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Coluna do Astrônomo

Qual a chance de um satélite cair na sua cabeça?

Por Naelton Mendes de Araujo – Astrônomo da Fundação Planetário do Rio de Janeiro

Não tenho os números exatos, mas garanto que a chance de um satélite atingi-lo é muito menor do que ganhar o prêmio máximo em qualquer das loterias que exista. Recentemente anunciou-se a queda do satélite soviético Cosmos 1484, com uns 6 metros de largura, um pouco maior que uma van. A manchete dizia que o objeto colidiria com a Terra em torno do dia 29 de janeiro de 2013. Provavelmente isso não ocorreu, pois a maior parte dos satélites que cai se consomem totalmente na atmosfera devido ao atrito. Se o corpo é grande, tem alguma chance de que alguma parte “sobreviva” à reentrada, mas daí a dizer que atinge o solo tem uma boa distância. Lembremos que algo em torno de três quartas partes da superfície terrestre é recoberta de água. A chance maior é sempre de cair no oceano.

O ângulo em que o objeto penetra na atmosfera também determina o efeito maior ou menor do atrito atmosférico. Numa queda descontrolada de um objeto grande (como é o caso do satélite Cosmos 1484) a chance de um pedaço grande passar pela atmosfera superior é maior.

Em 1979 a estação espacial americana Skylab (26 metros de comprimento) reentrou na atmosfera descontroladamente e algumas partes atingiram o solo numa região desabitada da Austrália, sem acertar ninguém. Mais tarde, em 2001 a estação soviética MIR (30 metros de largura) foi deliberadamente tirada de órbita. Os pedaços maiores caíram no mar como o planejado.

Fundo: imgem dos destroços da Skylab. Box na direita: imagem da Skylab em órbita.

Hoje em dia temos mais de 10.000 objetos artificiais em órbita da Terra. A maior parte é de satélites ativos em diversas altitudes e atividades. Mas também existe muito lixo espacial: últimos estágios de foguetes usados, satélites inativos e destroços produzidos por acidentes espaciais. Este lixo dificilmente pode causar problemas aos moradores do planeta, mas tem chance de colidir com satélites causando danos graves. As agências espaciais mantêm um detalhado acompanhamento da maior parte destes detritos espaciais. Contudo existem pedaços menores não catalogados. Em 1993, o Cosmos 1484 provavelmente colidiu com um lixo espacial que o inutilizou definitivamente, tornando-se mais um lixo espacial.

Nestes 56 anos de satélites em órbita não há, até onde eu saiba, nenhum relato de queda de satélite em cima de ninguém. Precisaria ter muito mais lixo em órbita do que existe para que a probabilidade disso ocorrer fosse maior que a de um avião cair em cima de sua casa. Seria muita falta de sorte mesmo.

Veja este vídeo do satélite Cosmos 1484 passando pela Lua.

 

 

Mais sobre lixo espacial.

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RETROSPECTIVA 2012 – Os Cinco Eventos Mais Relevantes na Astronomia

RETROSPECTIVA 2012 – Os Cinco Eventos Mais Relevantes na Astronomia

 

Acionados pela nossa Assessoria de Comunicação Social, fomos instados a produzir uma lista, um “Top 5”, de eventos astronômicos do ano que passou. A Diretoria de Astronomia e Cultura, através de sua Gerência de Astronomia, elaborou uma lista que foi à votação, entre os astrônomos e demais funcionários da DAC. Ao longo desta semana, nossos leitores acompanharão aqui o resultado.

 

Vejam o que o astrônomo Naelton Mendes de Araújo tem a dizer sobre o nosso quarto colocado…

 

 

A Lua Ocultou Júpiter numa noite de Natal

Por Naelton Mendes de Araujo
22/01/2013

 

 

No dia 25 de dezembro de 2012 passado, antes de sair de casa para assistir uma cantata de Natal, meus colegas de Facebook me lembraram da ocultação que estava acontecendo naquele momento.

 

Ocultação é quando um astro passa na frente do outro. Geralmente a Lua oculta várias estrelas e planetas no seu rápido movimento ao redor da Terra. Quando isso acontece com um planeta brilhante como Júpiter chama a atenção de todos.

 

Já havia dias que eu estava acompanhando visualmente a aproximação de Júpiter com a Lua, mas não havia me programado ainda para registrar o evento. Assim que voltei do culto natalino fui fotografar a saída de Júpiter por detrás da Lua. Fiz uma série de fotos junto com minha esposa usando um tripé improvisado. Muitas fotos saíram tremidas ou fora de foco, mas algumas ficaram bem razoáveis. Acima vemos alguns resultados: a primeira foto (à esquerda) foi segundos depois do planeta surgir por detrás do satélite. A segunda já foi alguns minutos depois. Essas fotos foram feitas apenas com o zoom ótico da câmera, sem telescópio.

 

Fenômenos de ocultação de Júpiter pela Lua não têm grande aplicação científica hoje em dia, mas ainda agradam pela beleza e por serem facilmente visíveis a olho nu. Júpiter é o segundo planeta mais brilhante visível a olho nu. Vênus, às vezes chamado de “estrela-d’alva”, é o mais brilhante e também chama a atenção durante ocultações pela Lua. Estas ocultações não ocorrem de maneira periódica; por outro lado não são raras.

 

No próximo dia 22 de janeiro de 2013 haverá outra ocultação de Júpiter pela Lua. As condições de visibilidade do fenômeno dependem muito da localização do observador. Será visível em boa parte do Brasil. Os melhores lugares no Brasil para assistir o fenômeno serão: o Acre, o oeste do Amazonas e o norte de Rondônia. Infelizmente, no Rio a Lua estará muito baixa e não vai ser nada fácil de acompanhar.

 

Para saber mais:

 

http://skyandobservers.blogspot.com.br/2013/01/a-ocultacao-de-jupiter-pela-lua-em-22.html

http://www.rea-brasil.org/ocultacoes/

http://www.rea-brasil.org/ocultacoes/Ocultacoes_totais_de_estrelas_pela_Lua.pdf

 

 

 

 

 

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De Alcântara para o Espaço

Por Naelton Mendes de Araujo – Astrônomo da Fundação Planetário do Rio de Janeiro

 

Novembro passado tive a oportunidade rara de visitar o Centro de Lançamentos de Alcântara, no Maranhão. Um ponto de tecnologia no meio de um lugarejo bem atrasado que só agora começa a se desenvolver. Depois de sacudir bastante a bordo de um pequeno catamarã, atravessamos a baía de São Marcos e chegamos a uma vila bem humilde. O ônibus avançou por uma viela poeirenta, mas logo estávamos em uma via pavimentada destoando das casinhas de sapê, lojas antigas e roças.

 

No caminho para a base da Aeronáutica pude ver carros com o logotipo da Alcântara Cyclone Space (ACS). Ano passado escrevi um artigo sobre esta empresa pública binacional de capital brasileiro e ucraniano.

 

Em 2003, poucos meses depois do acidente que destruiu o nosso foguete VLS e a sua base de lançamento, foi assinado um tratado entre Brasil e Ucrânia para o uso do foguete Cyclone 4. Essa foi a base para o surgimento da empresa três anos depois.

 

Há muita discussão sobre o pesado investimento já feito e o que falta fazer para tornar possível o lançamento destes foguetes ucranianos a partir da base brasileira. Infelizmente, não há transferência de tecnologia através desta empresa. Este é um ponto fraco do empreendimento que já consumiu quase R$400 milhões nos últimos seis anos. Há muitas incertezas se o projeto deve ou não continuar consumindo tantos investimentos.

 

Um dos problemas que a ACS enfrenta é o impasse devido a um acordo, por assinar, com os EUA. A falta de um acordo inviabiliza o lançamento de foguetes com componentes americanos a partir do Brasil.

 

Além disso, o Cyclone 4, apesar de barato e confiável, não é potente o suficiente para pôr grandes satélites de telecomunicação em órbita geoestacionária, que é o maior mercado espacial. Concorrer com as gigantescas lançadoras de satélites americanas e europeias não vai ser uma tarefa fácil mesmo com a vantagem geográfica de uma base de lançamento próxima do Equador e um lançador econômico.

 

Novamente nosso programa espacial anda ameaçado.

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X-37B, Missão Espacial Secreta

 

Por Naelton Mendes de Araujo – Astrônomo da Fundação Planetário da Cidade do Rio de Janeiro

 

Veículos futuristas denominados com siglas como X-37B eram muito comuns em filmes de agente secretos do tipo James Bond. Mas o X-37B é real. No dia 11 deste mês mais um foi lançado. Trata-se de uma espécie de miniatura automatizada do ônibus espacial (aproximadamente ¼ do comprimento deste último). Por ser menor, não precisa ser lançado por foguetes enormes. Lançado por um foguete Atlas, como qualquer outro satélite comum, o X-37B dispõe de motores que permitem manobrar em órbita. Além disso, tem forma aerodinâmica para planar ao retornar à atmosfera e pousar como um avião. Esta é a terceira vez que um veículo destes é posto em órbita. A primeira missão, iniciada em 2006, durou 224 dias. A segunda missão de 2011 durou 468 dias. Este projeto é tocado pela Força Aérea Americana e já foi interpretado como um veículo espião ou até como um protótipo de arma espacial.

 

Vários astrônomos amadores acompanham visualmente as primeiras órbitas destes veículos a partir da terra. Entretanto as diversas mudanças de órbita não permitem prever com exatidão as suas passagens posteriores. Geralmente a órbita do X-37B é considerada baixa: em torno de 300km de altura.

 

Comparando com outros aviões espaciais, o X-37B é bem particular. Uma missão típica do Space Shuttle não era muito maior que 15 dias. O Buran soviético foi o primeiro avião espacial, em 1988, a realizar a façanha que só hoje o X-37B repete: um voo espacial totalmente automático.

 

 

 

 

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Laika: das ruas de Moscou para o Espaço

 

Por Naelton Mendes de Araujo – Astrônomo da Fundação Planetário

Num ambiente de extrema competição e propaganda política o primeiro animal foi posto em órbita em 3 de novembro de 1957. Dez anos antes, americanos e russos já enviavam e traziam de volta animais em voos suborbitais. Enquanto os americanos enviavam macacos, os soviéticos enviavam cães.

Com o advento do Sputink I, o primeiro satélite artificial da Terra, o desafio era levar um animal a dar pelo menos uma volta no planeta. Ainda não havia tecnologia para trazer de volta em segurança um passageiro que estivesse em órbita. O atrito da reentrada poderia derreter qualquer nave espacial não preparada para isso. Apesar disso a missão Sputink II teria que marcar mais um recorde a favor da URSS para satisfazer Nikita Krushchev, o líder soviético.

Sem tempo para desenvolver uma cápsula segura e recuperável, os técnicos do programa espacial soviético enviaram a cadela vira-lata batizada de Laika numa missão suicida. Apesar de ter alimento e oxigênio para vários dias a cápsula teve uma falha no sistema de controle de temperatura. O stress do lançamento mais o aquecimento exagerado fizeram que a cadela morresse menos de sete horas após o lançamento.

Mais tarde, em 1960, os cães Belka e Strelka se tornaram os primeiros animais a entrar em órbita e voltar em segurança. No ano seguinte, Yuri Gagarin tornaria-se o primeiro astronauta humano.

O uso de animais “astronautas” certamente abriu caminho para os primeiros voos tripulados anos depois. Porém, no caso de Laika, os interesses políticos foram mais considerados do que a ciência. A primeira mártir do espaço não precisaria ser sacrificada daquela forma.

Em 2008 um monumento de bronze de dois metros de altura em homenagem a Laika foi inaugurado em Moscou.

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Observatório Europeu do Sul – 50 anos sob um teto de estrelas

 

Por Naelton Mendes de Araujo – Astrônomo da Fundação Planetário

O melhor céu para observação astronômica tem que ser o mais escuro possível e sem obstáculos. Os principais obstáculos à transparência do céu são a poeira, a fumaça e a umidade. Outro fator que atrapalha a observação é o contraste luminoso. Grandes cidades emitem luz demais para o alto que tira a escuridão celeste. Esta poluição luminosa oculta o mais interessante para a Astronomia: os objetos menos brilhantes. Se pudéssemos escolher um lugar ideal para colocar um observatório terrestre buscaríamos um lugar bem alto, bem seco e longe das cidades. Este lugar existe: a região do deserto de Atacama no alto dos Andes
Chilenos, onde passa séculos sem chover.

O lugar mais seco do mundo atraiu a atenção da organização European Southern Observatory (ESO- Observatório Europeu do Sul) que faz 50 anos de existência. A sede do ESO fica próxima a Munique (Alemanha). O Brasil aspira ser membro e o Chile empresta o seu solo e, por isso, pode utilizar os telescópios. Para comemorar os 50 anos o ESO criou a exposição “O Universo Deslumbrante”, com fantásticas imagens de telescópios e astros para o prazer dos amantes da Astronomia.

Venha conhecer a exposição no Planetário da Gávea

Mais informação sobre o ESO (em português): http://www.eso.org/public/brazil/

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Memorial no Espaço

Por Naelton Mendes de Araujo – Astrônomo da Fundação Planetário

A uma distância de uns 36.000km acima do nível do mar, em uma órbita no mesmo plano do equador terrestre, um satélite giraria com a mesma velocidade da rotação da Terra. Nesta posição o veiculo espacial pareceria pairar sobre a mesma posição geográfica. Essa órbita recebeu o nome de Anel de Clarke, em homenagem ao escritor de ficção científica Arthur C. Clarke (1917-2008). Ele era também técnico em telecomunicação e previu a utilidade desta trajetória espacial na revista Wireless World em 1945, doze anos antes do lançamento do primeiro satélite artificial. Este anel é povoado por centenas de satélites de telecomunicação e meteorológicos em posições que valem muito nos dias de hoje. Quando um satélite destes termina sua vida útil os operadores reservam uma quantidade de combustível para a sua última manobra. Os motores levam então o veículo, agora “aposentado”, para seu destino final liberando uma vaga preciosa.

A chamada “órbita cemitério”, para onde vão os satélites geoestacionários fora de operação, fica a uns 300km acima do Anel de Clarke. Um objeto colocado ali não cai novamente na Terra. Nesta distância as perturbações gravitacionais e a pressão da radiação não são capazes de diminuir o tamanho da órbita. Ele pode ficar girando ali por milênios. Um disco como o da Voyager pode durar indefinidamente se for protegido contra a radiação solar. O artista americano (veja o artigo: Coleção de fotos e ilustrações será lançada ao espaço a bordo de satélite) escolheu um lugar bem apropriado para preservar suas mensagens para o futuro: um memorial no espaço numa órbita cemitério.

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Uma vez numa lua azul

 

A frase em inglês “Once in a blue moon” traduzida literalmente seria: “Uma vez numa lua azul”. Esta expressão significa algo que ocorre raramente ou quase nunca. Às vezes alguns contos começam assim, talvez para reforçar o aspecto extraordinário da narrativa. Hoje, 31 de agosto de 2012, acontecerá este fenômeno que se repetirá em julho de 2015.

Originalmente o termo “lua azul” não tinha nada a ver com o aspecto visual da Lua. Designava inicialmente a terceira lua cheia que acontecia num quarto de ano em que houvesse quatro luas cheias. Complicado não é? Talvez por conta desta complicação outra definição se firmou. A partir do século passado, devido a um engano, a lua azul passou a ser a segunda lua cheia que acontecesse num mesmo mês. Estas definições, um tanto arbitrárias, não carregam a magia que geralmente acompanha a imagem mental de uma lua azul.

O que influencia na coloração aparente da Lua (independentemente da fase: cheia ou não) são as condições atmosféricas locais e sua posição no céu. Luas vermelhas ou alaranjadas são bem comuns próximas ao horizonte e, se o ar estiver cheio de partículas (poeira, fumaça, etc.), o efeito fica mais forte. Para que a Lua fique azul é mais raro. Há registro de momentos e lugares onde a Lua se mostrou azulada devido a erupções de alguns vulcões como Krakatoa (1883), Santa Helena (1980), El Chichon (1983) e Pinatubo (1991). Em alguns casos de grandes incêndios florestais também se viu tal coloração.

Mas se você é uma pessoa romântica pode aproveitar esta lua azul como desculpa para levar a pessoa amada a admirar a lua cheia que é sempre bonita. Pode arrematar a contemplação lunar com uma trilha sonora apropriada: “Blue Moon” (Richard Rodgers e Lorenz Hart, 1934) nas vozes de cantores famosos como Frank Sinatra, Ella Fitzgerald ou Elvis Presley:

 

“Blue moon, you saw me standin’ alone
Without a dream in my heart, without a love of my own
Blue moon, you knew just what I was there for
You heard me sayin’ a prayer for
Someone I really could care for “

 

Desejo céu claro e uma contemplação lunar agradável!

 

Saiba mais sobre a origem do nome Lua Azul no artigo do astrônomo Alexandre Cherman

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Adeus Armstrong, você foi o primeiro!

Neil Alden Armstrong (1930-2012)

Neste sábado, saindo de uma peça de teatro num shopping carioca parei um minuto enquanto minha esposa fazia compras. Peguei meu smartphone para conferir o Facebook apenas por curiosidade e lá estava a notícia: morre aos 82 anos, Neil Armstrong, o primeiro ser humano a visitar outro astro. O comandante da missão Apollo 11, deu os primeiros passos na superfície da Lua há uns 43 anos. Na época eu era um garoto e assisti ao vivo através da televisão, a nossa primeira, uma ABC Canarinho que usava válvulas. Apesar de ser bem novo não esqueço aquele momento. Era noite, o resto da família não se interessou e foi dormir. Eu ali no escuro e, sozinho, invejei aquele tal Armstrong, queria estar lá. Nunca imaginaria que anos mais tarde saberia de sua morte através de uma pequena tela digital, herança da tecnologia que surgiu com a corrida espacial.

Desde 1972, ninguém mais voltou à Lua. Neil Armstrong foi o primeiro de um seleto “clube” composto de doze astronautas do programa Apollo que andaram na superfície lunar. Uma cratera lunar e um asteroide levam o seu nome. Estas homenagens espaciais vão ficar como memoriais bem mais apropriados do que as diversas medalhas que ganhou. Sua figura simpática e reservada tinha algo de nobre. Neil Armstrong destacou-se como um herói moderno que se achava pequeno, lamentava o uso político do espaço e que evitou a glória e a celebridade.

É difícil falar como fazem falta figuras assim. Deixo uma frase que demostra certa decepção com o encaminhamento do projeto espacial. Da mesma maneira que Armstrong, eu esperava mais da exploração espacial.

“Eu realmente esperava que, ao fim deste século, nós teríamos alcançado substancialmente mais do que de fato alcançamos.”

Neil Alden Armstrong (1930-2012)

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Qual utilidade prática da pesquisa espacial?

Por que gastamos tanto dinheiro com a exploração espacial quando temos tantos problemas aqui na Terra?

Antes das grandes navegações, que aproximaram o Novo Mundo (as Américas) da Europa, não havia batatas fora de alguns países da América Andina. A batata foi levada para a Europa por volta de 1570 e se tornou um dos vegetais mais usados no mundo, tornando-se a base alimentícia de vários países. A Irlanda, por exemplo, dependia tanto da cultura da batata que uma praga em 1840 deixou a população daquele país faminto. Vemos, então, um exemplo de um produto resultado da exploração marítima resolvendo problemas.

Mas o que isso tem a ver com pesquisa espacial? Encaro a exploração espacial como a expansão marítima europeia. A conquista de qualquer novo espaço é custosa para a humanidade. O investimento é alto, mas o retorno também. Imagine quantos recursos estão disponíveis somente no nosso sistema solar: energia solar abundante (quase inesgotável) e minérios preciosos. A mineração espacial poderia tornar a mineração na Terra algo desnecessário, poupando o meio ambiente de muitos problemas ecológicos (derramamento de petróleo, resíduos de minas, etc.). Com o tempo poderíamos transferir para o espaço praticamente todas as indústrias com seus resíduos tóxicos (onde não poderão fazer mal a ninguém). A Terra poderia se tornar uma região de fazendas e jardins. Na verdade, com a tecnologia hidropônica, até fazendas poderiam ser criadas em órbita ou na superfície de outros planetas. Dando oportunidade ao nosso planeta se recuperar de anos de extrema exploração.

Isso tudo sem falar nas tecnologias herdadas dos desenvolvimentos espaciais que contribuem pra sanar tantos problemas aqui na Terra. Para citar somente alguns, temos: computadores, sistema de controle ambiental (filtragem de água e ar, controle de temperatura e umidade etc.), os produtos sintéticos (vestimentas, utensílios, alimentos etc.), telecomunicações, previsão meteorológica, sensoriamento remoto (de florestas, rios, cidades etc.), painéis solares, próteses ortopédicas e robôs diversos. É uma lista sem fim. Imagine quantas vidas já foram salvas ao prevermos furacões e estiagens via satélite.

Talvez você ache tudo isso muito fictício, distante e sonhador. Mas todas as grandes mudanças começaram assim. Isto me lembra de uma canção de Belchior (Era Uma Vez Um Homem E O Seu Tempo, 1979):

Espacial

“Olha para o céu: tira teu chapéu
Pra quem fez a estrela nova – que nasceu
Traz o teu sorriso novo espacial
Pra quem fez a estrela artificial
Eu sei que agora a vida deixa de ser vã
Pois há mais luz na avenida
E mais um astro na manhã
Quem volta do seu campo ao sol poente, vem dizer
Que a estrela é diferente e faz o trigo aparecer”