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Coluna do Astrônomo

A Terra Já Teve Duas Luas?

É possível que a Terra já tenha tido duas Luas. Um artigo publicado na edição de 4 de agosto de 2011 da revista Nature (veja o resumo do artigo aqui, em inglês), sugere que o provável impacto que deu origem à nossa Lua teria, também, dado origem à um outro corpo.

A teoria mais aceita sobre a formação da Lua diz que um objeto de tamanho aproximado ao de Marte teria se chocado com a Terra ainda no início da formação do Sistema Solar, há uns 4 bilhões de anos, e os fragmentos resultantes se agregaram para formar nosso satélite. Mas a Lua é estranhamente muito assimétrica. A porção de sua superfície voltada para a nós é bastante diferente da chamada face oculta, que não vemos. Enquanto vemos uma face da Lua onde predominam planícies de lava solidificada, os mares lunares, a face oculta é dominada por terras montanhosas.

Se os fragmentos do impacto que formou a Lua deram origem também a um outro objeto menor, esse pode ter se chocado com nossa mais conhecida Lua e se espalhado pela superfície, explicando a parte montanhosa de nosso satélite. O objeto menor teria 1/3 do tamanho de nosso atual e único satélite natural.

Para tentar lançar mais luz sobre a questão, será iniciada a missão GRAIL, sigla em inglês de Gravity Recovery And Interior Laboratory. Seu objetivo é mapear o campo gravitacional da Lua e, assim, nos permitir conhecer melhor sua distribuição de matéria. Isso poderia nos fornecer mais indícios sobre um possível antigo companheiro que se aderiu à nossa Lua.

O lançamento da missão GRAIL aconteceu neste sábado, 10 de setembro.

Para ler mais:

Site da NASA sobre a missão GRAIL e a teoria das duas Luas – http://science.nasa.gov/science-news/science-at-nasa/2011/07sep_twomoons (em inglês)

Simulação de computador sobre as duas luas – http://news.ucsc.edu/2011/08/big-splat.html (em inglês)

Site da missão GRAIL – http://moon.mit.edu/overview.html (em inglês)

Notícias sobre o lançamento da GRAIL – http://www.nasa.gov/mission_pages/grail/main/index.html (em inglês)

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Coluna do Astrônomo

Desviando um Asteroide. Finalmente!

 

Comentário do Astrônomo Leandro Guedes sobre “Cientistas planejam missão para alterar rota de asteroide”

O verdadeiro problema sobre asteroides que podem se chocar com a Terra está no fato de nunca termos testado as tecnologias disponíveis para nos defender. Finalmente, esse problema será resolvido em breve.

As chances de um asteroide ou cometa ser observado durante a iminência de um impacto, ou seja, quando não há muita coisa a se fazer, é desprezível na realidade. Podemos observar objetos e determinar suas trajetórias muito antes de um impacto. Uma possível colisão com a Terra pode ser prevista com décadas ou séculos de antecedência, tempo suficiente para fazermos algo.

Algumas ideias foram propostas para lidar com um asteroide em rota de colisão com nosso planeta. Uma delas era embrulhar o asteroide em uma espécie de papel laminado. A luz do sol seria refletida pela superfície do papel laminado, o que, ao longo de alguns anos, empurraria o objeto, alterando sua órbita. Em vez de a energia da luz solar ser absorvida e esquentar o objeto, ela o empurraria. É, eu também acho que seria difícil embrulhar um asteroide com papel laminado… divertido, mas difícil.

Uma outra ideia, muito boa, seria utilizar um reboque gravitacional. Se aproximarmos do asteroide ou cometa um veículo com bastante massa, teríamos uma atração gravitacional considerável entre eles. Controlando o veículo aqui da Terra, poderíamos utilizar essa atração gravitacional para, lenta e sutilmente, ao longo de vários anos, puxar o objeto perigoso e alterar sua órbita.

A ideia da missão Don Quijote é outra: provocar um impacto no asteroide para desviar seu curso com a força da colisão. Como uma jogada de sinuca espacial, mas sem caçapa para acertar a bola.

Dois asteroides estavam sendo cogitados como alvo da missão, o próprio 99942 Apophis e o 2003 SM84.  O Apophis ficou famoso em 2004, quando cálculos preliminares mostraram um alto grau de probabilidade de colisão para 2029. Essa possibilidade foi afastada, mas naquele ano, o asteroide passará próximo o suficiente para que sua órbita seja alterada ao ponto de termos um outro possível impacto  em 2036.

A missão Don Quijote terá um módulo de impacto chamado Hidalgo e um orbitador chamado Sancho. Os que sempre tiveram vontade de ler a obra Don Quixote de La Mancha, de Miguel de Cervantes, mas nunca tiveram coragem de começar, podem se sentir mais estimulados agora.

Esperamos que o teste de Don Quijote seja satisfatório. O espaço próximo é constantemente observado por cientistas que monitoram os NEOs, ou, objetos próximos à Terra (da sigla, em inglês de Near Earth Objects). Portanto, um impacto real poderá, sem dúvida, ser previsto com antecedência confortável para agirmos.

Podemos nos divertir com filmes de ação sobre impactos de asteroides, como os hollywoodianos Armageddon e Impacto Profundo. Ou podemos explorar a alma humana com o recente Melancolia, de Lars Von Trier. Mas a preocupação real deve ser pequena, mantida no limite da atenção. Vamos manter a atenção aos objetos que passam próximos da Terra, mas ficar em pânico pensando que o mesmo evento que eliminou os dinossauros pode se repetir agora que nós humanos dominamos a Terra, é como ter medo de um moinho de vento.

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Coluna do Astrônomo

Amostra do Sol?

Quando venho de carro para o Planetário costumo receber em um dos sinais de trânsito jornais distribuídos gratuitamente. Em tempos de crise dos jornais de papel, quando a maioria de nós lê jornais pela internet, essa é uma maneira interessante de manter o velho hábito de folhear notícias. E eu gosto muito desses jornais porque costumam ter boa qualidade editorial e trazem o resumo das principais notícias do dia anterior, de forma bastante sucinta.

Uma das matérias de ontem me chamou a atenção. Falava sobre a sonda Hayabusa, da Agência Espacial Japonesa, que trouxe material coletado de asteroides. Erros acontecem aos montes em qualquer jornal, e sempre que leio notícias de ciências fico atento para possíveis falhas que possam comunicar ideia errada ao público. A matéria dizia que essa era a quarta vez que material do espaço era trazido para a Terra, sendo as outras três, amostras do solo lunar, amostras de cometa e amostras do Sol. Amostras do Sol?

Se alguém tiver ideia do que seja uma amostra do Sol, por favor me conte.

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Coluna do Astrônomo

Aprendendo com os outros

Em uma manhã desta semana, caminhei pela praia de Copacabana e algo, numa daquelas esculturas de areia que se tornaram comuns na orla, me chamou a atenção. Aquilo me remeteu a uma discussão sobre patrocínio de missões espaciais.

Quando países como Japão, China e Índia deram seus primeiros passos na conquista do espaço, comentou-se sobre a participação de empresas privadas dos mais diversos segmentos de mercado como patrocinadoras das missões. Como as missões espaciais são, em geral, financiadas cem por cento pelos governos, essa seria uma inovação interessante. Alguns foram contra e outros a favor.

O que você acha de ver uma sonda levando astronautas à Lua com o símbolo do McDonald’s estampado do lado de fora? Ou um ônibus espacial na plataforma de lançamento com uma gigantesca maçã mordida ao lado de um gigantesco “Apple” estampado no lado de fora do compartimento de cargas? E que tal astronautas trabalhando na Estação Espacial Internacional usando uniformes com o símbolo da Wolkswagen na manga? Seria algo parecido com aquele boné que o Ayrton Senna usava sempre que aparecia em público, com o logotipo do falido Banco Econômico estampado na testa.

Na época, algumas pessoas acharam que isso feria a cientificidade das missões espaciais (como se missões espaciais tivessem objetivos apenas científicos – eu adoraria que fosse assim!), outros argumentaram que seria uma maneira de salvar programas espaciais. A antiga União Soviética, líder da conquista espacial por muitos anos, teve seu programa prejudicado por questões financeiras. O patrocínio da iniciativa privada talvez tivesse mudado essa história.

Mas essa possível parceria entre programas espaciais e a iniciativa privada é uma maneira de aprender, por exemplo, com o cinema, que consegue patrocínio em troca de alguns segundos em uma cena mostrando o logotipo de um patrocinador.

O que me fez lembrar dessa questão foi ter visto um dos escultores colocar ao lado de sua escultura uma lista dos gastos que ele teve em sua obra, exatamente como é feito nas obras públicas. Sua lista começava mais ou menos assim:

    Espátula                                                                         R$12,00
    Colorjet (tintas em spray)                                                  R$25,00
    Borrifador (para borrifar água e dar consistência à escultura)    R$8,00

e seguia adiante com cerca de dez linhas discriminando todos os gastos envolvidos. Não sei se ele teria todas as notas fiscais de seus gastos, como devem ter as obras públicas, mas ele soube captar a ideia.

Os escultores cobram alguma gorjeta de quem quiser tirar fotografias de suas obras, e uma lista com os gastos envolvidos pode ser um incentivo a quem quiser deixar alguma contribuição. Da mesma forma, os gastos envolvidos nas obras públicas servem de estímulo para pagarmos os impostos sabendo como (pelo menos uma parte) estão sendo utilizados.

Esse escultor pegou uma ideia de outro segmento, obras públicas, e trouxe para o seu segmento, esculturas engraçadinhas para turistas tirarem fotos. Essa é uma das maneiras de se fazer inovações, e seria uma boa inovação conseguir patrocínio para as missões espaciais, assim como se faz no cinema.

 

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Coluna do Astrônomo

Beatles, Metallica ou Foo Fighters para Acordar Astronautas? Nenhum Deles? Então Envie SUA Música!

 

Desde o projeto Gemini, antes do projeto Apollo que levou o Homem à Lua, a NASA usa músicas como parte importante de suas missões espaciais. Uma das utilizações é acordar astronautas no espaço. Em geral, são escolhidas músicas, mas algumas vezes foram utilizados trechos de filmes ou programas de televisão. As escolhas são feitas pelos controladores ou pela família da tripulação. Mas, agora, a NASA teve uma ideia bastante interessante. Não sei se agradará aos astronautas tanto quanto músicas escolhidas por suas famílias, mas…A NASA está realizando um concurso para o público escolher músicas que serão utilizadas na alvorada de astronautas da missão STS-133. Há 40 músicas já utilizadas em missões passadas que podem ser escolhidas. As duas mais votadas serão tocadas durante a missão.
Para a missão STS-134, a agência espacial americana faz algo ainda mais interessante: você pode enviar a sua música. Todos que já tocaram, ou tocam, em uma banda de rock sabem o que significa ter sua música tocada no espaço. As músicas enviadas serão também colocadas no site para serem escolhidas pelo público. Novamente, as duas mais votadas serão tocadas durante a missão.
A votação para as músicas da STS-133 pode ser feita através do site https://songcontest.nasa.gov. Se quiser ir pensando em sua escolha, abaixo estão as músicas que participam do concurso. Ao lado de cada música está um link para a página da missão passada onde a música foi utilizada. Você pode votar até o lançamento da missão STS-133, atualmente planejado para 1º de novembro de 2010. O anúncio das canções vencedoras será feito durante a missão.
Caso decida enviar a música de sua banda para os astronautas da STS-134, você tem até 10 de janeiro de 2011 para fazer isso. A votação pelo público será feita no mesmo site a partir de 8 de fevereiro de 2011, e o anúncio das vencedoras sairá em 26 de fevereiro de 2011, data do lançamento da STS-134. Essas datas de lançamento estão sujeitas a mudanças, porque, assim como no Brasil ou em qualquer país, projetos grandes e ligados ao governo estão sujeitos a atrasos. Caso as datas mudem, serão atualizadas no site da votação, e aqui neste site também.
Mas quando enviar sua música, tenha em mente que, a julgar pelas canções já escolhidas pelos controladores e familiares dos astronautas, eles parecem ter preferência pelo bom e velho Rock’n’Roll. Leia mais sobre músicas para acordar astronautas aqui (em inglês).

 

As músicas que podem ser escolhidas para a missão STS-133:

 

Título

Artista

Missão

Data da Missão (Início)

 

 

Beautiful Day

U2

STS-121

07/04/2006

 

 

Big Boy Toys

Aaron Tippin

STS-117

06/08/2007

 

 

Blue Sky

Big Head Todd

STS-123

03/11/2008

 

 

Bright Side of the Road

Van Morrison

STS-119

03/15/2009

 

 

Countdown

Rush

STS-109

03/01/2002

 

 

Drops of Jupiter

Train

STS-111

06/05/2002

 

 

Enter Sandman

Metallica

STS-123

03/11/2008

 

 

Fly Away

Lenny Kravitz

STS-124

05/31/2008

 

 

Fly Me to the Moon

Frank Sinatra

STS-129

11/16/2009

 

 

Free Fallin

Tom Petty

STS-101

05/19/2000

 

 

Get Ready

The Temptations

STS-88

12/04/1998

 

 

Good Day Sunshine

The Beatles

STS-128

08/28/2009

 

 

Here Comes the Sun

The Beatles

STS-116

12/09/2006

 

 

Higher Ground

Stevie Wonder

STS-129

11/16/2009

 

 

Homeward Bound

Simon & Garfunkel

STS-118

08/08/2007

 

 

I Got You (I Feel Good)

James Brown

STS-88

12/04/1998

 

 

Imagine

John Lennon

STS-107

01/16/2003

 

 

Kryptonite

3 Doors Down

STS-125

05/11/2009

 

 

Learn to Fly

Foo Fighters

STS-118

08/08/2007

 

 

Learning to Fly

Tom Petty

STS-127

07/15/2009

 

 

Magic Carpet Ride

Steppenwolf

STS-103

12/19/1999

 

 

Moon River

Audrey Hepburn

STS-115

09/09/2006

 

 

Mr. Blue Sky

Electric Light Orchestra

STS-118

08/08/2007

 

 

On the Road Again

Willie Nelson

STS-131

04/05/2010

 

 

Over the Rainbow

Israel Kamakawiwo’ole

STS-122

02/07/2008

 

 

Rendezvous

Bruce Springsteen

STS-103

12/19/1999

 

 

Rocket Man

Elton John

STS-120

10/23/2007

 

 

Roll With It

Steve Winwood

STS-113

11/23/2002

 

 

She Blinded Me With Science

Thomas Dolby

STS-102

03/08/2001

 

 

Should I Stay or Should I Go?

The Clash

STS-98

02/07/2001

 

 

So Far Away

Dire Straits

STS-85

08/07/1997

 

 

Star Trek Theme Song

Alexander Courage

STS-125

05/11/2009

 

 

Start Me Up

Rolling Stones

STS-132

05/14/2010

 

 

The Distance

Cake

STS-130

02/08/2010

 

 

Theme from the Star Wars Trilogy

John Williams

STS-120

10/23/2007

 

 

These are the Days

10,000 Maniacs

STS-112

10/07/2002

 

 

Time for Me to Fly

REO Speedwagon

STS-99

02/11/2000

 
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Coluna do Astrônomo

Repensando a Primeira Diretriz

A situação da iraniana Sakineh me lembra uma das “diretrizes” do universo de “Jornada das Estrelas”. Sei que muitos dos visitantes do Planetário gostam mais do “Guerra nas Estrelas”, mas duvido que algum Jedi comande uma nave melhor que o capitão Kirk ou o Picard…

A Frota Estrelar, da qual a nave Enterprise fazia parte, tinha algumas diretrizes para atuar no quadrante da Galáxia sob seu alcance. A primeira diretriz, considerada a mais importante, era algo como “nunca interferir diretamente na cultura de um povo”. Isso permitia que fizessem contatos com povos alienígenas, conhecessem novos planetas, mas jamais poderiam alterar, por exemplo, códigos de lei ou religiosos. A única influência poderia ser pelo contato entre culturas, mas não por imposição forçada.

Mas hoje eu penso se esse é realmente o melhor caminho. Podemos, ou devemos, realmente, deixar as culturas evoluírem naturalmente? Episódios como esse de Sakineh me fazem pensar que não, que existem situações em que devemos, sim, interferir, até à força, se for preciso.

É algo a se pensar, uma das minhas opiniões ainda em aberto.

 

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História da Ciência no Planetário

No dia 24 de junho, aconteceu aqui no Planetário um encontro que reuniu pesquisadores e estudantes de História da Ciência. Foram sete trabalhos apresentados para cerca de 30 pessoas, sendo que oito eram visitantes que passeavam pelo Planetário e me perguntaram o que estava acontecendo no auditório. Como nossas portas estão sempre escancaradas para todos, tivemos a alegria da presença desses visitantes durante algumas apresentações.

A História da Ciência é uma área do conhecimento relativamente nova no mundo e extremamente recente no Brasil. Como dizia o químico Allen G. Debus, um dos grandes recentes historiadores da Ciência, História da Ciência não é História e também não é Ciência. É História da Ciência.

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Busca pelo Barulho Bemol

Não sou ligado em futebol, mas tenho profunda admiração pelos bons jogadores e técnicos, e também pela influência que o esporte tem em nossa cultura.

Ainda assim, mesmo sem o hábito de acompanhar campeonatos, saber o que acontece na Copa do Mundo é questão de cultura geral. Portanto, me obrigo a acompanhar, ainda que de longe, o que está havendo. Nesta Copa, em especial, resolvi acompanhar mais de perto e até assistir a alguns jogos por inteiro, os dois tempos, sem mudar de canal.

E tudo estava indo muito bem. Mas ainda no primeiro tempo do primeiro jogo desta Copa de 2010, eu percebi que havia algo diferente. Talvez as cores vivas da África, talvez algum vício de linguagem do comentarista… talvez eu estivesse ficando com sono antes do esperado… havia algo diferente. Até que alguém me perguntou: que barulho de mosquito é esse, hein?

Pronto. A partir daí, não consegui mais prestar atenção em absolutamente nada senão a tentar descobrir a origem desse “barulho de mosquito”. Certamente, não eram mosquitos. Me pareceu a hipótese mais óbvia que fosse algum instrumento de barulho. Acho que não é justo chamar algo assim de instrumento musical.

Em geral se usam instrumentos de sopro, como cornetas, mas o som era ininterrupto! Nas partidas de futebol do Maracanã, costuma-se ouvir um silvo de corneta aqui, outro acolá, intermitentemente. Não um som contínuo. Ninguém tem fôlego para soprar uma corneta 45 minutos. Será que é algo de chacoalhar, como uma matraca?

Eu tinha prometido a mim mesmo que não mudaria de canal, mas não falei nada comigo sobre sair da frente da televisão para resolver algo mais importante que o jogo em si. Fui ao Google para buscar informações que confirmassem ou refutassem minha teoria sobre o instrumento chacoalhante, e ela foi refutada! Em algumas pesquisas, confirmei que, de fato, o barulho de mosquito vem de um instrumento de sopro chamado “vuvuzela”. A continuidade do som se deve ao número de cornetas no estádio. Aprendi algumas coisas interessantes sobre a vuvuzela, inclusive que uma padrão, de 58 centímetros de comprimento, emite um si bemol.

Quando voltei para a sala triunfante, trazendo a solução para o enigma do barulho de mosquito e algumas informações pertinentes, como a nota sonora produzida, o jogo tinha acabado. E fui informado que, enquanto eu pesquisava por informações confiáveis na internet, o comentarista falou sobre a vuvuzela.

Alguém está conseguindo assistir aos jogos com esse barulho? Vou tentar assistir ao jogo da seleção sem som.

Não assisti ao jogo, mas fiz uma boa troca. Afinal, o comentarista falou a origem do barulho, mas não falou qual a nota produzida pela vuvuzela…

 

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Plutão e Sua Nova Família

O dia 24 de agosto de 2006 é um marco na história da Astronomia. Há alguns anos, como conseqüência do aperfeiçoamento das técnicas observacionais, vários corpos pequenos e distantes, semelhantes a Plutão, foram descobertos no Sistema Solar.

Esses novos corpos foram classificados como Objetos Transnetunianos, por se localizarem após a órbita de Netuno. Dentre os transnetunianos estão corpos pequenos, como cometas e asteróides, e outros um pouco maiores, semelhantes a Plutão.

A tendência é descobrirmos cada vez mais objetos nessa região que deve ser povoada por milhares de corpos. O fato de alguns transnetunianos terem tamanhos semelhantes ao de Plutão, levantou a questão de esses corpos serem também considerados planetas. A discussão se acirrou após a descoberta do transnetuniano 2003UB 3131, popularmente conhecido como Xena, que se mostrou ainda maior que Plutão.

É interessante lembrar que a partir do Sol temos os chamados planetas rochosos – Mercúrio, Vênus, Terra e Marte, seguidos pelos planetas chamados gigantes gasosos – Júpiter, Saturno, Urano e Netuno. Depois de Netuno, conhecíamos também Plutão, um corpo rochoso e pequeno, localizado na região do Sistema Solar dominada por planetas gigantes e gasosos…

Mas então foram observados os outros objetos semelhantes a Plutão no Sistema Solar. E o que fazer? Classificar esses objetos também como planeta, ou criar uma nova classificação para Plutão e seus companheiros semelhantes? Essa discussão surgiu porque não havia uma definição clara de planeta.

A discussão perdurou durante algum tempo no meio astronômico. Alguns, incluindo os descobridores de 2003 UB 313, defendiam aumentar o número de planetas do Sistema Solar. Nesse caso, o número de planetas tenderia sempre a aumentar, uma vez que sempre poderíamos descobrir mais objetos pequenos e distantes, como Plutão. Outros defendiam a mudança da categoria de Plutão, que deveria ser classificado de alguma outra maneira, junto com os transnetunianos semelhantes a ele.

A questão só poderia ser resolvida pela União Astronômica Internacional (IAU – sigla em inglês de International Astronomical Union ), uma entidade que, entre outras atribuições, faz a regulamentação de nomenclaturas, classificações e definições utilizadas na Astronomia. Durante a vigésima sexta reunião da IAU, na qual diversos assuntos foram discutidos, o problema de Plutão e seus companheiros foi resolvido.

No dia 24 de agosto de 2006, a União Astronômica Internacional publicou resoluções criando duas novas categorias de objetos do Sistema Solar: Planetas Clássicos e Planetas Anões. Plutão passa a ser planeta anão, e os outros planetas do Sistema Solar, planetas clássicos.

Segue abaixo tradução de parte das resoluções publicadas pela IAU, a respeito dessa mudança de classificação de alguns corpos do Sistema Solar.

RESOLUÇÕES

Resolução 5A é a definição essencial para o uso da palavra “planeta” e termos relacionados utilizados pela IAU. Resolução 5B adiciona a palavra “clássicos” para o nome coletivo dos oito planetas de Mercúrio até Netuno.

Resolução 6A cria para o uso da IAU uma nova classe de objetos, para a qual Plutão é o protótipo. Resolução 6B introduz o nome “objetos plutonianos” para essa classe. (Aqui a resolução continua com uma definição de plutoniano do dicionário Merriam-Webster. Em português, o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, de 2001, define plutoniano como “relatrivo ao deus Plutão ou ao planeta de mesmo nome”.)

Após ter recebido informações de muitos lados – especialmente da comunidade geológica – o termo “Plúton” não será mais considerado.

Resolução da IAU: Definição de um Planeta no Sistema Solar

Observações contemporâneas estão mudando nosso entendimento de sistemas planetários, e é importante que nossa nomenclatura para os objetos reflita nosso entendimento corrente. Isso se aplica, em particular, para a designação ‘planetas’. A palavra ‘planeta’ originalmente descrevia ‘viajantes’, que eram conhecidos apenas como luzes que se deslocavam no céu. Descobertas recentes nos levam a criar uma nova definição, o que pode ser feito utilizando-se informações científicas disponíveis.

RESOLUÇÃO 5A.

A IAU resolve que planetas e outros corpos no nosso Sistema Solar são definidos em três categorias distintas da seguinte maneira:

(1) Um planeta 1 é um corpo celeste que (a) está em órbita ao redor do Sol, (b) tem suficiente massa para que sua própria gravidade se sobreponha a forças de corpo rígido de maneira que ele mantenha uma forma (aproximadamente redonda) em equilíbrio hidrostático, e (c) tem a vizinhança em torno de sua órbita livre.

(2) Um planeta anão é um corpo celeste que (a) está em órbita ao redor do Sol, (b) tem suficiente massa para que sua própria gravidade se sobreponha a forças de corpo rígido de maneira que ele mantenha uma forma 2 (aproximadamente redonda) em equilíbrio hidrostático, (c) não tem a vizinhança em torno de sua órbita livre, e (d) não é um satélite.

(3) Todos os outros objetos 3 orbitando o Sol serão referidos coletivamente como “Pequenos Corpos do Sistema Solar”.

1 Os oito planetas são: Mercúrio, Vênus, Terra, Marte, Júpiter, Saturno, Urano e Netuno.

2 Um processo da IAU será estabelecido para designar objetos incertos na categoria de planeta anão ou outras categorias.

3 Esses atualmente incluem a maioria dos asteróides do Sistema Solar, a maioria dos Objetos Transnetunianos (TNOs), cometas e outros corpos pequenos.

RESOLUÇÃO 5B.

Insira a palavra “clássico” após a palavra “planeta” na resolução 5A, Sessão (1), e nota de rodapé 1. Assim lê-se:

(1) Um planeta clássico 1 é um corpo celeste…

e

1 Os oito planetas clássicos são: Mercúrio, Vênus, Terra, Marte, Júpiter, Saturno, Urano e Netuno.

RESOLUÇÃO DA IAU: Plutão

RESOLUÇÃO 6A.

A IAU adiante resolve:
Plutão é um planeta anão pela definição acima e é reconhecido como o protótipo de uma nova categoria de objetos transnetunianos.

RESOLUÇÃO 6B.

A seguinte sentença se soma à Resolução 6A:
Essa categoria deve ser chamada de “objetos plutonianos”.

1- Em 14 de setembro de 2006, a IAU retira o nome 2003 UB313, e esse objeto passa a se chamar Éris, deusa grega da discórdia e da contenda. Bom nome para um astro que gerou divisão na comunidade astronômica, não acha? Seu satélite fica batizado de Disnomia. A resolução da IAU pode ser lida em
http://www.iau2006.org/mirror/www.iau.org/iau0605/index.html (em inglês)

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O “Décimo” Planeta e a Importância das Aspas

Recentemente, foi noticiada a descoberta de um corpo maior que Plutão e que seria o “décimo” planeta do Sistema Solar. Esse corpo recebeu, temporariamente, o nome 2003 UB313. É interessante analisarmos com cuidado essa notícia e repararmos em um detalhe sutil no que diz respeito à sua divulgação.

Antes de mais nada: não existe um décimo planeta! Temos ainda no Sistema Solar nove planetas, e devemos nos dar por satisfeitos, porque se Plutão fosse descoberto hoje também não seria considerado um planeta. Quem decide o que é planeta ou não é uma entidade chamada União Astronômica Internacional1.

Em 1951, o astrônomo Gerard Kuiper sugeriu que pequenos corpos deveriam ser encontrados em órbitas maiores que a órbita de Netuno, em uma região que mais tarde seria batizada de Cinturão de Kuiper. Sua teoria baseava-se na idéia de que o disco de matéria que formou os planetas do Sistema Solar não deveria ter um limite muito bem definido, mas sua densidade provavelmente ia diminuindo gradativamente do centro para as regiões externas.

O Cinturão de Kuiper foi teoria até o ano de 1992, quando se teve a primeira evidência observacional. Plutão foi descoberto em 1930, quando não havia ainda a idéia de Kuiper; por isso o consideramos planeta. Se Plutão fosse descoberto hoje, não seria classificado como planeta, mas como um objeto do cinturão de Kuiper, assim como Sedna, Quaoar, o recém-descoberto 2003 UB313, e muitos outros.

Os corpos do Cinturão de Kuiper formam um grupo muito característico de objetos que merece uma classificação à parte. Rochosos, pequenos e gelados, esses corpos formaram-se em condições diferentes das condições em que se formaram os planetas do Sistema Solar.

O site da Agência Espacial Norte-Americana (NASA) divulgou a notícia sob o título: Descoberto “10o Planeta”. A revista ‘Sky&Telescope’ utilizou: Astrônomos Descobrem “10o Planeta”. Aqui no Brasil, a notícia circulou sob títulos semelhantes, mas em alguns veículos de comunicação, com grande circulação nacional, não houve o cuidado de se colocar a expressão “10º Planeta” entre as imprescindíveis aspas. Não foi um descuido apenas nosso, muitos sites americanos e europeus também cometeram essa sutil e grave falha.

Com o tempo, melhoram as tecnologias para aquisição de imagens astronômicas e podemos enxergar objetos cada vez menores e cada vez mais distantes. Sem dúvida ainda teremos muitas outras descobertas de objetos do Cinturão de Kuiper, que poderemos chamar, com o devido cuidado, de “planetas”. Sempre entre aspas.

1- Esse texto foi escrito na época da descoberta de 2003 UB313, em 2005 (quando foi confirmada a existência desse objeto em fotografias obtidas em 2003). O texto já deixa claro que existem diferenças marcantes entre planetas e objetos do cinturão de Kuiper, e adverte o leitor de que Plutão não seria considerado planeta se sua descoberta tivesse sido recente. Um ano depois, em 24 de agosto de 2006, a União Astronômica Internacional criou a nova categoria planetas-anões, na qual foram classificados Plutão, 2003 UB 313 e outros corpos. Leia sobre essa nova classificação no Sistema Solar no artigo “Plutão e Sua Nova Família”. Poucos dias depois, 2003 UB313 foi batizado oficialmente de Éris.