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Coluna do Astrônomo Dicas

Seu primeiro telescópio

atualizado em junho de 2022

Sempre que alguém se inicia na observação do céu e pede sugestão de instrumento, nós astrônomos (amadores e profissionais) sugerimos começar com um binóculo de pequeno aumento e um mapa celeste. Uma boa especificação de binóculo inicial seria 7×50, onde o primeiro número indica o aumento (7x) e o segundo número o tamanho da objetiva (50mm de diâmetro).

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Imagem do Buraco Negro no Centro da Galáxia

Por Naelton Mendes de Araujo – Astrônomo da Fundação Planetário da Cidade do Rio de Janeiro

O instrumento

Para vasculhar o Universo usamos vários tipos de radiação eletromagnéticas. Algumas não são captadas pelos nossos olhos e nem por nenhum de nossos sentidos.

Os radiotelescópios usam antenas para captar ondas de rádio provenientes do espaço.  A figura mais comum que nos vem à mente são antenas parabólicas. Quanto maior o disco, maior a resolução, isto é, ,mais detalhes pequenos o instrumento pode distinguir. Imagine agora se combinamos os dados de antenas distintas numa só imagem? Chamamos isso de interferometria. Se fizermos uma rede de antenas cobrindo distâncias continentais, teremos como resultado algo semelhante a um disco de proporções da ordem Terra.

Localização dos Radiotelescópios do EHT distribuídos pelo globo.
Radiotelescópio ALMA no Andes
Radiotelescópio no Pólo Sul

Foi exatamente isso que o Event Horizon Telescope (ETH) fez. Em 2019 esse arranjo de 13 conjuntos de antenas, em 4 continentes, nos deu a primeira imagem de um buraco negro na galáxia M87.

Buraco negro na galáxia M87 pelo EHT

O objeto

Na verdade não se pode ver um buraco negro. Só observamos a matéria estelar que cai no buraco negro. Este anel da matéria espiralando em direção ao buraco negro é chamado disco de acresção e emite muita radiação. Isto acontece pouco antes de entrar no chamado horizonte de eventos e, a partir daí, nada mais escapa. 

Sagitário A é uma  extensa fonte de rádio bem conhecida dos astrofísicos desde 1974, mas só agora, com o EHT, podemos ver detalhes do seu disco de acresção. Não havia nenhum instrumento até hoje capaz de realizar tal façanha. Este objeto se encontra a 26 mil anos-luz e é o que se usou chamar de buraco negro supermassivo.

Buraco Negro Sagitário A mapeado pelo EHT
Sagitário A mapeado pelo EHT

Os buracos negros estelares são formados no fim da vida de uma estrela com no mínimo 10 massas solares. Os buracos negros supermassivos foram formados por imensas nuvens de gás ou por milhões de estrelas que se amontoaram em aglomerados estelares. Isto aconteceu no início do Universo. Buracos negros supermassivos são encontrados no centro das galáxias.

É uma foto?

Temos que ter em mente a diferença entre foto e imagem. No sentido estrito essa não é uma fotografia. Não é resultado da luz visível obtida por um dispositivo óptico. É uma representação visual de um conjunto de dados de rádio. Está mais para um mapa e as cores não são reais: os tons de amarelo e laranja apenas representam intensidades de radiação.

A vantagem deste tipo de imagem é sua alta resolução que nos permite ver detalhes da estrutura antes invisíveis.

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Lua Gigante ou Fake News?

Por Naelton Mendes de Araujo – Astrônomo da Fundação Planetário da Cidade do Rio de Janeiro

O vídeo que está circulando nas redes sobre uma imagem da lua nascendo enorme  é na verdade uma montagem bem fácil de ser identificada. O vídeo mostra a Lua nascendo cheia de um lado do horizonte e se pondo nova do outro lado. Muitos têm compartilhado a mensagem que alega ser na Rússia ou no Alasca ou em outros lugares remotos.  

Se prestar a atenção o vídeo tem duas partes: a parte de baixo que é uma paisagem comum e a parte de cima um céu azul onde foi sobreposta uma animação. A animação parece feita por algum software, talvez até um aplicativo astronômico. Talvez o Sol que aparece seja da imagem original mas certamente a imagem da lua foi colocada ali sobreposta. A Lua do vídeo se move muito rápido para ser real. Em nenhum momento nosso satélite aparece tão grande. Na verdade, nenhum astro se move tão rápido a não ser que fosse um satélite artificial que é muitas vezes menor que a Lua e está muitas vezes mais perto de nós. 

A lua está a uma distância de 400000 km e não varia muito essa distância ao longo do seu movimento ao redor da Terra. O tamanho aparente (não o real) do Sol e da Lua são quase iguais, isto ocorre porque o Sol é 400 vezes maior que a Lua e está a aproximadamente 400 vezes mais distante, fazendo com que o tamanho angular seja quase o mesmo o que não acontece no vídeo. Para que ela aparecesse daquele tamanho teria que haver um cataclismo. A lua influencia na terra através das marés; se ela estivesse aquela distância a sua força gravitacional produziria maremotos e terremotos. Isso não aconteceu: aquela é só uma imagem muito bem montada muito bem desenhada num software.

Outro detalhe importante é o tempo.  Demoraria mais de 28 dias para que ela passasse todas as fases que aparece no vídeo: cheia, minguante, nova e crescente e ali acontecem alguns segundos (inclusive um eclipse). Algo assim não poderia ter acontecido nunca mesmo num lugar remoto.

Para terminar: a lua do vídeo está rodando, isto não corresponde a realidad pois a Lua mostra sempre a mesma face para nós. Note a cratera escura na borda esquerda do vídeo assim que a Lua “nasce” ela vai sumindo depois de alguns segundos.

Se você um dia ver imagens como essas, sempre desconfie. Não passe adiante.  Não vamos alimentar a moda dos fake news.

Contribuíram com este texto os astrônomos: Jorge Marcelino dos Santos Junior e Flavia Pedroza Lima

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Marte: Esperança, Questões Celestiais e Perseverança

Por Naelton Mendes de Araujo – Astrônomo da Fundação Planetário da Cidade do Rio de Janeiro

Marte sempre foi o maior alvo da pesquisa espacial e este mês de fevereiro de 2021 recebe três visitas, quase simultâneas, de três missões de exploração.

Esperança Arábe

Acima e a esquerda representação da sonda em modo de cruzeiro, abaixo e a esquerda sonda sendo preparada antes do lançamento, a direita diagrama das etapas da missão

A missão inaugural do programa de exploração planetária dos Emirados Árabes chama-se Hope (em árabe Al Amal que siginifica Esperança) e foi lançada com sucesso em 20 de junho de 2020. O programa, orçado em US$200 milhões, foi produto de uma colaboração com o Japão (que forneceu o foguete lançador) e três universidades americanas. Trata-se de um sonda orbital para estudar a atmosfera marciana através de câmeras de alta resolução no infravermelho e ultravioleta. Espera-se coletar uma enorme quantidade de dados da dinâmica atmosférica marciana. A previsão é de que a sonda entre e órbita no próximo dia 09 de fevereiro de 2021.

ver https://www.emiratesmarsmission.ae/

Questões Celestiais Chinesas

A esquerda representação do rover em funcionamento, ao centro as três partes da missão: orbiter, rover e lander; a direita acima sonda em modo de cruzeiro, a direita abaixo sonda antes do lançamento

A China tem se tornado um potência espacial inquestionável desde que lançou sua missões tripuladas ao redor da Terra e sondas a Lua. A primeira missão chinesa a Marte foi em parceria com a Rússia em 2011 que não obteve sucesso.
Agora chegou a hora de mirar Marte novamente. A sonda chinesa chama-se Tianwen (Questões Celestes) e trata-se de uma missão completa: orbiter, lander e rover. Foi lançada em 23 de julho de 2020 e deve chegar a Marte no dia 10 de fevereiro de 2021. O lugar de pouso programado chama-se Utopia Planitia, famoso na série Star Trek por ser o lugar ficticio onde a Enterprise-D e a Voyager foram construídas: nos estaleiros da Federação dos Planetas. O principal objetivo da sonda é buscar evidências de vida (passada ou atual) e avaliar o meio ambiente marciano, incluíndo sondas de penetração do solo. O primeiro vôo tripulado chinês ao planeta está agendado para as próximas décadas.

ver https://en.wikipedia.org/wiki/Tianwen-1

Perseverança e Engenhosidade Americanas

A esquerda a sonda em modo de cruzeiro, acima drone Ingenuity, abaixo a direita: rover Perseverance.

O Programa de Exploração de Marte da Nasa já enviou quatro rovers ao planeta que se tornaram famosos: Sojourner (1997), Spirit (2004), Oportunity (2004) e o Curiosity (2012). O rover Perseverance (Perseverança) vai a bordo da sonda Mars2020 junto com um companheiro pioneiro: o drone Ingenuity (Engenhosidade). O local de pouso é a Cratera Jezero que há 3.7 bilhões de anos atrás deve ter abrigado um um lago no um delta de rio onde acumulou sedimentos que podem ter preservado bem bioassinaturas (sinais químicos da presença de vida). A sonda custou algo em torno de US$2,1 bilhão e traz uma quantidade enorme de instrumentos. O drone Ingenuity é um helicóptero robótico que pretende escoltar o Perseverance, procurando locais promissores para prospectar. Essa será a primeira experiência de um objeto voador em outro planeta testando estabilidade e manobrabilidade. A previsão de chegada é dia 18 de fevereiro. Outra expectativa desta missão é recolher amostras para, em uma futura missão, retornar a Terra.

ver https://mars.nasa.gov/mars2020/

Teremos em breve muitas informações interessantes sobre o planeta Marte. Fiquem atentos.

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Eclipse Solar de 14 de dezembro de 2020

O que é um eclipse solar?

A condições de ocorrência do eclipse solar: lua nova no mesmo plano que contem o Sol e a Terra. Nas regiões de penumbra só podemos ver uma parte do Sol ocultada pela Lua.

Na próxima segunda (14/12), a Lua vai cruzar a eclíptica (plano da órbita da Terra ao redor do Sol) e será Lua nova (a Lua vai estar na direção do Sol). Por isso a sombra da Lua vai percorrer uma estreita faixa da superfície da Terra. Isto é um eclipse solar.

Região onde a sombra (mais escuro: onde ocorre o eclipse solar total) e a penumbra (mais claro: onde acontece o eclipse parcial) da Lua vão percorrer a superfície da Terra.
https://www.timeanddate.com/eclipse/map/2020-december-14 .
A totalidade será numa estreita faixa que vai do Chile à Argentina. Quase toda América do Sul vai estar na penumbra. No Brasil somente o Norte e metade da região Nordeste não verão o eclipse parcial. No gráfico vemos a porcentagem de máxima ocultação do disco solar.

Aqui no Brasil: Onde vai ser visto e quando?

Para cada região a duração e a parcela do disco solar ocultado são diferentes. Os estados da Região Norte e boa parte do Nordeste não verão este eclipse. Alagoas e Sergipe vão ter menos de 5% de superfície ocultada (uma pequenina mordida num dos cantos do disco solar). Bahia, Distrito Federal, Goiás e Mato Grosso vão ver algo em torno de 8%. A região Sudeste e Mato Grosso do Sul verão algo entre 24% e 31%. Os estados da região Sul verão mais de 37% do disco solar ocultado. No extremo sul do Rio Grande do Sul a ocultação será maior que 50%.

Na cidade do Rio de Janeiro o evento começa as 12h57min. Teremos 31% do disco solar ocultado no momento do máximo, em torno das 14h14min, quando o Sol atinge uma altura de uns 56 graus. Às 15h23min já estará encerrado para os cariocas. Claro que dependemos do tempo abrir. As previsões meteorológicas não são as melhores.

Momento do início do eclipse (horário local) e ocultação máxima para diversas capitais no Brasil.

Como observar com segurança?

Óculos escuros e chapas de radiografia não são recomendados.

Observar o Sol, mesmo eclipsado, é muito perigoso. A melhor maneira (mais segura e mais prática) é por projeção. Você pode usar um espelho, uma lente ou uma câmara escura, chamada de pin hole. Use estes recursos para projetar a imagem numa tela improvisada (uma folha de papel branco por exemplo).

Projetando dentro de uma caixa você pode ver a evolução do fenômeno em segurança. Quanto maior a caixa maior o tamanho da imagem. Quanto maior o tamanho do orifício mais luz entra, entretanto piora a imagem. Sugestão: comece com um furo de agulha e não passe muito da espessura de um prego.
Diagrama simplificado para projetar a imagem do Sol. Note o detalhe de que a imagem tem que ser formar no centro da sombra. Mova o anteparo olhando para essa sombra, de costas para o Sol,
Você pode usar um lado de um binóculo simples (que não use prismas) ou uma luneta. Um para-sol também é preciso para fazer sombra na folha.


Para observação existem dois tipos de filtros importados seguros: 1) folhas metalizadas do tipo mylar intituladas solar screen; 2) filmes de um polímero sintético chamada de baader. Se não dispõe destes produtos ou tem dúvidas quanto procedência NÃO IMPROVISE. Existe uma opção mais acessível e razoavelmente confiável: o filtro de soldador número 14 (não use números menores). Você obtém facilmente nas lojas de ferragens em retângulos ou círculos.

Filtros de soldador número 14 (ou maior) e películas aluminizadas especiais (Mylar, SolarScreen ou Baader) pode ser usados como filtros eficientes. Não use filtros feitos para rosquear na ocular (podem rachar) . Se não tem um filtro confiável use seu telescópio para projetar a imagem. NUNCA OLHE PARA O SOL COM INSTRUMENTO ÓPTICO sem um filtro aluminizado.
Exemplos da imagem do disco solar parcialmente ocultado com filtros de soldador (abaixo à esquerda) e mylar (abaixo à direita) em outro eclipse solar parcial.
(Eclipse solar parcial 11/09/07 visto no Planetário do Rio.)

Quando e onde vai ter eclipse de novo?

Todo ano tem eclipse solar. Raro é a sombra passa perto de onde você mora.

Referências:

https://www.timeanddate.com/eclipse/map/2020-december-14
https://eclipse.gsfc.nasa.gov/SEgoogle/SEgoogle2001/SE2020Dec14Tgoogle.html
https://www.deviante.com.br/noticias/ciencia/eclipse-solar-de-carnaval-e-como-observa-lo/
https://www.vercalendario.info/pt/lua/brasil-14-dezembro-2020.html
https://www.businessinsider.com/every-total-solar-eclipse-until-2040-video-2017-8
http://oal.ul.pt/observar-o-sol-em-seguranca/
http://portaldoprofessor.mec.gov.br/storage/materiais/0000017087.pdf
https://www.businessinsider.com/every-total-solar-eclipse-until-2040-video-2017-8
http://oal.ul.pt/observar-o-sol-em-seguranca/
http://portaldoprofessor.mec.gov.br/storage/materiais/0000017087.pdf
https://www.vercalendario.info/pt/lua/brasil-14-dezembro-2020.html
https://www.businessinsider.com/every-total-solar-eclipse-until-2040-video-2017-8
http://oal.ul.pt/observar-o-sol-em-seguranca/
http://portaldoprofessor.mec.gov.br/storage/materiais/0000017087.pdf

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1957 Sputnik

Por Naelton Mendes de Araujo – Astrônomo da Fundação Planetário da Cidade do Rio de Janeiro

O ano era 1957: a televisão norte-americana lançava a comédia situação (sitcom) “Leave It to Beaver”; o rádio tocava o hit de Elvis Presley “Jailhouse Rock” e Jack Kerouac publica seu livro “On The Road”. Mas outro som desperta a América, um som vindo do espaço.

Fazia 12 anos que a Segunda Guerra Mundial tinha acabado com a detonação de duas bombas atômicas no Japão. Depois disso começou um novo tipo de conflito velado: a Guerra Fria. Antigos aliados, União Soviética e Estados Unidos, agora se debruçavam sobre os despojos tecnológicos da Alemanha nazista derrotada. Fazia oito anos desde que a União Soviética já tinha desenvolvido sua primeira bomba atômica de fissão e menos de dois anos da explosão da sua primeira bomba de hidrogênio (muito mais potente).

As primeiras bombas eram projetadas para serem lançadas de aviões. Para tornar a ameaça nuclear mais assustadora faltava um veículo de transporte mais eficiente. Era preciso colocar a arma de destruição mais poderosa já feita pelo humanidade bem na cara do inimigo. A Alemanha nazista já desenvolvera o veículo ideal: os foguetes V2. Dos descendentes destes foguetes e das bombas iniciais surgiu a arma mais temida da humanidade: o míssil balístico intercontinental. 

O que distingue um míssel destes de um foguete lançador de satélite é, essencialmente, o que cada um leva na sua na sua ponta (na sua extremidade) e sua trajetória. A carga útil que pode ser uma ogiva explosiva (nuclear ou convencional) ou um veículo espacial: um satélite artificial.

No ano de 1957 a ONU lançou o Ano Internacional Geofísico e um dos desafios científicos era o colocar o primeiro satélite artificial. Previsto pela teoria gravitacional de Isaac Newton, e antecipado pelas obras de Júlio Verne, o satélite artificial ainda não havia saído do papel. A tecnologia básica já existia mas faltava pelo menos mais um estágio e a orientação correta para colocar um objeto se movimentando redor da Terra. Ficar em órbita, falando de forma simplificada, é lançar um projétil de tal forma que ao cair não atinge mais a superfície da Terra. Isso se consegue fazendo um disparo horizontal a uma altura acima de 100km (onde o ar não oferece resistência) a uma velocidade igual ou superior a 8km por segundo. 

Isso foi feito primeiro pela União Soviética no dia 4 de outubro de 1957. A esfera metálica de 60cm e um pouco mais de 80kg dava uma volta na Terra a cada 96 minutos emitindo um bip bip insistente e fácil de captar por qualquer radioamador. 

Sputnik significa pequeno companheiro. Foi lançado por um foguete denominado Semiorka R7. Mais tarde este R7 daria origem a toda uma nova dinastia de foguetes. A família decorrente até hoje coloca naves espaciais em órbita, como as Soyuz que levam os astronautas da atualidade para a ISS.  

Mais do que uma conquista científica, o Sputnik abalou a supremacia norte-americana e se tornou um desafio para os políticos. As forças armadas norte-americanas estavam tentando individualmente a colocação do primeiro satélite sem sucesso. Esse momento especial foi um impacto tão grande ficou conhecida como Crise Sputnik, o que levou à criação da Nasa, Agência Espacial norte-americana, responsável por centralizar a pesquisa espacial. 

A dianteira soviética na corrida espacial marcou mais um recorde no mês seguinte quando foi para o espaço o primeiro ser vivo em órbita, a cadelinha Laika, no Sputnik 2. Mas essa é outra história.

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Júpiter Soberano

Por Naelton Mendes de Araujo – Astrônomo da Fundação Planetário da Cidade do Rio de Janeiro

Depois de Marte, além do cinturão de asteroides, nós vamos encontrar o planeta Júpiter, o maior planeta do Sistema Solar e o primeiro de uma outra categoria de planetas. Enquanto os planetas mais internos (Mercúrio, Vênus, Terra e Marte) são planetas densos e pequenos, os planetas externos são chamados de gigantes gasosos: muito maiores, menos densos e compostos basicamente de gases. Destes o maior é Júpiter.

Júpiter é conhecido desde a antiguidade pois é fácil vê-lo no céu. Ele é um dos cinco planetas visíveis à vista desarmada: Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno. Pelo seu movimento lento e o brilho intenso (é o quarto objeto natural mais brilhante visível no céu da Terra), várias civilizações antigas atribuíram grande destaque a Júpiter. Foi associado à maior divindade do Panteão grego: Zeus, o Deus dos Deuses e o rei do Olimpo. Muitos povos associaram-no ao seu deus do trovão.

Da esquerda para a direita: Júpiter (Roma), Thor (Escandinávia) e Zeus (Grécia).

Em 1610, o sábio italiano Galileu Galilei (1564-1642) registrou suas observações de Júpiter no livro Mensageiro Sideral. Este livro foi o primeiro registro metódico de observações celestes feitas através de um instrumento óptico: a recém-inventada luneta astronômica. Observando Júpiter, Galileu percebeu quatro pontos luminosos alinhados com o disco do planeta. Ao observar por um período notou um movimento pendular ao redor do astro maior. Não poderiam ser estrelas: eram os quatro maiores satélites de Júpiter. Mais tarde receberam a denominação de luas galileanas, em homenagem a Galileu.
Mesmo com um telescópio com baixo aumento é possível vê-las. Essa descoberta foi muito importante para a determinação de que a Terra não era o centro do Sistema Solar.

Luas Galileanas: no alto uma imagem telescópica. Abaixo fotos obtidas por sondas espaciais (da esquerda para a direita): Io, Europa, Ganimedes e Calixto.

Essas luas são Io, Europa, Calixto e Ganimedes. Cada uma destas é um pequeno mundo particular. A cada dia se descobre mais coisas interessantes sobre cada uma delas. Io é vulcânica e Europa tem um oceano recoberto de gelo que pode abrigar condições de vida. Esta é um dos mais esperados alvos de missões futuras.

Neste momento nós sabemos que existem pelo menos 79 luas jovianas, mas pode ser que existam mais. Como Júpiter tem uma gravidade muito intensa, ele recolheu muito material ao seu redor durante a sua formação bilhões de anos atrás. Algumas dessas luas podem ter se formado junto com o planeta. Outras luas podem ter sido asteroides ou cometas capturados ao longo da história do Sistema Solar.

Sendo essencialmente gasoso fica estranho falar em uma atmosfera joviana. O planeta, em termos de massa, é composto por 75% de hidrogênio e 24% de hélio. O 1% restante é composto de metano, amônia, fósforo e vapor de água, nesta ordem de abundância. O planeta gira rapidamente em torno do seu próprio eixo num período de quase 10 horas. Mas o ano joviano dura um pouco menos que 12 dos nossos anos terrestres.

Rotação da atmosfera joviana. Note a grande mancha vermelha um pouco à esquerda do centro.

Várias sondas espaciais já visitaram Júpiter. Algumas sobrevoaram e outras ficaram em órbita. A maior parte do que sabemos hoje deste planeta devemos a estes aparatos espaciais.

Primeiras sondas a sobrevoar Júpiter: Pioneer 10 e 11

As primeiras sondas a ultrapassar o cinturão de asteroides foram as Pioneer 10 (1973) e 11 (1974). Esta última chegou a meros 34.000 km da superfície nebulosa do planeta gigante. As primeiras fotos detalhadas de Júpiter e suas luas foram obtidas naquela época.

Voyager 1 e 2: primeira parada Júpiter.

Cinco anos mais tarde, duas sondas Voyager visitaram o planeta em um intervalo de poucos meses. Estas sondas sobrevoaram o planeta gigante e depois prosseguiram para outros destinos, como as sondas Ulysses (1992), Cassini (2000) e New Horizon (2007).

Sobrevoando Júpiter de passagem: Ulysses foi para o Sol, Cassini para Saturno e a New Horizon para Plutão e além.

A primeira sonda a orbitar Júpiter foi a Galileu (1995) que, apesar de uma problema na sua antena, transmitiu dados até 2003. Esta missão também incluiu um pequena sonda atmosférica que penetrou o envoltório gasoso do planeta e transmitiu dados antes de ser esmagada. Em 2016 a sonda Juno entrou em órbita do planeta. Particularmente interessantes foram a fotos de alta resolução dos polos jovianos com seus inúmeros vórtices de gás. Até o momento Juno ainda transmite dados.

Link externo:

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Dragon, a volta ao espaço

Por Naelton Mendes de Araujo – Astrônomo da Fundação Planetário da Cidade do Rio de Janeiro

Hoje, 27 de maio de 2020, está previsto o lançamento da nave Dragon pela SpaceX em torno das 17h30min (horário de Brasília). A nave parte dos Estados Unidos da mesma plataforma 39A, de onde foram lançadas as missões Apollo para a Lua e os ônibus espaciais. Este lançamento tem uma importância muito grande, pois desde que os ônibus espaciais foram aposentados, em 2011, não se lança uma nave tripulada a partir dos Estados Unidos.

Este momento é parecido com o que aconteceu em 1981 com o lançamento do primeiro ônibus espacial Columbia. Com o fim do programa Apollo, em 1975, os EUA ficaram cerca de seis anos sem que um astronauta pudesse sair do território norte-americano para o espaço. Até o momento os norte-americanos, para alcançar a ISS, precisam partir de bases do Cazaquistão (Rússia) através das cápsulas Soyuz, um modelo de nave espacial criado na década de 70.

Depois da aposentadoria dos ônibus espaciais houve uma certa para paralisação do avanço espacial. Não desenvolveram um sucessor para o ônibus espacial: um veículo reutilizável de pouso aerodinâmico, um avião foguete ou algo semelhante. De certa maneira voltamos no tempo com o uso de cápsulas espaciais. Era de se esperar que houvesse ônibus espaciais mais modernos, capazes inclusive de levantar voo de solo sem ajuda de foguetes decolando de aviões de pistas comuns. Os acidentes com os ônibus espaciais Challenger e Columbia, somados à complexidade e custo dos lançamentos, desencorajaram o desenvolvimento de novos veículos deste tipo.

A cápsula Dragon.

A diferença agora é que a Dragon é recuperável (tanto a parte do foguete, como a cápsula). Se a missão denominada Demo 2 for um sucesso, estaremos presenciando mais um marco na história da conquista espacial: o retorno do voos norte-americanos em órbita da Terra. A empresa americana SpaceX é uma empresa particular, do bilionário Elon Musk, que já fez grandes avanços no uso comercial do espaço.

A missão Demo-2 tem como objetivo que a Dragon se acople à estação ISS. Uma cápsula Dragon já fez isso automaticamente na missão Demo-1, em março de 2019.

A missão Demo 2 na fase inicial: a ida.
A volta.

A Janela de lançamento — período em que se pode lançar a missão com a configuração atual — vai até domingo, 31/05/2020. Se algo não estiver 100% o lançamento pode ser adiado até esta data.

O Foguete Falcon 9.
Os astronautas Bob Behnken and Doug Hurley.

O foguete usado será um Falcon 9. Na primeira etapa o estágio inicial volta automaticamente. Os astronautas deste voo histórico chamam-se Bob Behnken and Doug Hurley e são da NASA. Vamos torcer para que dê certo! Está previsto para ser lançado hoje, dia 27 às 17h30min.


Link para assistir ao vivo no site da SpaceX: https://www.spacex.com/launches/

ao vivo do site da Spacex
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Coluna do Astrônomo Entretenimento Humor

O número 42 e o Dia da Toalha

Por Naelton Mendes de Araujo – Astrônomo da Fundação Planetário da Cidade do Rio de Janeiro

Dia 25 de maio é dia da toalha. O que significa isso? Não é nenhuma campanha de confecção de algodão ou de roupas ou coisas do tipo. A relação que há entre uma toalha e a ficção científica parte de um autor especialmente criativo e original Douglas Adams (1952-2001) e a sua obra “O Guia do Mochileiro das Galáxias” ( The Hitchhiker’s Guide to the Galaxy, 1978). A obra começou com radio novela, depois peça de teatro, o primeiro de cinco livros veio em em 1979, em 1981 veio a primeira série de TV e finalmente em 2005 o longa metragem.

Neste livro, um viajante extraterrestre, que pega carona através da Galáxia encontra-se com um terrestre e o leva para aventuras espaciais depois que a Terra é destruída. Falando assim parece uma coisa muito dramática mas o livro é na verdade uma grande de paródia em cima de toda ficção científica. O guia é um enorme deboche de Adams que é conhecido pelo seu humor britânico extremamente irônico e non-sense. Adams foi roteirista do grupo de comédia Monty Python. Adams também participou da série de ficção científica mais longeva da história onde foi roteirista: Doctor Who.

No Guia dos Mochileiros importância da toalha é colocada como um item de primeira necessidade incluindo utilizações bem curiosas do tipo enfrentar monstros. A primeira vez que se comemorou a data a referência era (mais ou menos) a data de falecimento de Adams. Mais tarde se associou a estreia do primeiro filme da saga Star Wars. Assim a data 25 de Maio tornou-se uma referência para a cultura pop e desde então tem sido considerado o dia do orgulho nerd.
O que que é um nerd? É difícil definir mas está muito ligado a pessoas que curtem séries de fantasia e sci fi. Se interessam por assuntos científicos e temas ligados a tecnologia. Esse grupo de pessoas é representada de forma jocosa pela série The Big Bang Theory. A série conta a história de um grupo de quatro nerds, todos eles pesquisadores, suas dificuldades com relações sociais e suas aventuras com muitas referências ao mundo dos comics, fantasia e ficção científica.

Em 2005 foi lançado o longa metragem baseado no livro Guia dos Mochileiros. Foi gratificante para os fãs ver os personagens icônicos como Ford Prefect (interpretado por Yasiin Bey), Arthur Dent (Martin Freeman conhecido por The Hobbit e Sherlock) e Zaphod Beeblebrox (Sam Rockwell de Moon) e o robô deprimido Marvin (Warwick Davis de Willow). O elenco inclui Zooey Deschanel (como Trillian), Stephen Fry (Narrador, na versão brasileira a voz foi de José Wilker), o premiado veterano John Malkovich (Humma Kavula) entre outros. Os seres, os apetrechos tecnológicos, as discussões filosófico-científicas e os vários memes criados nesta obra ocupam nichos de destaque até hoje na cultura pop.

A esquerda Zaphod em uma repreesentação teatral, centro os personagens no filme de 2005 e a direita Trillian por Zooey Deschanel
  • Os livros de Adams sobre a saga do mochileiro foram cinco apesar do autor se referir a obra ironicamente como uma trilogia:
  • The Hitchhiker’s Guide to the Galaxy – 1979 (no Brasil, O Guia do Mochileiro das Galáxias).
  • The Restaurant at the End of the Universe – 1980 (no Brasil, “O Restaurante no Fim do Universo”).
  • Life, the Universe and Everything – 1982 (no Brasil, “A Vida, o Universo e Tudo Mais”).
  • So Long, and Thanks For All the Fish – 1984 (no Brasil, “Até mais, e Obrigado pelos Peixes!”).
  • Mostly Harmless – 1992(no Brasil, “Praticamente inofensiva”).

Quanto ao número 42? Ah, leia o livro ou veja o filme. Você vai saber que 42 é resposta para sobre a vida, o universo e tudo mais pelo menos segundo o Pensador Profundo. Seja como for: Não entre em pânico!

Links:
Livro (1979): https://www.skoob.com.br/livro/225ED344547
Série de TV (1981): https://www.imdb.com/title/tt0081874/
Longa metragem (2005): https://www.imdb.com/title/tt0371724/
O dia da toalha (a data): https://super.abril.com.br/cultura/o-que-e-dia-da-toalha-e-por-que-ele-e-comemorado-na-data-errada/

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Cinco filmes espaciais: não ficção


Escolher os cinco melhores filmes espaciais de todos os tempos é uma tarefa muito difícil. Pra “roubar” um pouco e facilitar a tarefa vou dividir em categorias. A primeira categoria será a de filmes de não ficção: histórias que realmente aconteceram dramatizadas pelo cinema. Não resisti a inserir mais dois extras no final. Só menciono filmes que já assisti. Você, leitor, pode colocar nos comentários aqueles que julgar que esqueci.

Aí estão eles em ordem de lançamento, não classificados por preferência, nem por mérito.

Os Eleitos (The Right Stuff, 1983)

Direção: Philip Kaufman – Roteiro: Philip Kaufman.
Baseado no livro The Right Stuff de Tom Wolfe.
Elenco: Sam Shepard, Scott Glenn (Sucker Punch, 2011) , Ed Harris (The Truman Show, 1998), Dennis Quaid (The Day After Tomorrow, 2004).

O filme foi indicado a vários Oscars, entre eles: melhor filme, ator coadjuvante, direção de arte e fotografia. Ganhou quatro Oscars: montagem, trilha sonora original, som e efeitos sonoros.

Os Eleitos narra, paralelamente, os dois projetos norte-americanos no início da década de 60 para levar um astronauta ao espaço. Um dos projetos era dos chamados aviões foguete que, décadas mais tarde, daria origem aos Space Shuttles. O filme começa com a barreira do som sendo vencida pelo avião X1 pilotado pelo capitão Chuck Yeager. O projeto que realmente atingiu o propósito foi o Mercury. Este projeto enfrentou a pressão de tirar os EUA da segunda posição na Corrida Espacial. Os soviéticos já tinham posto Gagarin em órbita e a Nasa ainda amargava suas derrotas. Sete astronautas foram selecionados e intensamente treinados para embarcar numa cápsula pequena na ponta de foguetes, antes desenvolvidos para serem misseis intercontinentais. Esta saga merece ser acompanhada. A narrativa é um produto de seu tempo e lugar. Se comparado a produções mais modernas pode trair um certo ufanismo nacional sem endeusar muito os astronautas. Mas as diversas anedotas e casos pitorescos realmente aconteceram. O espírito de competição com os soviéticos fica bem evidente. O clima de guerra fria preenche bem os diálogos.

Apollo 13 (1995)

Direção: Ron Howard.
Produção: Brian Grazer.
Roteiro: William Broyles Jr.e Al Reinert – Basedo no livro Lost Moon de Jim Lovell e Jeffrey Kluger.
Elenco: Tom Hanks (Forrest Gump, 1994), Kevin Bacon (O Homem Sem Sombra, 2000), Bill Paxton (U-571 A Batalha do Atlântico, 2000), Gary Sinise (Forrest Gump, 1994), Ed Harris, Kathleen Quinlan.

Este filme ganhou dois Oscars (melhor edição e melhor som) e foi indicado para outros sete Oscars: melhor filme, melhor ator coadjuvante (Ed Harris), melhor atriz coadjuvante (Kathleen Quinlan, no papel da esposa de Jim Lovell), melhor roteiro adaptado, melhor trilha sonora, melhor direção de arte e melhores efeitos. Apollo 13 ganhou sete outros prêmios em vários festivais.

Agora o programa espacial é outro: Apollo. Depois da descida da Apollo 11 na Lua, em julho de 1969, e da Apollo 12, em novembro do mesmo ano, o interesse da opinião pública americana sobre viagens espaciais parecia ter diminuido

A tripulação da Apollo 13 era assim composta: o comandante James A. Lovell Jr. (interpretado por Tom Hanks), o piloto do módulo de comando John L. Swigert Jr. (Kevin Bacon) e o piloto do módulo lunar Fred W. Haise Jr (Bill Paxton).

A nave Apollo foi lançada em direção a Lua pelo gigantesco foguete Saturno V. Depois que o último estágio do foguete se destaca a nave fica composta de três partes: módulo de serviço (cilíndrico e não-tripulado), módulo de comando Odyssey (cônico, lugar para três astronautas durante os oito dias de missão) e o módulo lunar Aquarius (com formato de aranha e espaço para dois astronautas por dois dias). Houve uma explosão. A explosão levou parte do módulo de serviço deixando o Odissey sem energia e atmosfera. Os três astronautas passaram para o Aquarius feito para abrigar duas pessoas por dois dias. Não faltou oxigênio, o problema foram nos filtros de gás carbônico: não estavam dando conta do recado. A solução exigiu bastante criatividade. Veja o filme, você vai amar.

O Céu de Outubro (October Sky, 1999)

Direção: Joe Johnston
Produção: Charles Gordon e Larry Franco
Roteiro: Lewis Colick – Baseado no livro Rocket Boys de Homer Hickam
Elenco: Jake Gyllenhaal (Donnie Darko, 2001), Chris Cooper (A Identidade Bourne, 2002), Laura Dern (Jurassic Park, 1993)

Filme para ser visto mais de uma vez. Neste período de quarentena então, vai te fazer muito bem pela mensagem de superação que ele carrega. October Sky é uma autobiografia de Homer Hickam, um engenheiro aeroespacial que trabalhou na Nasa. O filme se concentra na sua infância nos fins da década de 50 na pequena cidade mineira de Coalwood (área rural dos EUA). A primeira cena do filme é a passagem do Sputnik (outubro de 1957) e o alvoroço que isso causou na sociedade norte-americana no início da Guerra Fria. Aquele momento foi marcante para a educação científica norte-americana. Em Coalwood, naquela época, um jovem ao terminar seus estudos secundários tinha três destinos prováveis: trabalhar nas minas de carvão, servir as forças armadas ou ser um bom esportista para ganhar uma bolsa em uma universidade, nesta ordem. Homer ousa pensar em lançar foguetes.

O filme não chegou a ser indicado para o Oscar; ganhou três prêmios em festivais e deixou um legado de inspiração. Seu tema musical principal é sensacional. A fotografia é linda. As atuações comovem e a exatidão história e científica são convincentes. Esse é para ver com a família: pelo menos com a garotada a partir dos 10 anos.

Estrelas Além do Tempos – (Hide Figures, 2016)

Direção: Theodore Melfi.
Produção: Donna Gigliotti, Peter Chernin, Jenno Topping, Pharrell Williams e Theodore Melfi Roteiro: Allison Schroeder e Theodore Melfi.
Baseado no livro homônimo de Margot Lee Shetterly.
Elenco: Taraji P. Henson (The Curious Case of Benjamin Button, 2008), Octavia Spencer (Histórias Cruzadas, 2011), Janelle Monáe, Kevin Costner (O Mensageiro, 1997), Kirsten Dunst (Spider-Man, 2002) e Jim Parsons (Big Bang Theory, 2007).

Não vou esconder minha paixão por este filme. Já escrevi um artigo sobre ele no calor da entrega do Oscar de 2017. O filme também fala do Programa Mercury, descrito em Os Eleitos, mas o enfoque é totalmente diferente. Enquanto se travava uma guerra fria no espaço em terras norte-americanas ainda havia direitos civis a serem conquistados. A política Jim Crow de segregação racial e a cultura machista faziam a sociedade americana se arrastar do ponto de vista social. O filme trata tanto do progresso tecnológico como a necessidade de avanço social. A obra conta essa história ao destacar três personagens notáveis: Katherine Johnson (Taraji P. Henson) , Mary Jackson (Janelle Monáe) e Dorothy Vaughan (Octavia Spencer). Essas mulheres negras foram responsáveis por calcular a órbita e os detalhes da cápsula espacial. Aquela era uma época onde muitos cálculo ainda eram feitos à mão (com ajuda de calculadoras elétricas) e os primeiros computadores ainda eram máquinas difíceis de se lidar. Se você estudou ciências exatas reconheceu as menções bem colocadas de métodos numéricos de computação (Método de Gauss, por exemplo). Se for do meu tempo, então, vai se lembrar emocionado quando a linguagem Fortran for mencionada. Até uns 15 anos atrás esta linguagem ainda era usada para programas de controle de satélites onde eu trabalhava.

Em 2017 este filme foi indicado para três categorias do Oscar: melhor filme, melhor atriz coadjuvante (a sensacional Octavia Spencer) e melhor roteiro adaptado. Não levou nenhum deste prêmios, mas já tinha conquistado oito premiações em grandes festivais de cinema.

Mercury 13 (2018)

Direção: David Sington e Heather Walsh
Produção: David Sington, Heather Walsh, Trevor Birney, Brendan Byrne e Geraldine Creed

Mais um filme sobre mulheres e espaço. Trata-se de um documentário sobre um programa privado (não era da Nasa) desenvolvido em 1960 para treinar mulheres norte-americanas para serem astronautas. O termo Mercury 13 foi criado em 1995 em referência aos Mercury Seven: o time de sete astronautas representados no filme Os Eleitos. Elas nunca foram ao espaço. Das 13 originais oito ainda estão vivas enquanto escrevo estas linhas.

A primeira astronauta foi a soviética Valentina Tereshkova em 1963. A primeira astronauta norte-americana, Sally Kristen Ride, só foi ao espaço vinte anos depois do programa Mercury. Até hoje nenhuma mulher foi a Lua, mas já há um programa norte-americano em andamento com este propósito: Ártemis.

Mais dois filmes… de brinde.

Claro que existem muitos outros filmes de não ficção excelentes sobre a exploração do espaço. Uma dica muito boa do meu colega Leandro foi Gagarin. Pervyy v kosmose (2013) que pode ser visto no canal do Planetário no YouTube. O primeiro ser humano no espaço foi o soviético Yuri Gagarin a bordo da nave Vostok.

Outro filme que não pode ficar de fora de qualquer lista espacial é o O Primeiro Homem (2018). É a biografia do astronauta Neil Armstrong, o primeiro homem na Lua. Assisti duas vezes mas achei meio depressivo e claustrofóbico demais pra a atual conjuntura de afastamento social. Por este motivo incluí O Céu de Outubro por trazer uma mensagem mais otimista. O filme é bem realista nos detalhes técnicos: especial destaque para a cena sobre a missão Gemini 8, comandada por Armstrong, que quase acaba em desastre.