antigos – na ordem de dezenas, centenas de milhões de anos e até mais – isto poderia ser mais verdade. Havia consideravelmente mais objetos em órbita do Sol, e a chance de alguma colisão era mais elevada: basta citar o impacto de há 65 milhões de anos na Terra que causou uma extinção em massa, acabando com o reinado dos dinossauros; ou reparar na superfície da própria Lua, nossa fiel escudeira, desprotegida de uma atmosfera espessa como a nossa. E mesmo nossa superfície, apesar das forças de erosão, consegue ainda apresentar sinais de impactos.

Somente com o avanço da ciência que se pôde concluir que, no final, estava-se falando de variantes de um mesmo fenômeno: a matéria existente orbitando ao redor do Sol, que formou corpos em diversos tamanhos e composições.

Eles podem ser encontrados em quase todos os lugares do sistema solar, dentre os quais destaca-se o cinturão de asteroides entre Marte e Júpiter, o Cinturão de Kuiper e a Nuvem de Oort.

O cinturão de asteroides é um velho conhecido, primeiramente com Ceres – o maior corpo local, ao ponto de agora ser considerado um “planeta-anão” – descoberto em 1801. A descoberta de muito mais outros asteroides levou a crer que poderia haver um planeta um dia por lá, mas isto caiu de moda após se medir que, juntos, os asteroides ali somariam um corpo bem menos maciço que a nossa própria Lua. O Cinturão de Kuiper é lar dos ditos objetos transnetunianos: corpos além do planeta Netuno, considerado hoje em dia como o planeta mais longínquo do Sol, entre uma distância de 30 a 50 unidades astronômicas (1ua = 150 milhões de km, que é a distância média da Terra ao Sol). E se isso já é longe, a Nuvem de Oort – se for confirmada a existência –, preenchida por material disperso pelos planetas gigantes do sistema solar desde o início da evolução de nosso sistema; dista entre 2 mil e 5 mil ua. Estas vastas e longínquas regiões do espaço seriam o lar de bilhões de potenciais cometas, com órbitas que duram milhares e milhares de anos.

A Ficção Científica trata de asteroides e cometas desde o Século 19. Desde então, certos temas se mostram recorrentes, a respeito de asteroides: perigos para a navegação espacial, um lugar para seres humanos enriquecerem através da exploração de seus recursos, um novo lar ou mesmo uma nova sociedade e, por último, destruição por impacto, terrível o suficiente para repetir conosco o que ocorreu com os dinossauros. A respeito de cometas, não se comportou muito diferente, especialmente por causa de sua visibilidade a olhos nus, sempre assombro e admiração. Um velho conhecido nosso é o Cometa de Halley, cuja órbita permite, a cada 76 anos, que possa ser contemplado. Seu avistamento é conhecido desde pelo menos 240 a.C., sendo visto das últimas vezes em 1910 e 1986, em uma aparição impressionante e outra frustrante, respectivamente. A próxima deverá ocorrer em 2061.


Em ordem de tamanho decrescente: Terra, Lua e Ceres (esq.); Ceres, Vesta e Eros (dir.).

“The Year 4338: Petersburg Letters” (1835), por Vladimir Odoevsky, é baseado no impacto que se acreditava poder ocorrer com o Cometa Biela, cuja coma passaria pela Terra, não tivesse se desintegrado antes. Mas alguma sensação popular ocorreu, através da mídia de época. A história se passa um ano antes do ano computado (em 1820) para a interceptação da órbita por Biela ocorrer. Esta é a terceira parte de uma trilogia, cuja primeira parte nunca foi escrita e a segunda, apenas fragmentos.

De 1839, “The Conversation of Eiros and Charmion”, por Edgar A. Poe, conta a conversa entre dois mortos sobre a passagem de um cometa novo bem próximo à Terra, ao ponto de roubar da atmosfera o nitrogênio, deixando oxigênio em estado puro, levando pessoas a uma euforia sem limites, e explodindo em chamas quando o cometa impacta. Na época, Poe capitalizava em cima de escritos recentes, de teor apocalíptico, na moda, assim como da descoberta de cometas e o medo que eles ainda faziam sentir.

Não é de se surpreender que Júlio Verne fosse um dos primeiros a tocar no assunto. Em “Heitor Servadac” (1877), o personagem-título e seus companheiros de infortúnio são arrebatados por um cometa chamado Gália, que raspa pela Terra e leva junto também atmosfera respirável e recursos o suficiente para manter seus passageiros vivos. Gália percorre sua órbita, possibilitando umas visitas próximas dos planetas do sistema solar, e ainda a captura um asteroide fictício de nome Nerina (60 anos mais tarde um novo asteroide observado foi assim batizado pelo seu descobridor).

“Le fin du Monde” (1894), de Camille Flammarion, descreve o impacto contra a Terra por um cometa no século 24.


Cometa Levi-Shoemaker 9 e as manchas do impacto em Júpiter (1994): ainda não estamos seguros.

“Edison’s Conquest of Mars” (1898) foi uma série escrita pelo astrônomo americano Garrett P. Serviss, onde consta um asteroide com ouro sendo minerado por marcianos – e invadido por uma frota de espaçonaves da Terra, a caminho de atacar Marte. Ceres é ainda mencionado, com alienígenas nativos em guerra com os marcianos.

“Os Dias do Cometa” (1906), de H. G. Wells, conta da transformação da noite para o dia quando um cometa desconhecido desintegra-se na atmosfera da Terra, e sua composição ao se fundir à atmosfera renova e altera o ser Humano para uma versão melhor de si mesmo, construindo uma utopia universal. O livro, por sua defesa à ideia de relacionamentos poliamorosos, foi um escândalo para a sociedade na época.

Em “Our Distant Cousins” (1929), conto de Lord Dunsany, após retornar de Marte, o protagonista erra na navegação e para no asteroide Eros. Lá existe vida e é tudo minúsculo, devido à baixíssima gravidade do astro. Ele traz um pequeno elefante voador em uma caixa de fósforos para a Terra, mas acaba escapando.

A noveleta de A. Bertram Chandler “Raiders of the Solar Frontier” (1950) fala de Ceres como um planeta-prisão.

“Explorando a Lua” (1952), por Hergé, é um álbum de quadrinhos de Tintim, e a passagem do asteroide 2101 Adonis inadvertidamente acaba levando o Capitão Haddock embora, como seu próprio satélite. 


Ceres, Vesta e Eros e livros onde são retratados.

“Os Anéis de Saturno” (1958) é o sexto e último livro da série juvenil de “Lucky Starr”, de Isaac Asimov; e nele o asteroide Vesta é palco de uma conferência de paz interestelar.

Em “Captive Universe” (1969), de Harry Harrison, Eros é escavado oco para se tornar uma nave de gerações, cenário onde se desenrola a história.

“Encontro com Rama” (1972), de Arthur C. Clarke, começa com o real desenvolvimento da era espacial da Humanidade após o impacto de um asteroide no norte da Itália, destruindo Pádua, Verona e Veneza, em um prejuízo de milhões e milhões de dólares, de vidas e incalculável em termos de tesouros culturais perdidos. Após isto, uma ‘guarda espacial’ é montada, para mapear e deter asteroides potencialmente perigosos.

Sobre um impacto na Terra em si, histórias não faltam: “Lucifer’s Hammer” (1977), por Jerry Pournelle and Larry Niven; “The Hermes Fall” (1978), por John Baxter; “Shiva Descending” (1980), por Gregory Benford e William Rotsler; e “Thor’s Hammer” (1983) por Wynne Whiteford parecem refletir uma tendência de época. Mesmo Clarke volta ao tema, dessa vez nele focalizando, em “O Martelo de Deus” (1993).


Armageddon (1998), Meteoro (1979) e Impacto Profundo (1998).

O cinema-catástrofe se fez com promessas do apocalipse vindo do céu: “Meteoro” (1979), “Impacto Profundo” (1998) e “Armageddon” (1998) são exemplos mais evidentes. O primeiro chega a levar a Guerra Fria para a história, quando EUA e a então URSS precisam usar dois satélites ilegais cheios de mísseis nucleares para detonarem, juntos, a ameaça do asteroide Orfeu, em curso de colisão com a Terra. Os outros dois estrearam com a diferença de dois meses entre um e outro, e apesar de o mote ser o mesmo, a aproximação do tema foi bastante diferente. O primeiro acaba sendo uma história sobre reconciliação pessoal às vésperas do Juízo Final, enquanto o segundo foi uma aventura descerebrada e divertidíssima para evitar o Fim do Mundo.

A psicologia da população colonizadora dos asteroides é explorada em “Protector” (1973), de Larry Niven.

“The Way” (1985 – 1986), de Greg Bear, é uma série de romances que, entre outras coisas, inclui o uso do asteroide Juno como nave geracional para a estrela Epsilon Eridani.

Em “Schismatrix” (1985), de Bruce Sterling, Ceres Datacom News é uma entidade quasi-nacional pondo em rede as comunicações dos habitantes ciberneticamente aumentados dos asteroides.

Do mesmo ano, “O Jogo do Exterminador”, de Orson Scott Card, coloca Eros como um antigo posto avançado dos invasores Formics, reconquistado pelos humanos posteriormente. Com gravidade artificial implementada pelos invasores, a Escola de Combate lá foi implementada.

“The Doomsday Effect” (1986), de Thomas Wren, fala de Ceres sendo usado para capturar um pequeno buraco negro que lentamente devorava a Terra.

Em “Heart of the Comet” (1986), de Gregory Benford e David Brin, uma equipe internacional coloniza o interior do Cometa de Halley, construindo um habitat dentro do gelo.

“2061 – Uma Odisseia no Espaço III” (1987), de Clarke, na primeira parte do livro descreve o retorno do Cometa de Halley (sua última passagem por nós sendo em 1986) visitado pela espaçonave Universo, onde os astronautas pousam no cometa e fazem um pouco de exploração. A água do Halley é utilizada para reabastecer a nave, quando eles partem em uma missão de resgate na segunda parte do livro.

“Buying Time” (1989), de Joe Haldeman, fala de uma sociedade sem Estado em Ceres.

“Asteroid Wars” (2001-2007), de Ben Bova, conta como corporações guerreiam no cinturão de asteroides para controlar os mesmos.

Mais conhecida pela adaptação pelo Netflix, a série de James S.A. Corey “The Expanse” talvez tenha melhor explorado Ceres e a posição geopolítica (astropolítica?) dos asteroides em um sistema solar colonizado e em conflito. Aqui, Ceres é a maior colônia do sistema solar, com 6 milhões de pessoas. Sua rotação foi aumentada artificialmente, para dar a seus habitantes um mínimo de gravidade artificial. Seus habitantes, como consequência, são mais altos e esguios do que os humanos da Terra. No Brasil, o primeiro livro da série já foi lançado, “Leviatã Desperta” (2011). 

“Higher Reality” (2015), por Alexander Janzer, conta como Ceres no ano de 2177 é o lar de 30.000 pessoas vivendo em edifícios que giram magneticamente para dar às pessoas um efeito de gravidade.

Do mesmo ano, “Seveneves”, por Neal Stephenson, inclui a captura e deslocamento do asteroide 113 Amalthea para órbita da Terra, onde passa a agir como escudo protetor da Estação Espacial Internacional.


… e se você se lembra disso, é porque está ficando velho.

A jornada através de nossos astros na ficção científica se aproxima do fim. Semana que vem iremos além das fronteiras do sistema solar.

Luiz Felipe Vasques

25/06/2019

Links Externos (em inglês):

https://en.wikipedia.org/wiki/Asteroids_in_fictionhttps://en.wikipedia.org/wiki/Comets_in_fiction

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