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A Páscoa e o calendário Gregoriano

Na Europa cristã, a pouca Astronomia que se praticava na Idade Média era voltada para fins cronológicos, em especial o cálculo da data da Páscoa. Isto porque este dia santo representa a ressurreição de Jesus Cristo e é, portanto, a pedra fundamental do dogma cristão. Como Jesus viveu na Palestina sob o calendário judaico, é natural que a data da Páscoa seja uma data móvel em nosso calendário atual. Calcular esta data dependia (e depende até hoje) de um bom entendimento dos movimentos celestes.

Em 325 da Era Comum, o Concílio de Nicéia estipulou que a Páscoa deveria ser celebrada no primeiro domingo depois da primeira Lua Cheia após o Equinócio de março (início da primavera para o Hemisfério Norte). Para celebrar a Páscoa em sua data correta, portanto, era preciso saber calcular as fases da Lua e, também, a chegada do Equinócio.

Por esta época, o calendário vigente era o calendário Juliano, criado por Júlio César em 44 AEC, sob a influência do astrônomo alexandrino Sosígenes. A duração média de um ano juliano era de 365 dias e 6 horas, devido ao ano bissexto, que se repetia a cada quatro anos. O ano astronômico é um pouco mais curto do que isso: 365 dias, 5 horas, 48 minutos e 47,5 segundos!

A diferença de pouco menos de 12 minutos, aparentemente insignificante, somava-se ano após ano, e com o passar do tempo passou a preocupar os religiosos. Afinal, se o calendário vigente errava ao dizer a data do Equinócio, errava também quanto à Páscoa. Algo precisava ser feito…

Beda, o Venerável (673 – 735), um monge beneditino inglês, foi o primeiro a chamar a atenção para o problema da data da Páscoa. Mas seus apelos não foram ouvidos pela cúpula da Igreja. Robert Grosseteste (c. 1175 – 1253), João de Sacrobosco (1190 – 1244) e Roger Bacon (c. 1219 -c. 1292) também chamaram a atenção sobre a defasagem do calendário civil em relação aos movimentos celestes. Bacon, em uma carta ao Papa Clemente IV, descreve o calendário juliano com sendo “intolerável, horrível e menosprezível”.

O papa Clemente VI, em 1344, chegou a contatar eminentes astrônomos da época para aconselhá-lo na reforma do calendário. Infelizmente, logo depois a Europa mergulhou num período muito triste de sua história, com a chegada da Peste Negra, e a reforma foi deixada de lado.

Em 1437, o cardeal Nicolau de Cusa (1401 – 1464) apresentou seus estudos perante uma comissão instituída pelo Concílio de Basel, em 1434. Nicolau recomendou a reforma do calendário juliano, a ser realizada em 1439. Novamente o destino interviu. Problemas políticos fizeram com que o papa Eugênio IV fosse deposto, assumindo Félix V em seu lugar. Durante um certo tempo, havia dois papas e a reforma, mais uma vez, foi deixada de lado.

Em 1475, o papa Sixto IV recrutou o astrônomo Johannes “Regiomontano” Muller (1436 – 1476) para reformar o calendário. Infelizmente, Regiomontano morreu um ano depois, sem ter avançado em seus estudos.

O astrônomo Paul de Middelburg (1446 – 1534) tentou convencer o papa seguinte, Inocente VIII, a reformar o calendário. Seus apelos só foram considerados em 1512, pelo Papa Leão X. Por querer consultar os reis europeus antes de realizar a reforma, Leão X não conseguiu colocar em prática as idéias de Paul de Middelburg.

Os próximos papas a tocarem neste delicado assunto, a reforma do calendário, foram Pio IV, Pio V e, finalmente, Gregório XIII. O primeiro, em 1562, colocou a reforma na pauta do Concílio de Trento. O Concílio decidiu por adiar qualquer medida. O sucessor de Pio IV, Pio V, reformou o calendário eclesiástico, algo de que não trataremos aqui, mas não teve força política para mexer no calendário civil.

Por fim chegamos a Gregório XIII, sucessor de Pio V. Antes mesmo de se tornar papa, o então cardeal Ugo Boncampagni já estava convencido da necessidade da reforma do calendário. Foi ele quem organizou a construção da Galleria della Carta Geografiche, apelidada de “Torre dos Ventos”, e durante a instalação de um relógio de Sol pelo astrônomo Ignazio Danti (1536 – 1586) pôde observar que, de fato, a posição do Sol estava em discordância com as previsões feitas pelo calendário juliano.

Ao assumir o papado, em 1572, Gregório XIII se imbuiu da tarefa de corrigir o calendário. O primeiro estudioso a apresentar uma proposta de reforma ao recém-empossado papa foi Aluise Baldassar Lilio (1510 – 1576), um astrônomo calabrês. Suas idéias eram muito similares às de João de Sacrobosco, mas é impossível saber se foram baseadas nelas.

Uma comissão de notáveis foi formada para estudar a proposta de Lilio, liderada pelo padre jesuíta Christopher Schlüssel, também conhecido como Clavius (1537 – 1612). Depois de muitas deliberações, Clavius encaminhou para Gregório XIII sua proposta para a reforma do calendário.

Em 1582, os países católicos alteraram seus calendários. Ao dia 4 de outubro seguiu-se o dia 15, para que o Equinócio de março voltasse a coincidir com sua data esperada (o dia 21). E para que o erro não voltasse a se repetir, Clavius sugeriu (e foi atendido) uma mudança na regra dos anos bissextos. A partir de então, os anos bissextos seriam aqueles que fossem múltiplos de 4, mas não de 100 (a não ser que estes últimos também fossem múltiplos de 400). Assim, os anos terminados em 00 seriam quase sempre anos comuns. As exceções foram os anos de 1600 e 2000.

Em nosso cotidiano, podemos até dizer que os anos bissextos acontecem a cada 4 anos, pois a próxima exceção, um ano que deveria ser bissexto mas não será, será o ano de 2100!

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