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Coluna do Astrônomo

Novas Imagens da Galáxia do Triângulo (M33 ou NGC598)

O Observatório do Paranal, localizado no Chile e pertencente ao ESO (do inglês European Southern Observatory) , obteve a imagem mais detalhada até o momento da galáxia espiral M33, também catalogada como NGC598. Localizada na constelação do Triângulo, está a cerca de três milhões de anos-luz da Terra e é a segunda galáxia espiral mais próxima da Via Láctea (a mais próxima é a galáxia de Andrômeda, M31).

 

Galáxia M33 ou NGC598, em sua melhor foto até o momento. (Crédito: VLT/ESO)

 

Essa galáxia foi observada pelo astrônomo italiano Giovanni Battista Hodierna, 100 anos antes de ter sido catalogada por Charles Messier, em 1764. Apesar da constelação do Triângulo estar no hemisfério norte do céu, a galáxia M33 pode ser visualizada no hemisfério sul da Terra, próximo ao horizonte, durante algumas noites no ano. Essa imagem final foi feita a partir da combinação de diversas imagens individuais que incluíam algumas obtidas com um filtro que só permitia a passagem da luz emitida pelo hidrogênio, o que fez sobressair as nuvens vermelhas de gás que aparecem na foto.

 

Nessa galáxia encontra-se a nebulosa NGC604, descoberta por William Herschel em 1784. Trata-se de uma região de formação estelar com diâmetro de pouco menos que 1.500 anos-luz. Essa é uma das maiores nebulosas de emissão conhecidas, e se estende por uma área equivalente a 40 vezes a parte visível da Nebulosa de Órion, localizada aqui na Via Láctea, e facilmente visível nas proximidades das Três Marias (ou Cinturão de Órion).

 

A M33 é membro do Grupo Local, um conjunto com 57 galáxias que inclui a Via Láctea. Ela está se aproximando de nós a uma velocidade de 100.000 quilômetros por hora, o que vai melhorar ainda mais as fotos com o passar do tempo, muito tempo!

 

NGC604, nebulosa e berçário de estrelas em M33, uma das maiores nebulosas desse tipo conhecidas. (Crédito HST/NASA)

 

 

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Bebês astronômicos em NGC 3293

Belas imagens captadas recentemente pelo observatório de La Silla, pertencente ao Observatório Europeu do Sul, ESO (do inglês European Southern Observatory), localizado no Chile, mostram as estrelas do aglomerado aberto  NGC 3293 com uma definição nunca antes obtida. Esse aglomerado está na constelação de Carina a uma distância de 8.000 anos-luz da Terra.

As estrelas desse aglomerado começaram a se formar a cerca de dez milhões de anos atrás, a partir do gás e poeira cujo restante ainda se vê na foto. O NGC 3293 é formado por um conjunto de mais de 50 estrelas e foi descoberto com um pequeno telescópio pelo astrônomo francês  Abbé Nicolas Louis de La Caille entre 1751 e 1752 na África do Sul.

Estrelas de um aglomerado nascem de uma mesma nuvem de gás e poeira, ou seja, têm todas a mesma composição química inicial. Por isso, aglomerados como esse são excelentes laboratórios para estudarmos a evolução estelar. É possível ver como estrelas de diferentes massas, mas mesma composição química inicial, evoluíram com o passar do tempo.

Para você ter uma ideia de como esse aglomerado, com menos de dez milhões de anos é um bebê, compare esse tempo com a idade do sol: 4,6 bilhões de anos.

Aglomerados abertos não possuem muitas estrelas e sua gravidade não é suficiente para manter todo o conjunto coeso na medida em que este interage com outros aglomerados e nebulosas. Por isso, aglomerados abertos como o NGC 3293 duram apenas algumas centenas de milhões de anos, enquanto os aglomerados globulares, com muito mais estrelas, duram milhares de milhões de anos.

Bom, de qualquer forma, ainda temos um bom tempo para observarmos o NGC 3293. Ele é fácil de ser visto no céu sem telescópio, e abaixo está uma carta celeste da região de Carina, ou Quilha, com a localização do aglomerado indicada. Não precisa se apressar.

 

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Um Aglomerado no Rastro da Quilha

 

O European Southern Observatory (ESO) divulgou uma nova e bela imagem do aglomerado estelar [http://astronomia.blog.br/aglomerados-estelares/] NGC 3590. Está localizado a cerca de 7.500 anos-luz [http://astronomia.blog.br/ano-luz/] na constelação de Carina, ou Quilha, e sua idade é de aproximadamente 35 milhões de anos.

As estrelas de um aglomerado formam-se aproximadamente ao mesmo tempo e a partir do mesmo material, por isso, estudar os aglomerados é fundamental para construir e testar teorias de evolução estelar. A diferença inicial mais marcante entre as estrelas que nasceram juntas num mesmo aglomerado é sua massa inicial. Eles são laboratórios onde podemos ver como estrelas de massas diferentes, e mesma química inicial, evoluem com o passar do tempo.

 

Essa imagem do NGC 3590 nos mostra regiões escuras de poeira que bloqueiam a luz das estrelas que estão atrás, e regiões brilhantes que aparecem em tons avermelhados e alaranjados que estão refletindo a luz de estrelas próximas.

 

Os aglomerados abertos possuem estrelas jovens… sim, 35 milhões de anos é uma idade jovem em termos astronômicos. E as estrelas jovens formam-se no disco da Via Láctea, mais precisamente em seus braços espirais.

 

O vídeo abaixo faz uma rápida viagem pela região do céu onde foram obtidas as imagens que geraram esse belo resultado do NGC 3590, mostrando sua localização no disco galáctico.

https://www.youtube.com/watch?v=t1H27062tmk

 

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Mudança de tamanho na grande mancha vermelha de Júpiter

 

A famosa Mancha Vermelha de Júpiter ou a Grande Mancha de Júpiter está diminuindo de tamanho. Ela é uma tempestade anticiclônica, ou seja, os ventos fluem em sentido contrário àquele de um ciclone normal. Apesar da gradativa diminuição de tamanho, essa tempestade continua sendo bem maior que a Terra.

 

Desde que seu tamanho começou a ser acompanhado, esses foram aproximadamente os tamanhos estimados:

 

• Século XIX – estimado através de observações telescópicas: 41.040km

• 1979 – medidas feitas pelas Voyager 1 e Voyager 2: 23.335.5km

• 1995 – estimativa através de fotografia: 20.953.66km

• 2009 – estimativa através de fotografia: 17.912km

 

Essas medidas são feitas ao longo do eixo maior da grande mancha, que tem uma forma elíptica. Na medida em que seu tamanho diminui, a mancha torna-se também cada vez mais circular, como pode ser visto na imagem abaixo.

Nosso planeta, que possui cerca de 12 mil quilômetros de diâmetro, continua cabendo inteiro dentro da Grande Mancha. A imagem abaixo mostra uma comparação interessante, em escala aproximada, entre os dois tamanhos no final do ano 2000.

 
Comparação entre os tamanhos da Terra e da Grande Mancha Vermelha de Júpiter em 29 de dezembro de 2009. (Crédito: Wikimedia Commons)
 
Tempestades gigantes são esperadas nos planetas gasosos do Sistema Solar e já foram observadas também em Saturno e Urano. A atmosfera de Júpiter em especial, por possuir detalhes facilmente identificáveis, é um excelente laboratório para percebermos o comportamento de uma atmosfera turbulenta. A animação seguinte foi feita com 14 imagens obtidas pela sonda Cassini, mostrando 24 dias de Júpiter, aproximadamente 10 dias terrestres. Foram obtidas entre 31 de outubro e 9 de novembro de 2000.
 
Sequência de 14 imagens obtidas pela sonda Cassini, mostrando 24 dias em Júpiter, aproximadamente 10 dias da Terra. Percebe-se nitidamente o movimento das estruturas de sua atmosfera (Crédito: NASA [http://photojournal.jpl.nasa.gov/catalog/PIA02863 ])
 
Como acontece com toda tempestade, a tendência da Grande Mancha é mesmo se dissipar. Mas a taxa de encolhimento dessa tempestade de Júpiter, mais de 930km por ano, parece ter alguma razão especial. Amy Simon, do Goddard Space Flight Center, que estuda a Grande Mancha acredita na hipótese de que pequenos redemoinhos estejam mudando a dinâmica interna dessa grande tempestade.
 
 
Tempestades em Júpiter não atrapalham ninguém, mas entender as tempestades de lá pode aumentar nossa compreensão sobre nossas próprias tempestades. Esse é mais um exemplo prático de como a astronomia nos ensina sobre nós mesmos.
Leia Mais:
 
 
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Companheira de um Magnetar

 

Quando uma estrela com muita massa morre, ela passa pelo processo de supernova, e o que resta será uma estrela de nêutrons ou um buraco negro. Existem estrelas de nêutrons que possuem campos magnéticos extremamente fortes e são os mais poderosos imãs conhecidos na natureza: os magnetars ou estrelas magnéticas.

 

Existem poucos magnetars conhecidos na Via Láctea, pouco mais de 20 até agora, e um deles está no aglomerado aberto Westerlund 1, localizado a 16 mil anos-luz na constelação do Altar (Ara). O nome pelo qual os astrônomos chamam esse objeto é CXOU J164710.2-455216. O grande problema com esse magnetar (além do nome) é que ele nasceu da morte de uma estrela com mais de 40 vezes a massa do Sol. Uma estrela com essa massa daria origem a um buraco negro e não a uma estrela de nêutrons. Mas uma solução pode ter surgido num trabalho recente.

 

Uma das ideias era a de que a estrela que originou o CXOU J16… digo, esse magnetar, fazia parte de um sistema duplo, ou seja, não era uma estrela solitária mas possuía uma companheira. Ambas orbitavam uma em torno da outra e estariam mais próximas entre si do que a Terra está do Sol. Entretanto, até agora, a segunda estrela nunca tinha sido observada.

 

Uma possibilidade era a de que essa segunda estrela tivesse sido arremessada do aglomerado pela explosão da supernova que originou o magnetar. Recentemente, astrônomos procuraram por uma estrela que poderia ter fugido do aglomerado Westerlund 1 com alta velocidade, e encontraram a Westerlund 1-5.  Além da velocidade peculiar, essa estrela possui características químicas incomuns para estrelas isoladas, o que indica que ela deve ter feito parte de um sistema binário no passado.

 

Sendo essa estrela a antiga companheira daquela que deu origem ao magnetar, eis o que deve ter acontecido: a estrela com maior massa começou a ficar sem combustível, e o material de suas camadas mais externas foi gradativamente capturado pela estrela com menor massa. Essa estrela menor será o magnetar. Nesse processo, a velocidade de rotação da estrela que está recebendo material aumenta. Quanto mais massa agregada, maior a velocidade de rotação. A rotação rápida é o ingrediente fundamental da formação dos intensos campos magnéticos dos magnetars.

 

E justamente a rápida rotação pode ter lançado novamente para o espaço parte da matéria que estava sendo recebida, sendo que uma pequena quantidade voltou para sua estrela original. Isso explicaria alguns traços químicos da Westerlund 1-5 e o fato de termos tido a formação de uma estrela de nêutrons e não de um buraco negro.

 

A pequena quantidade de magnetars conhecidos não oferece muitas possibilidades de comparação desse modelo com outros objetos observados, o que seria um excelente teste. E, como os magnetars realmente não são muito comuns, um teste satisfatório talvez ainda esteja longe para esse modelo.

 

 

 

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Medida a duração do dia em um Exoplaneta

Um dos poucos exoplanetas dos quais temos uma imagem direta é Beta Pictoris b, que está a 63,4 anos-luz de nós, girando ao redor da estrela Beta Pictoris, na constelação de Pictor, ou Pintor. Essa estrela é visível a olho nu e fácil de se localizar partindo-se das Três Marias. E além de termos uma imagem de seu planeta, Beta Pictoria b, ele também é o primeiro exoplaneta cuja velocidade de rotação foi medida.

O trabalho foi feito por uma equipe de astrônomos holandeses com dados obtidos no VLT (Very Large Telescope) que faz parte do Observatório Europeu do Sul, ou ESO (European Southern Observatory), localizado no Chile. A técnica que eles utilizaram foi observar o efeito Doppler, que faz com que a luz de objetos que estejam se afastando fique mais avermelhada, e a luz de objetos que estejam se aproximando fique mais azulada.

Imagine que você esteja no parque de diversões olhando para o carrossel. Todos os cavalinhos estão presos numa plataforma que executa uma rotação ao redor de um eixo central, e você percebe que metade do carrossel tende a se aproximar de você, e a outra metade tende a se afastar. Não podemos perceber isso no carrossel, mas podemos perceber num planeta ou numa estrela: a metade que se move no sentido de se aproximar tem sua luz mais azulada e a metade que se move no sentido de se afastar tem sua luz mais avermelhada. Parques de diversões são um excelente lugar para pensar em Física e Astronomia.

Efeito Doppler utilizado para medir rotação
Os astrônomos perceberam que a velocidade de rotação do planeta em seu equador é de 100.000 quilômetros por hora. A Terra tem velocidade de rotação no equador de apenas 1.700 quilômetros por hora. Apesar de Beta Pictoris b ser cerca de 16 vezes maior que a Terra, seu dia dura apenas 8 horas.
Imagem do planeta Beta Pictoris b. Compare sua distância à estrela Beta Pictoris com a distância de Saturno ao Sol, representada pelo desenho de sua órbita em escala. A distância de Beta Pictoris b à sua estrela é cerca de oito vezes a distância da Terra ao Sol. (Crédito: NASA)
Além de ser grandão (o que facilitou muito seu estudo), Beta Pictoris b é pesadão, tem cerca de 3.000 vezes mais massa que a Terra. E é também um garotão com cerca de apenas 20 milhões de anos, em comparação com nosso planeta, que tem cerca de 4,5 bilhões de anos de idade.

Esse resultado confirma a tendência que já observamos aqui no Sistema Solar dos planetas de maior massa terem rotação mais rápida. Júpiter, o maior planeta do sistema solar, tem velocidade de cerca de 47.000 quilômetros por hora. Um dos autores do trabalho, Remco de Kok disse:

“Não sabemos porque é que alguns planetas giram mais depressa que outros, mas esta primeira medição da rotação de um exoplaneta mostra que a tendência observada no Sistema Solar, de que os planetas de maior massa giram mais depressa, pode aplicar-se de igual modo aos exoplanetas, o que nos leva a pensar que este efeito deve ser alguma consequência universal do modo como os planetas se formam”.

Esse foi mais um passo em nosso conhecimento sobre exoplanetas. Com o refinamento da técnica utilizada por esses astrônomos holandeses, poderemos ter medidas da rotação de outros planetas e compreender mais sobre a natureza e formação.

Da próxima vez que for a um parque de diversões, pense em astronomia (Credito: http://www.stpmo.com/olde_time_picnic.htm)

 

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Buraco Negro Central e Sua Influência na Formação Estelar

 

As galáxias espirais têm estrelas mais jovens que as galáxias elípticas. Essas últimas tiveram um surto de formação estelar na época de sua formação e não há muito gás restante atualmente para formar estrelas novas. Já as espirais possuem intensa formação estelar em seus braços. Quando se trata de galáxias, uma cor mais avermelhada indica que suas estrelas são mais antigas que as de uma galáxia mais azulada.

 

E um grupo de astrônomos, liderados por Asa Bluck, da Universidade de Victória, no Canadá, encontrou uma relação entre a cor da galáxia e a massa de seu bojo, que está também relacionada com a massa do buraco negro central que deve existir na grande maioria das galáxias. Isso levou os astrônomos a pensar que pode haver uma relação entre a massa do buraco negro central e a idade das estrelas de uma galáxia.

 

Quanto mais massa tiver um buraco negro, mais energia ele libera em jatos de matéria e radiação de raios X. Isso pode dissipar e esquentar o gás ao seu redor, impedindo a formação de novas estrelas.

 

Poucas das 500 mil galáxias estudadas, ordenadas de baixo para cima em ordem crescente de massa de suas estrelas e da esquerda para direita em ordem crescente de razão entre a massa do bojo e a massa total da galáxia (bulge-to-mass ratio). (Crédito: adaptada da RAS)

 

Na imagem acima aparecem algumas poucas galáxias do conjunto de 500 mil estudadas por Bluck e sua equipe. Estão ordenadas de baixo para cima em ordem crescente da massa de suas estrelas e da esquerda para direita em ordem crescente da chamada bulge-to-mass ratio, razão entre a massa do bojo e a massa total da galáxia. Os bojos proporcionalmente com mais massa possuem também os buracos negros com mais massa que liberam mais energia ao seu redor. Perceba que essas (acima e à direita) são também a galáxias mais avermelhadas.
 
 
O estudo foi feito com dados de 500 mil galáxias do Sloan Digital Sky Survey, e publicado no Monthly Notices of the Royal Astronomical Society. Em resumo, a conclusão é que os dados parecem mostrar que grandes buracos negros podem dar um fim à formação estelar. O curioso é que para se ter formação estelar é necessária uma perturbação gravitacional, como a explosão de uma supernova… mas muita perturbação simplesmente torna o processo impossível.
 
 
Isso me lembra que trabalhar com uma música de fundo pode ser muito agradável, mas trabalhar no meio de uma balada pode ser bem complicado.
 
 
Leia mais nesse Release no site da Royal Astronomical Society (RAS) (em inglês).
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A Agência Espacial da Síria

 

Desenvolvimento científico e desenvolvimento bélico sempre tiveram uma relação íntima, infelizmente. Enormes avanços na ciência foram conseguidos por causa do dinheiro investido para se fazer guerras ou para se proteger delas. A tecnologia usada para levar foguetes ao espaço, que vão lançar satélites ou levar astronautas, não é muito diferente da tecnologia usada para lançar mísseis que vão destruir cidades.

 

E a Síria, já com três anos de uma guerra civil, que matou mais de 140 mil pessoas, acaba de anunciar a criação de sua agência espacial. Segundo o governo, “com o objetivo de usar tecnologia espacial para exploração e observação da Terra”. A agência estatal de notícias da Síria disse ainda que a agência empregará sua tecnologia “a serviço do desenvolvimento”.

 

Não podemos deixar que guerras e conflitos internos impeçam um país de se desenvolver e, muito menos, de participar da construção do conhecimento científico. O que levanta questionamentos sobre os reais objetivos da agência espacial síria é o momento histórico em que ela está sendo criada.

 

O primeiro ministro sírio, Wael al-Halqi, calcula que a guerra já custou ao país cerca de 31,3 bilhões de dólares. O PIB sírio deste ano está estimado em 34 bilhões de dólares, pela Economist Intelligence Unit.

 

Pois é, com um balanço econômico desse, o mundo está se perguntando como a Síria vai conseguir erguer sua agência espacial.

 

Muitas vezes, projetos desse tipo são aprovados no papel mas condições práticas impendem sua concretização naquele momento. O Brasil nunca teve um conflito interno nas proporções do que acontece na Síria, mas o nosso Observatório Nacional começou a nascer com D. Pedro I e teve que esperar D. Pedro II para engrenar de fato.

 

Essa ligação íntima entre Ciência e guerra causa repúdio em muitos cientistas. Sobre guerra, Einstein disse: “prefiro deixar-me assassinar a participar desta ignomínia”. Vamos torcer para que essa agência, se começar de fato a funcionar, produza conhecimento e não fomente a insistência na ignorância da guerra. Que lance veículos espaciais e não mísseis.

 

Leia mais em:

 

Portal Terra

 

Jornal Al Arabiya (em inglês)

 

Site The Wire (em inglês)

 

 

 

 

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Brasil no PLATO

 

O Brasil fará parte de uma missão importante na História da Astronomia, no que diz respeito à busca de planetas extrassolares. É uma missão classificada como de médio porte pela ESA (Agência Espacial Europeia), mas essa classificação não tem nada a ver com sua importância científica.

 

A missão PLATO (Planetary Transits and Oscillations of Stars) vai contar com um satélite que será lançado em 2024. Além de países europeus, participam da missão Brasil e Estados Unidos da América.

 

As imagens serão coletadas por 34 pequenos telescópios, com 12 centímetros de diâmetro cada, totalizando uma área coletora de pouco mais de 4 metros. O método utilizado pela PLATO para detectar planetas extrassolares será o de verificar oscilações no brilho da estrela causadas pela passagem de um planeta bem na frente dela quando observado da Terra. Toda vez que o planeta em sua órbita se coloca entre a estrela e nós, ele bloqueia parte do brilho que recebemos dela. Quando ele continua seu caminho e sai da frente da estrela, o brilho que vemos volta a aumentar. Através do período dessa oscilação de brilho e do deslocamento na posição da estrela causados pelo planeta, conhecendo a massa da estrela, podemos inferir a massa do planeta e sua distância à estrela.

 

Na Astronomia chamamos a essa passagem, de um corpo aparentemente menor na frente de um corpo aparentemente maior, de trânsito (http://astronomia.blog.br/transito/). Evidentemente, utilizar trânsitos para estudar planetas extrassolares só funciona com sistemas planetários cujas órbitas estejam posicionadas de maneira a torná-los possíveis. Em um sistema onde as órbitas planetárias estejam posicionadas de maneira que os planetas não passem entre a Terra e a estrela nunca teremos trânsitos, e esse método não funciona. A imagem acima ilustra o posicionamento aleatório das órbitas planetárias em diferentes estrelas.

 

Os diversos sistemas planetários existentes na maioria das estrelas são posicionados aleatoriamente no espaço. Nem todos permitem detecção por trânsito (Fonte: (http://www.google.com/url?q=http%3A%2F%2Fwww.esa.int%2FOur_Activities%2FSpace_Science%2FESA_selects_planet-hunting_PLATO_mission&sa=D&sntz=1&usg=AFQjCNH7NcuiCOECzw6beIU_7lUcTLusqA).

 

O satélite estudará cerca de um milhão de estrelas e poderá identificar com grande precisão planetas rochosos na zona de habitabilidade que serão alvos de futuros telescópios que estudarão suas atmosferas, como o ELT e o James Webb. Além disso, PLATO irá também melhorar o mapeamento dos vários sistemas planetários existentes na Galáxia.

 

É muito bom ver o Brasil engajado numa missão que atuará em uma das questões mais importantes da Astronomia moderna. Agora estaremos procurando extraterrestres no lugar certo… no espaço, não na cidade de Varginha, em Minas Gerais.

 

Leia Mais:

 

Site da Agência Espacial Europeia, ESA (em inglês)

 

Boletim Eletrônico da Sociedade Astronômica Brasileira N. 657 em 22/02/2014 – enviado para astrônomos membros da Sociedade.

 

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Mapeando Assimetrias no Núcleo de uma Supernova

Dados da missão NuSTAR permitiram mapear pela primeira vez a distribuição de material radioativo em uma remanescente de supernova, fornecendo as imagens mais próximas do momento da explosão obtidas até agora.

 

O objeto estudado foi a bela Cassiopéia A, ou Cas A, na constelação de Cassiopéia. Localizada a 11 mil anos-luz da Terra, a supernova foi observada em 1671, e redescoberta em 1947 como uma das primeiras fontes de rádio detectadas. Os dados do NuSTAR permitiram a um grupo de astrônomos observar radiação emitida pelo titânio 44, ou 44Ti, um isótopo radioativo formado no núcleo da estrela enquanto ela colapsa para formar uma estrela de nêutrons ou um buraco negro. A energia liberada nesse processo faz a estrela explodir suas camadas externas. Dessa forma, os astrônomos puderam, pela primeira vez, ver algo acontecendo exatamente dentro do núcleo estelar durante o evento da supernova.

Esse estudo e os próximos na mesma linha nos permitirão compreender melhor o que acontece naquele rápido e energético evento, onde são formados diversos elementos pesados da tabela periódica. Além disso, as supernovas são também as responsáveis pelo espalhamento de elementos químicos, o que é fundamental para vida, e pela perturbação gravitacional de nebulosas que pode dar início à formação de novas estrelas e sistemas planetários – também fundamentais para a vida.

Um dos problemas envolvendo supernovas é a assimetria. Apesar de serem objetos esféricos, a expansão do material ejetado não se mostra uniforme, como a radiação emitida pela estrela antes dela explodir.  O telescópio espacial Chandra já tinha mostrado jatos de silício saindo de Cas A – veja na imagem acima. Uma das pesquisadoras do NuStar, Fiona Harrison, acha que essa anisotropia pode ocorrer porque regiões internas se espalham, ou se misturam, antes da detonação (veja vídeo abaixo).

O NuSTAR é o primeiro telescópio espacial com o objetivo de captar raios-X de altas energias (6-79KeV), fundamentais para a compreensão de remanescentes de supernovas e buracos negros. Cas A é um objeto interessante para esse tipo de trabalho porque desde sua primeira detecção, mais de 340 anos atrás, até hoje, ela se expandiu por cerca de 10 anos-luz, amplificando o padrão da explosão.

Outras remanescentes de supernovas próximas da Terra também estão na lista do NuStar. Para trabalhos como esse é necessário usar remanescentes próximos, para que o material visto seja suficientemente jovem para ainda mostrar a emissão de raios-X de altas energias de elementos radioativos. A emissão do titânio, por exemplo, perde metade de sua intensidade em apenas 60 anos.

Os resultados de trabalhos seguindo essa linha de pesquisa permitirão se fazer simulações 3D em computador para mostrar o que acontece nesses incríveis momentos da detonação de uma supernova. Enquanto essas simulações não vêm, veja abaixo um vídeo simples (com legendas e narração em inglês) mostrando a mistura que se especula que deva acontecer nas regiões centrais da supernova antes da explosão.

 

https://www.youtube.com/watch?v=J37cgldLMYU

Leia Mais:
Artigo científico original na revista Nature (inglês) http://www.nature.com/nature/journal/v506/n7488/full/nature12997.html
Post no site da University of California – Berkeley (inglês) http://newscenter.berkeley.edu/2014/02/19/nustar-takes-first-peek-into-core-of-supernova/